
Microcontos – 1ª Edição │ José Júnior
Ilustração:

Olhei para a lua e estranhei quando ela começou a me puxar.

Ela planejava a vingança e olhava para o campo distante sentindo a textura da vegetação seca. Seus pés não tocavam o chão, seu corpo estava balançando morbidamente enquanto homens encapuzados esperavam pela sua morte. Mal sabiam eles que a bruxa já estava morta muito antes de ser enforcada.
Palavra: Bolsa
— Eu preciso mesmo fazer isso de novo? — perguntou Luana segurando uma faca.
— Foi o que nós combinamos, você lembra? — respondeu o crânio dentro da bolsa que Luana sempre levava consigo para mais um assassinato.
Frase: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente, controla o passado.” – George Orwell
Olhou para trás e viu seu nascimento. Olhou para frente e viu sua morte. Conheceu o início e o fim. Dentro daquela máquina, enquanto números binários subiam e desciam, o tempo parou no presente e mostrou para ele que o desconhecido, e mais divertido da vida, estava entre aqueles dois pontos.
Música: Somos quem podemos ser – Engenheiros do Hawaii
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Nós
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Nós
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Acordou de madrugada com duas mãos enormes puxando seus pés. Percebeu que virou adulto quando soube que ninguém viria ajudar. Então, como os adultos fazem, mentiu para si mesmo afirmando que era tudo coisa de sua cabeça. Desse jeito ele passava por mais uma noite sem enlouquecer.
1. Curto e direto. Mas poderia ter incrementado com algo no final.
2. Interessante. Tenebroso e com um final que mostra que haverá vingança.
3. Bacana! Terror. Talvez se tivesse tirado a parte do assassinato desse mais peso ao micro.
4. Bonita mensagem com teor de sci-fi
5. Tenso! E até meio pessimista. O terror de ser adulto.
Bem bacana os micros. Dá pra ver bem que você gosta de terror. Isso é legal em textos curtos.
Palavra: bolsa
Olha, tem uma bolsa no texto, sim, mas me parece mais detalhe do que a essência da história, o que enfraquece o lado criativo do texto, apesar de surpreender.
Frase: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente, controla o passado.” – George Orwell
Há algo de genérico no desfecho que encerra embaixo a grande expectativa suscitada no início. E sim, apesar do curto espaço, foi o bastante para se criar uma curiosidade por aqui.
Música: Somos quem podemos ser – Engenheiros do Hawaii
Achei uma abordagem interessante da música e conta uma história que deverá ser familiar a muitos participantes.
Fotografia
Gostei da inserção da imagem no microconto. Diferente do que foi com a palavra “bolsa”, aqui me parece funcionar melhor porque esse toque à vegetação seca ganha mais profundidade ao ganhar um contexto brutal e surpreendente.
Ilustração
Nope (2022), dir. Jordan Peele
Brincadeira à parte, este é o mais sucinto de todos e foi do que mais gostei, dotado de um humor mórbido.
Micro 1
Achei legal, conversa bem com a imagem. Conciso e certeiro.
Micro 2
Legal! Um micro de terror interessante.
Micro 3
Outro de terror. Legal também.
Micro 4
Ótimo! E verdadeiro: o presente é nosso presente.
Micro 5
Muito bom! A música é uma porcaria, mas vc conseguiu fazer um bom micro a partir dela, cheio de significados.
Um ótimo conjunto, não teve um único ruim. Parabéns e boa sorte no desafio!
Pseudônimo remete à ideia de viagem, de um(a) autor(a) aventureiro(a).
1º micro: ꙳꙳꙳ Bem curto, talvez não funcione sem a imagem relacionada.
2º micro: ꙳꙳꙳꙳ Não entendi muito bem a história da bruxa. Ela já estava morta antes de ser enforcada? Seu espírito já caminhava livre pelos campos?
3º micro: ꙳꙳꙳꙳ Terror! Mas achei o final um tanto explicativo demais… um pouco de mistério cairia bem.
4º micro: ꙳꙳꙳꙳ Achei bonita a construção do micro, apesar da ideia já ser batida, de que o que interessa é o presente, não o passado, nem o futuro. Viver o hoje é mais interessante, o destino é menos importante e feliz do que o caminho até ele. Mas o conto foi bem conduzido, com maestria.
5º micro: ꙳꙳꙳꙳ O terror de se virar adulto, ou ser forçado a amadurecer rápido demais porque alguém nos puxa pelos pés e nos tira da zona de conforto. Alguém sendo abusado e com a certeza de não obter ajuda? E para lidar com o trauma criado mente para si mesmo?
Microcontos que revelam tendência à temática do terror, com criatividade e precisão na escolha das palavras. Bom trabalho! Parabéns pela participação no desafio e boa sorte.
1 – Eu adorei, até ser influenciado por outra leitora, lembrando que não funciona sem a imagem…
2 – Tive que reler para entender que a bruxa já havia vivenciado a morte outras vezes. Que medo!
3 – Do primeiro assassinato a gente nunca esquece! É isso?
4 – Esse não acrescentou-me muita coisa; é um pensamento circular.
5 – Bem doido, esse, não? Deu vontade de desenvolver mais ou, saber como essa criatura vive em meios a pesadelos e loucura. Bom conjunto. Parabéns!
A palavra aqui é surpresa. Plot-twist.
1) curto e grosso. Direto ao ponto. Surpreendente e ligeiramente cômico
2) um bom suspense. Talvez falte um pouco de ritmo por ser um parágrafo único e longo
3) também surpreende. Eu diria que tem um pouco de problemas com a verossimilhança que poderiam ser explicados com mais caracteres. Esse é o problema do microconto, tem que ser direto, o leitor não pode ficar com a impressão que falta coisa
4) acho que foi o mais fraco de todos. A conclusão não teve muito efeito.
5)bom também. Você realmente leva Jeito pro terror! A piada com a adultice caiu bem e fez sentido no contexto
Boa sorte!
Olá, Capitão Viajante! Quanto mais a gente conhece sobre literatura, sente que, mais do que aquilo que se diz, importante é a forma de dizer. Em microcontos isso é ainda mais elementar. Nesse desafio, é preciso distribuir bem os 300 caracteres de que temos direito.
Você conhece escrita de microcontos. Isso fica bem evidente no primeiro deles. Sabendo que haveria o reforço da imagem, em uma frase conta essa história. Ingênuos se perderiam falando de E.T.s, uma noite estranha, essas coisas. Aqui, o Capitão Viajante foi certeiro. Há o impacto e a narrativa é condensada.
Parabéns pela coleção de histórias. Segue alguns singelos comentários:
1) Já falei sobre ele. Certeiro e simples. Meu predileto da coleção.
2) Gosto também. Utilização bastante criativa do estímulo.
3) Morbidez costuma funcionar em desafios de microcontos. Alguns dos mais clássicos da recentíssima história desse gênero são de terror. Nesse, porém, faço uma ponderação. Achei a frase final muito didática. Soa desnecessária. Algo menos explícito me agradaria mais. Tipo “respondeu o crânio na bolsa, ansioso por um companheiro”.
4) Não gostei desse. O nível dos anteriores prejudica. É ficção científica, mas combinado com “autoajuda”, como classificaria nossa colega Priscila. Particularmente, acho que o uso do estímulo também não foi o melhor.
5) Sombrio, também. Coerente. Essa crítica à vida adulta (ninguém ajuda, mentem para si mesmos) me soa um pouco juvenil. Mas é implicância minha.
Microconto 1: Interessate, mas, sem a imagem, não diz muita coisa.
Microconto 2: Não consegui formar a imagem na minha cabeça. Ficou confuso. Acredito que sejam dois momentos, um revelado no início, as mãos na vegetação, pensando na vingança (nitidamente um trecho incluído para casar com a imagem). E o tempo passado, na parte seguinte, com o momento do enforcamento. Como está, ficou confuso.
Microconto 3: Que horripilante. Como sugestão, pararia em “respondeu o crânio dentro da bolsa”. O microconto ganha mais força sem a explicação que vem a seguir, desnecessária.
Microconto 4: Linda mensagem.
Microconto 5: Gostei bastante deste, meu preferido. Essa de mãos puxando os pés, é de arrepiar kkkk.
Oi, Capitão Viajante!
O conto 01: Parece o início de um conto. Para um microconto, ficou faltando algo, talvez um desfecho, ou uma referência, ou uma ironia na situação, sei lá… Faltou jogo.
O conto 02: Aqui sim temos um microconto! Você conseguiu construir um micro muito interessante se concentrando numa situação de suspense. É legal como a cena vai se abrindo e revelando num mesmo quadro o que está acontecendo. E mesmo não “contando” tudo, deixa para o leitor uma história bem maior.
O conto 03: Muito legal, ehehe! A situação é tão rica em possibilidades que dá até peninha o fato de ser um microconto. Rende um conto maior, com certeza 🤪
O conto 04: Não curti. Achei a ideia complicada demais para trabalhar num espaço tão pequeno. E o final não me convenceu, ficou num tom de lição de moral.
O conto 05: Não entendi o tempo em que o conto se passa. É numa única noite? Num tempo abstrato? Para o personagem chegar à conclusão de que se tornou adulto, levaria no mínimo o tempo de uma reflexão, nas isso acontece no meio de uma situação de horror… Talvez eu não tenha entendido, achei confuso.
Gostei muito dos teus contos 02 e 03. São ricos em imagens, em situações de horror, dá vontade de ler mais. Os outros, acho que ficaram devendo mais clareza, mais imagens… Gosto da tua exploração de gêneros (terror, FC). Por favor, continue escrevendo o conto da bolsa 💀🔪👀
Olá, vou comentar os microcontos um por vez, ok?
O primeiro foi curto e objetivo. Uma ação única que nos deixa curiosos para um depois.
O segundo foi bastante forte e aterrorizante, ainda mais por essa promessa de vingança e o final foi muito intrigante.
O terceiro foi muito inteligente, um retrato perfeito de uma loucura de uma pessoa assassina, foi excelente. Ainda mais com o crânio respondendo a ela.
O quarto foi bem reflexivo, objetivo e claro. Gostei especialmente da conclusão dele sendo o presente o maior mistério. Isso foi muito interessante de pensar.
O quinto teve um detalhe que eu adorei, essa parte dele ver que era adulto e ninguém viria ajudá-lo. Não sei porque, mas esse trecho mexeu comigo. Acho que você colocou ali uma grande verdade.
Microconto perfeito, parabéns.
Boa sorte aí no desafio.
Olá, autor!
1° micro: 😐
Não entendi… A lua estava puxando? Por que? É muito pouco, meu amigo!
2° micro: 🙂
Esse sim conta uma história! Gostei! Tenho um micro parecido… Mas era numa fogueira…
3° micro: 🙂
Terror meio fantasia, ou quem sabe sobre a loucura? Ficou legal, mas eu queria saber mais.
4° micro: 🙂
Gostei! Filosófico com viagem no tempo!
5° micro: 🙂
Gostei do micro, mas não vi ligação com a música… Deixei alguma coisa passar?
Conjunto da obra: 🙂
Tem uma pegada de terror que dá ligação aos micros. Muito bom! É um conjunto consistente. Eu não gosto de terror, então não me encantou tanto, mas reconheço a qualidade dos micros! Parabéns!
Micro 1
Gostei, mas faltou alguma coisa. Parece um ótimo começo de conto.
Micro 2
Amei! Micro de terror e bem feito!
Micro 3
Amei 2! Mais um terror, bem feito e intrigante.
Micro 4
Gostei! Uma pegada filosófica.
Micro 5
Excelente! Um terror dentro do terror. As mãos puxando os pés já são assustadoras, mas a súbita percepção de ter virado adulto e o auto engano acrescentam mais camadas de estranhamento e medo.
Um conjunto excelente, em que brilham os micros de terror. Parabéns e boa sorte!
Olá, Capitão!!
i) “Olhei para a lua e…” – Uma imagem de ficção científica, mas que parece pouco. Ok, a lua puxou o cara. Mas é só?
ii) “Ela planejava a vingança e olhava…” – Suspense, terror. O clima vai gradativamente subindo, a imagem é forte. Um microconto muito bom.
iii) “Eu preciso mesmo fazer isso de novo?” – Muito criativo. O autor tem uma veia de terror muito forte. Aproveite-a. Gostei deste também.
iv) “Olhou para trás e viu seu nascimento” – Sempre difícil trabalhar temas de viagem no tempo. O autor, aqui, valeu-se de um desfecho que destoa um pouco da atmosfera da história, e uma reflexão que considero, respeitosamente, bastante clichê.
v) “Acordou de madrugada com duas mãos enormes puxando seus pés” – Caramba. O autor é bom em criar imagens arrebatadoras. Esse aqui doeu. Meu preferido.
Um conjunto infelizmente desequilibrado de contos. Exceto pelo primeiro e pelo penúltimo, o nível me pareceu muitíssimo bom, pra competir lá em cima. Menos da metade, portanto, é que me desagradou. Mas o autor merece os parabéns, sem dúvida. Boa sorte no desafio!!