Sexy é quem sabe │ Yvonne Miller


Até um dia desses, a gente suspeitava que minha enteada estava apaixonada pelo novo colega de turma. Logo no início do ano havia se espalhado o rumor sobre a chegada dele de São Paulo. Um professor deixou escapar o nome e era questão de minutos para acharem uma foto nas redes sociais.
— O Marcelo é muito gato! — anunciou ao voltar da escola esse dia, os olhos brilhando.
Acompanhamos tudo da primeira fileira da plateia: pelas palavras da minha enteada visualizamos o Ensino Médio inteiro cochichando nos corredores – “Já viu?”, “Um gatinho pra chamar de meu!”, “Aprende a dividir, pô!”, “Será que ele curte meninas ou meninos?”, “Talvez os dois.” – a ansiedade crescendo, os hormônios estourando e, quando finalmente chegou, a luta por obter a atenção dele. Nesses dias, minha enteada chegava em casa animadíssima, nem parecia que tinha passado o dia todo na escola. Contava os últimos causos das “Crônicas do Marcelo”: quem tinha conseguido sentar ao lado dele no ônibus, que fulano ia fazer uma festa só para convidar ele… Ela mesma se ofereceu para mostrar o bairro para o recém-chegado. Ele aceitou o convite e só faltava ela não voltar dos passeios.
Não se incomodava com o jeito retraído do Marcelo que pouco parecia ligar para o burburinho à sua volta, nem com o fato dele não saber fazer um suco de laranja, nem quando ele furou aquela festa inventada especialmente para ele – ela achava tudo lindo: “É o jeitinho dele.”
Até que um dia desses chegou em casa com a cara fechada, largou a mochila no chão e se jogou no sofá, chateada.
— O que foi, filha?
— Brochei, ó.
— De quê?
— Do Marcelo.
— O que ele fez?
— Nada. Eu perguntei se já tinha tirado o título.
— E aí?
— Ele disse que não liga pra política.
Foi assim que acabou a primeira paixão da minha enteada. Fica a dica.
