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Microcontos – 1ª Edição │ Luís Fernando Amâncio

Palavra: Lupa

Dizimados

Segurando a lupa, prova do crime, a mãe confrontou o garoto. O pai acompanhava a cena. Diante deles, um exército de soldadinhos de plástico derretido.

– Guri, porque essa mania de destruir coisas? Tem algum problema que você queria me contar?

Com o olhar, o pai ordenou que o menino se calasse.


Ilustração:

A lei da natureza

Eles a pegaram. A garota resistiu, lutou, mas não pode escapar. Eram quatro homens famintos.

O que eles chamaram de farra fugiu ao controle. A jovem tornou-se um inconveniente no porta-malas. E quando os rapazes avançaram na floresta com o corpo a ser descartado, as árvores se fecharam ao seu redor.


Fotografia:

Lições

O pai temia que a ex-mulher desencaminhasse o filho. Por isso, aproveitou o fim de semana com o adolescente para compartilhar algumas reflexões.

– Só existe um caminho para ser ascender na vida, moleque.

– O trabalho?

– Quase. O trabalho ilícito – disse, baforando a fumaça de seu charuto.


Música: Diz que fui por aí – Nara Leão


Se alguém perguntar por mim

Diz que fui por aí

Levando o violão debaixo do braço


Em qualquer esquina eu paro

Em qualquer botequim eu entro

Se houver motivo

É mais um samba que eu faço

 

Se quiserem saber se eu volto

Diga que sim

Mas só depois que a saudade se afastar de
mim

 

Tenho um violão para me acompanhar

Tenho muitos amigos, eu sou popular

Tenho a madrugada como companheira

 

A saudade me dói, o meu peito me rói

Eu estou na cidade, eu estou na favela

Eu estou por aí

Sempre pensando nela


O retorno do malandro

Seguia de carro pelo bairro boêmio. Conhecia-o como poucos. No Lúcio, a cerveja era barata. No Aplausos, o samba atravessava a madrugada. A melhor jukebox ficava na Cantina da Paz.

“Quantas aventuras vivi nesse lugar!”, relembrou. Com o sorriso no rosto, enviou a mensagem para a filha: cheguei.


Frase: “Que tempos penosos foram aqueles anos – ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade.”

Já tive mulheres

No colégio, namorei a Priscila, a Andressa, a Verinha, a Joanna, a Wanessa, a Sarah… Tantas que não cabiam em uma mão só. 

14 comentários em “Microcontos – 1ª Edição │ Luís Fernando Amâncio”

  1. 1. Achei que faltou alguma informação para causar o impacto de um microconto. Mais na parte final. Parece que o menino pode ser um psicopata, seria isso?
    2. Suspense/terror. Algo sobrenatural. Interessante o desfecho.
    3. Interessante. Não me chamou muito a atenção, mas achei legal o final.
    4. Então é genético. A filha agora segue os passos do pai. (Entendi certo?)
    5. Eita hehe, bacana e engraçado.

    Achei o conjunto legal. Desde o suspense/mistério até a comédia. Parabéns pelos micros e boa sorte.

  2. Palavra: lupa – Dizimados
    Poxa, este é potente pela sugestão. Justamente pelo não dito, pelo olhar. A lupa é uma mensagem de socorro.
    Frase: “Que tempos penosos foram aqueles anos – ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade.” – Bukoski – Já tive mulheres
    Veja, foi ao procurar pela autoria da frase que entendi o seu microconto, que condiz bem com Bukowski… mas já não tanto com a frase em si.
    Música: Diz que Fui Por Aí – Nara Leão – O retorno do Malandro
    Há sim uma história aqui e o espírito da música se inclui no texto… Mas não há algo mais do que isso, nada que cative no início e, portanto, nada que surpreenda no final.
    Fotografia: Lições
    Não encontrei a fotografia no microconto. Isto é, nem o efeito, nem a imagem ou algo do seu potencial. Portanto, é um micro que não corresponde bem como desafio.
    Ilustração: A lei da natureza
    Achei uma interpretação pertinente, interessante por demonstrar como uma mesma imagem suscita sentimentos diferentes. Não pensei em nada violento como no texto quando vi a imagem. Mas não é um defeito. Há no micro uma história intrigante a ser contada, o desfecho \tendo seu impacto.

  3. Giselle Fiorini Bohn

    Micro 1
    Muito bom! Deixa a gente pensando se o menino sabia de alguma malandragem do pai ou mesmo se era vítima dele. Gostei!
    Micro 2
    Bem legal. Um micro de terror, em todos os sentidos.
    Micro 3
    Boa quebra de expectativa. O “desencaminhado” provando-se diferente do que a gente pensa. Bem bão.
    Micro 4
    Legal também. Filhinha de peixe peixinho é. Boa ideia. Talvez poderia ser só um pouquinho mais elaborado.
    Micro 5
    Excelente! Vi que muita gente não sacou, que pena! 🙂

    Ótimo conjunto, um dos melhores pra mim até agora. Parabéns e boa sorte!

  4. Claudia Roberta Angst

    Pseudônimo remete a um Henrique que usa chinelo, só não sei se era nos pés ou nas mãos para punir alguém.

    1º micro: ꙳꙳꙳꙳꙳ O olhar do pai não me pareceu de cumplicidade, mas sim de um molestador que exigia o silêncio do filho. Forte, impactante, bem escrito.
    […] porque essa mania> […] por que essa mania.

    2º micro: ꙳꙳꙳꙳ .mas não pode escapar > mas não pôde escapar
    Uma jovem, estuprada e assassinada, tem o seu corpo depositado no porta malas de um carro. Os criminosos foram engolidos pela floresta? Ou o terrível segredo acobertado pelo eterno silêncio? Tema difícil, doloroso, cruel. Conto bem executado, embora na ilustração me pareça ser um menino e não uma moça.

    3º micro: ꙳꙳꙳꙳ Um pai preocupado com o filho que poderia ser desencaminhado pela mãe, busca esclarecer o adolescente sobre a necessidade de se permanecer no caminho do Mal para alcançar o sucesso. Quebra de expectativa que causa impacto.

    4º micro: ꙳꙳꙳꙳꙳ O pai, ex-malandro, ao buscar a filha na balada relembra suas aventuras naquele mesmo local. Boa sacada!

    5º micro: ꙳꙳꙳ Confesso que só entendi lendo os comentários dos coleguinhas. Eu fiquei com a inocente ideia de que o moço tinha tantas namoradas que não dava para contar nos dedos de uma só mão, mas creio que a ambiguidade era outra!

    Microcontos que revelam domínio com jogos de palavras e ideias. Bom trabalho! Parabéns pela participação no desafio e boa sort

  5. Aqui, vou fazer diferente e falar do conjunto, até porque, esse “PAI” tão presente em todos os contos, (presente até onde não foi citado), deu uma unidade à obra. Um texto duro e cruel em alguns momentos… exala uma maldade, sabe? em outros é nostálgico e até sacana, vista no quinto conto. poucos pegaram a “homenagem” às mulheres desejadas. Rs gostei do todo da composição, muito boa mesmo! Parabéns!

  6. Felipe Lomar Darbilly

    1) triste e impactante. Leva a pensar o que o pai teria feito ao garoto. O melhor micro da sua coleção.
    2) bem escrito e transmite um certo suspense mas acho q faltou uma finalização melhor
    3) gostei. Um misto de anedota com crítica social. A reviravolta no final me arrancou um riso
    4) boa ambientação mas o final é meio confuso. Não entendi muito bem
    5) também não é muito claro quanto ao significado. Tive que falar algumas vezes. Ele estava falando sobre namorar elas ao mesmo tempo?

    Boa sorte!

  7. MAQUIAM MATEUS SILVEIRA

    Oi, Henrique Chinelo!
    O conto 01: Muito interessante! É um conto perturbador. Liga-se, pelo título, a figura dos soldadinhos derretidos com a infância “dizimada” do menino. Gostei muito.
    O conto 02: Gostei, mas faltou alguma coisa. Não consegui sentir a violência narrada no modo como foi escrito. As frases de efeito tiraram o impacto.
    O conto 03: Pais abusivos como vilões ehehe. Gostei, mas poderia ser mais sutil, deixar mais no ar, como no primeiro conto.
    O conto 04: O começo é excelente!!!! Os detalhes concisos e certeiros, a listagem de bares… Que maravilha! Mas o final, eu não entendi qual a relação com a filha.
    O conto 05: Não sei se entendi. Não cabiam numa mão pelo fato de serem seis? Ficou um tanto vago.

    Você tem trechos muito bons. O primeiro conto é instigante e o início do quarto conto é ótimo. Mas em outros momentos, parece que perdeu o fôlego. Você escreve muito bem, continue!😉

  8. Luís Fernando Amâncio

    Olá, Henrique Chinelo,
    Coleção de microcontos bem curiosa a sua. Começa com temas pesados e termina com certa leveza.
    1) Um conto condensado, sem perdas na narrativa. Final misterioso. Qual é o segredo do pai que o menino sabe? Acho importante deixar aberto alguns finais para o leitor. Eu pensei em coisas bem cabulosas, mas vi nos comentários gente que entendeu que foi o pai que derreteu os soldados.
    2) O mais pesado e triste da sua coleção. O final, que bebe do fantástico, foi uma boa apropriação do estímulo.
    3) Gostei da composição dessa narrativa. A mãe “desencaminharia” o filho, mas ao fim, descobrimos que “desencaminhado” é o pai. Gostei da baforada de charuto no fim, caracteriza bem um personagem contraventor. Apropriação bem livre da fotografia, ainda assim possível.
    4) O retorno do malandro para buscar a filha na balada. O mundo dá voltas.
    5) O meu predileto. Conciso e eficiente. Conversa bem com a frase (ter o desejo, mas não ter habilidade). Por outro lado, é uma aposta arriscada. Leitores mais desatentos ou pudicos não pegam a referência.
    Boa sorte no desafio, Henrique Chinelo!

  9. fernanda caleffi barbetta

    Microconto 1: Uau, que forte. Conta sem contar, muito bom. Parabéns.

    Microconto 2: Certamente foi a imagem que o levou a este final. Nada no microconto nos preparou para este desfecho, e isso de surgir um final sem relação alguma com a narrativa me incomoda.
    pode – pôde

    Microconto 3: Não entendi a relação com a imagem. Final inesperado.

    Microconto 4: Você realmente é especialista em trazer desfechos inesperados. Por este eu não esperava mesmo. Gostei.

    Microconto 5: Bem safadinho esse. Gostei da ambiguidade no desfecho. Muito bom.

  10. 1º micro: este conto muito me entristeceu; talvez ele contenha uma história muito triste; o Brasil possui uma íntima relação com a impunidade; os algozes da Ditadura Militar safaram-se todos; uma presidente vítima da Ditadura, torturada por homens perversos para isso treinados, teve seu mandato cassado há apenas seis anos; na Sessão que a cassou, um deputado, ao votar a favor de seu impedimento, homenageou um torturador (Ustra); esse deputado é, hoje, presidente do Brasil; a Ditadura é uma memória viva neste nosso país; e este conto talvez seja a demonstração de quanto alguns de nós ainda esteja por aí a clamar por justiça, a clamar pela oportunidade de “queimar soldados”;
    2º micro: gostei da introdução e do desenvolvimento, mas foi uma pena que a ilustração tenha obrigado a esse desfecho, do qual não gostei, por demasiado místico;
    3º micro: eita, achei super despropositado; qual a relação com a fotografia? e que espécie de pai daria essa espécie de lição?
    4º micro: é um retorno e só;
    5º micro: não me disse nada praticamente.

  11. Olá, autor!
    1° micro: 😍
    Nossa… O que será que esse pai fazia com o moleque?? Cruzes! Muito bom! Amei!
    2° micro: 😍
    Muito bom também! Será que as árvores iriam vingar a garota? Ficou com uma pegada boa de fantasia!
    3° micro: 🙂
    Bom uso da quebra de expectativa. Mas não curti tanto.
    4° micro: 😐
    Não sei… Perdi alguma coisa? Não entendi muito bem… O que a filha tem a ver com a história?
    5° micro: 🤨
    Não entendi nada… Mas se for sacanagem nem precisa me explicar.

    Conjunto da obra: 😐
    O começo foi tão bem, mas parece que sua inspiração foi acabando e no final decaiu a qualidade. Essa é só a minha opinião, e eu sei que sou chata, nem precisa me falar. 😁

  12. Olá, vou comentar os microcontos um por um, ok? Mas antes, seu pseudônimo ali é bem engraçado, risos.
    Bom, o primeiro micro é bem misterioso, o pai do garoto era o criminoso disimador de soldadinhos então? Fiquei com essa dúvida.
    O segundo micro é forte, chocante e triste. Espero que as árvores tenham fechado sobre os rapazes pra eles nunca mais saírem.
    O terceiro micro me surpreendeu bastante. Como o adolescente eu esperava que viria uma boa lição de vida, não um conselho para o contrário.
    O quarto ilustra muito bem o que diz na música. Parecia que o personagem que vai ver a filha não era daquele bairro, apesar de conhecê-lo muito bem.
    O quinto micro foi bem curtinho, mas não entendi exatamente a ideia por trás dele, seria o personagem se gabando? Isso era bom ou ruim pra ele? Ou a intenção é deixar essa dúvida no ar?
    Enfim, ótimos microcontos, boa sorte no desafio!

  13. Micro 1
    Aí sim! Uma história contada em menos de 300 caracteres! Adorei! Os personagens estão bem desenhados e as perguntas que surgem na cabeça do leitor definem a história.
    Micro 2
    Excelente! Uma história terrível com final interessante.
    Micro 3
    Amei a quebra de expectativa. Muito bem feito!
    Micro 4
    Gostei. O malandro volta acompanhado pela próxima geração.
    Micro 5
    Muito bom! Haja mão!
    Excelente conjunto, micros ótimos! Amei!
    Parabéns e boa sorte!

  14. Misael Felipe Antônio Pulhes

    Olá, Henrique!

    i) Dizimados – Legal demais esse plot twist. Mas eu fiquei me perguntando por que o pai destruiria os bonequinhos… Formalmente muito bom. Mas me deixou essa ressalvinha chata na leitura.

    ii) A lei da natureza – Opa, vejo uma veia de suspense muito boa no autor (acertei?!). O que o plot twist do primeiro micro não conseguiu fazer (em mim) esse aqui fez. Surpreendente. Parece uma cena de um thriller. Gostei desse toque de “realismo mágico” no meio da história terrível, macabra, tristíssima. Uma ótima resolução!
    Obs: “A garota resistiu, lutou, mas não PÔDE escapar”.

    iii) Lições – De novo o clímax todo concentrado no desfecho. Eu gosto disso. Aqui, destaque para a contradição entre o título, a ideia de que a ex-mulher “desencaminharia” o filho, e o final irônico. Por algum motivo, eu ainda fiquei com a mesma sensação do primeiro micro, de que algo faltou. Talvez o meu problema tenha sido com o pai dizer que o caminho era “o trabalho ilícito” Soou estranho o pai usar essa expressão. O micro é ótimo, só resta essa ressalvinha subjetiva.
    OBS: “Só existe um caminho para SE ascender na vida…”

    iv) O retorno do malandro – Hmmm… O de que menos gostei. Não achei que o desfecho teve o impacto para elevar a estória.

    v) Já tive mulheres – Putz. Heheh. É bom. Ambíguo, o que é muito bom nesses casos. Pode – como talvez no meu caso – causar reações diversas. Mas é bom, sem dúvida.

    Uma coletânea que mostra um imenso potencial do autor. Os contos 1 e 3, principalmente, me deixaram aquele gostinho de que poderia ter sido ainda melhor. O 2º eleva o conjunto. De todo modo, parabéns ao autor. Boa sorte!

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