
Filho de peixe │ Priscila Pereira

— Você não é meu pai!
Não saberia enumerar quantas vezes ouviu essa frase na infância do filho.
Machucava todas as vezes.
Não porque não fosse verdade. Era. E não era. Não era o pai biológico, mas com toda certeza era pai. Com P maiúsculo!
Doía tanto porque queria muito ter sido o pai dele desde sempre. Assim poderia tê-lo poupado de tantos sofrimentos.
Ah, todo o sofrimento que nenhuma criança deveria passar!
Se apaixonou na hora em que o viu. Encolhido no canto entre duas paredes do abrigo em que o conselho tutelar o colocara.
Abuso e maus tratos.
Era o que dizia em sua ficha, no local que explicava o porquê de ter sido tirado de sua família.
E ele era tão pequeno para os seus oito anos. Tão magrinho e assustado. O primeiro impulso que teve foi o de abraçá-lo para tentar protegê-lo de todo o mal do mundo.
Mas não pode. Ele não deixava. Por muito tempo não permitia que ninguém o tocasse, nem mesmo o pai adotivo.
A adolescência foi difícil. De arredio passou a briguento e revoltado.
Foi chamado várias vezes na escola por causa de mau comportamento, brigas e vadiagem. Mas sabia que no fundo o filho era um menino bom.
Podia enxergar além da armadura que usava para se proteger de tudo e de todos, até dele.
O pai.
Que só queria acolher, proteger e amar.
Fazia de tudo para que o filho se sentisse seguro. Para que ele visse que nem todos eram iguais, nem tudo trazia dor e vergonha. Que a vida podia ser boa, bonita e leve.
Mas era difícil. Muito difícil.
Naquele dia, estavam tomando café da manhã, como sempre faziam, e tudo estava bem, até o filho levantar em um impulso e sair correndo de casa, levando junto o jornal que estava lendo.
Ficou preocupado o dia todo. Sentia que alguma coisa estava acontecendo ou iria acontecer. Algo que mudaria tudo. Para o bem ou para o mal? Não saberia dizer.
Ao anoitecer foi chamado na delegacia. O filho foi pego embriagado espancando outro bêbado.
Pagou a fiança. Levou o filho para casa e cuidou dele. De manhã, já sóbrio e envergonhado, o filho teve a primeira conversa profunda com o pai.
Colocou o jornal amassado sobre a mesa e disse:
— Não quero ser igual a ele!
Na capa a foto do pai biológico. Na legenda a acusação: preso por abusar sexualmente da própria filha, ainda nos primeiros anos da infância.
Uma irmã que o rapaz nem sonhava que existia.
— Você não precisa ser igual a ele.
— Tenho o mesmo DNA. O impulso genético é forte demais. Como posso ser diferente?
— O exemplo é mais forte do que tudo! Você pode ter sido filho dele, mas já faz muito tempo que é meu filho! Você pode ter o DNA dele, mas tem o meu exemplo, eu criei você, eu cuidei, protegi e amei! Isso está cravado no seu coração mais profundamente do que o impulso genético. E tem mais, é você quem escolhe com qual pai quer se parecer.
— Com o senhor, pai.
A primeira vez que ouviu essa palavra do filho.
Pai!
Ele o havia aceitado, enfim!
Não aguentou a emoção e abriu os braços, ainda receoso, mas o filho aceitou seu abraço.
Não precisava seguir o impulso genético, porque tinha outro pai, outro exemplo a seguir. Era livre para escolher.
O ditado popular não o assustava mais.
Para sua sorte, havia sido adotado. Tinha agora outro pai. E teria orgulho de ser parecido com ele.
No final, o exemplo superou a genética.
O pai já idoso, era cuidado e protegido pelo filho e pelos netos. E como sempre soubera, o filho era realmente um homem bom. Se livrou dos antigos fantasmas, formou família, era íntegro, honesto e decente. Igual a ele.
Enfim, morreu em paz. E o filho, para honrar ainda mais sua memória, adotou o menininho mais assustado e arredio que encontrou no abrigo.
Daria outra chance para mais um peixinho ser parecido com o pai certo.
* Domínio da escrita:
Excelente domínio da escrita. Nenhum problema de revisão detectado. Estilo coerente do início ao fim. Nota 3,0
* Domínio narrativo:
Enredo cativante. Transmite com credibilidade a força do pai e a vulnerabilidade do filho. Nota 3,0
* Abordagem do tema:
Perfeita adequação à temática do certame. Nota 2,0
* Impacto:
Narrativa tocante. A nobreza desse pai chega a ser comovente. Nota 2,0
*** Totalização das notas: 10 ***
Domínio da escrita: Não apresenta erros gramaticais quem tenham chamado a atenção, o problema é no que tange à estrutura; parágrafos e períodos que deveriam seguir coesos acabam sendo cortados, o que quebra a narrativa. Entendo que isso possa se dar em decorrência de uma escolha de estilo pessoal do autor, e apesar de respeitar isso, não posso deixar de dar um pequeno desconto.
Notas: 2,5
Domínio narrativo: Tem um enredo simples em comparação com alguns dos outros. A ideia é boa, mas acho que os personagens poderiam ter sido um pouquinho melhor explorados.
Nota: 2,5
Abordagem do tema: A temática cumpre perfeitamente com o proposto pelo desafio.
Nota: 2
Impacto: Trás uma mensagem linda que, por si só, já faz o texto ser merecedor de atenção e crédito. Parabéns!
Nota: 2
Olá.
Domínio da Escrita:
Texto simples e fluído. Sem erros.
Domínio narrativo:
A história narra um ciclo de vida, a possibilidade que todos temos de influenciarmos e mudarmos o destino dos outros. Por vezes bastando um pequeno gesto. No caso deste conto, alguém dá a mão a uma criança desprotegida. O relato é contado sem dourar a pílula, como se costuma dizer. A adoção não é uma viagem sem problemas. Há muito a exorcizar e requer muita força de vontade. Quem adotar só para ficar de bem com a sua própria consciência vai iniciar uma viagem que raramente corre bem.
Abordagem do tema:
O tema dá o mote ao conto. Os bons exemplos dão fruto e são o elemento mais importante da formação pessoal. Numa época em que o elemento mais importante da formação pessoal é o tik tok, espera-se um futuro bastante complicado.
Impacto:
História pungente de um exemplo de abnegação. O autor ou autora soube não cair em coloquialismos ou fantasias.
Impacto
A história é algo cliché, mas da forma como foi narrada funciona bem.
Avaliação
Domínio da Escrita (0 a 3): 3
Domínio narrativo (0 a 3): 3
Abordagem do tema (0 a 2): 2
Impacto (0 a 2): 2
Nota final: 10
Domínio da escrita: 2,0
O conto escrito com linguagem simples, clara e objetiva, sem rebuscamentos. Vocabulário voltado a um público infanto-juvenil, talvez. Parágrafos curtíssimos, quase telegráficos, o que agiliza a leitura, mas poderia trazer mais informações. Uma pequena falha de revisão:
Mas não pode. > Mas não pôde.
Domínio narrativo: 2,0
Enredo simples, quase uma fábula, com uma bela conclusão, otimista, no final. Ambientação adequada à proposta do conto. Boa construção de personagens: pai e filho, e sua relação durante os anos. Faltou, na minha opinião, desenvolver melhor o enredo, estruturando seus pontos de virada.
Abordagem do tema: 2,0
O conto abordou o tema proposto pelo desafio: Filho de peixe, peixinho é.
Impacto: 1,5
Uma leitura agradável, rápida e que traz um final feliz.
Nota final: 7,5
Parabéns pela participação e boa sorte.
Domínio da escrita: No geral, bem escrito e aparentemente bem revisado, mas essa forma de destrinchar os parágrafos em frases miúdas — que é um bom recurso, se usado com parcimônia — tornou a leitura burocrática, pois permeia toda a história. Nota: 2,0.
Domínio narrativo: Bem ambientado de forma minimalista, soube fazer a narração de forma que chamasse a atenção à espinha dorsal da história, que é a difícil relação entre pai e filho. As personagens vão sendo construídas aos poucos, e a sutil transformação no processo ação-reação que desemboca no final catártico foi bem conduzida. Nota 2,0.
Abordagem do tema: Gostei muito da forma como abordou o tema, de forma não convencional e não óbvia, ao desvincular a condição de peixe e peixinho da genética e transferi-la à relação social e comunitária dos laços afetivos tão humanos. Parabéns. Nota: 2,0.
Impacto: Conto comovente, traz uma visão otimista da transformação do homem para melhor, o que é muito necessário na produção artística, atualmente tão inclinada ao lado sombrio do ser humano. Pena que, como é comum em histórias assim, se rendeu ao piegas. Nota: 1,0.
1) Domínio da escrita (nota de 0 a 3)
NOTA: 2
[Em Domínio da escrita devem ser abordadas questões referentes à escrita, como revisão, coesão e estilo]
Encontrei apenas um errinho no texto. No 11º parágrafo: “Mas não pode” (o correto é “pôde”). De resto, o texto flui bem, leve, coeso, quase poético em vários trechos.
No entanto, acho que o estilo do autor se torna explicativo demais em alguns trechos, o que atesta contra essa tonalidade poética do conto. Como exemplo: as frases a seguir, no início do conto, poderiam ou ser eliminadas ou reduzidas: “Machucava todas as vezes” – a angústia do pai se perceberá independentemente de isso nos ter sido dito. / “Não era o pai biológico, mas com toda certeza era pai. Com P maiúsculo!” – que era um pai adotivo também foi ficando claro; E “com P maiúsculo” é uma expressão clichê que empobrece o texto.
2) Domínio narrativo (nota de 0 a 3):
NOTA: 2
[Em Domínio narrativo devem ser tratados aspectos do enredo, da ambientação, construção de personagens, e demais elementos da narrativa]
A história é bonita. Sobre o pai, o que descobrimos se dá por meio dos seus sentimentos. Eu consigo ter uma empatia por ele. O desfecho me parece cometer o mesmo erro apontado acima, de ser explicativo demais.
3) Abordagem do tema (nota de 0 a 2)
NOTA: 1,5
[Em Abordagem do tema deve-se discorrer sobre a adequação e o aproveitamento da temática do certame no texto]
O ditado é bem abordado. A história flui naturalmente da ideia. No entanto, apesar do título já deixar claro do que se tratava, o autor achou interessante enfatizar o ditado na última frase do texto. Eu considero uma escolha equivocada. Reforçar uma ideia ou expressão já clara não é, em geral, boa decisão, ainda mais num conto.
4) Impacto (nota de 0 a 2)
NOTA: 0,5
[E em Impacto o participante pode fazer observações pessoais]
Dadas as críticas feitas acima, principalmente o tom “explicativo do texto” (que é ainda pior num conto de tonalidade poética) e o reforço desnecessário ao ditado que se estava trabalhando, o conto deixou de me cativar tanto quanto poderia, dada a bonita trama. Esse tipo de drama me parece exigir muita sutileza. Com as explicações, com o reforço artificial do drama (como em frases quase inverossímeis como “Isso está cravado no seu coração mais profundamente do que o impulso genético”), a poesia sofre e o texto se torna mais pesado.
Para mim, o conto poderia ter terminado aqui: “Para sua sorte, havia sido adotado. Tinha agora outro pai. E teria orgulho de ser parecido com ele”.
Creio que a eliminação de excessos (como todo conto demanda, e como a poesia demanda ainda mais!) nos deixaria com uma bela história.
NOTA FINAL: 6
Domínio da escrita:
Embora o texto esteja escrito de maneira minimamente correta (com poucos erros), não chega a brilhar. É um texto com poucas figuras de linguagem e vocabulário bastante comum.
Nota 1.
Domínio narrativo:
Texto simples, com início meio e fim. Em alguns momentos, a substituição de nomes próprios por pronomes deixa pouco claro quem exatamente seria o personagem substituído.
O desfecho é um pouco abrupto, com um personagem envelhecendo sem que o narrador deixe muito claro qual personagem seria. O leitor deve se esforçar para entender quem envelhece e quem vem a reproduzir o gesto da adoção.
O enredo é bom, mas pouco desenvolvido. Soa como um esboço a merecer mais profundidade, mais complexidade, e mais sutileza também.
Nota 1.
Abordagem do tema:
O tema está presente e abordado de forma criativa: a certeza do ditado é posta à prova. Afinal, o filho de peixe será necessariamente um peixinho?
Nota 2.
Impacto:
O texto aborda uma questão familiar relevante: conflitos sobre a paternidade afetiva. Há também um tema social: a adoção. O texto comove, enternece. A beleza, o amor e a sensibilidade estão presentes.
Nota 2.
Notal geral: 6.
Domínio da escrita: Sei que o espaçamento deve ter sido culpa do word, mas ficou um pouco estranho esses pulos de parágrafos. Tirando isso, é um texto bastante carregado, emotivo, mas fácil de entender. Transmite muito bem as sensações. São passagens rápidas, mas que adicionam muito ao contexto. Nota 2,0
Domínio narrativo: o drama sai do EC, mas o EC não sai do drama. E lá vamos nós com uma história mais tensa, real e cotidiana. Flui bem, atravessa eras rapidamente (mais do que, como leitor, eu gostaria), mas funciona. Não trava e ainda deixa uma sensação agradável no fim. Nota 2,0
Abordagem do tema: a gíria está como pano de fundo, mas também há uma explicação que permeia todo o texto. Então, está bem presente. Nota 2,0
Impacto: queria ter gostado mais. Acho que, por estar cansado de dramas, tenha lido com certa má vontade, confesso. Mas é um texto muito bonito, com moral da história e a lei do eterno retorno. Faltou uma pimentinha a mais, quem sabe… Nota 2,0
Nota final: 8,0
Domínio da escrita 3,0
Uma escrita correta, limpa e objetiva. Não há complexidade no texto para avaliar melhor, mas, dentro da simplicidade do conto, está tudo certo.
Domínio narrativo 2,0
Estranhei a forma do texto, com parágrafos de uma frase só. Não sou estudiosa do assunto, não sei dizer se isso é um “problema”. Mas, como leitora, fico com a impressão de que o texto está correndo por conta do estilo telegráfico. Como se a história estivesse sendo resumida.
Abordagem do tema 2,0
Dentro do tema. O filho se preocupa em ser “peixinho” e, como o peixe-pai, ser um homem mau e desprezível.
Impacto 1,0
Uma história tão bonita! As primeiras linhas ganharam meu coração, de verdade! Parei um minuto para buscar uns lencinhos e continuei. Porém, a história parecia estar sendo contada com pressa e eu queria saber mais. Por que só o pai é mencionado? Ele adotou sozinho (puxa, que coragem!)? Ao invés de dizer que o menino era arisco, gostaria de ter visto isso, cenas em que o pai tentasse trazer o menino para uma vida normal de criança amada. Enfim, você partiu de uma premissa muito boa, você escreve bem, só que faltou alguma coisa no seu texto. Acho que faltou mais texto, porque o que está aí é bom.
Nota: 8.0
1. Domínio da escrita ……… Nota: (1,5 ).
Comentário: Texto fluente porém, demasiado minimalista.
2. Domínio narrativo ………..Nota: ( 1,5 ).
Comentário: Enredo mal construído. Não está claro como o personagem sabe quem é seu pai biológico; pelo jornal?
3. Abordagem do tema………Nota: (1,0 ).
Comentário: Texto contraditório, pois o ditado em questão (se refere a filho biológico), não deixaria outra alternativa para o destino do filho.
4. Impacto…….. Nota: ( 0,5 ).
Comentário: Conto maçante, sem impacto emocional.
Domínio da escrita: nota 1,5. O grande problema do texto é a falta de coesão entras as frases, parecem soltas, em razão da ausência de conectivos, embora a sequência de ideias sejam coerentes.
Domínio narrativo: nota 3,0. O texto demonstra início, meio e fim.
Abordagem do tema: nota 2,0. A abordagem do tema foi adequada, o ditado popular diz : filho de peixe, peixinho é, compatível com a história.
Impacto: nota de 1,5. A história é boa, porém não considerei criativa, empolgante, o conflito é bem comum.
Domínio da escrita: faltou fazer alguma revisão para corrigir algum erro de digitação (“receoso…” [sic]); A coesão é satisfatória e o estilo é comum. Nota 2.
Domínio narrativo: simples enredo; ambientação sem detalhes, mesmo para um conto curto; a construção da personagem é bem definida. Nota 2.
Abordagem do tema: não ficou muito claro o aproveitamento da temática no texto, ao soar contraditória a forma como o autor a expôs, pois como diz o ditado”filho de peixe peixinho é” . Nota: 1.
Impacto: a escrita é objetiva e simples. Nota 1,5.
Domínio da escrita: Apresenta alguns erros de coesão e coerência como “Foi chamado várias vezes na escola”. Nota 2
Domínio Narrativo:O texto se enquadra no estilo de conto, uma boa ambientação , personagens. Entretanto poderia ser bem melhor explorado. Nota 2,5
Abordagem do tema: O texto traz o ditado popular como temática de sua estória, inclusive trazendo um novo desfecho ao ditado. Nota 2
Impacto: O texto provoca uma reflexão acerca da deturpação as vezes do ditado abordado, mostrando que nem sempre o meio determina o indivíduo, mas o importante no final das contas é como o indivíduo se permite determinar pelo meio em que vive. Nota 2