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A latrina │ Gustavo Prússia

Essa é a história de uma latrina que sonhava em se tornar um moderno vaso sanitário, um banheiro de luxo. Desde que era apenas um simples penico, não suportava a “vida” que levava. Achava o seu dia a dia algo repugnante. Como penico, ficava abandonado no quarto, sob a cama, e só lembravam-se dele quando se viam apurados para fazer xixi ou cocô, quase sempre no meio da noite. Definitivamente, não queria ser usado a todo o momento como um mero recipiente para urina e fezes pelas pessoas da casa onde “vivia” triste e inconformado.

O tempo passou e o penico se tornou uma latrina. Agora, ficava na rua, nos fundos do terreno, meio camuflada entre algumas árvores em um cantinho do quintal. Sentia-se maior, mais importante, livre, “vivendo” a céu aberto. Mesmo assim, se incomodava com as moscas, vermes e outros insetos indesejados. Além disso, continuava sendo lembrada somente na hora em que as pessoas precisavam cagar e mijar. A latrina estava depressiva, totalmente descontente com o mau cheiro que exalava continuamente. Não podia conviver com a ideia de que era apenas um grande buraco cavado no chão; cheio de merda e mijo.

A latrina estava literalmente na fossa, ou era a própria fossa. Após anos assistindo imóvel, diversas bundas defecando, pênis e vaginas urinando; a latrina já não aguentava mais ficar “engolindo” tanto desaforo. De tanto desejar e sonhar chegou o dia em que ela foi, modificada e transformada em uma patente, ou como é comumente chamada de “casinha”. A latrina tinha se tornado um rudimentar projeto de banheiro, uma construção rústica, com tábuas velhas que cercavam e cobriam o buraco da antiga latrina. Ela passou a ser uma “casinha”, com porta, que oferecia um pouco de privacidade. Mas ela continuava sendo assediada pelas moscas, vermes e outros insetos.

Depois de muitos anos exercendo a função de patente, conseguiu alcançar a tão almejada posição que desejava. Com a crescente urbanização no bairro e com as preocupações com saneamento básico, a latrina que ocupava a função de patente, foi demolida. Construíram então um banheiro de alvenaria junto da casa; com fossa, piso, azulejo, vaso sanitário de boa louça, com descarga e tudo que tinha direito. A latrina estava muito feliz; a tão sonhada evolução havia chegado.

O sonho tinha se realizado. Apesar de as pessoas continuarem cagando e mijando nela, agora, era só dar descarga para a “mágica” acontecer e permanecer limpa. Ela passou a ser lavada com água sanitária e perfumada com bons desinfetantes. Enfim, havia conquistado a “vida” que sonhava desde que era um pobre penico. Como diz um velho ditado: “Quem espera, sempre alcança”. 

7 comentários em “A latrina │ Gustavo Prússia”

  1. Domínio da escrita: que merda, hein? Inusitado, com certeza. Tem seus méritos. É bem humorado, tem uma estrutura de piada/crônica e termina numa lição de moral (!?). Nota 2,0

    Domínio narrativo: consegue ser divertido, confesso. Fiquei esperando a piada final e veio. Não tenho do que reclamar. Bem escrito, de belas imagens poéticas que permanecerão na mente do leitor por horas. Nota 2,0

    Abordagem do tema: só entendemos do que se trata no final. A piada funciona. Já, como temática, não. Faltou um maior desenvolvimento – se é que se possa ter algo assim no caminho escolhido. Nota 1,0

    Impacto: diverte. Ponto final. Como história é péssimo. Como conto, é médio. Como crônica, até funciona. Mas foi construído apenas para ter aquele sorriso amarelo na conclusão. Nota 1,0

    Nota final: 6,0

  2. Arlindo Kamimura

    Domínio da escrita ……… Nota: ( 1,0 ).
    Comentário: Bom exemplo estético de disquesia verborrágica. Fino exemplo de estilo tenesmo-coloproctológico-retal. Repertório léxico a-bunda-nte.
    Domínio narrativo ………..Nota: ( 1,0 ).
    Comentário: Enredo Flatônico com inclinação e tendência a fecaloma literária. Ambientação apropriada no intestino grosseiro.
    Abordagem do tema………Nota: ( 0,5 ).
    Comentário: O autor evacua o conteúdo elegantemente, a despeito de algumas blenúrias e melenas, que fizeram baixar sua nota.
    Impacto…….. Nota: (0,0 ).
    Comentário: “Obra” (no sentido escatológico) digna do título, de onde não deveria ter saído. é, í, ó, ú, ô, á , ação

  3. Domínio da escrita 3,0
    Conto correto, sem erros que chamem a atenção.

    Domínio narrativo 2,0
    Não sei. O texto não conta uma história com muitos elementos, ou nuances. É a simples história de uma latrina, difícil avaliar o domínio narrativo. Pensei que a latrina fosse uma metáfora e que esta se revelaria em algum momento. Mas não aconteceu nada.

    Abordagem do tema 2,0
    Conto dentro do tema: quem espera sempre alcança e a pobre latrina conseguiu o que queria.

    Impacto 0
    Como disse em domínio narrativo, fiquei pensando, no começo, que a latrina fosse uma metáfora. Mas, ou ela não era e o texto é só isso mesmo, uma latrina que queria ser banheiro, ou faltou mostrar melhor a metáfora. Ou eu que não entendi patavinas mesmo, esta alternativa é válida.

    Nota: 7,0

  4. LIZANDRA OLIVEIRA

    O texto apresenta bom domínio na escrita, porém algumas incoerências. Nota 2,0.
    Concernente ao domínio narrativo, há sequência dos fatos, descrição pormenorizada. Nota 3,0.
    Abordagem do tema está de acordo com o ditado popular. Nota 2,0.
    Impacto: o texto possui um conflito, há originalidade, porém não me emocionou. Nota 1,0

  5. Domínio da escrita: o texto de encontra dentro do estilo proposto, conto que aborda ditados populares. Entretanto a alguns erros quanto a coerência como no trecho “Apesar de as pessoas…”. Mas se encontra bom de um modo geral. Nota 2,5
    Domínio Narrativo: Criativa a maneira como o autor transforma a história de um penico que evolui em busca de dignidade, de penico a um banheiro, os personagens foram bem elaborados , uma ambientação que usa da realidade para algo que não se dá na realidade. Nota 2,5
    Abordagem do tema: O se utiliza de uma estória para apresentar o ditado “quem espera sempre alcança”. adequando-se assim a proposta do tema, e utiliza-se do humor para desenvolver a narrativa do penico inconformado. Nota 2
    Impacto: Achei o texto engraçado , o que acaba prendendo quem ler, sobremaneira como o autor desenvolve em conjunto a narrativa e o ditado escolhido. Nota 2

  6. Gostei. Eu diria que é um texto meio conto, meio crônica; com uma “pitada” poética.
    O texto ainda traz uma mensagem verdadeira: “Quem espera, sempre alcança”.
    Parabéns ao autor pelo texto criativo e ao Clube do Conto Lume, pela iniciativa.
    Um fraterno abraço e saudações literárias.

  7. Claudia Roberta Angst

    Domínio da escrita: nota 3,0
    Não encontrei erros a não ser uma vírgula mal colocada em: “a latrina que ocupava a função de patente, foi demolida”
    O(A) autor(a) apresenta habilidade com as palavras e desenvolve o texto com segurança.

    Domínio narrativo: nota 2,0
    Personagem central, o protagonista penico/latrina, é apresentado de forma divertida. O enredo desenvolve-se com fluidez e toques de humor. Só não captei direito como se deu a transformação, evolução, do penico – pois, uma passagem revela que a latrina havia sido demolida. Algo que é demolido remete à ideia de destruição, de extinção do objeto. Então o penico que havia evoluído e se tornado uma latrina não deveria passar por uma demolição. Enfim, eu entendi a ideia, mas algo deveria ser modificado para não deixar o leitor imaginar a destruição do penico/latrina.

    Abordagem do tema: nota 2,0
    O ditado popular escolhido foi “quem espera sempre alcança”, portanto o tema foi abordado com sucesso.

    Impacto: nota de 1,5
    O texto é leve e divertido, embora apele para uma linguagem mais crua em alguns momentos – não sei se haveria outro modo de passar a ideia da função do penico, então relevei esse aspecto. O enredo foi resolvido com criatividade e trouxe um final feliz. Bom conto!

    Nota total: 8,5

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