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Fome em Alto-Mar │ Anna Toledo

Muitas léguas separavam o velho capitão de suas terras. O movimento das ondas exercia um efeito estranhamente confortável, como se seu corpo fosse parte do mar. E de fato era, depois de mais de uma década vivendo mais sob as velas do que o telhado da própria casa. Entretanto, a madeira sob seus pés o estranhava como um impostor. Perdeu a tripulação, seu navio ficou em pedaços e sua esposa…

Jurou nunca mais voltar ao mar, mas depois de meses em terra seca afundado em sua própria miséria, um convite irrecusável lhe foi proposto: o jovem Moore era um aristocrata razoavelmente próximo na linha de sucessão da coroa britânica. Seu último imprudente pedido foi de navegar pelos mares em um navio mercante numa busca por especiarias… Mais uma desculpa, é claro, para aproveitar sua eterna boemia. Quando seu regente soube do incidente entre o comandante Evans e as geleiras ao norte, ofereceram-no a oportunidade de capitanear um novo navio em troca da tutela, ou serviço de babá, do herdeiro Moore.

Já acomodado, pôde enfim rondar o navio para cumprimentá-lo adequadamente. Desciam pela costa da África rumo a Madagascar, onde garantiu ao aristocrata encontrar um pouco da experiência de um “explorador”. Sob a bandeira da Marinha Real, haveria menos riscos de serem atacados por piratas.

Apesar de ter descrito detalhadamente os mantimentos necessários para a viagem de meses, decidiu checar o montante apenas por precaução e felizmente descobriu a tempo.

Metade dos  mantimentos necessários, pilhas de livros, materiais de esgrima… Aquilo são equipamentos de caça? Aparentemente, Moore considerou a própria cabine insuficiente para dispor sua bagagem e se livrou de futilidades, como alguns tonéis de água potável e frutas secas.

Evans tinha consciência da delicadeza da situação ao aceitar aquele negócio, mas gastou suas últimas economias em uma aventura fracassada e agora precisava de toda a paciência dos mares para lidar com o boçal ao qual teria de tratar como “co-capitão”. Apesar disso, viajar sem mantimentos suficientes era um convite a motins e nem mesmo o alarde do suserano impediram-no de se livrar da  parte daquela tralha. Assim, com uma velada satisfação, arremessou uma armadilha de urso no alto-mar diante de Moore enquanto se prostrava no convés na posição de experiência que lhe cabia.

— Na próxima vez, siga as ordens de seu capitão.

A expressão desgostosa do pomposo aristocrata revelou um fato esperado: aquela seria definitivamente uma longa viagem.

O trajeto foi alterado para a ilha mais próxima de onde estavam. Na manhã seguinte desembarcaram no porto onde poderiam abastecer suprimentos.

***

Muitas léguas separaram Oliver de sua casa . O movimento da maré exercia um efeito estranhamente confortável roçando em sua barbatana, como se seu corpo fosse parte do mar… E de fato era. Entretanto, precisava se manter longe da água antes de voltar a sua posição como parte da tripulação antes que sua ausência fosse eventualmente percebida.

—Mas O QUÊ?

Um estranho humano com olhar abismado lhe encarou entre as pedras da pequena gruta nos arredores da praia.  O rosto cansado parecia lhe agravar a idade, além dos cabelos loiros quase grisalhos. Apesar do espanto, não soava hostil. Oliver reconhecia aquela expressão como de alguém “maravilhado” e estava acostumado a ser visto daquela maneira, mas não enquanto estava forma de…

—Uma sereia!

—Será que… Argh! Pode gritar mais alto? Ainda não avisou a… Ilha inteira…Argh!

—O quê… Quem… Como…

—Não pretende terminar nenhuma de suas perguntas… Senhor?

—Evans. Capitão Evans… Eu… O que é isso?!

O invasor de seu esconderijo apontou para a armadilha de urso presa em seu corpo marinho. Era curioso como, dentre tantas peculiaridades daquele encontro, aquele fosse o alvo de indagações. Antes que qualquer resposta fosse dada, o mais velho se aproximou desarmando o maquinário que claramente lhe era familiar.

Sua reação à proximidade de humanos em geral era direcionada pelo instinto de sobrevivência, mas ali se contentou em manter imóvel enquanto a dor era aliviada pela retirada do aparelho.

—Obrigado.

Viu a dificuldade do outro em raciocinar. Em toda tentativa de elaborar algo para falar, um milhão de ideias pareciam disputar espaço. Os olhos cansados se fecharam por um segundo como quem organiza os pensamentos e quando se abriam, aquela visão digna das lendas marinhas se mantinha intacta. Inevitavelmente se divertia com aquela situação, receber atenção assim era um de seus poucos pontos fracos.

—Quem… é… você?

— Imagino que tenha perguntas melhores, capitão Evans. Me chame de Oliver.

—Então você —Capitão!

Uma voz ligeiramente familiar chamou o humano à sua frente. Este se virou para responder o estranho, mantendo-o afastado do local e assim assegurando sua desejada discrição até que o outro foi embora. A cada segundo, Evans parecia mais interessante aos olhos do tritão.

—Seu machucado! Sumiu!

—Oh, sim. Nosso metabolismo é mais rápido nessa forma.

—Nessa forma?

Engoliu seco, sabia que havia falado mais do que devia.

—Desculpe, preciso ir.

E tão rápido falou, logo se empurrou das pedras caindo na água e nadando para longe no Alto Mar.

***

Voltando ao navio pelo qual respondia, se certificou de olhar cada mantimento e garantir uma refeição razoável e desta vez, o jovem herdeiro não ousaria interferir. O sol já se punha quando subia para o convés e esbarrou num marujo de aspecto miúdo que descia a mesma escada.

—Com licença, o capitão me pediu para … Evans?!

Poucas horas haviam se passado desde o primeiro encontro do sereio e do capitão, mas definitivamente conseguiram se reconhecer e o tritão estava com …

—Pernas?!

Num movimento rápido, foi empurrado escada abaixo por uma força surpreendente para alguém daquele tamanho. Estava preso contra a parede e mesmo com anos de experiência nas costas, sentiu o corpo se arrepiar ao ouvir as seguintes palavras vindas de uma aura ameaçadora.

—Nunca nos vimos antes. Eu sou um mero recruta na cozinha  e você é, aparentemente, capitão deste navio. Somos dois humanos… Estamos entendidos?

—Eu…— Oliver, conseguiu meu…

Mais uma vez naquele mesmo dia, o jovem Moore interrompeu um encontro entre a criatura e o homem. Ainda estupefato por mais uma descoberta extraordinária a respeito da natureza das sereias, Evans permaneceu estático diante daquele suspeito confronto entre um subalterno do navio e seu capitão e coube ao recruta reagir. Foi assim que Evans sentiu a distância entre seus corpos diminuir, culminando em um beijo recheado de malícia.

Lembrava-se da visão de seu corpo coberto de escamas que refletiam a luz do sol tal qual jóias preciosas. A voz encantadora como as lendas alertavam, mas que também carregava um medo quase instintivo no canto dos olhos cobertos pelos cachos negros que escorriam pelo rosto. Agora, toda aquela composição exotérica culminou num corpo palpável diante de si, tomando-lhe os lábios e forçando uma posição submissa contra a madeira gélida do navio. O pior de tudo? Não conseguia se afastar por conta própria.

—Capitão Moore não deve contar a ninguém sobre esse evento e sua honra continuará intacta, capitão. Mas não se atreva a falar sobre meu segredinho…

Olhando para Oliver e sua expressão furiosa, o mais velho só conseguiu pensar em uma reação: beijou-lhe mais uma vez.

***

Evans pareceu ser alguém diferente aos olhos do tritão, mas como já esperava, ele ainda era só um homem. Como todos, bastava se aproximar para ser tratado como um ser objetificado, sem sentimentos. Oliver estava acostumado com homens assim.

Entretanto, algo parecia diferente naquele beijo, algo incomum no sabor…Lembrava a água do mar. Foi então que percebeu que o capitão estava chorando.

—Perdoe-me, eu…Não devia…Peço perdão.

Ficou sem resposta. Definitivamente não era assim que os homens reagiam depois de um beijo seu.

—Recomponha-se, capitão.

—Mas eu realmente cometi um erro…

—O beijo foi tão ruim assim?

Isso foi o suficiente para silenciá-lo. O que raios havia acabado de acontecer?! Enquanto processava a situação, viu o capitão se sentar no chão pegando uma garrafa de rum em seu casaco, então tomar um gole e lhe oferecer a garrafa prontamente recusada. Por fim veio o silêncio, ambos escorados em um baú de madeira perdidos em seus mundos particulares que inesperadamente se chocaram naquele Alto Mar.

O mais velho encarou  a frente como se visse o horizonte invisível a nível do mar que dividia o navio entre dois mundos.

—Por muito tempo acreditei que meu maior arrependimento seria ter levado minha tripulação numa missão suicida de  completar a volta ao mundo pelo mar do norte —  explicava  com uma voz amarga já alterada pela bebida enquanto rolava a garrafa de rum sobre o piso— Quando nos prendemos numa geleira, pensei que apenas afundaríamos juntos, mas o Mar nos puniu com um destino ainda mais cruel: vivos, porém presos, longe demais da terra e sem qualquer forma de nos comunicar. O que tivemos de fazer… Sem comida, sem água… Na esperança de sermos resgatados por outra navegação.  Perdemos tantos e eu fui um covarde por propôr sorteio! Eu era o capitão, devia morrer primeiro.

Oliver ouviu com curiosidade e fascínio macabro, sabia muito bem o que ocorria com tripulações presas e expostas aos limites do próprio instinto de sobrevivência. Entretanto, nunca viu pessoalmente alguém sobreviver sem se entregar à loucura completa e Evans parecia bastante são.

O capitão continuou.

—Quando fomos resgatados por caçadores de baleias, uma parte de mim ficou presa naquela geleira, mas ao menos a terra firme me serviria de um porto seguro para me recuperar, aos menos assim acreditava…Então descobri que minha esposa morreu naquele ano. Tuberculose. E eu… Não estava com ela. Se eu não seguisse com a ideia estúpida de dar a volta ao mundo…

Podia sentir que era a primeira vez que aquela história foi revelada para outra pessoa. Para alguém com tantas frases incompletas, naquele momento  o capitão conseguiu colocar em palavras tudo aquilo que parecia lhe consumir por dentro.

—Eu sinto muito.

Mais um gole no rum.

—Bem, acreditei por muito tempo que nunca mais seria capaz de beijar ou sentir qualquer coisa por alguém…Eu me odiava demais para algo assim. Mas você provou que eu estava errado. Por isso, eu lhe agradeço.

Logo o capitão apagou com a bebida. Aquela seria uma boa oportunidade para o próprio tritão se alimentar, mas não podia negar que sentiu certa simpatia pelo mais velho, soava irônico como suas histórias eram próximas… Decidiu, por fim, carregá-lo de volta à suíte do capitão.

Ainda era noite, havia tempo suficiente para agir para matar sua sede. Seguiu em busca de uma presa fácil e já tinha um alvo em mente, alguém com bastante espaço na cabine e que já havia demonstrado interesse no que Oliver tinha a oferecer para homens solitários em longas viagens em Alto Mar.

***

Muitas léguas separavam o jovem Evans de suas terras. O movimento das ondas exercia um efeito estranhamente excitante, como se estivesse diante de alguma grande aventura que pudesse ressignificar sua vida desprovida de propósitos. Entretanto, tudo continuava o mesmo, o mesmo Sol, o tédio como o de outrora, a mesma incômoda sensação de que nada faria seu coração pulsar como quando lia seus livros prediletos.

—Você…

Assim se sentiu até conhecer um jovem recruta de feições inocentes e lábia fascinante. Logo soube que o comando do navio foi transferido ao novo capitão depois de sua tentativa falha de brincar de capitão, mas parte de si desejava monopolizar o olhar admirável de Oliver fingindo permanecer no controle. Na sua visão, a posição de poder era a única explicação válida para o interesse do rapaz em alguém vazio como ele.

Ao vê-lo atracado com o capitão, seu orgulho se despedaçou e, por mais que odiasse,  não conseguia parar de se imaginar recebendo aquele mesmo beijo.  E como se algum deus pagão ouvisse suas preces pecaminosas, ali estava Oliver, parado diante da porta de sua cabine e sorrindo como se estivesse diante de um nobre banquete.

Nunca teve encontros daquela natureza dentro ou fora do navio, mas imaginava ser similar com as jovens das quais se aproveitou em suas viagens em terra. Seu companheiro pareceu notar sua inexperiência  já que não perdeu tempo e lhe forçou contra a cama coberta de seda..

—Delícia…

Seus lábios lhe devoraram enquanto tocava o corpo sem pudor. Num movimento rápido, as mãos  do aristocrata deslizavam pelo miúdo buscando alguma reação satisfatória. Tudo seguia como em uma dança orquestrada: os sussurros o mantinham sem reação, em transe. Os dedos delicados ganham uma tonalidade azulada com garras pontiagudas o suficiente para desferir um fino corte preciso no pescoço. O jovem Moore sangra com um sorriso no rosto, em êxtase.

O recruta aproveita o líquido ainda fresco, então monta a cena de modo perspicaz: um bêbado afogado em sua própria ânsia de saciar a sede e consumido pela bebida.

Por fim, seguiu madrugada adentro de volta para as cabines assobiando uma velha canção do mar..

24 comentários em “Fome em Alto-Mar │ Anna Toledo”

  1. Gostei deste conto! Senti uma verve infanto-juvenil que surpreende transicionando de romance a terror. A princípio (e falarei mais deste começo), o texto apresenta os seus personagens, estabelece a circunstância e depois passa ao que, não se decide, pode ser o conflito ou apenas o verdadeiro começo da história. No final das contas acaba não sendo nem um e nem outro, pois se torna apenas uma oportunidade para aprofundar mais um (apenas um) dos personagens e, assim, nem mesmo o conto dá espaço para explorar essa nova relação dos protagonistas e, tampouco, nos leva a algum ponto narrativo diferente. Acredito que é um caso de desequilíbrio da narrativa, pois todos os elementos são apresentados no texto, com mais ou menos eficiência. Então, por exemplo, o fracasso da expedição anterior é apresentado logo no começo e armadilha de urso vem logo em seguida, para ser reaproveitada na introdução do tritão. Entretanto, o que poderia vir em duas linhas é apresentado em alguns parágrafos que enganam o leitor fazendo parecer que o tal do David teria importância. Gasta espaço, tempo, energia de quem lê. Paradoxalmente, o texto também sofre de parágrafos demasiadamente curtos, sem permitir que se enriqueça o cenário, os personagens, as ações ou diálogos. Inapropriado a uma história marítima, senti tudo bem raso. Além dos elementos narrativos, o recurso que motiva este desafio está presente, ainda que sem a sutileza ou sem uma implementação que caia bem com a narrativa.

  2. Ana Maria Monteiro

    Olá, Nani.

    Então, esse conto é híbrido, todo ele, até na sensação que fica ao ler. Tem fantástico, tem “magia”, tem erotismo, tem sexualidade e homossexualidade. O que não tem é o tema do desafio, pelo menos não o encontrei.
    Está bem escrito, mas tem umas falhas que devem ser regularizadas com uma boa revisão.
    A história é engraçada, original e interessante.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  3. Até que gostei do conto ser homoerótico, representatividade nunca é demais, só não gostei da execução que levou até aí. A narração é boa, com prática suas descrições ficarão show, Nani. Não achei natural os diálogos pois todo o conjunto (navio, Inglaterra, escassez de recursos) dá a entender que a história não se passa em tempos modernos mas os diálogos parecem falas de hoje em dia. Não sou um assíduo leitor de fantasia mas imagino que introduzir o leitor ao fantástico e construir personagens palpáveis em tal realidade, em 2500 palavras, não seja fácil e você se dispôs a isso, o que é incrível.

  4. Olá, Nani. É difícil categorizar o seu conto. Primeiro, porque não segue o tema dos olhares cruzados. Depois porque as personagens simplesmente desaparecem no meio da história, aparecendo outras vindas do nada. Ainda sobre a estrutura, fiquei algo perdido com as referências. Louro, moreno, novo, velho. Sem uma caracterização cuidada das personagens, é complicada a utilização destes adjetivos para identificação das mesmas. Por último, não percebi a inclusão do sereio como marinheiro no barco. Creio que esta parte deveria ter sido trabalhada de outra forma. E o texto carece de uma revisão ao nível gramatical.

  5. Claudia Roberta Angst

    Olá, Nani, tudo bem?
    A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: enredo que transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens. No seu texto, identifiquei dois olhares diferentes: de William Strange e do tritão/sereio. Portanto, o conto abordou o tema proposto pelo desafio.
    Alguns deslizes na revisão do texto:
    madeira sobre seus pés > madeira SOB seus pés
    ofereceram-no financiar a reconstrução > ofereceram-LHE
    William Strange pode > PÔDE (acento circunflexo distingue o presente e o pretértio do verbo PODER)
    até atingir a polpa > até atingir a POPA
    valer a pena todo e estresse > valer a pena todo O estresse
    já imagina receber > já IMAGINAVA receber
    O som das ondas pareciam > O som das ondas PARECIA
    bebido tanto assim noite passada > NA noite passada (anterior)
    atônico > atônito
    apenas pode apreciar > apenas PÔDE apreciar
    como a tempo > como HÁ tempo ( na verdade, o correto mesmo seria HAVIA)
    propôr > PROPOR
    haviam outros desejos > HAVIA outros desejos (o verbo HAVER no sentido de EXISTIR sempre fica no singular)
    Não sei por que, mas seu conto me fez lembrar de um episódio de One Piece – que minha filha me obrigou a assistir e até acabei curtindo. No entanto, não havia essa tensão sexual e fome generalizada que os seus personagens manifestam. Há cenas bem construídas quanto a isso. Porém, devo ressaltar que a narrativa pode ser burilada e assim melhor apreciada pelos leitores. A ideia apresentada é boa, basta desenvolvê-la com apuro.
    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!

  6. Fernando Dias Cyrino

    Olá, Nani, cá está você a me trazer uma história marítima. Um conto fantástico no qual é encontrado um “sereio”, o tritão preso na armadilha de urso, Sebastian. Há no conto um erotismo subliminar que explode no beijo e na cena de sexo do porão, na qual o marujo sangra o pobre parceiro. Você sabe contar histórias, mas seu conto peca – e bastante – pela falta de uma boa revisão. Há vários detalhes que precisam ser consertados para que a sua história siga com mais fluidez. Passa-me que você seja um autor jovem. Que bom que está colocando sua obra para ser avaliada. É assim que se aprende, é assim que se cresce. Grande abraço e sucesso.

  7. BRUNO HENRIQUE DA CUNHA

    Tem boa condução apesar dos cacoetes, mas nada que comprometa seu ponto alto – a tensão sexual, o tópico que melhor se encaixa na proposta do isolamento dos deslocados personagens. Contudo, o conto perde força com o avanço do conflito, quando também surgem falhas na ortografia e na paragrafação do texto.
    Nota: 6,0

  8. Gostei da ideia do Tristão/sereio, mas achei o fim muito macabro. O Tristão acabou por se mostrar cruel, embora tenha poupado a vida do capitão.
    Um texto bem diferente dos demais. Sucesso!

  9. Ana Luísa Manfrin Teixeira

    A história é muito interessante e criativa. No entanto eu achei que os diálogos poderiam ser melhor construídos e os personagens melhor diferenciados e desenvolvidos.
    Bem escrito e o texto flui bem.

  10. É um texto interessante, tem uma boa contextualização e uma construção de personagens legal, o homem peixe/sereio que devora homens é uma boa versão antropofágica/metafórica dos homens que, quebrados, destroem os outros, por desejo ou, simplesmente, por fome. O capitão merecia viver por ter salvo o outro e, também, por já ser, de antes, um sobrevivente (das circunstâncias e de si mesmo). Gostei.

  11. Andre Domingos Brizola

    Olá, Nani!

    Temos aqui um conto sobre uma expedição em alto mar que encontra em seu caminho uma criatura mitológica. Criatura essa que executa duas facetas da fome, e que também carrega em si a dicotomia do bem e do mal.
    A estrutura permite a adequação ao tema do desafio, embora indo pelo caminho mais simples, que é contrapor os pontos de vista de dois personagens que se encontram em determinado momento. Podemos ver o conto começar e ir até sua metade do ponto de vista do capitão, quando ele encontra o tritão as histórias se mesclam para logo se dividirem novamente, quando é a visão do tritão que carrega o conto para seu final. Gostei dessa formatação.
    O enredo não apresenta nenhuma revolução fantástica, ou arremate surpreendente, e me parece ter sido escrito “no calor do momento”, sem um preparo mais meticuloso. O que eu costumo achar louvável, já que me parece uma habilidade incrível essa de conseguir ir escrevendo conforme o fluxo de pensamentos vai criando. Mas aqui, sinceramente, achei que faltou preparo e faltou revisão. Talvez o conto assumisse outra cara com um pouco mais de maturação.
    Pela escolha de vocabulário, e até pela entonação de alguns diálogos, tenho a tendência a achar que o autor ainda é inexperiente, embora tenha certa criatividade. Algo a ser lapidado em desafios futuros. E, caso seja o caso, recomendo não desistir. Insistir e insistir é o que vai fazer a experiência surgir. E tentar lidar bem com as críticas que receberá aqui, pois vão agregar bastante ao seu estilo (que já se nota em algumas construções do texto) e a forma de encarar a literatura.
    É isso. Boa sorte no desafio!

  12. Achei o conto médio. O tema, a meu ver, não foi executado no conto. Não temos olhares cruzados, temos uma narração linear, sem outro ponto de vista. A narrativa precisa ser trabalhada um pouco mais, os diálogos soam bem artificiais. A personagem do capitão está até bem trabalhada, uma pitada aqui outra ali, a deixaria bem mais interessante. Não gostei muito do enredo, achei a história de média para fraca. O plot é até interessante, um sereio que se alimenta de carne humana. Daria até um conto de terror, mas, não vi nenhum clima aterrorizante ao ler o conto. Precisa de mais densidade narrativa apara se chegar a esse efeito.. O autor tentou dar ares de humor em algumas passagens, acertando em algumas e em outras não. Pareceu-me um escritor ainda iniciante, caso não seja, peço desculpas. Boa sorte no desafio.

  13. Olá, Nani, tudo bem?

    Conforme os outros colegas já disseram, o teu conto precisa de revisão. Se o seu intuito era destacar os diferentes tipos de fome em alto mar, não fica explícito no texto, mas é um tema interessante porque, se bem trabalhado, foge um pouco do contexto do clichê de aventura em alto mar.
    Eu não gostei tanto da escolha de vocabulário para os diálogos. Algumas expressões achei meio “modernas” demais para a ambientação do conto. É um conto que não é ruim, mas precisa ser melhor trabalhado.

  14. Antonius Poppelaars

    Você pensa logo em uma tripulação faminta no alto mar. Mas a fome é sexual. Então começa o jogo de duplo sentidos: comer e “comer”. Gostei do sereio no papel de sedutor, como na mitologia grega na qual as sereias seduziram e comeram os homens. Conto divertido e hilário. Parabéns!

  15. Apesar de meio bagunçada em certas partes, é uma boa fantasia que intriga. Apesar de momentos, como os beijos, se tornarem um pouco clichês demais na forma que são narrados, a tensão do horror está lá. A confusão, entretanto, vêm de diversas escolhas que poderiam ter sido apontadas numa boa revisão, como acidentes gramáticas e de sintaxe e certos personagens que me demoravam a entender seu propósito na trama. Contudo, não pude entender bem a correlação com o tema “olhares cruzados.” De qualquer forma, a ação é muito bem desenvolvida.
    Nota: 7

  16. Foi um “fusuê” em alto mar. Como os colegas apontaram, há erros de continuidade, de narrativa, tempos verbais e de lógica. Uma fragata, um navio de guerra de três mastros, para pertencer a um capitão (como o conto sugere, afinal Strange perdeu a esposa além do barco nas geleiras, certo?), deve fazer dele um homem de posses. E não há “polpa” e sim “popa”. Bom, boa sorte, continue escrevendo.

  17. Eu sei… Eu sei!
    Fantasia, RPG… esse estilo da literatura, adorado tanto por autores quanto por legiões de fãs é um segmento que não pode e nem deve ser ignorado. Mas… me dá preguiça esses personagens ambientados no velho mundo com seus stranger nomes ingleses. Birra inapropriada e gratuita, minha! Eu sei!
    Da história; temos o playboy do Itaim Bibi: David, citado no início e esquecido depois; Stranger, o capitão, um velho lobo-do-mar, suportando sua culpa e tendo que carregar as bagagens do jovem “mala” David Jones Dórian, sob as ordens de Lady Anyone, a mãe enfastiada, e depois: um sereio!
    A impressão que tenho, é que foi escrita ao sabor das ondas de pensamentos, batendo soltos nas rochas de uma ilha misteriosa – o que é sempre um risco. Gostoso… Mas, um perigo!
    E a armadilha? Pois é, a armadilha… Num diálogo entre os capitães, dá impressão de ser enorme, (ocupou o lugar de metade dos mantimentos) e, logo em seguida, é jogada ao mar como fosse uma simples ratoeira. Estranhezas à parte me parece uma história em construção. Então, revisões e maturamento, podem torná-la melhor e mais desenvolvida. Tenho a certeza de que há um público que se encantaria bem mais do que eu, com esse enredo fantástico. Muito boa sorte e parabéns!
    Ah! E os olhares cruzados? Sim! Os olhares se cruzam, se beijam, se…

  18. Acho que a maior referência que tenho para esse tipo de conto é A Balada do Velho Marinheiro, fora os autores e histórias que conhecemos quase que por osmose (Hemingway, Melville, Defoe, Verne…), então não sei se fico totalmente confortável, mas… as indicações dos colegas são pertinentes e bem atenciosas quanto à revisão. Pega firme nesse ponto.
    A progressão da narrativa é boa e o fato de ter feito o conto com diálogos é algo para se orgulhar. As pessoas têm medo de fazer diálogos e eles são das coisas que mais ajudam na maior parte das vezes.
    Achei o começo muito bom, pois mostra o olhar do velho marinheiro com o mar. Ponto forte do naturalismo presente: a natureza é forte, selvagem e muito maior que os homens.
    Também vejo o texto como se fossem duas narrativas, uma mais focada na comédia na primeira parte com o jovem fanfarrão, e uma aventura na segunda com os elementos fantásticos. Gostaria de ver como o texto ficaria com mais concisão e interligado, porque, por exemplo, o fantástico se trabalha a partir da estranheza e ela pode se desenvolver em muitas coisas à depender do seu objetivo com a narrativa, te beneficiando em como também foi fantástico e surpreendente que alguém tenha sobrevivido para contar a história.

  19. A ideia é boa, um antigo ser mitológico que rouba a vida das pessoas, sob uma ótica moderna. Estes romances sempre fazem sucesso.
    O estilo do leitor é aquele que denominam “fluente”, porque a leitura é agradável e sem entraves.
    Algumas coisas são meio “improváveis”, meio estranhas. Por exemplo, resumindo a história:

    “Strange é capitão de uma fragata, um navio de guerra da marinha. Este tipo de navio, realmente, às vezes é enviado em missões. Ao que parece, a missão fracassou, mas o capitão não poderia ser culpado por isso. No entanto, “tirar a sorte”, provavelmente rendeu-lhe o afastamento da marinha de guerra, evidentemente sem muito alarde, pois a marinha tinha grande parte de culpa no episódio. Daí a Duquesa da Pomerânia ofereceu reconstruir sua fragata em pedaços, uma ideia evidentemente disparatada, que depois é substituída pelo fornecimento de “uma ostensiva embarcação”, maior que a fragata.”
    Isso foi o que eu entendi, nada impossível, nem inverossímil aí. Mas fica a impressão de que tudo isso poderia ser apresentado mais claramente. Aí entra a maior recomendação que se deve fazer aos escritores: a revisão. As ideias têm que ser polidas, buriladas e encaixadas várias vezes de modo a não parecer incoerentes.
    O que se nota logo é que o autor não se preocupou em revisar o conto. Por isso aparecem erros de português em profusão, que os colegas apontaram e cujo problema e simples: todo mundo vai reparar. Mas o pior problema de não revisar é que ficam muitos cabos soltos. Não tem ursos em Madagascar, mas a finalidade não era procurar especiarias pelos mares? Existem ursos na Índia, o berço da pimenta-do-reino e do cravo. Bastava uma revisão para informar que a expedição era “comprar especiarias em Madagascar”, e amarrar a história das armadilhas. E por que o capitão se arrependia de uma “missão suicida” cuja ideia, evidentemente, não podia ter partido dele, e sim do alto-comando da Marinha Inglesa?
    Às vezes é importante, também, pedir para alguém ler e indicar possíveis problemas no conto.
    Em suma: seus contos, Nani, têm tudo para fazer sucesso. Porém, a revisão cuidadosa, e repetida, é fundamental.

  20. Uma história com bom potencial, mas que resultou um pouco confusa. Não entendi como um navio tem dois capitães. Também, não entendi como uma armadilha de urso ocupou o espaço de metade dos mantimentos. Tampouco entendi como o sereio foi atingido pela armadinha, se ele estava à bordo do navio, como parte da tripulação e a armadilha foi atirada ao mar.
    Gosto muito de contos de fantasia, mas os elementos precisam estar bem amarradinhos, para a gente conseguir embarcar na história. Senão, o leitor se perde no meio do caminho.
    Encontrei também alguns erros como “… a madeira sobre os seus pés…”, “… ofereceram-no..”, coisas pequenas, mas que incomodam. Uma revisão teria favorecido seu texto.
    Quando Strange (não consegui imaginar o capitão de outro jeito, só como o Doctor Strange kkkkk) encontra o sereio e o ajuda a tirar a armadilha, ele é mencionado como “o loiro”. Mas não houve nenhuma descrição física até aí e a cena ficou confusa, sem eu saber quem era o loiro.
    Apesar dessas críticas, trata-se de uma boa premissa com bons elementos a serem desenvolvidos. Continue, aprimore, siga em frente.
    Só que, infelizmente, não percebi os “olhares cruzados” em seu conto. Toda a narrativa vem de um narrador onisciente, com pouco foco na visão do personagem. De modo que, para mim, ele foge do tema proposto, o que acarreta perda de pontos.
    Boa sorte no desafio!

  21. Agradeço pelos apontamentos pertinentes. Sei que me falta um olhar crítico sobre a estrutura e espero que mais comentários como o seu possam me ajudar a ser cuidadosa nos próximos contos. Essa história é baseada em uma narrativa que planejo desenvolver em que o “capitão” que financiou a navegação terá uma participação mais significativa. Eu poderia apenas ter cortado-o da história e adaptado a motivação para o encontros dos protagonistas, agora vejo como ele foi desnecessário.
    Sobre a temática, minha ideia era trazer vários olhares sobre o que pode ser a fome no contexto de uma navegação. A fome de modo literal, que levou a antiga tripulação a se matar para sobreviver; a fome no sentido figurado como a vontade de sobreviver que aparece tanto no tritão como no capitão do navio no passado; a fome como um desejo carnal que eram comuns em longas viagens em navios; a fome como uma maldição do tritão que precisa se alimentar de carne humana; a fome como um desejo inexplicável de se aventurar no mar. Esses olhares viriam através da visão do capitão numa pequena jornada de redenção com a culpa e na descrença do tritão com a humanidade sendo questionada pela existência de uma boa pessoa. Agora vejo que deveria ter optado por primeira pessoa para deixar esses dois olhares mais claros.
    Muita obrigada pelas sugestões!

    1. Esqueci de dizer, não vejo problema em dois capitães. É inusual mas não é proibido. Mas acho que o segundo devia trabalhar mais, os personagens custam muito caro em um conto de 2500 palavras. Entendo que devia ser o David no lugar do marujo que foi sugado no final. Aí sim, faria sentido.

  22. antonio stegues batista

    Sempre gostei de histórias de piratas. Na minha adolescência assisti os filmes do capitão Blood, li Mobi Dick, com o capitão da perna de pau, Ahab e outra história de piratas com o pirata da perna de pau com um papagaio no ombro, A Ilha do Tesouro. Depois veio outras histórias. Jack Sparrow e os piratas do Caribe, é claro.
    Fome em Alto Mar é um conto de terror com piratas, mas o capitão não tem perna de pau. Há dois capitães o que me deixou meio confuso. Um só capitão bastaria. A cena do encontro com a criatura foi surpreendente, muito boa a ação.
    Apontar erros, faz parte da análise, do comentário crítico e ajuda o autor de alguma forma.
    Na frase; “a madeira sobre seus pés”, o correto é “sob seus pés”. Em alguns momentos a narrativa mistura tempos verbais passado e pressente, quando a regra, como estrutura e estética, é usar só um tempo verbal, mas isso não prejudica a história. É uma falha que cometemos por distração. A história é sobre uma criatura marinha que se alimenta de carne humana. O tema é Olhares Cruzados, ou seja, pontos de vista de personagens, mas o conto tem um só ponto de vista que é o do narrador. Apesar disso, é um bom conto, sem dúvida.

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