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Se seca morno, é sangue com lágrima │ Bruno Cunha

Vó Alzira apertou a torneira o máximo que pôde, e enquanto se afastava da pia, o azul das veias de sua mão direita esmorecia e o pinga-pinga ia cessando. Nas redinhas do ralo, os fiapos da bucha logo estariam secos. Pudera, com o calor que estava fazendo naquela cozinha. A água que janeiro esquentava pelos encanamentos pelo menos ajudava Vó Alzira a desengordurar as beiradas das frigideiras. Mai pra tomar cos remédio era ruim. Nágua quente? Oxe, remédio né chá não. Agora te falar uma coisa. Chá que é remédio de verdade, um santo remédio, afunda nágua quente um punhado dessas muda amarga que dá em quarqué canto de muro que é dois palito pra cê vê o bem que aquilo ali faz. E os mais novo ri assim de fazer chacota, prefere torrar dinheiro em remédio de farmácia. Essa molecada desacredita de tudo, tudo. Vó Alzira já havia presenciado mais gerações do que gostaria. Mas sentia que os de hoje em dia eram os piores. Tanto ceticismo fazia arder os olhos de Vó Alzira. Aqueles olhos que já foram duas lagoas claras eram hoje um par de pântanos a ponto de borbulhar debaixo daquele solão que meu Jesus Amado, que calor. E tomar remédio caquela água que já sai pelando da torneira? Água quente daquele jeito sirvia só pra desengordurar as frigideira e olhe lá. Vó Alzira atravessou a cozinha a passos ansiosos, fazendo as articulações reclamarem, mas só parou no sofá diante da televisão, o aparelho em posição de nobreza na sala, soberano diante das lâmpadas, da luminária e, claro, do indispensável ventilador regulado na potência máxima. Tanto aparelho ligado junto piorava o mormaço da sala. Mai fazer um quê. Pro tempo da lamparina ninguém merece voltar, não. Oxe, craro que não. Dificurdade lascada. Uma judiação. E no tempo do calor, então? Dezembro, janero, feverero, abril, aquele calorão já cedo e tudo mundo pra trabaiar, pra encher a mão cas ferpa do cabo da enxada. Bem que o povo falava, ”trabaiar de sol em sol”. Era desse jeito mesmo. Lá naquelas lavoura onde hoje virou tudo Atacadão, uma lonjura. E pra andar naquele sol? Uma pindura que ninguém merece viver, não. Tá doido. Notro dia a menina da assistência social veio aqui em casa, sentou comigo no sofá, bebeu nem metade do leite com café e comeu umas duas bolachinha. A gente ficou conversando uma meia hora. Não, deu mais. Uns quarenta minuto. Me fez perder metade do pograma do Padre Moacir. Mas a conversa foi boa. Quer dizer, num foi bem uma conversa, era a menina que falava mais, me enchia de pergunta, chegava a encostar na minha mão de vez em quando. Uma mãozinha macia, macia. Com anel de compromisso. Eu lembro. E num tava suarenta, não. Então por mim segurava na minha mão a tarde intera que fosse. Uma mãozinha macia. A gente tava no tempo do frio. Tinha aquela propaganda pra doar nossas roupa pros pobre aparecendo toda hora na televisão. Mai nem assim a menina tomou mais do meu café com leite. Assim, que eu me lembre, eu tomei o cuidado de tirar a nata do copo dela, mai num perguntei se ela gostava mais do leite ca nata. Às vez gostava. Quando a assistente social foi embora, Vó Alzira finalmente pôde aumentar o volume do Padre Moacir.

Pra assistir televisão, Vó Alzira não precisava nem se curvar no sofá, já que sua estante havia sido confeccionada sob medida. Ergueu os olhos, tal como fazia quando as imagens em movimento a entediavam. Ela adorava o programa do Padre Moacir, mas às vezes se entediava. Pregado solitário naquele lado da sala, estava um retrato ovalado, emoldurado com arabescos e envelhecendo segundo suas próprias leis da química. Os pais de Vó Alzira, próximos para que nenhum deles escapasse do perímetro da câmera, eram como um corpo só. Dona Tica estava visivelmente embaraçada com as orientações do retratista. Encolhia-se em suas próprias inseguranças e parecia ainda mais baixa. Em contrapartida, Seu Moura poderia passar a impressão de que sua coluna fora endireitada pelo terno emprestado, mas aquela era sua postura habitual. Um homem vaidoso desde sempre, que lavava os cabelos todo dia e cultivava um bigodinho impecável, na medida ideal pra disfarçar quando sorria, como quando dizia para todo mundo que sabia ler de soquinho e fazer conta de cabeça antes mesmo do Mobral. Depois do diploma, ficou metido, espalhou que sabia falar um inglês igual ao dos filmes no Cine Sésamo. Mas o que mais impressionava Seu Moura naquelas matinês era a quantidade de carros importados que os americanos tinham. Não tinham nem cor pra pintar os filmes, mas tinham um carrões que meu Deus do céu, aqueles que nessas ruas cê vê uma vez na vida e outra na morte, mas que lá no estrangeiro era literalmente um pra cada esquina. E a mulher dos caras, então? Só loirona, tudo de trinta pra baixo. Só loirona. Não essa gente feia e descabelada que a gente tromba na fila do cinema, não. Só loirona. Escorada no tanque gastando a barra de sabão, Dona Tica se acanhava com tantos detalhes daqueles filmes. Ainda bem que nunca tinha colocado os pés num cinema.

Uma espiada por detrás da cortina e Vó Alzira viu que metade do muro estava na sombra. Por volta de três e meia, portanto. Claro. O gosto amargo na boca e a vertigem leve não mentiam. Tava na hora de correr botar aquele vestidinho. Aquele memo, duro nas vorta do cabine de tanto talco, coitado. Mai tinha que ser aquele. Era o vestidinho que Dona Tica tinha usado no batizado do caçula de Vó Alzira. Vó Alzira riu sozinha só de lembrar das dezenas de vezes que dissera para si mesma que não compensava tirar o vestidinho do roupeiro por causa daquela etiqueta que ele tinha, que ficava incomodando na nuca. Oxe, era só passar a mão na caxa de costura e rancar fora o diabo daquela etiqueta! Mas sempre tinha sido só uma desculpa. Medo do outro pecado cometido, o de ter sua própria batina. Devidamente recoberta pelo vestidinho, Vó Alzira se acomodou no sofá, onde permitiu-se aumentar a vertigem. Enquanto o suor desafiava suas dobras da testa, o forro do vestidinho exalava o formigamento nas pernas, transportava Vó Alzira pela semiconsciência. Recortado pelo quadrilátero da tevê, Padre Moacir a encarava num riso quase cínico. Ela fechou os olhos, apertou-os até as pálpebras vedarem qualquer claridade. O escuro era autoinduzido, mas Vó Alzira tinha medo do exu e da pomba-gira, apesar de saber que era só pedir com fé que os pretos-velhos atendiam. Toda manhã, era do preto o primeiro gole do café que ela tinha passado, mais um galhinho de arruda, uma velinha pra chorar os pecados dela e um copo com água benta. Estava mesmo no momento do programa no qual o Padre Moacir benzia o copo d’água.

A plateia estava imersa numa ansiedade silenciosa. Fitando exclusivamente as gotas de água benta que deslizavam pelo copo suado, Padre Moacir meditava uma oração automática, remoendo o fato de ter abdicado da testosterona para refrescar a menopausa de dezenas de senhoras, e que às vezes o copo parecia-lhe apenas um paliativo para que ele pudesse ditar sem pudor o que elas podiam falar, o que não podiam comer, quando deveriam ajoelhar e quando deveriam virar os olhos para fazer alguma entidade não-católica enxergar você pelo avesso, conversar com os mortos, cultuar ídolos africanos, misturar o pai-nosso com as rezas daquele povo. Em seu íntimo, Padre Moacir, que nascera com nome de velho, queria lidar com os problemas da juventude como seus pares do antigo bairro, deixando a barba crescer, ouvindo Pearl Jam e reunindo meia dúzia de cabeludos no flíper. A imposição de mãos continuava impassível. O anel sacerdotal refletia as luzes do estúdio. Ele tentava não tremer ainda mais. No ponto eletrônico, um chiado combinava apreensão e respeito: ”Senhor Padre, trinta e cinco segundos… Senhor Padre, com sua licença… Senhor Padre, break em três, dois…”

Talvez fosse outro pecado, mas Vó Alzira não podia fugir da ideia de Padre Moacir enfiado no vestíbulo, só de cuecas, meias e sapatos italianos, escovando sua batina, ajeitando desesperado o relógio contra os ossos saltados do pulso, se convencendo de que estava pronto para percorrer os vários e labirínticos metros de corredor naquele estúdio de tevê do outro lado da cidade. A cada programa, ele sempre passava o endereço pra correspondência, parece que da casa de Vó Alzira até lá eram três linhas de ônibus. Nem parecia ficar na mesma cidade. Mas ficava. Imagina só. A gente pode viver cinquenta, oitenta anos numa cidade, pois tem bairro daqui mesmo que a gente nunca nem ouviu falar, né? Pode viver cem anos que sempre tem uma notícia que dá no rádio que faz a gente coçar a cabeça, mas fica aqui mesmo, na mesma cidade que a gente. Sabe quando dá no rádio que tá chovendo de cair pedra em tal bairro da cidade e a gente olha pela janela e o solão tá estralando? É assim mesmo, minha gente. E falando nisso, Jesus amado, que calor é esse, né? Acho que agora eu entendo o povo de Moisés cruzando o deserto a pé. Ha-ha! Minha gente, deixa eu perguntar uma coisa pra vocês. Vocês conhecem o pessoal da Refrigeração Santantônio? É o ar condicionado que a gente usa aqui no estúdio. Tá fresquinho né, plateia? ”Siiim” Ha-ha! Tá bem fresquinho sim, nem parece janeiro. E além do mais, minha gente, o serviço deles é de primeira, seguindo todas as normas internacionais de segurança, dezoito meses de garantia, e olha só, as dez primeiras pessoas que ligarem e falarem que viram o anúncio no Padre Moacir vão ganhar um descontinho especial, tá certo? Quer se refrescar nesse calorão? Então não perca mais tempo e ligue: Zero-cinco-sete-cento-e-onze-quaaatro-miiiiil! Mas ligar de que jeito se Vó Alzira não tinha telefone? Se bem que era tanto trote de uns tempo pra cá que o melhor era num ter telefone. Uns caras do presídio gritando, chorando, falando que é fio da gente, sobrinho, neto, sei lá o que mais. Sei nem comé que essas praga consegue o número da gente. Devem de ter até parte co coisa ruim. Se for importante, a pessoa que se dê ao trabaio de subir até aqui em casa, né verdade? Num ter telefone é livramento. Se for pra receber trote de bandido, melhor num ter telefone nenhum e prontacabou. Detrás do vidro ovalado, Seu Moura lançava um olhar severo na filha. Pra que ter essas frescuras de telefone, minha filha? Pra ficar recebendo trote de malandro enchendo o saco, pedindo um dinheiro que cê não tem? Tá doido. Esse povo tem mais o que inventar, não. De primeiro era trote direto, povo fazendo piadinha com o sobrenome dos outros, vontade que dava de esganar o lazarento com o fio do telefone mesmo. E depois veio aquele bando de zé-ruela enchendo a caixa de correio da gente com cartinha pra repassar pra não sei quantos conhecidos, que assim Deus abençoava tua vida e tua família e blablablá como se Deus tivesse tempo pra ficar lendo cartinha de malacabado. Sei não, é muito confuso pra mim, eu tenho minhas dúvidas… Mas Vó Alzira lembrava do pai saindo cedo no domingo, sem nem tomar um café. Na revistaria, alguns velhos disputavam as gazetas mais cheirosas. Atrás daquelas prateleiras só tinha peixe graúdo. Cardiologista, delegado, engenheiro civil, engenheiro agrônomo. Nenhum deles acreditava em Deus. Seu Moura logo também se autodeclarou ateu, sem um pingo de dúvida. Falta do que fazer que eu vou te contar, viu… É brincadeira! Veja você, o camarada pensando que é carta de parente com coisa importante e é essas tonteira de recadinho pra ficar repassando pros outro. É ou não é, minha velha? Dona Tica fez que sim com a cabeça e continuou acondicionando as roupas no varal enquanto ainda tinha sol.

O muro de Vó Alzira já estava inteirinho na sombra. Presa nele com um tijolo em cada extremidade, a toalha de mesa gracejava no ritmo da brisa morna que terminava de secá-la. Pra que uma toaia enorme dessas numa mesa tão pequena? Era sofá grande mais, toaia grande demais… Que agonia ver a berada dela roçando naquele chão engordurado da cozinha. Deus que me perdoe de ficar limpando chão de cozinha. Areando boca de fogão. Num dô conta não. Vó Alzira preferia mil vezes ficar na sala. Lá pelo menos ela se distraía. Com a agulha de crochê, Vó Alzira esgarçava hesitante umas pontas soltas no braço do sofá até ouvir atrás de si uma descarga breve seguida de uma bem mais longa. De saída do banheiro, seu neto trocou olhares com o Padre Moacir, o rosto queimando de vergonha. O minino só fazia estudar, era do quarto e pro banhero e do banhero pro quarto e só de vez em quando dava um pulo na cozinha comer um pão, um prisunto. Meu neto, esse moço lindo, é o mai véio do meu caçula. Veio do interior pra cá com duas malinha e só. Eu sempre falei pra ele que uma cidadona destamanho tinha faculdade boa pra escoier assim de barde, dava propaganda no rádio toda hora, era quase uma por bairro. E só faz estudar esse minino, às vez nem parece que tá parando aqui comigo. Aqui na minha vila é tranquilo pro minino ler os livro dele pro exame da Ordem. Só farta passar no exame da Ordem pra ele se formar dotor. ”Dotor Moura”. Coisa linda. E outra, o bichinho não faz ideia da sorte que foi ter nascido homem. Podia ser quem quisesse na vida. E se Deus quiser vai chegar na minha idade, só que com saúde, não uma véia cheia de caroço que nem eu. Vó Alzira sentiu vontade de pressionar todos os dedos contra as bochechas joviais do neto, mas o neto já estava barbado, certamente iria se incomodar com uma demonstração de afeto daquelas. No máximo dividiria um café com sua avó. Já tomava café sem leite. Já não era nenhuma criança. Já ia no banheiro sozinho, não dependia de ninguém. Era um calado observador da própria árvore genealógica. Só faltava passar no exame da Ordem pra virar doutor. ”Doutor Moura”. E Vó Alzira ali, em sua sala, dividindo uma garrafa de café recém-passado com o Doutor Moura e com os pretos-velhos. Imagine eles assistindo o Padre Moacir, comentando algo aqui e acolá e, com a maior delicadeza do mundo, o Doutor Moura recusando mais café, falando que o de sua xícara, grosso feito plasma, se conservava ironicamente morno, antes de rir de alguma coisa que só ele tinha entendido.

23 comentários em “Se seca morno, é sangue com lágrima │ Bruno Cunha”

  1. jowilton amaral da costa

    Achei o conto bom. O tema foi executado. A escrita é muito boa e pareceu-me de alguém que já escreve há tempos. A trama é bem simples e demorei para terminar a leitura, foi um pouco arrastado para mim. No entanto há muito boas passagens e frases nessas reminiscências da vovó. Boa sorte no desafio!

  2. Muito bem escrito, exprime quem é a personagem no que ela pensa e em como ela pensa, num admirável esforço de linguagem. Achei que faltou uma trama mais definida, ficou parecendo mais uma crônica. Fiel a um fluxo de consciência, ficou uma circularidade que faz do texto mais orgânico, mas perde narrativa. Também achei que o recurso proposto pelo desafio foi pouco explorado.

  3. Ana Maria Monteiro

    Olá, Cesar Cerqueira.

    Então, é assim: você escreve muito bem e nota-se que tem experiência e sabe fazê-lo. O seu conto é muito bom e está muito bem trabalhado, a troca de olhares está conseguida, de forma bastante inusitada, mas perfeitamente aceitável. Quanto a mim, faltou história e sobrou ambientação.
    Um bom trabalho.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  4. César, você tem uma escrita muito bela. Seu texto é um retrato bem encaixado de uma geração ainda presente, a fé mista brasileira, o contraste entre o antigo e o novo, isso em uma personagem bem cativante. Imagino que você escreva há muito tempo, tem domínio técnico, domou bem o discurso indireto livre e, pelo menos eu, achei equilibrada a emulação do português de alguém como Alzira. O que me pegou mesmo foi a troca de olhares entre a Alzira e o Padre Moacir dentro da televisão. Achei o máximo esse trecho. Parabéns, foi uma agradável leitura.

  5. Anna Carolina Gomes Toledo

    Seu conto mexeu comigo de um jeito complicado de explicar, principalmente porque tenho uma avó com Alzheimer de origem muito simples e sinto que se um dia alguém fosse eternizar as memórias que ela perde a cada dia, as histórias seriam exatamente como essa.
    Gosto a forma com descreveu as falas, é meio grosseiro, mas combinou demais com a história e ainda destacou seu talento para escrever diálogos, já que fica nítido quando há fala, pensamento ou narração. O tema está ali, na narração acompanhando dona Alzira, na perspectiva do padre, na vovó olhando o mundo e seu neto no final. Provavelmente não é o conto mais ousado em relação a temática, mas a narração é criativa e emocionante. De um jeito que abraça quem lê e isso me basta para reconhecer como o conto é bom.

  6. Olá. Gostei da ternura demonstrado no seu conto, aliado à forma como foi tratada a linguagem. Sem descrições, sabemos situar a ação e caracterizar os personagens. Só senti falta de algum desenvolvimento na narrativa, mas os demais autores deveriam ter este texto como referência para futuros trabalhos (só espero que não encarem isso como um convite ao plágio…)

  7. Fernando Dias Cyrino

    Ei, Cesar, você tem as manhas. Sabe das coisas. Que história mais gostosa essa que você me traz da vó Alzira. Eu, pessoalmente, não gosto dessa imitação do falar das pessoas simples e mais velhas. Acho que dá para se fazer isto sem se criar uma língua de escrita errada. Guimarães Rosa é uma bela prova dessa possibilidade. Só esse o problema que vi. Gostei dos fluxos de consciência, da escrita a la Saramago. Acho que será um dos contos bem avaliados. Não gosto de ler os comentários antes de cumprir com a minha obrigação de fazer o meu. Mas conto-lhe, Cesar, que estou curioso para ver como sua história foi recebida. Parabéns, acho que terá sucesso.

  8. Bem verossímil, as mãos da vó Alzira perdendo suas forças, a solidão na velhice… só achei que os parágrafos foram enormes, sem pausas e sem indicar onde havia um dialogo ou apenas o pensamento dos personagens. No mais foi bem criativo mostrando de forma bem natural o modo singular de algumas comunidades e seus dialetos. Sucesso!

  9. Amei a vovó. Conto que retrata os detalhes do cotidiano. Vovó feliz, religiosa e um pouco rabugenta. Achei interessante ela falar de chá, eu amo chá.

  10. Ana Luísa Manfrin Teixeira

    Muito verossímil e com a temática contada de forma muito inteligente!
    O texto flui muito bem. Esse tema é algo que me cala muito fundo no coração e é escrito de maneira sentimental no ponto certo. Muito bem escrito.

  11. Eu gostei demais, acho que foi o melhor conto, certamente, melhor que o meu, rs. A vó Alzira é muito a vó de qualquer pessoa, lida com fé diante do tédio e das limitações da idade e do dia a dia. O neto vem e vai, como se não estivesse ali, é com o padre que ela mantém seu convívio já que, mesmo do outro lado da cidade, é ele que ela imagina e conversa e lhe faz companhia. E as falas regionalistas, tão mineiras, pra mim, foram a cereja do bolo. Parabéns, abs!

  12. Andre Domingos Brizola

    Olá, César!
    Conto que aborda a cotidiano simples e humilde de Vó Alzira, idosa que trabalha em casa, cuida do neto, e assiste ao programa do Padre Moacir como forma de entretenimento.
    Gostei do conto. O enredo pode não ser lá muito criativo, mas consegue inserir detalhes importantes da vida da personagem com poucas informações, deixando tudo muito bem ajustado e coerente, como a visita da assistente social.
    Acho que a grande força desse texto, entretanto, é seu ritmo, um tanto caótico, mas dentro de uma estrutura bem formada e propositalmente conflitante, de modo a expor os “olhares cruzados” que o desafio pede. As idas e vindas de pontos de vistas, com as inserções bem pontuadas do narrador foram feitas de forma bem milimétricas, de modo que vamos e voltamos com cada personagem, mas sem nunca perder a linha do que está sendo contado. “Dotor Moura” e “Doutor Moura” no mesmo parágrafo mostram bem o que quero dizer. Achei muito bem sacado.
    Bem escrito e muito bem adequado ao tema. Esse é um conto em que aposto minhas fichas.
    Boa sorte no desafio!

  13. Achei o conto muito bonito e bem escrito. O modo como optou por transitar entre os olhares trouxe fluidez ao texto. A ideia de continuar escrevendo sem indicação “explícita” da mudança de perspectiva foi muito bem construída. Parabéns!

  14. Claudia Roberta Angst

    Olá, César Cerqueira, tudo bem?
    Antes de mais nada, analiso se há adequação ou não do conto ao tema proposto pelo desafio. Sim, há olhares cruzados, pontos de vistas que se intercalam, de vó Alzira, do narrador, e de outros personagens que fazem parte da história (ou imaginação) da velha senhora.
    Não há como apontar deslizes de revisão já que o conto aposta na linguagem bem coloquial, mantendo o fluxo de consciência fiel ao modo de falar da personagem. Então, está tudo certinho como tem que ser.
    O conto acaba trazendo um pouco da árvore genealógica de Dona Alzira, seus pais, seu filho, seu neto. Cada um com a sua sina e esperança.
    Boa caracterização dos personagens, podemos visualizá-los com facilidade. A leitura flui sem entraves, sem gosto amargo no final. A vida seguindo em frente parece ser o lema do autor.
    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte.

  15. Extremamente moderno. O fluxo de consciência é sempre um desafio (ainda mais para mim que tenho TDAH), mas neste fluiu tranquilamente, sem muitas confusões entre a voz narrativa e do personagem (algumas vezes, sim, tive que voltar e ver o que estava acontecendo) e o uso do discurso direto não me incomodou. Com metáforas ricas e certo humor que agradam demais. Talvez falte certa “uniformidade,” não no conteúdo em si, nas palavras, mas sim no uso ou não uso de certas pontuações. Nota: 8

  16. Antonius Poppelaars

    Gostei do regionalismo: “Nágua quente? Oxe, remédio né chá não”. O uso da linguagem cotidiana é também frequente: “E num tava suarenta, não”. Esses fatores fazem que o leitor sinta simpatia e fica mais envolvido. Engraçado é o anúncio durante a missa na televisão! Um conto íntimo e belíssimo!

  17. Gostei do “escrever como se fala”. Tem muito “Vó Alzira” espalhado pelo texto. Cabe reduzir. Separar um pouco as falas, ajuda. O público alvo não gosta de ler. A agilidade precisa ser delineada para vender.

    1. Só vou postar como resposta, pois esse foi um dos contos que li no horário do almoço, as pressas e sem a verdadeira apreciação. Em complemento, creio que o conto em si carece mesmo de diagramação. É necessário ler com calma para verificar que o conteúdo é interessante. Como disse, “escrever como se fala” é muito legal. Stephen King faz isso, inclusive detalhando como o som das palavras ditas por seus personagens, soou para quem estava na cena. Há (ao menos em todos os caras que consultei sobre contos), uma ligeira aversão a isso. Eu gosto. Continue escrevendo e seja mais criterioso com a montagem.

  18. Um fluxo de pensamento de Vó Alzira, das lembranças que habitam sua memória, de Padre Moacir. O tema do desafio foi atendido, temos várias visões na mesma história. Alguns talvez sejam pontos de vista da própria Vó Alzira. O texto deixa margem a esta interpretação, de que todas as vozes na história nascem da imaginação de Vó Alzira. Mas, mesmo assim, são visões diferentes.
    Gostei muito da fluidez do texto e de sua profundidade e da maneira como a ambientação foi construída. Sem dizer nada diretamente, a solidão foi muito bem retratada.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. Vó Alzira vive em sua rotina; relembrando, reclamando, desconfiando, se surpreendendo… É uma prosa muito boa. O narrador e a protagonista dividem os relatos, por vezes na mesma oração ou frase, recurso muitíssimo interessante. Junto a protagonista – Vó Alzira – surgem outros que se manifestam, tecem comentários, contam histórias e descansam depois. Uma obra muito interessante e muito em escrita. Parabéns!

  20. antonio stegues batista

    O narrador anônimo, aquele que conta a história, inicia apresentando a Avó Alzira nos seus afazeres domésticos e em seguida a Avó toma a palavra, dialoga com o leitor, ou com o narrador, falando do tempo e outras coisas, logo em seguida vem a narração tradicional, aquela que não é ninguém, aliás, é um narrador anônimo sem corpo, sem nome, o mesmo lá do princípio, fala dos pais de dona Alzira, do padre Moacir, do neto dela doutor Moraes que ainda não é doutor, a narrativa não tem uma separação regular, é tudo emendado, apenas um espaço pequeno separando parágrafos, mas isso não atrapalha a compreensão da história e o linguajar caipira da avó é o ponto alto do texto. Os muitos olhares de Vó Alzira sobre a vida e a comunidade. Gostei da inovação da estrutura. Bom conto.

  21. Que início foi esse. A torneira fechando combinou demais com a força que ia faltando nas mãos dela, como se uma coisa fosse transferida para outra. Excelente.
    Me lembrou da Clarice Linspector abordando um tema comum, brasileiro e cotidiano. É um texto bem humorado e eu gostei bastante da fluidez. Ótimo trabalho.
    Se continuar mesclando o cenário como reflexo das condições físicas ou emocionais pode fazer outros belos textos. Pega firme nisso.
    Ainda que o olhar, que me parece, a se cruzar seja o dela com a imaginação, é um texto transmite muita empatia. Talvez dê para dizer que um outro olhar trabalhado aqui seja o dela com o do leitor.
    De ponto negativo tenho a questão do discurso direto. Não aconteceu. Dou a dica de trabalhar a partir de Hemingway e do jeito que muitos autores americanos fazem, alias você fez isso no meio do texto quando trabalhou as falas dela com aspas dentro da narrativa, mas em outras partes desde o início não.
    Continua trabalhando no texto que se fizer mais coisas assim estamos bem supridos, parábens.

  22. O autor cruza seu ponto de vista com o da vó Alzira, em primeira pessoa. Seus olhos disputam com os dela, “Aqueles olhos que já foram duas lagoas claras eram hoje um par de pântanos”, enquanto seus próprios pais envelhecem na parede segundo suas próprias leis da química. Por aí você percebe o grande estilo, cheio de metáforas&companhia, típicos de um Machado de Assis ou um Rubem Cabral. Aí entra um erotismo oculto, hilariante, delicioso, o padre só de cuecas e o calor do deserto do Sinai. Para arrematar, mais reminiscências e “fluxo de consciência”.
    Escrito com toda a técnica literária moderna, que consiste em “resgatar o cotidiano para proporcionar um sentido inovador.” O autor já não é nenhuma criança, escreve sem ajuda de ninguém. Coisa de profiça…

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