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Aquilo │ Pedro Paulo

Existe uma noite em que todo o planeta se encontra em festa, em que o céu é colorido por fogos de artifício. Ao fim da contagem regressiva, um instante, ínfimo, temporalmente localizado entre o último segundo do ano anterior e o primeiro segundo do ano seguinte, mas ainda mais transitório que o milésimo de segundo. Um instante mais breve dos breves e, entretanto, pelo anseio coletivo do globo, um instante poderoso, nuançado pelos variados tons de expectativa que o futuro permite em sua aquarela de possibilidades, o pessimismo e a resignação, o otimismo e a esperança. Nessa noite, nesse instante, Vanessa viu Marcela e Marcela viu Vanessa. Esse entreolhar, uma potência em si, foi um mundo à parte. O mundo inteiro contemplou as possibilidades, as permanências e as novidades. Marcela e Vanessa se contemplaram.

Na manhã desse novo – e, pela natureza do tempo linear, inédito – dia, Vanessa contou para a sua mãe sobre a menina que havia conhecido enquanto vagava sem rumo pela praia, evadindo multidões, alheia à música e gritaria. Era uma surpresa até que tivesse a visto, dado o quanto coçara os olhos cobertos de maquiagem borrada pelas lágrimas. A mãe estava na varanda, virada para o horizonte enquanto fumava um cigarro. Se filha não conhecesse mãe, diria que sequer era ouvida, mas sabia que sua mãe a escutava atentamente. Que estivesse fumando era demonstrativo disso. Tragava e exalava a fumaça e entre uma ação e outra, organizava as informações do que lhe dizia, formulando a sua opinião. Não era sempre que Vanessa gostava de ouvir o que a mãe tinha a opinar, pois ela sempre tinha uma opinião. Entretanto, Vanessa sempre ouvia.

Ela não se importou em dizer o que achava logo ao fim do relato. Terminou seu cigarro, descartou a bituca no cinzeiro que equilibrava no parapeito da varanda, onde também se sentava. Assim, entre as fumacinhas quase dissipadas do fumo se virou para a filha.

— Van, eu não te criei para você vir com essas asneiras de amor verdadeiro.

Vanessa esperava esse começo.

— Eu não estou dizendo que a amo, mãe, eu não sei nem o nome dela. Estou dizendo que senti algo inexplicável quando estive com ela.

— Quando você a beijou, quer dizer? Só pra lembrar que estar com ela foi uma bitoca que você deu.

Marcela não teve muito menos dificuldade para explicar o que houve a seus amigos. A maioria não tinha acordado, mas Carlinha e Jaime, ele que ela conhecera apenas no dia anterior, que era primo de uma das amigas que dormia um sono bêbado na área de serviço daquele airbnb temático, e que não tinha conseguido chamar um uber para levá-lo para casa e sequer havia dormido ainda porque, nas palavras dele, “bicha, eu tô meio jururu e não dormi, não, vou almoçar mais vocês e me picar pra casa pra virar o ano”. Sem saber, o rapaz se inscreveu na plateia para ouvir o relato de Marcela. Carlinha foi a primeira a voltar para casa da festa e a primeira a acordar, preparava o café da manhã de todos enquanto escutava.

Jaime abanou o rosto com as duas mãos e esticou o braço diante do rosto de Marcela para mostrar que se arrepiara com o relato. Os dois se abraçaram.

— Mulher, mas você é bem viajada nisso do cosmos, né?

— Eu sou! Eu acredito que existe uma conexão entre as coisas do mundo e que, se elas não estão próximas ou mesmo se encontram em algum momento, o movimento que elas fazem é o de seguir uma a encontro da outra.

— Então eu estaria num movimento a encontro de alguém?

— Ou de algo! As coisas do mundo são mais, muito mais do que as pessoas do mundo.

— Caralho!

E o inverso da expressão maravilhada de Jaime foi o rolar de olhos acompanhado de um estremecimento do corpo que passou por Carlinha, ocupada na cozinha e captada pela visão periférica de Marcela. Ainda sentada no sofá, de pernas cruzadas como estava, virou-se para a cozinheira.

— O que é, Carlinha?

— Eu não falei nada.

— E precisa? Eu te conheço — virou-se para Jaime — éramos colegas de escola. Agora diga o que você tá pensando!

— Meu amor, você deu um beijinho na praia, não é a linha do universo passando pela sua garganta, não, mas a língua de uma menina.

— Mas Carlinha, eu beijei todo mundo naquela Boa Viagem.

— De Petrolina a Recife! — Jaime celebrou com palminhas.

Marcela continuou:

— Eu sei quando um beijo é um beijo. E eu sei quando um beijo é outra coisa. Como você se sente quando beija o Mundinho?

— Não é a mesma coisa. — mas antes de dizer isso, Carlinha se demorou num sorriso saudoso. Marcela apontou para a amiga e cutucou Jaime.

— Você viu o sorriso dela?

— Amiga, eu vi!

— Essa sonsa namora tem uns sete anos, poligâmica de araque, tem os esquemas dela, mas do que ela gosta mesmo é o Mundinho. Os dois juntos eu nunca vi, é a coisa mais linda!

— Ai, mulher, você e esse Mundinho são abertos, é? Cabe eu no meio?

Carlinha riu para a iniciativa de Jaime e só respondeu com uma piscadela. Levando os pratos de cuscuz e calabresa à mesa, os outros dois vieram e sentar juntos. Num segundo ir e vir, talheres e xícaras; no terceiro, a garrafa de café e só então se sentou. Olhou para o rapaz.

— Nossa amiga falou de mim e do Mundo, jura de pé junto que encontrou o amor da vida dela… e você, Jaime, como vai desse coração?

Ele fez bico, soltou um muxoxo.

— Ai, mulher, essas coisas bonitas aí não acontece pra viado, não. Homem não presta! Nada contra esse seu boy, aí, mas minha experiência é grindr e as mesmas galeras, das mesmas baladas, com as mesmas mamadas.

Marcela acarinhou o seu ombro, Carlinha renovou a pergunta.

— Nenhum cara massa?

— Teve um.

— E como foi?

Com o mesmo bico o rapaz recuou para o encosto da cadeira, olhou pra cima, olhou para baixo, pegou a garrafa para se servir de um café.

— Olha, eu não sei como dizer melhor do que como canta a minha conterrânea, Duda Beat. O nosso amor era um que eu queria gritar pro mundo todo e ele dizia que não me aguentava… mas estava sempre lá. Ele não falava de me aguentar, ele falava mais é que me amava mesmo, mas ali, entre a gente, não na rua, não para os outros… — muxoxo — Deixei de lado, dei meu chega.

As duas o afagaram.

— Certíssimo, amigo, certíssimo.

— Mas aí a gente fica deprê, menina, vamos falar da sua mulher que o universo te deu. Bote logo o insta pra jogo.

Marcela sorriu constrangida.

— Mas aí é que tá…

Como Marcela explicaria aos amigos, Vanessa disse a mãe que não tinha pego nenhum contato da sua pretensa amada de toda a vida. A mãe franziu os lábios, cruzou os braços e balançou a cabeça. Vanessa reconhecia que até aquele momento já havia avançado muito em seu debate com a mãe, ferrenha defensora da objetividade, sobre como havia um plano de fundo lógico para o que ela havia sentido ao beijar aquela outra menina. A mãe suspirou.

— Não pegou o zap, um arroba, tiktok, sei lá?

— Não deu tempo, mãe, foi naquela mesma hora que rolou uma briga e os PM vieram trombando em todo mundo, ela correu pra uns amigos e eu fui te procurar.

— Ai, Van, ai você quer que eu te ajude como? A Polícia Militar contra o seu amor da vida toda, é?

— Sim! Aqueles sacanas…

— É, aí eu vou é concordar com você. Mas e aí, vai encontrar sua amada como?

Vanessa quase disse que não sabia. Que não fazia ideia de como encontrá-la, que a potência de seu sentimento não cercava a menina de um fulgor dourado que a deixava à vista na linha do horizonte.

Mas disse:

— Ela disse que ficou num airbnb legal, um que é tematizado de MPB.

Não era algo de que Marcela se recordava de ter dito. Lembrava somente de que o nome dela era Vanessa, ao que Jaime zombou mostrando a tela do celular. O Instagram mostrava mais de mil Vanessas como resultado de pesquisa. Carlinha se juntou na brincadeira.

— Aí vai ficar sem encontrar sua mulher das estrelas?

Jaime deu um tapinha na mão da cozinheira.

— Bicha, você é má!

Pelo seu sorriso e por como seus olhos pareciam captar um ponto não visto naquela sala, Marcela não havia se abalado.

— Talvez eu fique, viu? Mas, se eu não encontrar ou se encontrar, tivemos aquilo.

Jaime deixou os ombros caírem.

— Ai, eu quero aquilo.

Carlinha pôs as mãos na cintura.

— Aquilo o quê, minha gente?

Marcela se encostou na cadeira, bebericou sua xícara cuja resina imitava as feições de Tim Maia. Ainda com os lábios na borda da xícara, seu olhar perdido pareceu se fixar num ponto na parede. Apontou para um dos quadros que enfeitavam a casa, um retrato de Gal Costa que estilizava a cantora ao mesclar seus cabelos com um disco voador e as palavras: “um objeto não identificado”.

Aquilo o quê? É preciso alguma competência para descrever ou talvez aquele que lê não dê a credibilidade. Desde antes do mercado, aquele que lê está à venda. Foi algo assim: Marcela tinha pulado as sete ondinhas, não se lembrava muito bem de onde vinha a tradição, mas gostava do número sete, era um número primo, impar, fechado, com cara de definitivo, um para cravar bem o seu desejo, anseio este que era o mesmo, sempre, em todos os jogos com o destino: pedir a estrelas que caem; disputar um pedido com alguém de quem cai um cílio; soprar as velinhas no bolo… pedia o mesmo e, pulada a sétima onda, pediu novamente. Em nada tinha a ver com sua mãe arranjar emprego ou sua irmã parar de brigar na escola, nada específico assim. Sua bolsa acabaria ainda em março, mas também não pediu nada para si. Pediu para todos e se sentia bem. Sorria mesmo quando viu que se aproximava uma menina chorando. Choro que em pouco distraía de sua beleza. A menina também a viu.

Vanessa parou de caminhar. É verdade que não sabia por que ia até o mar, talvez esperava que suas lágrimas se somassem com o todo oceânico ou qualquer besteira do tipo, talvez fosse o único lugar em que pudesse dar às costas a toda a algazarra da virada de ano. Deteve-se, entretanto, porque no seu caminho havia uma menina que olhava para ela. Mais uma vez, seus pés lhe pareceram além do seu controle, mas o destino agora era muito mais específico. Tentou reparar o dano que a choradeira havia feito ao seu rosto antes de que estivesse próxima demais. Com um misto de delicadeza e hesitação, Marcela tocou as mãos de Vanessa e, percebendo que as mãos da outra se acomodavam com segurança nas suas, baixou-as lentamente até que estivesse à altura de suas cinturas. Não soltaram as mãos.

Marcela perguntou o que havia, Vanessa contou tudo e, olhando nos olhos daquela menina, sabia que era ouvida, que estava encapsulada na atenção dela de uma forma que as colocava ambas fora da festa de alguma maneira. Seus olhos estavam úmidos, mas não choravam e, quando terminou, riu, apresentou-se, ironizou que contara a vida toda sem sequer dizer o nome, e perguntou como estava a menina que lhe disse apenas, jovial como poucas pessoas são, que estava bem, e de alguma forma isso bastou para que acreditasse nela. Começou a contar do lugar de onde viera e onde estava hospedada, mas foi interrompida. As duas se sobressaltaram quando uma voz potente numerou “dez” seguida de um coro que respondeu “nove”. Marcela olhou ao redor, disse que não achava os amigos, Vanessa pediu desculpas por ocupá-la, mas a outra sorriu, sorriu de seu jeito único, e disse que não era nada.

— Mesmo?

— TRÊS!

— Com certeza.

— UM!

Existem olhares que são pontos de interrogação. Marcela via esse em Vanessa que, por sua vez, via o mesmo em Marcela. O ar vibrava, as pessoas vibravam, o céu estourava em fagulhas multicoloridas, as pessoas de abraçavam. Marcela e Vanessa só tinham consciência disso, mas não viam. Viam, apenas, uma a outra. Então fecharam os olhos e se aproximaram, as mãos que estavam juntas deslizaram pelos antebraços, cotovelos, braços, ombros, costas, cinturas. Tudo é dois, tudo é plural neste momento. Seus lábios se tocaram, estalaram, beijaram, os cabelos se embaraçaram juntos, os cachos de uma entre os fios mais ondulados da outra. O calor, o calor, esteve em ambos os peitos, pulsou, fez o corpo estremecer, contorcer em algo que não era espasmódico, pois espasmo não era dança e havia sincronia em seus movimentos, rebolavam juntas, os joelhos subiam timidamente, querendo ousar mais, abrir caminho, mas se detendo. As mãos, que passeavam, puxavam para o abraço, para aquele alvoroço íntimo. Resfolegavam, gemiam um pouquinho, mordiscavam e saboreavam uma a outra, deixavam-se levar, mas uma não sabia quem deixava e quem levava, não tinham decidido, mas seus corpos faziam juntos. Beijaram-se, assim, minutos para além daquele poderoso instante em que o planeta se despede de um ano para convidar outro. Fizeram o inverso, convidaram-se e se despediram, se é que se pode chamar de despedida a súbita separação que se deu com o alvoroço da PM ao desbaratar uma briga.

Longe, ainda estavam juntas pois, garante-se: Marcela pensava em Vanessa e Vanessa pensava em Marcela. E as estrelas assistiam àquelas duas, as estrelas assistiam aquelas duas.

22 comentários em “Aquilo │ Pedro Paulo”

  1. Andreas Chamorro

    Seu conto me trouxe uma sensação de nostalgia imensa. Quando eu era mais novo e via o mundo assim escrevia com tal lirismo, por isso eu me vi em Marcela e Vanessa. Claro que a realidade é brusca e gelada e sabemos que quase nunca o amor e a paixão ocorrem dessa maneira, sobretudo quando envelhecemos, mas seu texto me trouxe uma boa sensação, essa nostalgia da crença. Só por sensações tão gostosas do meu passado a leitura do texto foi válida, mas também gostei de como foi, ainda mais no começo. Boa sorte!

  2. Olá. Gostei da forma como o texto foi escrito. A prosa é fluída, mas é tudo menos clara, o que faz com que a fluidez se dilua. O que é pena porque o potencial do texto é bastante grande. A procura da mulher amada poderia dar lugar a um conto belíssimo, mas deveria ter sido trabalhado de maneira mais consistente, com ou sem a intervenção divina ou das estrelas.

  3. Antonius Poppelaars

    A primeira vez que li sobre um Airbnb num texto literário. A linguagem no conto é poética. Os diálogos são divertidos e a composição é fluida, agradável de ler. A divisão entre descrições e diálogos fica bem balançada e proporcional. Um conto excelente!

  4. You’d think that people would have had enough of silly love songs. But I look around me and I see it isn’t so. Some people wanna fill the world with silly love songs. And what’s wrong with that? Não tem nada errado! É como diz o Paul McCartney; ainda há espaço para canções e histórias de amor. E aqui tem mais uma. Muito bem escrita, inspirada em alguns momentos e morna em outros, mas o conjunto é bom e deve ser bem avaliada… parabéns e boa sorte !

  5. Este trabalho provoca reflexões profundas sobre as limitações que muitas vezes são impostas ao amor, seja pela sociedade, pela cultura ou pelas nossas próprias crenças e medos. A história traz à tona a dificuldade de dois amantes de culturas e crenças religiosas diferentes enfrentarem as barreiras impostas por suas famílias e comunidades.
    No entanto, a narrativa não se limita a retratar apenas os obstáculos, mas também a força do amor e da perseverança dos protagonistas em busca da felicidade. A mensagem é inspiradora e reflete a ideia de que o amor verdadeiro é capaz de superar todas as adversidades.
    Destaca-se, ainda, a habilidade do autor em criar personagens realistas e carismáticos, que cativam o leitor e fazem com que ele torça pelo sucesso do amor dos protagonistas. Além disso, a escrita é fluída e envolvente, o que faz com que a leitura seja prazerosa e cativante.
    Diante disso, é inegável o potencial do autor em continuar produzindo trabalhos de qualidade e que possam tocar os corações dos leitores. Parabéns pela conto!

  6. Fernando Dias Cyrino

    Olá, Anticomputador Sentimental, um conto interessante. Um conto que começa vibrante!. O melhor começo entre todos até aqui. Parabéns. O que se pede no desafio está na sua narrativa: os olhares que se cruzam. Você sabe contar histórias. O final também me encantou. Dizer mais o quê? Parabéns. Sucesso no desafio!

  7. Achei o conto médio. A narrativa é boa, o final é o melhor com, frases bem trabalhadas. O início e meio, com os diálogos entre os amigos e entre a mãe e a filha. poderiam ter sido enxugados, na minha opinião, claro.. A trama é simples e não muito original. Um encontro casual que virou amor a primeira vista, uma conspiração do universo e tais. Boa sorte no desafio

  8. Duas garotas se encontram e têm certeza de que são almas gêmeas. Um conto bonito e dentro do tema, pois mostra o ponto de vista de Marcela e Vanessa.
    O conto foca na defesa da ideia de que almas gêmeas existem. Tanto Marcela quanto Vanessa lidam com o ceticismo de seus pares, mãe e amigos. Apesar de achar o conto bonito e bem escrito, ele não me cativou. Imagine a mãe da Vanessa lendo o conto? Pois sou eu.
    Ainda no universo do gosto pessoal, eu teria gostado mais de ver as diferenças entre a duas, diferenças que complementam, que mostrassem que elas são mesmo feitas uma para a outra. Como está, elas parecem ser a mesma pessoa. Eu demorei um pouco a perceber a troca de ponto de vista. Achei que Vanessa estivesse falando com os amigos depois de falar com a mãe.
    Boa sorte no desafio.

  9. BRUNO HENRIQUE DA CUNHA

    Têm suas redundâncias, mas desde o início apresenta um lirismo competente em prol do avanço da narrativa. Os diálogos precisos desenham um cenário de amor e/ou sexo desesperançosos, especialmente na abordagem moderna de uma juventude que, mesmo rodeada de hyperlinks, ainda sofre para encontrar algo (ou alguém). A brincadeira com a crase, ao final do conto, talvez seja a melhor construção frasal que li nos contos do certame.
    Nota: 8,0

  10. Ana Luísa Manfrin Teixeira

    Adoro o tema de encontro de almas e “amor à primeira vista”.
    No entanto é muito fácil cair no clichê quando é um tema que já foi tantas vezes trabalhado.
    Algumas personagens são um tanto caricatas e chegam a parecer maniqueístas de alguma maneira. Achei que faltou um evento surpresa, uma quebra na expectativa para o leitor.

  11. antonio stegues batista

    No início há algumas descrições e colocações necessárias, regra obrigatória, para o bom entendimento da história, mas logo em seguida surgem divagações que se afastam do mote. Numa história mais comprida, um romance por exemplo, as meias-voltas são válidas, como descrições em excesso, mas não numa história curta. Entendi que o encontro entre duas garotas sonhadoras, foi propiciado pelo destino, ou algo fora da compreensão humana, aquela ínfima brecha entre o físico e espiritual, um momento místico transcendental. Acho que o conto é bom de certa forma, mas poderia ter sido melhor no início, onde as palavras se perderam no vento.

  12. Olá, anticomputador sentimental!

    Gostei muito do tema do seu conto. O modo como transitou entre as perspectivas das personagens foi bem sutil. Entretanto, a única parte que me confundiu, nessas transições, foi o começo deste parágrafo “Como Marcela explicaria aos amigos, Vanessa disse a mãe que não tinha pego nenhum contato […]”, talvez a pontuação tenha atrapalhado.
    O final achei bem escrito. É um clichê, mas eu adoro um clichê!

  13. Muito boa narração de um premissa que poderia facilmente ter se apresentado como “clichê” ou “batida”, mas que aqui se apresenta como algo muito cativante. Os diálogos são tão verossímeis que assustam (a linha “bicha, eu tô meio jururu e não dormi, não, vou almoçar mais vocês e me picar pra casa pra virar o ano” me remeteu a tantos momentos que ate arrepiei rs). Talvez mostrar mais o ponto de vista de Vanessa pudesse ter enriquecido mais ainda o conto, ou talvez seja só minha vontade de mergulhar mais nessa escrita. A cena final é brilhantemente descrita que é impossível não se envolver, como disse o Jaime, dá vontade de “caber eu ali no meio.”
    Nota: 10

  14. Olá, Sentimental.

    Uma troca de olhares é talvez a origem mais comum de muitas histórias de amor, mas sobretudo de paixão.
    Oh, sim, “aquilo” existe, posso dar essa garantia. E quando “aquilo” acontece, a pessoa nunca mais volta a ser a mesma. Não importa quanto dura, pois aquele momento conteve em si toda uma eternidade pessoal e intransmissível.
    É certo que a vida continua, mas “aquilo” não se repetirá. E é uma experiência maravilhosa.
    Admito que estava mais vocacionada para ler contos que abordassem diversos pontos de vista, mas é bem verdade que uma troca de olhares pode perfeitamente servir o propósito do desafio.
    Uns serão mais bem conseguidos que outros, este conto, em concreto, faz parte do grupo dos bem sucedidos e atrevo-me a dizer que usou os dois personagens para descrever uma experiência pessoal.
    Lugar-comum, numa situação destas, não é esse momento catártico que atira o indivíduo para fora de si mesmo; lugar-comum seria que fossem felizes para sempre, isso é que é algo que só sucede nos contos de fadas.
    Gostei muito deste conto que está bem escrito, bem descrito e bem desenvolvido.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  15. Anna Carolina Gomes Toledo

    Entre os conto que li até agora, é o que melhor distribui espaço entre descrição e diálogo de um jeito que é gostoso de ler numa sentada só! A forma com que a história cruza os olhares, mudando as perspectivas, é sutil e feita com capricho. Adoro como a informação do tema MPB vem em um olhar, então no outro é inserido elementos sobre o assunto, como se a linearidade da história crescesse simultaneamente (apesar de que a dinâmica dos amigos me agrada mais). Há muitas frases de efeitos boa inseridas em locais adequados e muito bem refletidas pela narração, sem forçar uma moralidade, é simplesmente muito bom. Adoraria ver para onde vai a história, mas para a proposta de um conto, tudo que foi prometido está presente. Adorei!

  16. É um ótimo texto, gostei bastante, me lembra um pouco Textos cruéis demais pela poética e a separação.
    Muito bem escrito, nada de erros, tudo amarradinho, a parte dos diálogos, as vezes, ficou um pouco repetida, mas diálogos são difíceis de criar mesmo dada a forma como, na vida, as pessoas, também, se repetem muito e, as vezes, são muito vagas ou detalhistas, enfáticas demais.
    Adorei a descrição do ano novo e também do beijo e a temática do amor, claro. Abs.
    Nota: 8.

  17. Tema atual, questões atuais para tentar explicar o que sente. Apesar da mãe que fumava o cigarro não ter sido preconceituosa fica a pergunta, se ela estivesse apaixonada por um homem ela traria o questionamento se era verdadeiro ou não?
    Adorei o conto, a forma como foi construindo a história e como o mundo das duas foi retratado.

  18. Claudia Roberta Angst

    Olá, Anticomputador sentimental, tudo bem?
    Antes de mais nada, analiso se houve abordagem do tema proposto pelo desafio: olhares cruzados. E sim, há o olhar de Marcela e o olhar de Vanessa. Protagonistas de uma bela narrativa de amor à primeira vista. O texto apresenta um tom poético que faz a leitura fluir docemente. Achei a cena do encontro e do beijo bem sensual, mas sem ser apelativa. Gostei que levantou a possibilidade das duas acabarem se encontrando, pois houve a referência a um airbnb temático… Quem sabe, né?
    Pequenas e poucas falhas de revisão:
    os outros dois vieram e sentar juntos. > os outros dois vieram e sentaram juntos.
    Vanessa disse a mãe > Vanessa disse À mãe
    impar > ímpar
    as pessoas de abraçavam. > as pessoas SE abraçavam
    Achei interessante o recurso empregado aqui: “E as estrelas assistiam àquelas duas” (as estrelas olhavam para aquelas duas), “as estrelas assistiam aquelas duas” (as estrelas ajudavam aquelas duas). O que faz uma crase a mais ou a menos!
    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!

  19. Sinto um retratismo forte, mas ele é bem feito. Uma bela cena à brasileira ou brasileiras, no caso. Entre conversas muitos temas relativos ao mundo das personagens vai sendo tratado, um mundo aberto e poligâmico, as vezes caricato, mas tudo é dinâmico.
    Suas descrições são ótimas e parece que não está longe da escrita dos grandes autores. A alternância entre descrição e diálogo é feita com muito cuidado e habilidade. Parabéns.
    Nos diálogos há referências inclusive das ações (e micro-ações) das personagens.
    Mais para o final dá para ver com clareza a intervenção autoral.
    Como pontos de melhoria diria para retirar a presença do autor do texto, isso vai deixá-lo ainda mais dinâmico, fluído e verossímil; e uma maior definição do seu estilo e das ferramentas que usa na narrativa — no seu trabalho o texto já se encontra com o pretexto em todo um contexto bem definido. É uma ótima escrita e de uma composição com muito bom gosto e experiência pelo que parece.

  20. Quando a contagem se encerra, a história fica mágica. O parágrafo do beijo é muito bem escrito. Pena que a “decoração”, o “entorno” seja povoado de repetições e adereços que atrapalham o samba, no meu ponto de vista. Não que seja confuso como outros que li, mas o conto é povoado de repetições e frases sem função (usadas apenas para encorpar o texto, talvez?). Uma revisão mais apurada, para pontuação e repetições, pode lapidar essa joia bruta. Uma pergunta para ilustrar o que digo: como se pode “caminhar pela praia evadindo multidões”? Continue escrevendo, com mais calma e deixando o texto descansar antes de apresentar a versão final. A premissa é ótima e o enfoque foi perfeito, com os antagonismos e as comparações.

  21. É como eu disse para um comentarista aqui: o conto é puramente um amor. Mas evidentemente tem seu público alvo. Citei o exemplo dos livros Harlequin, cheios de erros, que vendem as pencas (não vi nenhum erro aqui). E o que perguntei para outro comentarista: qual o diferencial do público aqui que não se pode postar esse ou aquele conto? Nenhum, penso eu. Aqui, vi um conto com um tema romântico, que talvez muitos não sejam acostumados a ler. Mas é daí? O conto é bem estruturado, bem escrito, poético… Acho uma injustiça dizer “não é minha praia” e dar uma nota baixa. O autor tem.um trabalho imenso, escreve, revisa… É como eu digo, me reportou aos vários aspectos do conto. Bom, isso sou eu, cada um sabe… Parabéns, autor, boa sorte…

  22. Amei o conto. Amor é de longe meu tema favorito. Mesmo se as gatas não ficarem juntas de alguma forma eternizaram a lembrança. Nunca esquecerão uma da outra. Um amor separado por um sobrenome não revelado …. Triste …. Cruel …. Empolgante ….. Várias possibilidades de nunca mais … Raras possibilidades de outra vez ….. Alguma chance de para sempre? O conto aqueceu meu coração e jogou um balde de água fria. Me sinto como a Adele jogando fogo na chuva. Amei muito.
    Nota: 10

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