
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura (Rua dos mares)
A minha avó me ensinou muitas coisas durante os dez anos em que tive o privilégio de conviver com ela, Dona Luzia mora no céu agora, virou uma das estrelas que ajuda a iluminar a noite. Nas tardes de domingo costumo lembrar de seu sorriso doce, sua risada alta e suas palavras sábias.
Os meus olhos se fecham e minhas lembranças me levam para uma época verde que nunca voltará e também nunca passou. Minha vovó ainda mora dentro de mim, bem protegida no fundo do meu coração. Até ouço nossas conversas.
— Sabe Vanessa, a vida não vai te perguntar se quer ser forte. Mais cedo ou mais tarde ela vai te obrigar a ser.
— Eu já sou forte vovó, o dentista disse que fui a única criança que não chorou para tirar o aparelho por conta da dor.
— Você está sendo forte, mas não da melhor forma.
— Como assim?
— Olho para ti e vejo uma pedra.
— Isso é bom, Davi matou um gigante com uma pedra.
— A pedra foi apenas um instrumento na mão dele, que virou herói foi Davi e não a pedra. A pedra serviu para matar o gigante, mas não modificou a natureza má que ele tinha.
— Onde a senhora quer chegar?
— Quero que seja forte como as águas. Assim você furará as pedras com o tempo e descobrirá que dentro delas existem tesouros.
A minha mente viaja a mando de outra parte do meu coração e me lembro de Gustavo, o que sinto por ele nunca senti por outro rapaz. Mas ele só pensa na Amanda, uma namorada da época do ensino médio. Eu sou amiga dele e por isso sei de seus segredos. Lembro novamente que minha vó me disse para ser forte como a água, é isso! Vou conquistar meu amado com pequenos esforços diários.
O sol nasce e a segunda-feira começa. Muita gente não gosta das segundas, mas eu amo. Para mim, representa um renascimento, uma nova oportunidade de dar meu melhor, aprender a ser melhor, evoluir em todos os sentidos e começar meu plano de conquista. Pego o celular e decido o que escrever para o Gustavo, minhas mãos tremem, eu troco muitas mensagens com ele, mas nunca mandei nenhuma com a intenção de o trazer para mim. Lembro de que menos é mais e opto pela simplicidade.
“Bom dia Gustavo.”
“Bom dia Vanessa! Como vai?”
“Melhor agora.”
“Por que?”
“Porque estou falando com um anjo.”
“Você bebeu algo?”
“Não posso valorizar meu melhor amigo?”
“Claro que pode, recomendo que faça isso mais vezes.”
“Pode deixar, vem jantar aqui em casa hoje, comprei um livro de culinária.”
“Mas você detesta cozinhar.”
“As pessoas mudam.”
“Combinado então, vou ser sua cobaia.”
Depois de chegar da escola na qual trabalho como professora de português já vou abrir o livro. Decido preparar vatapá de camarão com verduras e arroz. Para sobremesa fiz uma torta de maça. Acabo percebendo que me divirto seguindo as instruções do livro, é como fazer um dever de casa e eu sempre fui NERD. Seguir instruções é meu forte. O cheiro fica maravilhoso.
O dono de meus pensamentos chega dez minutos antes das oito horas da noite. O horário combinado era oito horas em ponto, mas ele sempre foi ansioso.
— Que cheiro divino!
— Advinha o que é.
— Sinto cheiro de camarão.
— Acertou, mas o que é?
— Não sei.
— Vatapá de camarão.
— Nunca provei.
— Sempre tem uma primeira vez.
Eu coloco os pratos na mesa com uma jarra de suco de tamarindo. Eu queria ter comprado vinho, mas não queria que parecesse um encontro, até porque não era de fato.
O Gustavo amou o meu vatapá e pediu mais.
— Ficou delicioso. Você progrediu muito de professora dos pratos congelados para mestre cuca.
— Só fiz um prato até agora.
— É assim que começa.
Eu fico pensando que nossa linda história de amor também pode começar naquele momento. Fico tão distraída que deixo cair um pouco de vatapá na minha roupa.
Gustavo não perde a oportunidade de fazer hora com a minha cara.
— Agora só falta a cozinheira aprender a comer.
Nós dois rimos e eu acabo não conseguindo parar de rir porque penso que também falta ele aprender que minha boca é a certa para ele.
Gustavo fica assistindo minha crise de riso e acaba rindo mais, o riso é contagiante.
Eu sirvo a sobremesa.
— Nunca comi uma torta tão boa Vanessa.
— Comeu sim, não sobrou nada no prato.
Rimos novamente. Depois de alguns minutos Gustavo agradece e volta para a casa dele. Ele ainda não é meu, mas minha água já começou o processo de furar as pedras dele, quase senti fragmentos saindo enquanto ele ria. Acho que também furei um pouco das minhas próprias pedras hoje, parei de me sentir vítima de uma moça do passado da minha paixão que eu nem conheci e me esforcei para ser marcante no presente dele. Além disso minha avó conquistou meu avô pelo estomago como ela mesmo me disse um dia. No dia que ela disse isso eu falei que nunca iria cozinhar para homem, mas quando a gente sente que é o homem certos orgulhos caem por terra.
Domínio da escrita: ainda está em desenvolvimento, mas está no caminho certo. Os diálogos não estão naturais. Tente ler em voz alta depois de escrever – você nota que estão muito mecânicos. Em diálogos, o melhor é ser o mais próximo possível do cotidiano. Isso inclui “tá” ou gírias tipo “vambora”. Isso deixa o texto mais rico. Acho que é o ponto em que precisa melhorar. Nota 1,0
Domínio narrativo: outro ponto é a coesão de ideias. O texto começa bem, mas troca rápido demais para escola e logo temos um jantar. É necessário dar tempo para o leitor se acostumar com a histórias. Tente cuidar também as trocas temporais. Se está no presente, fique no presente. Se foi algo que já aconteceu, permaneça narrando no passado. São coisinhas que se pega com o tempo. O início está excelente nesse contexto. Nota 2,0
Abordagem do tema: tem uma explicação ao final, mas ficou meio de lado durante a passagem de tempo. A abordagem foi bem mais sutil, mas só é possível “senti-la” bem no início e só no finalzinho. Nota 1,0
Impacto: tem sua lição de moral e até soa bonitinho. Parece uma criança na introdução, mas no final já dá a ideia de uma adulta. Acho que se você se concentrasse na infância da personagem, teria sido um caminho mais fácil e curto para o que você pretendia no final. Nota 1,0
Nota final: 5,0
1. Domínio da escrita ……… Nota: ( 1,5 ).
Comentário: Repertório léxico mediano e estilo narrativo demasiado truncado.
2. Domínio narrativo ………..Nota: ( 0,5 ).
Comentário: Precisa melhorar a coesão dos elementos do texto.
3. Abordagem do tema………Nota: ( 1,0 ).
Comentário: Aforismo abordado de forma forçada.
4. Impacto…….. Nota: (0,5 ).
Comentário: Relato enfadonho, sem alma.
Domínio da escrita 2,5
Escrita muito boa, com poucos erros, nada que incomode. Uma revisão mais atenta teria beneficiado seu texto.
Domínio narrativo 2,5
Boa narrativa, sem grandes mirabolancias, conduz o leitor com leveza. Só senti uma certa “dureza” nos diálogos, eles soaram, por vezes, meio artificiais.
Abordagem do tema 2
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Texto dentro do tema e tema bem encaixado no texto.
Impacto 0,5
Uma história singela e bonita sobre uma moça decidida a sair da friendzone. Gostei e está bem escrita, mas senti falta de algo mais. É simples e bom, mas meio simples demais. Está errado ser tão simples? Não acho. Porém, não me impactou.
Nota: 7,5
O texto possui alguns problemas de coesão, estilo coloquial, há ausência de conectivos entre as frases. Nota 2,0.
Concernente ao domínio narrativo, há sequência dos fatos, descrição pormenorizada. Nota 3,0.
Abordagem do tema está de acordo com o ditado popular. Nota 2,0.
Impacto: o texto possui um conflito, faltou originalidade e emoção, muito previsível. Nota 0,5
Bom.
Domínio da escrita: Possui alguns erros de coesão e coerência como no trecho “que virou herói foi Davi”. Nota 2,25
Domínio Narrativo: O texto se adequa ao estilo de conto, entretanto possui pobre ambientação e personagens pobres. NOTA 1
Abordagem do tema: A autora aborda o tema, adequando-se a proposta, entretanto achei pobre a desenvoltura temática. Nota 0,5
Impacto: O texto não me provocou impacto, achei pobre, Nota 0