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Pretérito mais-que-perfeito não é tempo

Sabrina Dalbelo


O pretérito mais-que-perfeito é chato, estraga o

tempo, é prolixo e enrolado. Tempo é vil, ágil, não

quer saber de promessas, nem se dedica ao que

acontecera antes do que aconteceu. Passou é passado.


O pretérito mais-que-perfeito não é tempo.

Só o tempo é perfeito, calculista.

Egoísta, não dá trégua, não dá colo, o desgraçado.

Cobra preço, sem juros, é verdade. Certeiro.

Perfeito não tem forma de passado.


Passado é papel rasgado, sem tato, brinquedo no lixo,

ficar de braços abertos esperando o abraço que

passou no vácuo. Passado é futuro gaseificado.


Passado é tudo o que ficou para trás.

Ninguém olha mais. Petulante pretérito, ao se achar

mais perfeito do que os outros, deixa o tempo acuado.


O passado já era.

Bochecha rosa, comida quente, água sem gosto,

estrela cadente são perfeições-presentes.

Pretérito é classificação inconsistente.

O mais-que-perfeito é discriminação do passado.



Poema publicado no livro Rasga-ossos, que você pode adquirir clicando aqui.

2 comentários em “Pretérito mais-que-perfeito não é tempo │ Sabrina Dalbelo”

  1. Bruno, querido,

    Muito obrigada pela acolhida e pela escolha de um poema de que gosto muito para compor tua página.
    Desejo muito sucesso às ações da Lume. Tenho certeza de que vai longe.
    Grande abraço,
    Sabrina Dalbelo

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