
Passion Fruit │ Claudia Roberta Angst
Logo que entra, sente o cheiro. Adocicado com notas cítricas, culminando em uma mistura de odores que lhe provoca náusea. Sobre uma mesa longa, frutas de todas as cores, inteiras ou em fatias, dispostas como artigos de luxo em uma vitrine.
Não faz meia hora que estou aqui e já me esqueceram. Isso é bom. O anonimato me cai bem, muito confortável. Gosto de ficar aqui no meu canto, observar as pessoas indo e vindo. Surpresas, se espalham entre sorrisos e cumprimentos, quase aos gritos de tão entusiasmadas com o encontro. Reencontro, devo dizer.
A recepcionista do evento ocupa uma pequena mesa, espremida entre a porta e a parede lateral do salão. Uma mocinha sardenta e sorridente que deve ser filha — ou quem sabe até neta — de algum dos ex-colegas. De uma hora para outra, aqueles jovens inconsequentes tornaram-se homens e mulheres, todos tão adultos. Um bando de velhos, isso sim. Pega o crachá improvisado e o ajeita por cima do bolso do tailleur. De grife. Por um momento, sente vontade de adotar uma identidade diferente. Adoraria ser outra pessoa hoje. E ontem. E se pensar bem, em toda a minha vida. Não pensa.
Tanta gente veio! Não reconheço a metade. E a maioria fingiu se lembrar de mim. Eu mesmo não me reconheço quando um espelho me alcança. Muita coisa mudou. E eu então!
Não sabe por que resolveu comparecer ao encontro de ex-alunos. Não é dada a nostalgias, tudo uma perda de tempo. Mas a intuição surgiu como um tornado a arremessá-la para fora de casa, para fora de si. Então veio. E aqui está.
Não perderia isso por nada. Já perdi tanta coisa. Tantos anos atirados fora, sem serventia alguma. Então me aproveito da providencial camuflagem, sou quase invisível e isso me serve bem. Olho e não sou olhado. Vejo e ninguém me percebe. Posso vasculhar a vida alheia sem problemas. Sou um narrador onisciente ou oni-ausente? E talvez ela apareça aqui… Ah, é só uma esperança boba, mas quem sabe?
De quem foi a brilhante ideia de fazer a reunião aqui? Um agradável brunch, dizia o convite. Coisa mais fora de moda! Alisa o crachá, um pedaço de papel adesivo preenchido com uma letra arredondada, típica de professora, provavelmente de uma das meninas do Magistério. Nossa, esse curso nem existe mais! Senti tanto orgulho de ser uma das normalistas da turma de… Deixa pra lá, ninguém precisa saber desses detalhes.
Júlia Martins da Fonseca, sim, é o nome da matrona que me acolhe com um sorriso de culpa. Quero garantir que esta pessoa aqui é responsabilidade só minha. Não preciso que recolham meus pedaços por aí. Finja que não existo, quer gritar. Mas não é afeito a desmandos e se cala.
Dá alguns passos para sondar o ambiente. Cumprimenta alguns ex-colegas com acenos, outros com um sorriso ensaiado. Todos estão tão velhos, tão desgastados pelo tempo. Ela também, sabe bem disso. Há espelhos que não tem como evitar, mas quando se afasta deles, veste a persona de diva. Deslumbrante!
Quando a senhora finalmente se afasta, depois de atormentá-lo com algumas perguntas gentis e vazias, ele retoma o foco. Olha em volta como um predador atento aos próprios instintos. Nada lhe escapa ao olhar experiente. É ela? Será? Ajeita os óculos sobre o nariz, buscando o melhor foco. Sim, é ela. Reconheceria o andar compassado, a irritação nos mínimos gestos, as mãos inquietas… É ela, é ela, só pode ser ela.
Que tédio! Mal lembro o nome dessa gente. Tantas horas de terapia para superar os tropeços da adolescência, e cá estamos nós revirando baús empoeirados. Mais dez minutos e vou embora. Cheiro enjoado. Doce demais.
Tenta respirar com calma, sente as mãos suarem, o coração palpitar acelerado. Um clichê de comédia romântica. Ridículo, mas inevitável. A vida é assim, o que posso fazer? É um caminho sem volta.
Toma um copo de água com gás enquanto finge estar interessada nas fotos da netinha de uma colega de quem não consegue lembrar o nome. Normalista. Velha, muito velha. Assim como eu, isso é fato. O último gole serve de desculpa para ir atrás de outra bebida. Está tão quente, justifica sua retirada de cena.
Ela vem pra cá. E eu nem tenho para onde fugir. Como conseguiria? Daqui a pouco vai abrir um daqueles sorrisos feito leque de promessas. Estou perdido! E nem quero que me achem… Você realmente é um velho ridículo! Veja se tem cabimento uma coisa dessas!
Não pode ser. Não pode. Não. De perto, enxerga quase nada, mas de longe, Ave-Maria, é alucinação. Custa a acreditar que ele é ele. Parece tão mirrado, um bichinho amuado entre os ramos do arranjo de flores. Mas aquele olhar não engana. Nunca a enganou. O mesmo entardecer, agora redesenhado em íris envelhecidas.
Sente a respiração se acelerar novamente. Ela vem. Vem? Não, ela passa. Como sempre, é passado.
Ela sente vontade de ir até ele. Se for ele, claro. Ao mesmo tempo, a atração debate-se com uma espécie de repulsa. É esse cheiro, doce, gostoso, pegajoso e quase imoral. Doce como merenda de mãe, mas com um toque proibido. Cheira a sexo. Almiscarado.
Nunca aconteceu. Nunca foram nada um do outro. Nunca descobriram o sabor da hora. Sempre caminhando em passos contrários, em descompasso contínuo.
Esse cheiro! Gruda na pele. Está tão quente! E essa decoração brega? Queriam revisitar os tempos de carnaval nos trópicos? Baile do Havaí. Deu até saudade, confesso. Época boa! Doce. Sente a boca se encher de saliva.
Que é ela, é ela, isso eu sei. Não mais aquela garota atrevida, ciente de sua beleza, mas ainda guarda um ar petulante, sim. Está bonita, sempre foi e sempre será bela. É uma benção. Ou uma praga da natureza.
O desejo é o avesso da aversão. O estômago se acostuma com os odores. Um deles predomina. Mais cítrico, de fazer desaguar as papilas gustativas. Ela geme solitária. Pode sentir o gosto das lembranças e isso dói. Dói porque já não existe o que era apelo. Dói porque nada mais tem razão de ser. Ele até que está bem, apesar de tudo. Sei lá, será que vou até lá e digo oi?
O tempo parece que não passou pra ela. Ou passou e a levou na garupa. Tomara que ela venha até aqui, quero que repita o mesmo trajeto dos meus sonhos. Vou lá? Não posso, não assim. Está olhando pra cá. Será que é pra mim? Está sem óculos, pode só estar olhando o nada.
Será que ele me reconheceu? Depois de tanto tempo, no meio dessa gente toda? Acho difícil. Mas e aquele sorriso se formando? Ou será deboche? Vou me aproximar um pouquinho mais, só para tirar a dúvida.
Está sozinha? Não pode ser.
É ele sim. Mas sozinho? Não tem sentido.
Ah, aquela é a mulher da minha vida.
O homem da minha vida.
Se ela soubesse!
Se ele lembrasse!
Ela finge que o celular toca. Fala com ninguém só para escapar da rejeição de alguém. Se ele quisesse falar comigo, viria até aqui.
Se ela tivesse me reconhecido, teria vindo até mim … ou lançado um sorriso. Ela não vem.
Ele não se move.
Ela não quer. Nunca quis.
Desliga o celular e finge uma súbita urgência. Esfrega as mãos, uma na outra, como se quisesse espremer dali alguma coragem. Olha para onde ele está, e o percebe imóvel. Lança um olhar de descaso, além dele, o atravessando como a um fantasma. Simula indiferença. Foi tudo um engano.
Por um instante, achei que poderia acontecer. Hoje, aqui e agora. Que tolice! Se quando jovens, não foi possível, por que seria agora?
Ela arranca a indesejada identidade sobreposta em seu sofisticado traje. Amassa e deixa cair no chão, com a displicência de quem não tem tempo nem idade para ser politicamente correta. Dá um último olhar, rápido e sem esperanças. Não sei quem é essa pessoa. Mas poderia ter sido o grande amor da minha vida.
Ela se vai. Não pode. Ele põe as mãos sobre as rodas e tenta se desvencilhar da mesa. O movimento ausenta-se além das pernas. Droga de máquina! Talvez ainda possa chamar o seu nome, até mesmo gritar. Amor!
Não grita.
Ela também nada faz.
Que pena! Podia ter sido tudo tão diferente. Amor? Podia. Não foi. Pena!
Ele sente o coração parar. Quer que volte a palpitar descontrolado, mas feliz. Tem planos de um recomeço, mas o corpo falha. Nunca mais, grita o corvo dentro de si.
Respira fundo, engole o aroma como lembrança. Maracujá, é isso. Ela se vira e caminha em direção à saída.
E se…? Ninguém sabe. Ninguém viu.
Fruta Estranha, que aflição, não? Só quem já sofreu uma paixão dessas para entender, sobretudo a sensação de volta, quando tudo volta, aquele sentimento todo. Mas, é aflitivo ver que há uma concordância invisível para ambos, e a troca de olhares se aproveitou muito bem disso. Adorei a leitura.
Adorei o seu texto, é muito sensível e bonito! Só senti falta de mais informações sobre quem são os personagens, pois isso ajudaria o leitor a se conectar melhor com a história. Mas tenho certeza de que com alguns ajustes, o seu texto será um verdadeiro sucesso! Parabéns!
Gostei desse conto, mas com uma ressalva. A princípio, a apresentação das duas perspectivas não é muito apreensível, mas, principalmente, o que senti é que o texto teria funcionado melhor se tivesse começado a partir do ponto que se dá mais ou menos na metade do texto. Achei que se investiu muito tempo em ambientar o conto no reencontro entre colegas quando o avistar de um do outro é o que realmente carrega a força do texto.
Olá, Fruta Estranha
Um amor que atravessa os anos, que proporciona o reencontro e não chega nunca a ser revelado é a fórmula certa para agarrar audiências.
O tema foi plenamente abordado e o conto bem elaborado. A parte dos cheiros fica um pouco confusa, mas tudo é possível quando uma pessoa se sente deslocada e talvez fosse isso mesmo que estava a acontecer com ela.
Está bem escrito e li sem tropeços, o que é sempre agradável.
Parabéns o boa sorte no desafio.
Dos contos montados a partir da troca rápida de narração, esse foi o que melhor se aproveitou do tema, das vantagens dessa estrutura e que escreve com mais intimidade entre os personagens, como se dividisse a própria mente em duas perspectivas durante a narrativa. O desenvolvimento foi ganhando camadas e comprando a atenção do leitor num final esperado, mas ainda capaz de impactar a história. Foi gostoso de acompanhar um evento curto, mas recheado de emoções.
Este conto narra a história de dois ex-colegas que vão a um evento de confraternização, anos depois de terminado o curso. Eles tinham uma paixão secreta, que não revelaram na altura. Agora, sentem novamente a atração, mas decidem não se aproximar. É um texto confuso, que merecia outro tipo de tratamento. As passagens de personagem são demasiado bruscas e sem grandes pontos de referência.
ei, Fruta Estranha, brava! Que conto mais bonito você me traz, Fruta. Gostei muito desse reencontro-desencontro dos dois que não foram, mas poderiam ter sido. o sentido do olfato funciona lindamente com a flor do maracujá. Tudo muito bem escrito, os fluxos de pensamento vão se alternando de um para o outro e eu aqui torcendo para que se aproximem e se arranjem. E ele com suas pernas de roda se sente incapaz de ir atrás dela que foge, lhe escapa pela última vez. O melhor conto que li até agora, parabéns. Para mim está no pódio. Quero ler agora os comentários para constatar se pensam como eu, ou se viram algo distinto.
É àquilo que o ditado popular já diz: “o não você já tem”. E por medo de nos depararmos com tantos nãos, vamos vivendo a incerteza do que poderia ter sido. Mas talvez seja em uma outra dimensão. Bonito conto, construção de espaço, personagens e perspectivas também boas. Parabéns!
Visitar o passado é sempre perigoso; eu acho. Os olhos de hoje versus o que está guardado em trapos na memória, não me parece uma disputa justa. E trazer de volta o gosto não experimentado? Será que ainda é o mesmo gosto? Não colheram o fruto, quando maduro, deixando-o apodrecer e agora na ocorrência de uma nova colheita, de novo, não se permitem, o risco. Covardes não irão para Lua! Esta é minha leitura deste conto magnífico, parabéns! E boa sorte!
Em rápidas sentenças, o conto abrange principalmente uma nostalgia às avessas e a sensação de deslocamento persistente, conduzidas com fluidez, ricas metáforas e doses maravilhosas de sinestesia. O domínio da gramática potencializa a experiência de ler o conto, estrangulado entre sentimentos autodestrutivos descritos com precisão. Fervilhante.
Nota: 8,5
Lembrei da música da Billie também e pensei, bá, vai ser um texto pesadão, então na ausência de corpos negros pendurados, um amor que morre sem nascer foi quase leve, rs. Mesmo sendo um amor daqueles, o maior, porque quase nada que é, se compara ao que poderia ter sido. A narrativa ficou bem descrita e situada e os personagens são interessantes, dá vontade de dar um empurrão nos dois – daqueles que as novelas dão mil vezes até que o pessoal se acerta. Gostei bastante, abs.
Lindo conto de um amor desencontrado, de chances perdidas, de mal entendidos e que, ainda por cima, atende ao tema com perfeição. A história vai revelando aos poucos quem são os personagens, de forma muito hábil. Fiquei meio perdida no começo, mas quando percebi que os parágrafos se alternavam entre o homem e a mulher, tudo se encaixou. Além de revelar os personagens, seus sentimentos vão sendo mostrados num ritmo crescente até o momento em que ela se vai e ele não consegue ir atrás dela, preso entre a mesa e a cadeira de rodas.
Emocionante e sentimental sem ser piegas.
Meu favorito até agora.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Eu amei o conto. Consegui me ver naquele espaço, pensando como um dos personagens; ambientação bem construída, bem como os personagens e muito bem escrito. Nem preciso dizer que se adequa perfeitamente ao desafio proposto. É um dos meus favoritos! Muito, muito bom
O medo da rejeição e insegurança estraga um possível relacionamento romântico. O homem se sente invisível: “Sou um narrador onisciente ou oni-ausente?” Para piorar, não consegue ir até ela, porque está em uma cadeira de rodas mal funcionando. Podemos concluir que os dois nunca ficarão juntos pela referência ao poema “O Corvo” de Poe: “Nunca mais, grita o corvo dentro de si”.
Uma estrutura sensacional, quase um funil que nos controla e vai nos apertando junto com os personagens. De uma convenção torna-se muito original na forma em que divide os pontos de vista, nunca confusa e sempre brincando com esse duplo da insegurança, do fato de estarmos sempre pensando que o outro nao pensa como nos, e como tudo se mostra um ledo engano que nos priva as oportunidades. Digo que me inspirou a querer fazer algo semelhante haha
Nota: 10
Bom conto. O tema foi executado muito bem. Um encontro de ex-alunos faz com que lembranças e ex-amires se embaralhem.. Os olhares vão mudando de personagem de uma forma bem feita, mesmo sem nenhuma divisória. A condução natmreativa é segura. O texto tanbém tem ótimas frases. A único detalhe que eu mudaria seria a frase final. Muito bom! Boa sorte no desafio
Eu amei. O medo acabando com um amor recíproco. É interessante mudar do ponto de vista de um para o do outro. Mas vamos ser sinceros? Um sentimento realmente forte quebra paradigmas internos …. Esse amor parece aquele amor de vidro das canções de roda da infância, mas ele não foi quebrado porque nem sequer foi vivido. O que me deixa intrigada é saber que muitas pessoas devem viver esse drama. Parabéns pelo texto bem escrito.
É a timidez. Tem gente que se preocupa em excesso com a opinião dos outros. Além de fobia de rejeição… Palavra de honra, eu tenho um amigo que acha legal ter tanta gente asim, pois sobra mais pra ele na balada, ele diz. Pedro Alex, um cara de ideias largas e terríveis…
Olha, olha, que bom texto temos aqui. Dá pra desenrolar uma pequena novela a partir desse episódio.
Mais uma vez, olhares que se cruzam e que se descruzam, mas acho que é tópico humano comum, fugimos do que não queremos ver ou não nos interessa, como é o caso aqui.
Protagonista carismático, muito bom. Tudo entra nos moldes de uma boa comédia romântica ou drama cotidiano.
De resto, parabéns, no aguardo das próximas edições.
Ok. Ilustrativa a inclusão das frutas e do perfume de frutas, mas, se há um conto nesse desafio que merece o título do próprio desafio é este aqui. Olhares cruzados ficaria ótimo. Quantos arrependimentos ficam marcados no coração das pessoas, quando têm de se deparar com o passado, não é? Boa premissa, bom desenvolvimento, boa narrativa. Também lembrei de Billie Holiday por conta do título, mas como na canção o fruto é uma metáfora, aqui, o fruto é um adereço. Parabéns e continue escrevendo.
Haha, muito engraçado. Incrível como brasileiro pega esses costumes antigos da Europa (brunch=breakfeast+lunch) e acha que é a última palavra, haha. Aí mistura pão, queijo, ovo e café com salada e até bife. Só não pode ter feijão e arroz porque vira almoço. Ah, e uma carrada de frutas. Aí o cheiro fica realmente de maracujá, a passiflora enjoativa, que não tem culpa de cheirar mais que as outras.
Mas nem com a passiflora a paixão desses dois aflora, fica guardada dentro deles, uma coisa tão fora de moda quanto esses encontros de colégio. Não recomendo nenhum dos dois. Hoje em dia, todo mundo sabe que se tá a fim de alguém, tem que chegar junto. O pior que pode acontecer é levar um não. Aí a gente parte pra outra. O que não pode é ficar se remoendo, no caso, os dois. Principalmente com tantos anos “atirados fora”. Muita coisa se perde assim, quantas vezes pessoas que se atraem perdem a oportunidade de ficar juntas só por timidez.
Muito interessante a visão do autor sobre terapia: a pessoa vai no psicanalista para se livrar dos complexos e depois se atira a eles de volta. Com efeito. Bom, esse conto, de tom tragicômico, oscilando entre o drama e a ironia, reflete muito bem a vida de hoje. Boa sorte na sua carreira.
Comecei a ler o conto e achei confusa a narrativa, não sabia se o narrador era homem ou mulher, mas depois entendi que era os pensamentos misturados de duas pessoas, uma estrutura difícil de entender no princípio da leitura. Acho válido, faz parte da arte da escrita, como outros contos deste desafio que apresentam estruturas narrativas diferentes. Os pensamentos de duas pessoas que vão a um evento, um casal de idosos suponho, que flertaram no passado ou foram namorados. Dois olhares sobre o tempo, os casos mal resolvidos e a submissão da ação do destino.
Olá, Fruta Estranha, tudo bem?
Seu pseudônimo me fez pensar naquela música Strange Fruit, cantada pela Billie Holiday e que sobre os horrores dos linchamentos de negros nos Estados Unidos. Ainda bem que a sua estranheza é outra, embora também dolorosa.
A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: enredo que transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens. No seu texto, identifiquei dois olhares diferentes: de uma mulher e de um homem. Ambos mais velhos participando de uma espécie de encontro de ex-alunos. Fiquei com a impressão de que não viveram uma história de amor nos seus tempos de adolescência e agora carregam essa frustração. Não sei se percebi bem quem é quem, pois não há distinção de fala ou pensamento de um ou de outro, talvez só perceptível pela quebra de parágrafos. Alguns podem considerar a narrativa confusa, mas achei que criou um clima intimista.
Eu discordo do uso de algumas vírgulas, mas não chega a atrapalhar a leitura.
O título do conto esbarra no cheiro que uma das personagens sente o tempo todo, ora com repulsa, ora comparando a sexo (?), mas como tem “passion” combina com a história mal resolvida da paixão juvenil. Quem nunca viveu algo assim?
Torci até o final para que os dois se entendessem, mas… a vida não é um filme de sessão da tarde, infelizmente. Se bem que aquele “e se…” no final abre possibilidades, até mesmo do episódio nem ter acontecido do jeito que foi narrado. Sei lá, viajei um pouco agora.
Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!