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Buscando olhos │ Lara Machado

A vida continua de qualquer jeito e eu sigo tentando arrumar as formas. Sou uma mulher de vinte e quatro anos tentando fazer parte de algo, tentando ser comum, usual. Não ter um relacionamento sério nessa idade é aterrorizante do ponto de vista social. Muitos dizem que não arrumo ninguém, outros dizem que sou estranha, alguns dizem que estou solteira porque quero e uma minoria não se importa. Eu quero que os outros saibam que sou amada por alguém, mas também quero amar essa pessoa. Sempre achei horrível a possibilidade de ficar com alguém por falta de opção, é injusto com ambas as partes. Eu saio procurando olhares, olho para todos os olhos que consigo olhar.

As trocas de olhares até hoje não resultaram em amor, no máximo foi uma paixão. Muitas pessoas tem horror de serem olhadas e por isso vivem olhando para algo inanimado ou para o celular que já é considerado uma espécie de semivivo. Tenho medo de algum desses medrosos ser a pessoa certa. Já pensou? Um amor de filme ter sido encerrado antes do começo porque o gato estava navegando no Instagram, provavelmente se comparando com um símbolo sexual masculino.

O olhar perfeito precisa existir, mas se eu não achar está tudo certo. Apesar de ser julgada estou na zona de conforto da solidão. Bem no fundo almejo morrer sozinha. Sempre terei a mim mesma. O meu olhar sempre me parece lindo e eu nasci comigo e para mim. O príncipe encantado casou com a bruxa e só sobrou o dragão para me incinerar. Eu sempre achei que se considerar o grande amor da própria vida era coisa de gente sem opção, mas não é. Sou meu grande amor por estar comigo todo o tempo e me aceitar.

O fato de ser considerada estranha não me machuca muito. Todos são diferentes e também seriam estranhos se fossem autênticos. Eu nem consigo imaginar quantos homens deixam de dançar porque não querem ser considerados afeminados. Eu nem sei quantas mulheres se tornaram mães para cumprir uma certa obrigação feminina. Eu só sei que amaria achar um homem fora da curva, é isso! Eu quero um bailarino. O olhar dos sonhos deve estar em uma aula de ballet clássico. Só falta a grana para pagar.

30 comentários em “Buscando olhos │ Lara Machado”

  1. Andreas Chamorro

    como alguns aqui ressaltaram, o conto tem um jeito de crônica. É um desabafo que alude ao tema do desafio literalmente, um recorte desta característica humana que é o uso da especularidade. É o velho jogo do olhar e ser olhado e a mescla disso. Parabéns.

  2. Eu achei que ia ler uma introdução apaixonante de uma história de amor e fiquei um tanto desapontada quando o texto não seguiu por esse caminho. Embora a escrita seja bem construída, acredito que esteja mais para uma crônica do que para uma história de amor em si. Mas eu não sou um especialista no assunto, então posso estar errado. No geral, acho que a escrita tem potencial e espero ler mais textos do autor no futuro.

  3. Aqui os olhares cruzados são buscados como um “tema” e não com um recurso e, embora com um decréscimo de nota isso pudesse ser considerado, outra observação que faço é que sequer parece um conto, sem delinear um enredo com início, meio e fim, tratando-se mais de um monólogo interno o qual, aliás, também não é lá muito cativante.

  4. Ana Maria Monteiro

    Olá, Lua de Sangue

    Mais que um conto, esta crónica parece o desabafo de uma menina de 24 anos que se sente frustrada por não corresponder às expectativas do exterior, enquanto interiormente tenta compensar esse sentimento com umas fórmulas de autoajuda, dessas que não ajudam nada e só levam uma pessoa a afogar-se em si mesma.
    Na verdade, ninguém tem de corresponder a nenhum modelo e ninguém é estranho por estar fora da marca da curva.
    O mundo avança sempre e quem aponta o caminho está na linha da frente, fora de qualquer espartilho.
    Seja como for, isso passa. Quanto ao tema, aí sim, frustrou um bocado o que era suposto ser o desafio, mas percebo que tentou encaixar nos olhares que afirma procurar.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  5. Conto curto que fala sobre o drama de uma mulher que se vê na obrigação de encontrar o amor só porque a sociedade não vê com bons olhos uma mulher ter 24 anos e não ter um relacionamento sério. Acho esse pressuposto perigoso e potencialmente causador de depressões. O amor surge quando tem se surgir, não depende de idades. Se estamos bem connosco próprios, os outros não têm nada a ver com isso.

  6. Achei o conto/crõnica médio. O tema não foi executado. A leitura fluiu bem, sem entraves. Mas, como disse antes, achei mais uma crónoca do que um conto. Não hã um clímax, são apenas observaçôes e dilemas de uma jovem mulher sobre a vida, principalmente a amorisa. Boa sorte no desafio.

  7. Fernando Dias Cyrino

    ei, Lua de Sangue, você me apresenta um conto curto. Uma história de uma moça que se acha estranha. Talvez ainda presa nos resquícios da adolescência e seguindo vida afora em busca do olhar fatal. O olhar perfeito. O mote é legal, você talvez pudesse explorá-lo um pouco mais… Acho que não é estranheza buscar alguém fora dos estereótipos comuns que temos por aí. Legal ela avaliar que pode achar o olhar do “príncipe encantado” numa aula de ballet. Pena que lhe falte a grana para fazer parte desse grupo. Um conto legal, Lua, mas que não preencheu o requisito do desafio. Não consigo encaixar a sua história nos tais olhares cruzados. Daqui, Lua de Sangue, te envio meus votos de sucesso e o meu abraço.

  8. Mais um texto em que ficou preso ao título do desafio “olhares cruzados” do que a proposta em si. Uma pena, porque acho que as ideias apresentadas poderiam ser bem aproveitadas num texto mais longo. Mas às vezes, apenas pelo exercício de escrita mesmo, seria interessante extender a história: e se a protagonista começasse a aula de ballet?

  9. Anna Carolina Gomes Toledo

    A escolhas de palavras e a forma de expressar a opinião da protagonista é bastante agradável e convidativa de ser ler, soa como um relato daqueles que acompanham uma foto no instagran( já da para considerar esses textos um gênero diferente de uma crônica?) descrevendo como ela se sente em relação a ideia do que representa esses olhares cruzados. Entretanto, nesse ponto parece fugir a proposta que servia de guia para a estrutura, não a temática. Num concurso de poemas, não se pode escrever uma crônica sobre escrever poemas, ainda que seja uma ideia muito criativa. De todo jeito, a escrita é bastante agradável e provavelmente se houvesse uma modificação mais clara de como a personagem pensa (como passado e presente se chocando sobre o mesmo assunto), seria um excelente aproveitamento do tema.

  10. Então, Lua, acho que tudo já foi dito e não acrescenta muito, eu repetir. É uma crônica. Fugiu ao tema, está bem escrito e é uma reflexão interessante, mas… Usando das suas palavras penso em algo como: “Não encontramos o olhar perfeito, que precisa existir”! Mas, por outro poeta; existir não é preciso! Precisão é exigência de quem vai navegar! Então, no final você pode considerar somente o olhar que tem para você mesma! Boa sorte no desafio.

  11. BRUNO HENRIQUE DA CUNHA

    O relato cronístico tem seus méritos, porém sente-se falta da essência de um conto. Apesar de bem escrito, foge à proposta e não consegue empolgar enquanto narrativa.
    Nota: 5,5

  12. Um fluxo de pensamentos de uma jovem de 24 anos.
    Na minha opinião, o tema não está presente, pois há apenas um ponto de vista na narrativa.
    Mais um texto curtinho. Não há problema em ser curtinho, só que o risco é não entregar uma história marcante. Senti falta de mais desenvolvimento, de saber quem é essa jovem, quais seus conflitos, o que a faz ser única. Os pensamentos dela são muito semelhantes aos que eu tinha aos vinte e poucos e, desconfio, são semelhantes aos de muita gente. Li, e continuo sem saber quem é ela, entende?
    Boa sorte no desafio.

  13. Ana Luísa Manfrin Teixeira

    Achei que parece ser mais uma crônica do que um conto. O que não é ruim, mas aí saímos muito do tema (além do que não parecem haver mais de um ponto de vista). É muito fácil começar a escrever um conto e sair um texto mais estilo crônica quando fazemos a narrativa em primeira pessoa e sobre algo levemente autobiográfico. Está muito bem escrito e eu gosto da maneira como o texto flui.

  14. Oi Lua de Sangue, eu gostei bastante do texto, apesar de ser mais uma crônica que um conto, eu te entendo, faço isso o tempo todo, estou mais familiarizada, também, com reflexões internas do que com a narração de acontecimentos externos (a despeito de ser, por formação, jornalista,rs). Mas falando no que importa, é um bom texto, a personagem é fácil de se identificar, uma moça de vinte e quatro anos e com a vida toda pela frente, preocupada com o que os outros pensam, a tal pressão social – como a maioria das pessoas nessa idade e, muitas, infelizmente, a vida inteira. Acho libertador que ela encontre o amor próprio e se baste, é um zeitgeist feminino dos nossos tempos, gostei mesmo. Abs.

    1. Obrigada pelo comentário cheio de empatia. Eu até sei escrever contos, mas naquele dia pareceu que todos já estavam na protagonista. Será que ela tem a vida toda pela frente? Será que ela já se afundou na própria areia movediça? É tudo complicado. A vida é complicada. Se existe complicação já existe vida? Ou viver implica uma leveza jamais vista por ela?

  15. Hmm, acho que a questão dos “olhares cruzados” aqui foi convertido a tema, sem muito adequar-se a proposta (mas ai é coisa para os organizadores do evento). Interessante reflexão introspectiva, estando mais para um solilóquio. Com reflexões interessantes e uma mensagem muito positiva, uma leitura leve que te coloca para cima. Abracemos a nos mesmos.
    Nota: 6

  16. Antonius Poppelaars

    O conto é um solilóquio sobre a pressão de sociedade. A linguagem é musical e poética pela repetição da palavra olhar / olho. Gostei!

    1. Obrigada pelo elogio. O que me motiva a escrever é alguém ser marcado pelo meu escrito. Parece que te fiz uma tatuagem interna …. Estou orgulhosa …

  17. Temos um bom texto, ao menos um bom principio, e bons comentários também.
    Mais do tema poderia ser explorado, como a questão já citada do “horror social”.
    Temos uma crônica ao que tudo indica. Uma personagem, primeira pessoa, expressiva e explorando o seu pretexto, mas faltam camadas, falta texto.
    Falta algo que deixe isso com cara e conversa e passe “ares de desentendimento”, como se estivesse acontecendo uma outra coisa ou caso qualquer e “bam”, temos o tema do horror social no coração da conversa. É algo como a sutileza que se encontra na construção de um bom conto, apesar de que crônica boa se reconhece pela sua aparente indeterminação.
    Técnicas como a do Machado de Assis, talvez caíssem bem aqui, mas dele até um Rubem Braga há muitas referências.
    Infelizmente não vejo adequação ao desafio (olhares cruzados). Há o olhar da personagem apenas no texto.

    1. Tudo que vc falou faz sentido. Infelizmente acabei fugindo do gênero conto. Gostaria de ter percebido isso na escrita. Agora já é tarde demais para mudar e colocar diálogos. Pois é e vai continuar sendo. Sobre usar técnicas específicas não se encaixa em mim. Eu não penso muito no ato de escrever, vou sentindo, tudo vai se criando e um dia acaba. Obrigada pela sinceridade.
      Obs: Esse negócio de usar famosos como modelo não serve para mim. Preciso deixar minha escrita fluir do meu jeito. Eu baseou minha escrita na singularidade e é sobre isso.

  18. Repetição de palavras não ajuda, como bem observou a Cláudia. Muitos olhos e nenhum olhar cruzado. Mas… E se a personagem não escrevesse no diário e sim se contemplasse em um espelho? Todos os pensamentos desse seu conto, que aparentam uma confissão às páginas de um livreto de cabeceira, se encaixariam como luva em um raciocínio diante de um espelho. Principalmente se você adicionar elementos como bipolaridade ou complexo de perseguição (não me lembro o nome), por exemplo. Continue escrevendo.

    1. Boa ideia. Infelizmente já está tudo pronto e vai ficar assim. Os olhares se cruzaram em memórias. A moça deixou claro que olhava para os olhos de todo mundo buscando algo a mais.

  19. antonio stegues batista

    O conto é curto e me pareceu mais uma crônica do cotidiano de uma mulher solteira em busca do príncipe encantado e nessa espera dele aparecer, o tempo passa e a velhice chega. Nas palavras do narrador, ela busca o olhar perfeito, que significa a sua alma gêmea, ou seja, alguém que combine com sua índole. Aqui todo olhar é de promessa. A personagem é meio confusa, fantasia muito, acha que tudo se resume num olhar, bem, ela pode estar certa, dizem que os olhos é o espelho da alma. No final ela olha para si mesma e como Narciso, contemplando a própria imagem, se apaixona. Achei a história interessante, bem escrita.

    1. Obrigada pelo comentário. Nunca se sabe realmente se alguém está certo ou errado antes que tudo se concretize ou acabe sem acontecer. Eu nem pensei em Narciso no conto. Se ela envelhecer sem achar vai achar felicidade em outras áreas da vida.

  20. Também acho que dessa vez exageraram. O povo está isolado em casa, fazendo um tal de teletrabalho. A garotada chega em um barzinho, todos pedem a senha do wi-fi e começam a dedilhar o smartphone silenciosamente…. Estou com medo da humanidade se extinguir.
    O conto pareceu daqueles filosóficos e muito, muito literários da Eneida de Moraes, em sua linguagem intimista e profunda. O conto aqui logo me lembrou “Banho de Cheiro” da Eneida: “De Santo Antônio sempre ouvi falar maravilhas em matéria de amor: fez casamentos que pareciam irrealizáveis, uniu lares desfeitos, alimentou sonhos, esperanças, desejos, ambições sentimentais.” Haha!. Outros tempos, Santo Antônio aposentou-se…
    O conto aqui é até mesmo uma “autoajuda”, como se vê na frase “Eu sempre achei que se considerar o grande amor da própria vida era coisa de gente sem opção, mas não é. Sou meu grande amor por estar comigo todo o tempo e me aceitar.” Outra frase muito bonita entre as inúmeras do seu miniconto, foi “O príncipe encantado casou com a bruxa e só sobrou o dragão para me incinerar.” Parabéns, desejo-lhe boa sorte.

    1. Obrigada pelo comentário! Fez eu me sentir brilhante e eu brilho mais quando me sinto assim. Fico lisonjeada por ser comparada com figuras tão conhecidas e admiradas. Que bom que vc se identificou.

  21. Claudia Roberta Angst

    Olá, Lua de Sangue, tudo bem?
    Seu conto é bem curtinho e sucinto, confortável para ler e analisar com calma.
    A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: “A proposta é escrever um conto cujo enredo transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens.” Não sei se foi bem o que aconteceu com o seu texto, a menos que a narradora tenha dupla personalidade e eu não percebi.
    Há pequenos lapsos na sua revisão:
    Muitas pessoas tem horror > Muitas pessoas têm horror
    […] procurando olhares, olho para todos os olhos que consigo olhar. > Não sei se a repetição do radical “olh” foi proposital aqui, mas me pareceu um pouco demais.
    Também notei a falta de algumas vírgulas que facilitariam a compreensão.
    A leitura, no entanto, é bastante aprazível, e o leitor certamente simpatizará com a jovem protagonista. Espero que ela encontre o amor, mas já está bem encaminhada tendo amor-próprio.
    Parabéns pela sua participação no desafio e boa sorte!

    1. Eu realmente fugi do tema. Admito. Li a proposta e joguei minha primeira ideia. Ela cruza olhares com todo mundo procurando algo especial. Obrigada pelos elogios. Se eu exagerei em algo não é incomum de mim ….. Eu sou mesma exagerada e talvez ame um amor inventado como diz um cantor famoso que não me lembro o nome Agora, acho que é Cazuza …..

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