
Lascívia │ Vladimir Ferrari
Sentou-se na ponta do sofá lateral próxima à sala do pré-atendimento. Além dela, um casal de idosos com semblante pesado, mãos sobre o colo e cabeça baixa. Outra garota sentada do outro lado da recepção, diante do guichê da secretaria. Juntou os joelhos e esticou a saia no comprimento, até quase cobri-los. Colocou a bolsa ali, ajeitou depois a camisa sobre os ombros, para diminuir o decote. Quem não te conhece, que lhe compre, Renata — pensava — e pague bem caro.
Um enfermeiro de ombros largos, cabelo crespo curto e sobrancelhas grossas sobre olhos negros, sentou-se diante dela, no interior do balcão. Pareceu não notar os presentes, preocupando-se com as informações na tela de um terminal.
Renata admirou o porte físico dele. Ao mesmo tempo, o olhar da garota do outro lado correu por sua silhueta. Perceber isso, inundou sua mente com considerações sobre as próprias escolhas. Reviu mentalmente sapatos, maquiagem, cabelos e unhas. Toda mulher se arruma para causar. Os olhares se cruzaram e a moça desviou os olhos, rapidamente. Ela não conseguiu definir se por vergonha, ou por desinteresse mesmo. Vestia tênis brancos, um conjunto jeans com jaqueta curta sobre um corset branco, colado ao corpo. Unhas curtas sem pintura e cabelos longos presos com uma caneta esferográfica. Parecia entediada pela espera. Renata tirou os olhos dela e encontrou o olhar do enfermeiro.
Percebeu a expressão do rosto dele mudar de um “já foi atendida?” para um “oi, você!” em um instante. No momento seguinte, pareceu sorrir por trás da máscara. A pergunta a surpreendeu:
— Você já foi atendida, Renata?
Após o susto ao ser reconhecida, um suspiro de alívio, pois lembrou-se dele. Era um antigo colega de escola. Essas máscaras enganam a gente — pensou.
— Como vai Gerson tudo bem contigo?
— Tudo indo. Já foi atendida?
— Estou aguardando o horário das visitas começar. Ainda faltam dez minutos, não é? — Levantou-se e se encostou ao balcão, cruzando os braços sobre o tampo de granito, curvando-se ligeiramente para apreciar melhor o amigo.
— Isso. Algum parente seu está aqui? — Gerson baixou a voz, assim que ela se aproximou.
— É. Mais ou menos. — disse se inclinando ainda mais. Completou num sussurro — É um… amigo.
— Ah… — As sobrancelhas grossas de Gerson subiram e desceram, compreensivas.
Um segundo de silêncio. Ele consultou a ficha ao lado de teclado e digitou alguma coisa. Renata sentiu-se tola e tentou o usual:
— Não lhe vejo faz é tempo! Você fez Enfermagem ou Medicina?
— Enfermagem. Em Marília. Fui para lá depois da oitava série. Acabei me interessando, formando e voltando para cá.
— Legal. Eu fiz Psicologia, mas não segui carreira. Continuo lá na loja.
Renata sentiu que o homem estava atarefado, pois não desviava os olhos da tela, sem retribuir a sua atenção. Isso a atraía de certo modo. Inconsciente, pressionou o corpo contra o balcão de granito, sentindo a temperatura da pedra aguçar-lhe o tato sobre as roupas finas. Lembrava-se dele desde a adolescência. Parecia mais interessante agora, adulto. Ombros largos, postura ereta, mãos bem cuidadas. A máscara escondia o rosto, mas a memória trouxe a imagem de tempos idos, e lábios sempre sorridentes sob um bigode bem aparado. Estaria ainda ali, sob a máscara azul? Bigode é tão… sensual — pensou. Nesse instante, girou a cabeça para a esquerda e ajeitou o cabelo, com a ocitocina em alta. A garota diante do guichê voltou a lhe apreciar.
Não era difícil adivinhar o que a máscara branca da moça escondia. Renata imaginou lábios levemente separados. Se antes o olhar era de escrutínio, agora era de admiração. Gostou disso. A garota varreu seu perfil, detendo-se no quadril por um instante. Ela adivinhou isso, e o afastou do balcão, provocante. Um sorriso proposital desenhado nos lábios escondidos. Retribuía o interesse. Cruzaram olhares, acesas. A garota se empertigou no assento e a jaqueta escorreu sobre os ombros, mostrando mais do corset branco curto, delineando um tronco curvilíneo.
Gerson falou qualquer coisa, mas a audição de Renata não se interessou. Voltou os olhos verdes para ele e manteve o sorriso excitado nos lábios. Adoro variar as possibilidades. Deu-se conta de seus pensamentos e corou.
— Sim? — retrucou mexendo no cabelo outra vez. Umedeceu os lábios sob a máscara e amaldiçoou em pensamento a pandemia, por perder essa ferramenta. Tinha lábios naturais, grossos e provocantes, como Marilyn. Gostava do jogo de caras e bocas na sedução.
Gerson sorriu e repetiu a pergunta:
— Como se chama a pessoa que você veio procurar?
— Ah, é Tales. O doutor Ronildo…
Como se fosse impulsionada por uma mola no assento, a garota se levantou. O gesto tão abrupto capturou-os em surpresa. Aproximou-se do balcão e seus olhos transformaram-se em inquisidores, prontos a atravessar Renata com raios laser.
— Então é você? — perguntou ela, apoiando as mãos na cintura.
— Sou eu o quê? — retrucou assustada Renata.
— Foi você quem o Tales procurou ontem à noite, né?
— E quem é você, posso saber? — Renata sentiu-se pressionada por aquele conflito repentino. Tem algo de errado aqui? — pensou. A garota parecia insinuar algum envolvimento dela com Tales, pelo visto.
— Sou a namorada dele, fique sabendo. E não gostei nem um pouco de saber de outra mulher atrás do meu homem.
O tom de voz subiu, os ânimos se exaltaram. O senhorzinho, que até então permanecera sentado lá atrás, adiantou-se com agilidade e se interpôs entre as duas. Pareceu conter a garota com os olhos e a forçou a retroceder até seu assento. Gerson esticou a mão sobre o balcão e envolveu o antebraço de Renata, com um leve puxão.
Uma mistura de sentimentos atravessou-lhe o córtex. Renata calou-se, surpresa por tudo aquilo. Os olhos desafiadores da garota grudados nos seus e o toque firme da enorme mão ao redor do seu bíceps. Um momento antes, era presa de um olhar e oferenda a outro. Agora, a presa virava rival e a oferenda, a protegida. Deixou-se arrastar para longe pelo “protetor” Gerson. A garota sentou-se e o senhor grisalho, virou-se para lhe interpelar:
— É verdade o que Anita está dizendo, moça? Tales foi atrás de você?
Gerson deu a volta no balcão e colocou-se ao lado de Renata, tocando de leve seu cotovelo. A proximidade dele, a diferença de altura entre os dois e o clima de conflito lhe incendiaram ainda mais. Conseguiu manter-se calma, acima de tudo ao seu redor. Algo não se encaixava naquela história.
— Sim, é verdade. Mas antes de mais nada, quem é o senhor, afinal?
A esposa do homem se aproximou, enroscando o braço no dele. O mesmo tipo de olhar inquisidor, cobrando explicações.
— Somos os pais dele! — disse a mulher, elevando o tom de voz.
Gerson pediu calma e colocou-se à frente de Renata, lembrando a todos o fato de estarem em um hospital. Deveriam manter certa ordem e silêncio. Ela apoiou as mãos nas omoplatas do amigo e por um ínfimo instante, imaginou possibilidades. Afastou aquilo da mente. Há hora para tudo, Renata. Sossegue, sua doida! — recriminou-se. Mas, que diabos está acontecendo aqui? Pais? Namorada? Esse sem vergonha me enganou com aquela história de solidão e carência, será? — raciocinava enquanto Gerson permanecia acalmando os ânimos.
O homem tentava explicar a Gerson a respeito da discussão, como se ele tivesse acabado de chegar. Anita pensava seriamente em sair dali. Não se dava bem com os pais de seu namorado. Eles a achavam exibida demais. Exageros de gente que não entende mais como o mundo funciona. Por um momento, sentiu certa atração pela garota e chegou até mesmo a se recriminar por ter pensamentos como aqueles, mas aqueles olhos verdes a deixaram balançada. Nunca pensou na possibilidade e, de repente, a oportunidade surgiu e despedaçou-se em um instante.
Renata puxou o ombro de Gerson e mostrou-se aos outros três.
— Não sei o que esse doutorzinho mentiroso falou para vocês e…
— Doutor? — Gerson puxou-a pelo braço, olhando em seus olhos, surpreso.
— Doutor? — perguntaram a uma só voz os outros três.
Achou a emenda! Tão surpresa quanto eles, perguntou:
— De quem estamos falando, afinal? Vim esperar o Doutor Tales Ronildo de Almagro sair do plantão. E vocês?
As portas da enfermaria se abriram e uma enfermeira olhou para Anita e o casal, fazendo um aceno de cabeça. Gerson encostou-se ao balcão, rindo da situação, com o rosto virado para o teto.
A esposa do homem segurou as mãos de Renata e sorriu sem graça.
— Perdão, moça. Meu filho se chama Tales e caiu da motocicleta, na noite passada.
Nesse instante, um carro estacionou na entrada e ela viu o motorista sorrir para ela. Olhou outra vez para Anita, tentando reconquistar sua admiração e marcar bem o rosto na memória. Piscou para Gerson, correndo a mão sobre o peito dele com certa pressão e intimidade.
— Obrigada. Conversamos mais outra hora, ok?
Nem um, nem outro, puderam perceber que mordia o lábio inferior ao sair em direção ao carro do doutor. Estava faminta.
A famosa vergonha alheia hahahaha. Engraçado, seu conto fez eu perceber que foi recorrente no desafio a exploração do amor, da sensualidade, da paixão e da sexualidade. É porque se dá por aí mesmo, pelo olhar cruzado. Acho que desde que paramos de andar com quatro patas e viramos bípedes, os olhos tomaram conta de todo o erotismo da coisa. Eu achei um conto muito bom de ritmo! Nota alta. Boa sorte!
Muitíssimo grato. O desafio instigante é produzir contos exclusivamente com os demais sentidos. Seria a imaginação “quatro ponto zero”
Este conto apresenta uma trama intrigante, repleta de personagens e mal entendidos que geram diversos desencontros. Entretanto, para mim, a quantidade de narrativas ficou confusa e senti falta de um fio condutor que conectasse todas as partes. Talvez se houvesse uma maior clareza na participação dos personagens, o enredo teria sido melhor aproveitado.
Well, nem sempre se pode agradar a todos. Muito grato pela opinião. Sorte para você.
Um texto com um bom controle de narrativa, cuidadoso em estabelecer os personagens, escolhendo bem quando nos permite saber mais deles e de suas perspectivas. Achei interessante que tratou os olhares cruzados mais como tema do que como recurso, sem sair do ponto de vista de Renata. Encontrei alguns erros que distraem, mas o texto é bem escrito, com ótimas sacadas que aprofundam o apelo e o efeito durante a leitura.
Muitíssimo grato. Findo o desafio, buscarei contato contigo para aprimorar-me. Abraço e boa sorte.
Olá, Miroslav.
O título é muito adequado ao conto e o conto perfeitamente enquadrado no tema e com muita originalidade e bem desenvolvido.
É um conto simples, mas que cumpre bem o objetivo. Interessante e sem floreados. Se tivesse explorado um pouco mais a sensualidade de Renata, seria melhor ainda.
A escrita é segura e fluída.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Muitíssimo grato
Muitíssimo grato, Ana Maria Monteiro.
Gosto da personalidade da Renata, que o conto explora com mais detalhe e enriquece todo o contexto malicioso da troca de olhares entre pelo menos dois interesses sexuais. Adorei como usou da pandemia para intensificar a troca de olhares. Também foi muito bom ver como os personagens que a princípio parecem estar ali só para compor o ambiente como meros ouvintes e depois se mostram parte da história principal. Entendo que, se o pensamento da Anita fosse explorado antes da hora, isso estragaria o plot twist no final, mas seria bem vindo que a perspectiva dela fosse explorada depois disso, daria aos olhares cruzados um equilíbrio às narrativas, que aqui pendem demais para a Renata. De todo modo, é um conto divertido, as descrições são agradáveis e a promessa na introdução de mostrar uma personagem desinibida foi cumprida.
Muitíssimo grato, Anna Carolina Gome Toledo. Realmente, após avaliar os primeiros comentários e os demais textos, verifiquei se seria muito interessante sobrepor algumas linhas com Anita em primeira pessoa. Talvez explorando algo de um preconceito sexual, expondo um antagonismo velado. Irei aprimorar, tenha certeza disso. Colho as opiniões aqui e são-me muito mais caras do que o resultado.
Boa noite, Miroslav. O seu conto narra uma história sobre uma confusão de identidades. Poderia ser adaptado como texto cómico teatral, caso fosse mais desenvolvido. Tal como está, é demasiado simples, não enche a vista ao leitor. Por outro lado, a linguagem é correta e a prosa tem fluidez. Falta apenas algum picante, que se presumiria pelo título.
Muito grato, Jorge Santos. Não quis abusar da linguagem, pois acredito no conto como um gênero que supõe, muito mais do que diz. É provável que a adaptação para a nova versão, onde introduzirei o antagonismo pré-julgamento entre Renata e Anita, traga algo mais picante. Meu maior crítico sou eu mesmo. Sou libriano, oras bolas kkk.
Um bom conto. Fiquei bem na dúvida se o tema foi executado. O melhor do conto é a sensualidade que transmite. A narrativa é boa, bem conduzido e uma trama simples. Boa sorte no desafio.
Muito grato
Ei, Miroslav, quem nunca se meteu em um mal entendido, não é mesmo? Pois você nos mostra como ele pode ser interessante. Gosto da tensão que você cria. Sabe armar o ambiente, gasta um tempo para nos mostrar as pessoas na recepção, até que chegue o Gerson, o amigo de há tanto tempo na escola. A tensão se mistura pela confusão entre os Tales (um nome não tão comum) e também pelos desejos. Tensão sensual que também existe e é por você bem trabalhada no conto. Uma narrativa bem contada. O título lascívia diz bem da sua história. Parabéns pelo conto. Sucesso no desafio.
Muito grato.
Fiquei confusa no final, mas depois entendi a proposta da narrativa do texto: Renata foi procurar pelo Doutor Tales; Anita e os pais também estavam ali por um Tales, o que sofreu o acidente, não o Doutor.
Escrever em terceira pessoa funciona para que diversas perspectivas sejam empregadas dentro do texto, mas, para mim, a que predomina é a de Renata. Há um parágrafo em que a perspectiva da Anita é ressaltada, mas se me perguntassem, depois de ler o conto, de quem é a perspectiva apresentada, eu diria que só da Renata.
Eu, particularmente, acho desnecessário empregar literalmente as palavras do desafio (é o segundo ou terceiro conto que faz isso), mas aí cabe ao escritor escrever o que quer.
No geral, gostei do conto, mas alguns pontos poderiam ser melhor trabalhados.
Muito grato.
Mal entendidos e erotismo num hospital durante a pandemia. Todo mundo de máscara, assim enfatizando os olhos e olhares. A narrativa é marcada por diálogos como em uma peça, o que faz o conto fluir, facilitando a leitura. Um conto engraçado e bem construído!
Muitíssimo grato.
A estrutura é convencional, com os diálogos iniciais espertamente impregnados de constrangimento. Porém, falta cadência e alguns tiques tornam a quebra de ritmo inevitável. O desenvolvimento do discurso indireto é desequilibrante frente ao discurso direto, seguindo esta fórmula até seu desfecho, também destoante. Divertido e nada mais.
Nota: 6,0
Muitíssimo grato.
Procurarei os ditos pontos no texto, para esmerar-me da próxima vez, se houver.
É um bom texto, bem descritivo, Renata é uma personagem bem marcante e sedutora, ainda que a ninfomania dela não fique assim tão explícita, vemos que ela tem muitos desejos, Anita fala pouco, não vemos bem o seu olhar que poderia ter, por exemplo, falado mal da Renata quando achou que ela estava saindo com ‘seu homem’ e essas coisas. Mas a narrativa flui e o mal entendido é engraçado e temos um texto interessante, abs.
Muito grato
Um mal-entendido na sala de espera de um hospital. Na minha opinião, o tema não foi atendido. Só um pensamento de Anita aparece na narrativa. No mais, temos apenas o ponto de vista de Renata.
Tive dificuldades para desenhar a cena na minha imaginação. Renata sentou-se na ponta do sofá lateral. Daí o enfermeiro sentou-se diante dela, do lado de dentro do balcão. Como assim? Sei que é um detalhe besta, mas gastei um tempo nisso, não conseguia avançar na leitura enquanto não resolvesse o “layout” da sala na minha cabeça… Renata disse que esperava o começo das visitas, mas ela estava esperando o namorado sair do plantão. Bom, enfim.
Vi uma resposta a um comentário e o autor dizia que se tratava de uma ninfomaníaca. Porém, apenas ao ler o texto, não consegui entender isso. Tampouco o título. Pareceu somente uma moça cheia de desejos.
Boa sorte no desafio.
Baseei-me no layout do hall de entrada do hospital da minha cidade. Vamos lá: um sofá lateral e entre o sofá há um espaço de quatro metros até o balcão. Como disse aqui, em outro comentário, talvez eu devesse polarizar a narrativa, hora com Anita, hora com Renta, e até com Gerson e a mãe de Tales. Geralmente, quando se iniciam as visitas, há uma troca de residentes, por volta das 14h. Há outra troca às 20h, mas isso depende da rotina de cada Santa Casa. E são duas observações que pouco importam para o conteúdo, né?
Gostei muito do texto, mas por vezes me senti perdida com quem falava e acredito que a personagem principal poderia ter sido melhor construída no sentido de demonstrar mais características psicológicas da mesma antes de começar a história em si. O texto está muito bem colocado dentro do objetivo do desafio e a história é boa e tem potencial.
Mutio grato
Renata sua danadinha! Caiu na rede é peixe! Renata só quer sassaricar! – Essa foi do tempo do guaraná com rolha! Acordei mais “tiozão” do pavê que de costume, mas vamos ao conto. Os olhares aqui, são literais. O enredo é uma confusão gerada por nomes iguais, mas… achei pouco! Acho que pode haver mais desenvolvimento da história. não sei… faltou entregar algo mais! Boa sorte no desafio.
Bom dia! O edital pediu os olhares. Creio que os entreguei. Sair do conto e ir à narrativa, criaria possibilidades. Grato pelo comentário. Boa sorte à nós todos.
O conto me deixou intrigada. Tantos mal entendidos, a possibilidade de criar um novo amor e tudo acabando na mesma. Nem todo amor precisa ser vivido, nenhum precisa, tudo são escolhas. Ela não deixou um grande amor para trás, deixou um olhar. Quantos olhares já deixamos? Quantos nem olhamos?
Bom dia! Sim, muitos olhares e desejos não levados a cabo. Muito grato pelo comentário.
Boa estrutura e bons diálogos, fluidos de forma que mal se vê quando o tempo termina. Confesso que tive dificuldades em entrever um “tema” principal, mas talvez seja mais coisa minha. A questão sexual me pareceu meio “crua” demais, talvez muito trabalha em um “male gaze” geral, poderia alternar-se mais, visto a quantidade de pontos de vista. O fato de ser carregado de diálogos me pareceu mais para um roteiro do que uma cena literária, não sei se foi esse o objetivo.
Nota: 7
Bom dia! Muito grato pelo comentário. Sim, concordo. Após ler os demais contos, pensei em dedicar um ou dois parágrafos para Aline, Gerson e até mesmo para a mãe de Tales. Que historieta porreta, nénão?
Esse já é o segundo conto “hospitalar” que temos, apesar de que gostei mais desse.
Como disseram é bem fluído e agradável. Sinto ares de sutileza dos contos do Machado, e poderia poderia ter mais disso, as tais “possibilidades” que também já comentaram.
Há olhares cruzados e boas descrições que são uma coisa e nos levam à outra. Parabéns quanto a isso.
É um conto no qual a aparência de romance pode dar lugar uma história engraçada e descontraída. A não ser que seja o seu objetivo, porque não investir mais nesses pontos?
Também dá pra levantar aquela conversa sobre o clichê hospitalar — e, na real, qualquer canto que as pessoas tentem fazer de “predestinado” ou “encantado”. Essa história é mais do que essas coisas.
O fato de ser um texto curto não me parece problemático por ser bem enquadrado.
Bom dia! Grato pelo comentário. Creio que todo conto encerra uma história maior. O aprendizado na concisão, me faz optar por jogar muito no subtexto. Mas, sim. Não seria má ideia um pequeno romance.
Interessante esse pseudônimo. Conheço dois Miroslav, o saudoso professor da UNB e Miroslav Filip, enxadrista que já foi candidato ao título mundial.
Aqui, mais uma vez, temos um conto bastante erótico, mas dessa vez aquele erotismo das fantasias masculinas, sem romance. E principalmente porque Renata me pareceu uma garota que “topa qualquer parada, em qualquer hora e lugar”. Bem diferente do erotismo recatado de outro conto que vi aqui. Já é lascívia mesmo, rs… Do tipo “Azul é a cor mais quente”, que algumas amigas lésbicas me disseram ser “uma fantasia masculina”. O que achei uma caretice delas. Eu adorei o filme. Gostei muito do conto aqui, também, não vou mentir. Tem a cena do quadril, muito engraçada… Gostei da Renata Esfomeada, que “adora variar possibilidades.”
O conto é curto e quase que todo “dialogado”, o que torna a leitura rápida. Me pareceu muito aquele estilo de roteiro, de novelas da globo, onde sempre surgem essas confusões. Só que uma versão picante.
Os olhares cruzados foram daquele tipo literais, mais uma vez sem o ponto de vista flutuante. Bom, assim se alternaram os contos. Boa sorte.
Bom dia! Muito grato pelo comentário. A concisão é própria do gênero e o diálogo povoa a mente do leitor, atiçando a imaginação sem estabelecer um perfil de personagens. Deixo a cargo do leitor imaginar a cena do quadril, o passar de dedos pelo cabelo, etc.
Olá, Miroslav, tudo bem?
A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: “escrever um conto cujo enredo transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens.” No seu caso, há um monte de vozes e olhares em seu texto. É a visão de Renata, do enfermeiro, de Anita, dos pais do Tales, etc… Tudo bem embolado, mas trazendo perspectivas diferentes para o engano quanto à identidade do tal médico e do paciente acidentado. O conto traz um tom de sensualidade exacerbada, já denunciado pelo próprio título.
Há alguns lapsos de revisão:
– Como vai Gerson tudo bem contigo? > Como vai, Gerson, tudo bem contigo? – vírgulas isolando o vocativo
– e o senhor grisalho, virou-se para lhe interpelar: > Não separar o sujeito (o senhor grisalho) do predicado – o senhor grisalho virou-se…
A leitura poderia fluir mais facilmente sem tantos malabarismos de troca de foco narrativo.
Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!
Bom dia! Muito grato pelo comentário. Sim, ainda peço em algumas vírgulas. Penso que a fluência vem com os diálogos, deixando a cargo do leitor imaginar a cena a seu modo.
Não entendi muito bem o mote do conto. Resumindo a leitura; Durante a pandemia da Covid 19, obrigatório o uso de máscaras, Renata vai a um hospital se encontrar com seu namorado, o doutor Tales. O enfermeiro, colega de faculdade, a reconhece apesar da máscara. Ela diz que quer falar com o doutor Tales e justamente, o casal de idoso e a garota na recepção, estão ali para visitar um paciente chamado Tales e a confusão está formado, a garota pensa que Renata é amante do namorado dela. Logo o engano se desfaz. Antes disso, a garota chamada Anita, troca olhares com Renata e Renata sentindo-se desejada, questiona a própria orientação sexual. O que me incomoda é isso, uma pessoa estranha não pode olhar para outra porque a outra pensa que está sendo desejada sexualmente, quando na verdade, a maioria aprecia a beleza da criatura humana. É um olhar de admiração, sem malícia. Achei uma história sem grandes mistérios, encontros e desencontros, olhares inúteis, engano e desengano na recepção do hospital. Fiquei em dúvida; Renata namorava o doutor Tales? Sim e parece que é a primeira vez que ela vai ao hospital procurar ele, se não, Gerson saberia que eles tinham um caso, ou não?
O título do conto é “Lascívia” e imagino que isso baste para demonstrar que a protagonista é Ninfomaníaca. A sedução está nos olhares cruzados entre as mulheres.
Bem fluído e agradável. Abusa dos diálogos e atenta para evitar repetições e o “queísmo”. Talvez um ou outro parágrafo na voz de outro personagem na história, afinal apenas a fogosa Renata percebe, pensa, se impacta com os olhares. Achei um tanto vaga a atuação do enfermeiro.
Muito grato