
Aquele dia no parquinho da Quadra quando eu tinha onze anos de idade. │ Jowilton Amaral
Primeiro eu vi a cabeça. Era uma cabeça de gente, gente pequena, de criança, como eu. Não conseguia ver a cor dos cabelos, mas havia cabelos, não pelos. Coisa de humano e não de bicho. Também tinha olhos, nariz, boca, orelhas, dava para ver que tinha. Ela, a cabeça, girou de um lado para o outro como se procurasse alguma coisa. Depois o corpo foi aparecendo, crescendo, se desenterrando da areia do parquinho, embaixo da ponte bamba de madeira, do lado do escorregador, bem em frente onde os meninos faziam as búlicas para jogar bolinha de gude. Pescoço, ombros, braços, pernas. Ele então ficou em pé. Uma luz esverdeada estava em volta dele e foi sumindo aos poucos, como se estivesse usando o anel do Lanterna Verde. Parecia ter a mesma altura que eu tinha. Também era gordinho, assim como eu era. Eu estava sentado no balanço de pneu e assistia aquela aparição completamente paralisado, me borrando de medo. Pensei que estivesse dentro de um episódio do Além da imaginação. Mas era real, pode crer que era. O pavor aumentou quando ele deu uns passos para frente e seu rosto foi iluminado pela luz amarelada do poste. Nossos olhares se cruzaram e pude ver, aterrorizado, que ele era igualzinho a mim.
Meus pais brigavam muito. Sobretudo por dinheiro, por contas a pagar. Meu pai era sempre o mais irritado. Minha mãe tentava acalmar a conversa, sempre falando baixo e pausadamente e pedindo para ele ter calma. Acho que isso deixava ele mais furioso. E falava ainda mais alto depois disso. Meu pai era gente boa, brincalhão e divertido, mas quando se falava em dinheiro, em gastar dinheiro, ele virava uma fera. Ele trabalhava com computadores. Antes eles eram uns bichões grandes. Depois vieram os pequenos, os microcomputadores. Tínhamos um Expert em casa, da Gradiente, de oito bits que custou os olhos da cara, como minha mãe gostava de dizer. “Com os seus gastos você não reclama. Não é, Pereira?”. Ela era professora infantil e dava aulas na escolinha da Trezentos e Doze Norte. Seus alunos gostavam muito dela. Às vezes eu tinha ciúmes.
Apesar das brigas, eles se amavam, eu acreditava nisso. Eles também me amavam. Amavam mesmo, pode crer. E cuidavam muito bem de mim. Algumas pessoas diziam que eu era mimado. Eu não era. Não era de jeito nenhum. Mesmo assim, para uma criança de onze anos, era difícil de ver e ouvir aquelas brigas. Os pais do Marcelinho se desquitaram por causa de brigas. O Marcelinho me disse que eles brigavam todos os dias. Só de pensar que eles poderiam se separar, meu peito apertava, doía. Uma dor funda, forte, pesada, como se o Igoo dos Herculóides estivesse sentado em cima de mim. Saca? Por isso eu saia de casa e corria para o parquinho.
À noite, principalmente aos domingos, quando começava o Fantástico, logo depois dos Trapalhões, nunca havia ninguém brincando por lá, aliás, quem também sempre estava lá, todas as noites, sentado nos banquinhos, na parte menos iluminada do lugar, escutando som. era o Ramon, um dark com cabelo esquisito caindo por cima dos olhos. Mas, ele era na dele, não me incomodava em nada. Naquele horário era quando eu mais gostava do parquinho. Eu podia usar todos os brinquedos, saca? Com calma, no meu tempo, do meu jeito. Sem a algazarra dos outros meninos. Nunca fui muito de exercícios físicos, piorou em dias ensolarados e barulhentos. Não jogava bolinha de gude, nem empinava pipa, nem brincava de garrafão — Deus me livre! — nem jogava bola ou qualquer outro esporte. Preferia os jogos de tabuleiro. War, Banco Imobiliário, Diplomacia, dos livros… e do Atari. Como eu gostava do meu Atari. E eu era muito bom nele, bom mesmo, pode crer. Consegui zerar River Raid e H.E.R.O.
Gostava muito do silêncio e da penumbra do parquinho naquelas horas — penumbra era uma palavra que eu havia descoberto a pouco tempo, lendo uma história de Edgar Allan Poe. Eu era um garoto inteligente pra caramba, apesar da pouca idade, pode crer, sem querer me gabar. Eu era mesmo. Os professores gostavam de mim e sempre me elogiavam durante as aulas, por conta das minhas notas e da forma madura que me comportava e falava. Eu Lia bastante e rabiscava algumas histórias de terror, que eram as minhas preferidas. Também apreciava os mistérios de assassinos em série e de ficção científica.
A Elaine também gostava de mim. Não do jeito que os professores gostavam. Era de outro jeito. Eu também sentia atração por ela. Já tínhamos dado um “ploc’ e tudo, atrás da pilastra do bloco Jota, numa brincadeira de salada mista. Ela se transferiu para meu colégio, em outra sala, na mesma série, pouco depois do nosso primeiro beijo. Quando eu a vi no pátio na hora do recreio, putz, foi alucinante.
A Lai começou a me procurar nos intervalos. Eu gostava dela e tudo, mas, ficava sem jeito com ela do meu lado na frente dos outros. A Lai queria andar de mãos dadas, como se fosse minha namorada. Eu também queria, mas não conseguia. Então pedi pra gente só se encontrar quando não tivesse ninguém vendo. Ela não gostou no início e deixou de comparecer as aulas por uns dias. Depois ela voltou e ficou tudo bem e a gente se encontrava embaixo do bloco dela ou no parquinho aos domingos à noite. Era também por isso que eu sempre corria para o parquinho, saca? Para encontrar com ela. Foi num domingo — os encontros foram sempre aos domingos — que eu encontrei com o menino que era igualzinho a mim. Um ano depois trocamos de lugar. Ele veio para o meu mundo e eu fui para o dele.
O buraco surgiu não sei como. Um buraco verde, quadrado como uma televisão grande, bem em cima de mim, no teto do alojamento, a poucos metros da minha cama. Eu dormia num treliche, no último colchão, perto do lajeado. Primeiro pensei que fosse uma mancha, mas, se mexia, como o mar da praia de Lilá em dia de maré calma. Estiquei minha mão e ela sumiu depois de passar por ele. Retirei imediatamente, talvez estivesse vendo coisas. Tentei tocar mais uma vez, e mais uma vez minha mão sumiu ao atravessar o vazio. Poderia ser o cansaço. Eu havia trabalhado o dia todo no setor de simulação de combates. Eu era um dos órfãos da guerra. Da Guerra Dos Estados, que já durava trinta ciclos de sóis. Nós lutávamos pela Federação, a capital. Todos nós, Mixins, crianças que tiveram os pais abatidos em combate, treinávamos exaustivamente em simuladores, tentando melhorar estratégias bélicas que não deram certo em batalhas passadas. Aprimorando nossas táticas. Isso ajudava bastante nossos soldados. E a cada dia expandíamos mais nossas fronteiras e conseguíamos mais aliados. Pela Federação que conseguíamos! Eu era um dos melhores em pilotar as naves Centuriones. Eu fazia isso desde que eu tinha quatro ciclos de sóis, há sete ciclos. Essa era a idade mínima para se começar. Quando completávamos catorze ciclos, éramos destinados para o campo de combate.
Não lembrava mais o rosto de meu pai. Só o da minha mãe, porque eu tinha um holograma compacto em que ela aparecia segurando seu fuzil de energia gama. Ela exibia a arma com um ar severo, vestida no uniforme cinza do nosso exército. Ela era uma guerreira exemplar, assim me disseram. Pela Federação que era! Destemida e linda. Era sim. E mandou para o mundo de Ulon, que Ulon os castigue, muitos Coiotes. Coiotes eram como nós chamávamos os nossos inimigos, aqueles filhos de Quitar! Peço desculpas pela boca suja. Disseram para mim que ela se foi quando eu tinha três ciclos. Meu pai foi antes, quando eu ainda nem engatinhava. Que regozije nos braços de Ulon. Verdadeiramente! O rosto dele sumiu da minha lembrança, por mais que eu me esforçasse não aparecia imagem alguma na minha cabeça. Meu comandante falava que ele era alto e forte e foi um grande herói da guerra. Eu tinha orgulho dele. Pela Federação que eu tinha!
Eu disparava o holograma toda noite antes de dormir. A imagem dela dançava no ar por quase um cronon inteiro. Depois disso eu caia no sono. Mas naquele dia em que o buraco apareceu eu não dormi. Controlei o meu medo através da respiração pausada, como aprendi nos treinamentos, e passei para o outro lado do buraco.
Aquele mundo era estranho, pela Federação que era! Saí embaixo de uma estrutura de madeira, parecido com os aparelhos de treinamento de nossos soldados terrestres. Quando olhei para frente vi um menino sentado num pneu seguro por corda. Olhei para ele e o garoto saiu correndo. Covarde, pela Federação que era! Só depois do terceiro encontro consegui contato com o habitante daquele mundo. Conversamos muito. Ele era bem parecido comigo. Não igualzinho. Não era mesmo. Eu não era tão gordo e nem era um fracote como ele. Muito menos me vestia daquela forma tão colorida. Ele usava um calçado verde, uma bermuda vermelha e uma camisa roxa. Pelo amor de Ulon! No meu mundo só usávamos roupa cinza, para lembrarmos da fumaça das bombas que explodiam todos os dias. Ele também me falou sobre a guerra do seu mundo. Disse que era uma guerra muda. Que não tinha tiros nem explosões. Mas que o silêncio causado pelas não explosões era de gelar a alma. Me falou do medo de que tinham que apertassem o botão. Que botão era esse? Eu não fazia a mínima ideia. Aquele mundo era realmente muito estranho.
O que mais me animou a trocar de lugar foi como o menino falava dos pais. Os olhos brilhavam e se enchiam de lágrimas. Ele realmente amava os pais. Eu queria sentir aquele amor. E como ele se achava igualzinho a mim — mas, não era, não era mesmo — imaginei que os pais deles também fossem parecidos com os meus. Só que ele não tinha nenhum holograma dos pais para me mostrar. Mesmo assim, corri o risco. Eu era um Mixin de onze ciclos de sóis muito corajoso. Pela federação que era! Foi por isso que aceitei mudar de mundo.
Fui procurar carinho e encontrei o desespero.
Já no primeiro dia descobri que ele era um filho de Quitar mentiroso. Pela federação que era! Quando nos encontrássemos de novo eu mandaria ele para o mundo de Ulon. Que Ulon o castigue!
Ele não tinha pais. Os pais deles morreram assim como os meus. Ele morava com os tios e dormia num treliche igual ao meu, na última cama, bem perto do teto do alojamento que eles moravam. Nas camas de baixo dormiam seus dois primos, que eram mais velhos que ele. Um de treze ciclos de sóis e outro com catorze.
No outro dia acordei recebendo tapas e zombarias dos garotos. Me levantei e empurrei eles. Eles ficaram espantados, dava para ver na cara deles que não esperavam aquela reação. Pela Federação que dava!
No outro dia foi a mesma coisa, e no outro e no outro. Até que me irritei e dei uma surra neles que eles não conseguiram se levantar. O pai deles, o tio do menino que se achava parecido comigo, veio até o quarto para saber o que estava acontecendo. Quando ele viu os garotos no chão do alojamento, sangrando e gemendo, partiu para cima mim. Mas eu era um Mixin treinado, e não era qualquer um que dava conta de mim. Pela Federação que não dava, pode crer. Quando ele chegou perto e tentou me agarrar, chutei suas bolas com toda minha força. Ele caiu ajoelhado. Eu aproveitei e soquei sua cara, uma, duas, três, quatro vezes. A mulher dele então apareceu. E quando viu o que estava acontecendo, deu um grito e me trancou no alojamento e entrou em contato com os homens que eram responsáveis pela segurança daquele mundo. E eu só pensava em voltar pra casa, voltar para o meu mundo.
Ter visto O Pedrinho saindo na ambulância foi de cortar o coração, até mesmo para mim que gostava de uma tristeza e venerava a melancolia. Quando ele me olhou nos olhos da janela do Ford Galaxie, o olhar dele me rasgou, como se meus olhos fossem buracos de fechadura e ele pudesse observar meu interior, minha alma.
Depois da tragédia que aconteceu em sua vida, ele não foi mais o mesmo. Há pouco mais de um ano, seu pai matou a mãe dele e depois se matou. Tudo isso na presença do garoto. O tio, irmão da mãe dele, ficou responsável por ele e se mudou com a família para o prédio em que morávamos. Eu só tenho dezessete anos e acabei de passar no vestibular de Medicina da UNB — para a surpresa de muitos — mas, mesmo assim, sei que ele deveria mudar de ares e não continuar a viver no local onde a desgraça aconteceu. Vai entender a psicologia.
Eu o via no parquinho da nossa Quadra, sempre nas noites de domingo, falando sozinho. Parecia que ele estava conversando com alguém, no entanto, nunca havia ninguém. Certa vez, eu o observei fazendo um gesto de quem beijava alguém. E ele ria e conversava. Era de dar um nó na garganta. Eu tentatava esconder as lágrimas dos meus olhos, pois garotos não choram. Garotos não choram.
Deu um nó na cabeça, mas quando reli tudo fez sentido. Publiquei meu segundo livro esse ano e há um conto sobre um personagem esquizofrênico, mas sua abordagem foi outra, e muito bonita, por sinal. Você realmente alcançou todo o espaço possível, aludiu à imaginação com muito respeito, descolando a representação que a imaginação infantil às vezes tem de “bobeira”. Muito bem escrito, te desejo muita sorte!
Aqui a escrita é viva, ao mesmo tempo em que nos apresenta a história, a opção pela primeira pessoa também caracteriza o protagonista e suas versões, dando bastante verossimilhança e personalidade ao conto. A escrita sofre um pouco com excesso de pausas, o que prejudica o ritmo, mas não ao ponto de empacar a leitura, que intriga por sua ambientação e nos faz pensar – mérito da autoria – que o enredo nos levará a um canto quando na verdade nos conta uma história totalmente diferente, nos arrebatando com uma reviravolta impactante. Achei a inclusão do trecho do estudante um pouco desnecessária, quebrando um pouco com o impacto da revelação,penso que poderia ter concluído de outra forma que não tirasse o foco do protagonista fragmentado. Ótimo conto.
Sr Robert Smith me perdoe porque meu comentário não fará jus a sua obra. Simplesmente UAU! Bem escrita, criativa, forte apelo sentimental, sem firulas… para mim, o melhor, até agora. E não me faltam muitos. Parabéns Sr. Smith!
Olá, Robert Smith, que legal o seu conto. Cá estou eu envolvido com ele. Uma história triste, uma história bonita. Uma criança que cresce há uns quarenta, cinquenta anos atrás e que na sua tremenda solidão e tristeza com a violência em casa e, quem sabe, com o bullying escolar, pois ele era um garoto gordinho e meninos gordinhos sofriam… E ele então encontra seu duplo, seu amigo imaginário. Ele do outro lado da realidade (multiverso?) e aí a maravilha. Ele é herói, é forte, bate nos meninos que mexiam com ele e até no tio… Não entendi alguns pontos, amigo, por exemplo, essa: Afinal, ele saiu de galaxie ou de ambulância? Também há algumas referências que me escapam do entendimento. Mas o que quero lhe dizer é que seu conto é muito legal. Acho que precisa ser mais trabalhado. Talvez, pelo pouco tempo para envio ao desafio, você teve que correr e deixou de cuidar dele. Acho que falta um pouco mais de coesão ao enredo. Mas como há esse salto para a ficção científica, talvez faça parte das narrativas inerentes a ela (que ignoro). Culpa minha né? Já estou te cansando e por isto resumo: um bom conto, uma história interessante e que prende o leitor. Está dentro do que exige o desafio. Os olhares cruzados são evidentes. Alguns pontos a melhorar para dar mais coesão ao texto. Talvez também haja um excesso de marcadores temporais para mostrar que é um garoto que fala e as gírias do seu tempo, bem como do outro lado a expressão “pela federação” me pareceu um tanto excessiva. Meu abraço e parabéns pela sua bela história e forma de contá-la.
Olá. Achei o seu texto quase perfeito. Aqui e ali há um excesso de pronomes e outros erros gramaticais que deveriam ter sido apanhados por uma revisão mais apurada. Mesmo assim deu para ver que tem potencial. Sabe contar uma história e prender o leitor. Isso contrabalança os problemas do texto. No entanto, há alguma confusão no final. Não se conseguem identificar as personagens. A ideia que fica é a de que tudo se passa no imaginário do rapaz que tem problemas familiares e que usa a imaginação como forma de escapar à realidade – mas creio que a ideia poderia ter sido trabalhada de outra forma..
Um conto inquietante. Pedrinho parece ser um garoto comum que atravessou um portal interdimensional. A história parecia ser uma ficção científica, mas a ficção era mais trágica do que parecia. Está de acordo com o tema e de forma muito interessante, mostrando as diferentes personalidades de Pedrinho e a visão de Ramon, que esclarece tudo.
Gostei muito de como o ponto de vista do garoto Mixin já dava um vislumbre do que estava acontecendo e o final, com Ramon, termina de colocar os pingos nos Is, tudo bem desenvolvido e claro. As diferentes personalidades de Pedrinho estão bem desenhadas, são diferentes entre si, muito bem pensado.
Parabéns, gostei muito mesmo! Boa sorte no desafio.
A ambientação agridoce da primeira parte (calcada na solidão e na nostalgia) é bastante confessional, e a ambientação da segunda parte segue bem este fluxo em termos imaginários. Por mais que a narrativa seja irregular, é competente em seu propósito. Já o epílogo, bem mais realista, soa descartável.
Nota: 7,0
O desafio está me tirando da minha zona de conforto, mas confesso que estou gostando.
Na minha perspectiva se trata de um amigo imaginário, isso é bem comum as crianças. mas a história de Pedrinho é demasiadamente triste. Aprecio um bom drama/ficção claro, por isso afirmo que gostei do conto. Só achei que deveria ter deixado mais explicito o fato do amigo imaginário, ou seria um fantasma? Fiquei com essa dúvida. Continue escrevendo.
Pelo título pensei que seriam as memorias de um idoso sentado no banco do parque. Rs rs.O conto tem uma mistura interessante, três narrativas que se conectam. Lembra filmes teen de Fantasia, Patrulhas Estelares, Valerian e os Mil Planetas, Jogador n° 1. O argumento é bom, tudo se explica no final na visão de outro menino que mostra que o protagonista na realidade, é um garoto traumatizado pela morte dos pais. Conto que merece uma boa revisão. Gostei, saca?
Gostei do conto, mas achei um tanto quanto confuso.
A história é muito interessante e a premissa criativa demais! No entanto algumas construções são muito repetitivas “Pela federação” achei que apareceu muitas vezes e deixou o texto pouco natural. A maneira com a qual as crianças conversam e falam também não achei muito natural, talvez pudesse ser melhor contruído.
Mas de uma maneira geral achei bem escrito, está dentro da temática e o tema realmente muito interessante. Invejo um pouco quem tem esse tipo de criatividade para a criação de mundos diferentes. Poderia até ser um romance!
Interessantíssimo e inesperado recorte temporal e social brasileiro. O início. se dúvida, é o ponto mais cativante, com uma menção a Edgar Allan Poe nada desnecessária. Penso eu que poderia ler um romance completo com esse estilo de narração e forma de expressar os detalhes facilmente. Entretanto acho que, por tratar-se de uma criança de 11 anos que narra a história, o uso de certos verbetes soavam, de certa forma, anacrónicos. Entendo que era um garoto inteligente, mas acho que poderia ser mais uniforme em sua infantilidade (a não ser que as crianças de 11 anos dos anos 80 falassem desta forma e eu é que não saiba). O trecho seguinte onde passamos para ficção cientifica é uma muito bem vinda surpresa principalmente em relação a construção da sociedade e do linguajar, contudo, acho que o excesso de repetição de diversos jargões – como “pela Federação que…” – começaram a pesar demais. Uma boa revisão daria uma grande aliviada (e isso vem de alguém extremamente prolixo que repete os mesmo termos, página a página, constantemente rs). Mas, o problema principal, na minha opinião, se dá no final. Toda a construção minuciosa se esvai quando esse novo personagem nos conta diretamente o plot twist da narrativa, tirando muito da graça e do gosto que havia sido investido nos trechos anteriores. Realmente acho que preferia ter experiênciado a descoberta do que tê-la exposta dessa forma.
Nota: 6.5
Búlicas? Aqui no sertão a gente chama “borroca”. Esse Msx Expert é antigo, já tive um também, e seu equivalente HotBit da Sharp.
O conto se reporta a Poe, como diria o Gabriel Amorim. Mais precisamente ao duplo, ao William Wilson. Os pontos de vista alternam-se entre os duplos, nos universos paralelos, buracos negros, quasars, cumprindo o tema do desafio. O autor conseguiu obter o ambiente e ficção científica que pretendia, o que mostra sua categoria. “o silêncio causado pelas não explosões era de gelar a alma” é uma frase que vou colocar na antologia do Jowilton. Por sinal que dá pra suspeitar da autoria, haha.
Quando a história entra no ritmo do príncipe e o mendigo fica mais interessante ainda. Se tivesse espaço dava pra encher um livro. Excelente, parabéns, meu caro.
Um conto muito original pelo uso da alienação. A trama revela um dor mental forte. Será por isso que o conto termina com uma música da banda The Cure: Eu tentatava esconder as lágrimas dos meus olhos, pois garotos não choram. Garotos não choram. (Hiding the tears in my eyes. ‘Cause boys don’t cry. Boys don’t cry)? Já que o cantor da banda The Cure (Robert Smith!!) canta também muito sobre dor mental e alienação. A repetição de linguagem infantil, como “saca”, me lembrou do romance O Apanhador no Campo de Centeio. Parabéns!
Olá, Robert.
Bem, eu gostei do conto e achei muito criativa essa opção por colocar o garoto/espelho como ser vindo do espaço, muito embora não creia que em situação efetiva de doença mental, esse processo seja viável. Mas também não interessa nada, pois o que é importante num texto, é sempre a sua coesão interna e essa está presente. Como está bem presente o tema do desafio.
Excessivamente presente, isso sim, foi o “Pela Federação”. Acredite que, para marcar bem um certo alinhamento e estrutura mentais, teriam bastado metade das vezes que usou e assim, cansou. Não devo ser a única a reagir a isso.
No mais, a narrativa está boa, imaginativa e bem desenvolvida e o título é muito lindo.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Oi, Rob Smith, eu entendo que você usou um pseudônimo americano já que o tema além de psicologia envolve ficção científica e a parte em que o amigo imaginário de Pedrinho fala, pensei em Star Wars que é o que mais me ficou na memória do gênero, ainda mais com a Federação e a guerra, a orfandade e os tios talvez pudessem ser algo meio Harry Potteriano, mas aqui a história é bem mais dark, trata de violência doméstica e traumas que levam uma criança/pré adolescente a um transtorno dissociativo severo. Eu gostei bastante, apesar daquelas pequenas redundâncias e excessos de pronomes e etc, entendi que são um garoto pensando.
Nota: 8,5.
Comecei um pouco confusa confesso, adorei a forma como ele descreve a criança que surgia na frente dele, porque é exatamente como uma criança faria e assim ele vai detalhando tudo no decorrer do conto, nos fazendo entrar no universo paralelo ou não dele. Conto interessantíssimo, a temática pesada, mas detalhada com maestria. Show.
Esse desafio está me fazendo sair da zona de conforto de leitura e tô curtindo muito.
Ao que parece (pelos comentários) foi tudo bem proposital. O texto é interessantíssimo nos termos que apresenta e usar a ficção como fuga foi uma ótima ideia. O tema da trama é um assunto pesado, complicado e pesado, refletindo toda a perspectiva e visão do personagem sobre os eventos da própria vida.
Talvez seguindo um estilo como o da Clarice Lispector tenhamos um resultado bastante interessante conforme seguir com a revisão dessa história.
A galera Russa (formalista) que gosta de seguir coisas assim, retratando na própria forma do texto o contexto do personagem ou como ele enxerga as coisas.
Para quem não está acostumado é um oh, mas depois de entender que isso faz parte da coisa a experiência com o texto melhora significativamente.
Boa composição.
Olá, Robert Smith, tudo bem? Sou suspeita pra falar sobre a temática do seu conto porque sempre gostei de personagens esquizofrênicos. É bem interessante em como estruturou a sua narrativa. Talvez os pontos que a Claudia e o Vladimir destacaram sobre a confusão ou o excesso pudessem ser melhor trabalhados se o conto fosse maior. Ou será que a confusão também não é proposital?
Olá, Robert Smith, tudo bem?
Antes de mais nada, analiso se o conto aborda o tema proposto pelo desafio. E, sim, missão cumprida: olhar do Pedrinho; olhar do amigo imaginário; olhar do Ramon, estudante de Medicina, 17 anos (que não sei se é outra personalidade do garoto). Tudo cruzado, mas devidamente delimitado por sinalização gráfica.
Triste a história de Pedrinho, que teve de desenvolver uma outra personalidade para lidar com a tragédia em sua vida, ou eu entendi errado? Enfim, há muita informação em pouco espaço para um desenvolvimento adequado, isso pode gerar alguma confusão e pouco entendimento durante a leitura. Demorei um pouco para entender que Lai e Elaine eram a mesma pessoa. Também fiquei confusa quanto ao final, Pedrinho estava em uma ambulância ou dentro de um Ford Galaxie? “Ter visto O Pedrinho saindo na ambulância”/” Quando ele me olhou nos olhos da janela do Ford Galaxie”
Há alguns lapsos na revisão:
– e assistia aquela aparição > e assistia Àquela aparição
– era o Ramon, > Era o Ramon,
– comparecer as aulas > comparecer às aulas
A pontuação falha em alguns momentos, nada grave, mas seria prudente fazer uma nova revisão.
O uso de algumas expressões e referências denunciam que o(a) autor(a) pertence à mesma faixa etária do que eu. Vintage!
Confesso que a repetição da expressão “Pela Federação que…” acabou me incomodando um pouco.
Um bom conto que merece uma lapidação para brilhar ainda mais.
Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!
Olá, Claudia. Existiam ambulâncias antigas que eram Ford Galaxie. A história se passa na década de oitenta. Imaginei que um hospital para doentes mentais daquela época poderia ter essas ambulâncias.
A temática de ficção científica aqui serviu muito bem para nublar a real natureza do protagonista, provavelmente delirante. Tenho a sensação que a escolha de palavras foi feita para simular uma criança neurodivergente e funciona a maior parte das vezes, mas chega a ficar cansativo em algumas descrições. Talvez valesse a pena escolher algumas características/informações para retirar por não contribuir o suficiente com o desenvolvimento.
Gosto muito do outro mundo, o que suponho ser imaginado pelo garoto. Fez muito sentido ele descrever como o protagonista depois de ficar claro ser um mero fruto da imaginação. No geral, o tema está presente e na releitura fica ainda melhor por sabermos que as crianças são, no fundo, a mesma pessoa.
Premissa legal, mas achei um tanto confusa. Novamente o pecado dos pronomes. Repetem-se os “eu” e “ele” a cada frase curta. A tutela do garoto mudou de pais para tios, os primos surgiram de repente e no final, pelo visto, o tal Ramon o vê entrando na ambulância após acabar com os primos e o tio. A lide se desconectou. É complicado você modificar a denominação de um personagem sem aviso, como com Elaine. Há várias lembranças espalhadas pelo texto que, misturadas a essa premissa, me deram ideias bem malucas. Vi o comentário da Lara e creio que as avaliações devem ser “comentadas” no post de avaliações, não é? Continue escrevendo, Robert, com mais calma e seguindo a lide. Boas ideias você mostrou que tem.
Olá. Vladimir. O uso excessivo de ele ela, entre outros, foi proposital. Eram meninos de onze anos que narravam a história. Por mais que eles se achassem inteligentes, ainda assim eram crianças. A confusão foi feita só na sua cabeça mesmo, porque está tudo separado. São três visões de uma história, que vai se complementando em cada narrador. A ultima parte foi escrita às pressas e passou muitos erros de revisão. Obrigado pelo comentário
É bem interessante. Ele mudou de mundo mesmo ou só delirou na imaginação?
Nota: 9