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Microcontos – 1ª Edição │ Cícero Lopes

Palavra: Totem

A vida pede novos entalhes

Sempre quis ser o totem da família: a coruja, a águia, a tartaruga… Ser o talismã, a bússola. Mas, desejos se dissipam e se perdem. A perfeição não resiste às tempestades dos anos. O totem quebrou-se. Fugiu para o Canadá atrás de uma aventura insólita e insensata, chamada Maria Entalhadora.

 

Frase: “Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.” – Machado de Assis

— A teoria da circularidade

Alberto acreditava que o tempo fosse circular. Encontrou-se com o menino que fora e, juntos, atravessaram o rio onde ele, quando pequeno, quase se afogou. Ao chegar a margem, deu por falta do míudo. A correnteza o levara desta feita. O rio não era mais o mesmo.

 

Música: Até quando esperar – Plebe Rude

Não é nossa culpa

Nascemos já com uma bênção

Mas isso não é desculpa

Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí

Onde é que está? Cadê sua fração?

Com tanta riqueza por aí

Onde é que está? Cadê sua fração?

Até quando esperar?

E cadê a esmola

Que nós damos sem perceber?

Que aquele abençoado

Poderia ter sido você

Com tanta riqueza por aí

Onde é que está? Cadê sua fração?

Com tanta riqueza por aí

Onde é que está? Cadê sua fração?

Até quando esperar a plebe ajoelhar

Esperando a ajuda de Deus?

Até quando esperar a plebe ajoelhar

Esperando a ajuda de Deus

Posso

Vigiar teu carro?

Te pedir trocados?

Engraxar seus sapatos?

Posso?

Vigiar teu carro?

Te pedir trocados?

Engraxar seus sapatos?

Sei, não é nossa culpa

Nascemos já com uma bênção

Mas isso não é desculpa

Pela má distribuição

Tanta riqueza por aí

Onde é que está? Cadê sua fração?

Até quando esperar a plebe ajoelhar?

Esperando a ajuda de Deus

Até quando esperar a plebe ajoelhar?

Esperando a ajuda do divino Deus


— Bandeiras

Disseram-lhe: “Fique no sinal, nesta rica avenida, no vermelho, ande entre os carros e tremule a bandeira do Partido. O desempregado pretendia uma consulta no SUS, mas o “bico” e a ração de pão com presunto valiam a pena. O coração que lute! Esperou, mas Deus não passou entre os carros caros.

Ilustração:

— Falling

O abismo contemplou o homem e desejou mergulhar em suas faces. O homem percebeu o precipício crescendo em sua direção e… Na queda, se tornaram um só.

Fotografia:

— A gaivota narcisista

Gaivotas voam, afundam, pescam e cagam. Não fazem muito mais que isso. Mas, não Narsilla! Depois que achou seu reflexo, nunca mais alçou voos que a façam perder a visão dela mesma. Renunciou às manobras aéreas, aos peixes, a dança do acasalamento até. Segue unicamente perseguindo o seu próprio eco.

14 comentários em “Microcontos – 1ª Edição │ Cícero Lopes”

  1. 1. Parece ser um desabafo. Conseguiu colocar o início, meio e fim. Deu para seguir a linha de raciocínio.
    2. Senti uma melancolia e a referência às mudanças (Heráclito).
    3. Até aqui percebo que você usa seu texto como fonte de desabafo ou desmascaramento de problemas (seus ou da sociedade). Acho isso bem bacana.
    4. Agora também vejo um traço filosófico nos seus textos haha (e agora percebi mais uma vez o seu nome – Nietzsche)
    5. Filosofia!! Muito legal usar seu texto em microcontos se utilizando da filosofia!!
    No geral eu gostei bastante dos micros, acredito que consegui formular as imagens na minha mente. Também vi que você utilizou os caracteres disponíveis na maioria dos textos. Para mim seria interessante ver um micro menor e mais conciso, mas é uma parte da minha mente que pede isso. Parabéns.

  2. Palavra: totem – A vida perde novos entalhes
    Ri com o desfecho deste e me surpreendi que teve um desfecho, pois se contou uma história com tanta agilidade que sequer percebi.
    Frase: Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.” – Machado de Assis – A teoria da circularidade
    Poxa, achei este muito bem trabalhado e com uma profundidade que é difícil de se alcançar em microcontos, misturando uma mensagem a respeito da vida e do tempo ao passo em que também se encerra com ambiguidade.
    Música: Até quando esperar – Plebe Rude – Bandeiras
    A mensagem deste foi bem entregue, bem direcionada aos rituais antiquados da política e o que escondem.
    Ilustração – Falling
    O abismo e o caído se tornando um só, belo de se ler e conveniente à imagem. Boa sacada!
    Fotografia – A Gaivota Narcisista
    Mais uma boa sacada, em estabelecer a protagonista e seu enredo, além de manter o bom-humor que teve no pseudônimo ao nomear a personagem. Ótimo microconto, muito bem conectado à foto.

  3. Giselle Fiorini Bohn

    Micro 1
    Não entendi muito, não. Lembrei do meme “Menos a Luísa, que foi pro Canadá”.
    Micro 2
    Muito filosófico pro meu curto intelecto.
    Micro 3
    Sabe o que eu senti? Muita ideia pra pouco espaço. Eu pegaria um aspecto desses e trabalharia melhor, porque as premissas são boas.
    Micro 4
    O precipício é a tecnologia, que nos engole? Se for, interessante. Se não for, entendi, não.
    Micro 5
    Ficou parecendo uma parábola, o que não deixa de ser inusitado. Legal.

    Um conjunto irregular, mas com bons momentos. Parabéns e boa sorte no desafio! 🙂

  4. Felipe Lomar Darbilly

    1) bem escrito, mas o fim não tem o impacto esperado. A estrutura também é bem simples.
    2) gostei realmente desse. Uma boa quebra de expectativa. O desfecho trágico também adiciona ao impacto. Interessante a ideia da mudança
    3) é bom, faz sentido e tem uma boa mensagem. Mas tá muito descritivo. Show don’t tell também se aplica aqui. “Fique nesta bela avenida” não é uma frase verossímil
    4) a ideia é interessante, mas parece uma descrição da imagem e não um conto. Não tem uma surpresa, uma inovação, e isso tira o impacto. Apesar de o tema ser bom.
    5) esse ficou bem legal. Uma boa adaptação do mito de narciso. A gaivota deixa de ser funcional por causa de seu reflexo.
    Boa sorte.

  5. Claudia Roberta Angst

    Pseudônimo que remete ao famoso Friedrich Wilhelm Nietzsche, filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX.

    1º micro: ꙳꙳꙳ A palavra recebida como estímulo foi difícil, então considero que o(a) autor(a) até que se saiu bem com a sua produção. Não sei se um totem quebrado iria se consertar nas mãos de uma entalhadora, mas… tudo por uma aventura, não é mesmo?

    2º micro: ꙳꙳꙳꙳꙳ Muito bem executada a ideia do retorno a um passado quase trágico (que na volta se torna mesmo uma tragédia). O conceito de que nunca se entra em um mesmo rio é antiga, mas foi muito bem aproveitada neste conto.

    3º micro: ꙳꙳꙳꙳ Pelo o que entendi, o protagonista preferiu fazer um bico a esperar uma vaga no SUS. No final, sente-se desiludido porque não foi agraciado com um milagre em meio aos carros. Faltaram as aspas depois da palavra “partido”

    4º micro: ꙳꙳꙳꙳꙳ Um micro com teor filosófico bem ao estilo de Nietzsche = “se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.” Achei interessante combinar a ideia do filósofo com a imagem recebida como estímulo.

    5º micro: ꙳꙳꙳꙳ O quase mergulho no espelho d’água, um desafio diário para uma gaivota narcisista. Novamente me fez pensar na frase de Nietzsche sobre o abismo, o espelho é olhado, mas também devolve o olhar e representa o grande perigo de se deixar cair.
    façam > fizessem
    a dança > à dança

    Um conjunto de textos que apresentam grande habilidade de conexão entre ideias e palavras, obtendo pleno aproveitamento dos estímulos recebidos. Bom trabalho! Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.

  6. Luís Fernando Amâncio

    Olá, Nietzche Conto.
    Ótimo pseudônimo!
    1) Em microcontos, concisão é fundamental. Acho que você pecou nesse sentido. Há excesso de frases entre a ideia do totem e a Maria Entalhadora.
    2) Quando o microconto é um “conto condensado”, há alguns riscos. Vejo muitas ideias para poucos caracteres. Ainda assim, você construiu uma narrativa digna.
    3) O microconto mais equilibrado da sua coleção. Boa elaboração, meu predileto.
    4) Achei que a utilização do estímulo não foi boa – você se prendeu demais a ele. Não parece um microconto.
    5) Novamente, me parece que você ficou muito preso ao estímulo. Por isso, não há impacto na leitura.
    Parabéns pela participação, Nietzche Conto! Você mostrou ter bom humor e muita criatividade. Boa sorte!

  7. Olá, vou comentar os microcontos um de cada vez, ok?
    O primeiro é muito bem escrito, dá pra entender como a pessoa queria ser importante, representar algo na família. Achei interessante quando ele foge e vai atrás da entalhadora, isso foi surpreendente para mim.
    O segundo é reflexivo, intrigante e meio surreal. Achei muito curioso o desfecho. Fiquei me perguntando o que aconteceu com Alberto no final dessa situação.
    O terceiro foi bem forte, realista e trágico. Me deixou um sentimento de desesperança.
    O quarto é bem completo, se encaixa como um quebra-cabeça, não sei se tem sentido o que falei agora, mas foi o que pude pensar. Ficou muito bem escrito.
    O quinto para mim é provocativo e divertido ao mesmo tempo. Observar como ela se perdeu na contemplação de si mesma, mais interessante ainda por ela ser um pássaro. Bem criativo.
    Muito bons micros, boa sorte aí no desafio.

  8. fernanda caleffi barbetta

    Microconto 1: Começou vago, genérico e acabou com algo bem específico, citando nome do país e da mulher… não entendi esta escolha.

    Microconto 2: Muito interessante essa ideia de ele se encontrar com o ele de antes e ter um desfecho diferente do que aconteceu no passado. Bem criativo.

    Microconto 3: Achei um pouco confuso. Não gostei do final.
    Faltou fechar as aspas depois de Partido

    Microconto 4: Gostei da ideia do precipício crescendo em sua direção. Não seria melhor sua face ao invés de suas faces?

    Microconto 5: Gostei do microconto, mas não achei uma boa escolha o trecho “perseguindo seu próprio eco”. É o eco que ela persegue?
    façam – fizessem
    a dança – à dança

  9. MAQUIAM MATEUS SILVEIRA

    Oi, Nietzche Conto!

    Conto 01 – Você conseguiu criar metáforas interessantes a partir da palavra “Totem”. Mas o que é contado é amplo demais, abarca praticamente a vida toda do personagem, o que exigia mais detalhes para que a leitura acompanhasse a jornada com mais clareza.
    Conto 02 – Achei interessante. Parece uma alegoria, quebra as expectativas para um microconto. Com o limite de espaço do desafio e a frase de estímulo (muito difícil), você encontrou uma solução muito boa.
    Conto 03 – A premissa é interessante, um tom de denúncia social, o que não se vê nos teus outros micros. Mas o resultado ficou um tanto forçado, principalmente no desfecho, um tanto apelativo.
    Conto 04 – Um tanto vago, por isso o conto não me conquistou. Eu gostaria de saber um pouco mais dessa figura, ter imagens mais concretas, que individualizassem a situação. Me parece mais um poema em prosa.
    Conto 05 – Ficou fiel à fotografia, que, aliás, é bem limitante ehehe. Dentro das limitações impostas pelo desafio, você fez boas escolhas nesse microconto. O resultado tem um tom de fábula que eu achei bem eficiente.

    O resultado geral é satisfatório. Você conseguiu abordagens diferentes entre um conto e outro. O primeiro conto e o quarto conto, porém, poderiam ter sido um pouco mais específicos.

  10. Vamos pra avaliação.

    1 – Preciso admitir que achei um pouco estranho. Simples, mas sem harmonia na composição. Não criei nenhuma simpatia pelo micro, infelizmente.

    2 – Um micro poderoso, criando um assustador contraste com o primeiro. A quebra de expectativas do protagonista pega o leitor de surpresa também, o que fortalece o impacto da cena.

    3 – Um pouco apelativo, acho. O pobre coitado que espera a salvação, em vão, enquanto luta pela sobrevivência. É um tema recorrente, inclusive. Por isso, foi uma leitura sem qualquer surpresa ou encanto.

    4 – Gostei. Um toque surreal e niilista. O abismo é abraçado. Essa temática sempre me agradou. Apesar disso, tenho um problema com a forma do micro: é algo que me lembra outros textos. A composição poderia ser mais criativa do que óbvia.

    5 – Parece o início de uma parábola. Mas, assim como Narcilla, não alça grandes alturas. Fica na margem, no superficial, no óbvio.

    Conjunto – Um trabalho misto. Ele vai e volta, agrada e desagrada. Talvez os estímulos não foram bondosos com o autor. Sei disso porque tive esse problema. Apenas um estímulo me encantou e inspirou mesmo.

    É isso.

    Boa sorte no desafio.

  11. Misael Felipe Antônio Pulhes

    Olá, Nietzsche

    i) A vida pede novos entalhes – Muito boa a brincadeira com a ideia do totem se quebrando, de entalhes necessários, e do nome dado à “aventura insólita do personagem”. Uma brincadeira muito eficiente. Acima de tudo, é uma estória. E boa.

    ii) A teoria da circularidade – Um dos meus micros preferidos até aqui. Eu tenho algum problema com a primeira frase, que parece muito direta, pouco literária. Mas o que vem depois daí é um espetáculo. Fora essa brincadeira com a referência do… Heráclito?

    iii) Bandeiras – Uma cena muito forte, não desprovida de verossimilhança. Faltaram umas aspas finais. Gostei!

    iv) Falling – Surrealismo?! Dificilmente eu não gostaria!!

    v) A gaivota narcisista – Gostei também. Uma ideia que, vista agora, parece quase óbvia. Mas isso não é demérito, pelo contrário. É uma imagem forte, penetrante. OBS: “nunca mais alçou voos que a FIZESSEM…”!

    Um conjunto muitíssimo bom de contos. Não tem nenhum que destoe em qualidade para baixo, e há um provavelmente entre os melhores do certame. Meus parabéns, autor. Boa sorte!

  12. Micro 1
    A busca da perfeição às vezes cobra um preço alto. Gostei deste micro, embora não tenha amado. Achei meio plano demais.
    Micro 2
    Este eu achei genial. Filosófico, deixa questionamentos e inquietações, tem um ar meio Guimarães Rosa. Meu favorito do conjunto,
    Micro 3
    Meio confuso. Não entendi a conclusão: por que ele esperava que Deus passasse entre os carros?
    Micro 4
    Amei. Mais um micro filosófico e inquietante. Achei interessante a ideia de que não foi o homem que caiu ou se atirou no abismo e sim o contrário.
    Micro 5
    Gostei. Uma crítica ao culto da imagem e do ego. Bastante atual.
    Parabéns pelo conjunto!

  13. Olá, autor!
    1° micro: 🙂
    Seu micro narrou quase a vida toda de alguém, ficou genérico demais pra um micro ( eu prefiro os que parecem fotografias mostrando um instante da vida) mas não é ruim. E traz verdades. Nada é perfeito, e tentar sustentar a perfeição leva à queda.
    2° micro:😍
    Meio FC, meio auto ajuda! Funcionou pra mim! As circunstâncias mudam muito mais do que nós mesmos!
    3° micro:😕
    A música não ajudou muito, eu sei… Mas não precisava ficar tão panfletário… E porque Deus estaria entre os carros caros? O que uma coisa tem a ver com a outra? Parece que colocou essa parte só pra combinar com a música e não ficou orgânico. Não gostei.
    4° micro: 😐
    Não é ruim, é até legal como frase pra completar a ilustração, mas não parece um microconto…
    5° micro: 🙂
    Coitada da Narsilla! Esse micro também ficou com uma pegada auto ajuda 😁, mas achei legal!

    Conjunto da obra: 🙂
    Não amei, mas gostei! Achei os estímulos difíceis… E você fez o que pode com eles, alguns melhor do que os outros, mas no geral foi um bom trabalho! Parabéns!!

  14. 1º micro: excelente; poético com um desfecho divertido;
    2º micro: excelente; inteligente; uma verdadeira viagem no tempo; acho que faltou crase em “a margem”;
    3º micro: não gostei; achei que uma aspas foi aberta sem ser fechada; não entendi o desfecho, não entendi a frase final; não sei se “a pena” se grafa com crase ou não;
    4º micro: não gostei; soou-me como descrição da imagem;
    5º micro: excelente; ótimo enredo; acho que o tempo verbal de “façam” está errado (seria “fizessem”?); acho que faltou crase em “a dança”.

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