
A Janela │ Julia Abreu
Há quem diga que, por trás das quatro paredes de uma casa, o que reina é a privacidade. O que esqueceram de dizer, porém, é que, para saciar a curiosidade sobre a vida alheia, foram construídas janelas. Talvez a explicação original seja para que a luz ilumine o ambiente interior; para que o ar circule limpando todas as impurezas… Mas a única explicação plausível para a janela é dar um vislumbre do que faz parte de dentro.
Deve ser por isso que todos os meus vizinhos deixam as persianas de suas janelas sempre fechadas, ou que construíram suas janelas viradas para o lado norte, onde o sol não bate nem no verão. O pior de todos, para mim, são aqueles que muram a dois metros o seu pedaço de terra.
Chega a ser irônico todos compartilharem seus melhores momentos em redes sociais, mas esconderem o dia-a-dia que tece a vida.
E, de todas as dez casas vizinhas que tenho, só há uma que continua alimentando a mulher curiosa que existe em mim. E, digamos, tempo para bisbilhotar a vida alheia é o que mais tenho.
Depois do primeiro filho veio o segundo, logo engatou o terceiro e, entre pagar um salário mínimo para uma creche minimamente decente, a solução encontrada foi me abdicar de mim porque, afinal, os primeiros anos da infância são os que mais influenciam a vida adulta. Deve ser por isso que a minha terapia está em falta.
Mas o que não falta é o meu olho espiando o lado de lá entre o enxágue de um garfo e o esfregue de uma panela de arroz.
Confesso que quando soube que a casa, deserta há dois anos, foi comprada por mais de oitocentos mil reais, já esperava que uma realeza se mudasse para ela. A casa ainda não estava pronta e foi vendida a esse preço. Faltava ainda colocar piso, janela, cozinha embutida, construir garagem e área de serviço, e claro, construir a cerca que poria um limite entre o público e o privado. Fora o jardim, que também foi feito sob medida assim que Verônica se mudou com sua família, vinda da cidade grande, onde é impossível se ter um jardim de lavandas.
Nenhum dos jardins das outras nove casas estão florescendo. Estamos todos aqui há três anos e se percebe que o dinheiro fica curto quando se tem que pagar financiamento da casa, do carro, da escola dos filhos e da televisão nova que tem que fazer jus ao estandarte das famílias vizinhas.
Mas quando a Verônica se mudou, já sabia que dinheiro não é um assunto que se discute na sua mesa de jantar.
Verônica tem um Audi; o marido, Tomás, dirige um BMW novíssimo e até o filho, Luca, tem uma motoca elétrica com a qual desliza pela rua sem saída.
Verônica voltou a trabalhar quando Luca fez um aninho, mas pelo menos faz home office. Claro, voltou contra a vontade de sua mãe, que achava que ela tinha que se abdicar da sua carreira enquanto Luquinha não fizesse três anos. Tomás também trabalha de casa, tem dias que dá onze horas da noite e ele ainda está sentado com suas pernas enormes na frente da escrivaninha. E porque Verônica trabalha e Tomás trabalha o dobro, eles pedem uma caixa de comida, entregue semanalmente, com o que eles querem comer.
Filé de frango na segunda, salmão na terça, na quarta é quiche de legumes; quinta, dia de carne vermelha e a partir de sexta é comer em restaurante Michelin ou na sogra.
Toda segunda-feira vem uma moça limpar a casa e, como se não bastasse, aos finais de semana Verônica sai com o seu aspirador de pó, feito só para limpar o pó do ar impuro que não passa pelo purificador e por isso suja as frestas das pedras da garagem por onde seu Audi passa. E limpa pedra, porta, portão. E limpa também o pouquíssimo pó acumulado da janela que dá pro seu escritório. O bom é que reluz junto a minha janela aberta para a curiosidade.
Minha amiga, Olga, disse, certa vez, de que quando temos mania de limpeza, só pode significar duas coisas: ou sofremos algum tipo de abuso na infância, ou estamos sofrendo de falta de sexo. Fico me perguntando qual é o problema da Verônica e acabo optando pela última. E, para fugir dessa máxima, tento não me debruçar por cima da janela a fim de limpar a teia da aranha, que semana que vem estará, de qualquer jeito, em outro lugar.
Mas eu tenho mesmo é dó do Luca, que quando sai de casa, começa a brincar de limpar a garagem com a mãe. Uma criança não deveria brincar de limpar pedras. Fico imaginando o piso embaixo da sua mesa de jantar, sem nenhuma marca de molho de tomate, porque Verônica não deixa Luca comer sozinho. Não deixa ele brincar sozinho na terra. Não deixa o menino escalar a macieira e nem pintar no chão da rua o caminho por onde a sua motoca elétrica vai passar.
Mas é claro que tudo isso é especulação minha. Espero, pacientemente, um convite para um café em sua casa, que há um ano foi proposto e postergado. Ali vem a Verônica de novo. Será que dessa vez ela vai me convidar?
•
— Bom dia, Verônica! Como vocês estão? O Luca já melhorou da última gripe?
— Ah, oi, Janaína, nem te vi sentada aí na varanda! Sim, estamos melhor, obrigada, e vocês? Como vocês estão?!
•
A pior coisa que existe é você não poder escolher os seus vizinhos antes de adquirir a sua casa. E, hoje em dia, com o metro quadrado tão caro como está, só sobra aceitar a pior das opções que o mercado oferece. Claro que eu não gostaria de morar de frente para uma casa que, mesmo tão nova, já parece caindo aos pedaços por causa da madeira envelhecida pelo tempo. Quem, em santa consciência, opta por construir casas de madeira?
Se tem algo que me incomoda muito ultimamente são os politicamente corretos que brotam aos quatro cantos. E, infelizmente, nossos vizinhos pertencem a essa laia.
Todo mundo percebe só pelo estilo de casa que têm. Ainda não asfaltaram a garagem e nem a calçada. Suas crianças vivem o dia inteiro brincando no parquinho de areia com terra e lama. Deus me livre ter que limpar a sujeira debaixo das unhas dessas crianças.
Sem falar que a mãe, Janaína, fica o dia inteiro no sol, lendo um livro atrás do outro. Um olho no livro e o outro no livro também, já que as crianças crescem sem regras.
A janela do meu escritório tem como vista, infelizmente, a cozinha, a sala de jantar e a de estar da casa de Janaína. Quem é que constrói as janelas em direção à rua? Só pode ser coisa de quem gosta de se aparecer. E, assim, quando preciso de um descanso para o meu pensamento, afinal, já voltei a trabalhar, diferente da Janaína, dou uma espichada de olho para a casa da minha vizinha, só para me certificar de que as crianças estão vivas, afinal, a mulher não larga um livro mão. E é sempre criança correndo descalça pra lá e pra cá. Criança comendo com as mãos, que será que foram lavadas em algum momento? Criança pulando em sofá, subindo em parapeito de janela, criança cozinhando junto com a mão no fogo! Chamam isso de autonomia na educação, mas, para mim, não passa de descaso de adulto que virou pai cedo demais e não sabe administrar os filhos.
O que me pergunto é como eles conseguem se manter nessa casa, já que Janaína não trabalha e Leandro é professor. Concursado, tá certo, mas sabe-se lá bem que professor não ganha lá essas coisas. Deve ser por isso que as crianças só usam roupas de segunda mão. Que andam descalças desse jeito. Às vezes eu tenho dó dessas crianças, que crescerão sem saber o que é limite. Como elas aprenderão a ter disciplina para estudar, para trabalhar, para traçar planos para a vida?
Graças a Deus que nós temos o que a eles faltam e, agradeço cada dia mais, que Luca já vai à creche e não precisa interagir com essas crianças. Imagina se ele cresce e é influenciado pelo João, o mais velho? Certeza que Luca viraria um adolescente problema, desses que fumam, se furam e se tatuam.
O mais doloroso, para mim, é quando vou passear, de vez em quando, com o Luca, e os nossos caminhos acabam se encontrando com os caminhos da Janaína. É por isso que só tento sair de carro. Hoje, porém, que o carro está na manutenção, tive que sair com o carrinho e já vi os olhos da mulher espichando para fora.
Será que ela não percebeu ainda, que o convite que fiz para um café da tarde foi apenas por educação? Eu não quero que seus pés e mãos sujem a minha casa. E, Deus me livre, ter que ir à sua. Será que as manchas de comida do seu assoalho saem quando ela decide limpá-lo? Prefiro não descobrir.
Benedita, eu amo uma fofoca, e quando a literatura presta a atenção nisso amo mais ainda. Seu texto é profundo pois o tema do desafio serviu como uma luva para você trabalhar a alteridade. O estranho é sempre um mistério e, quase sempre, foge de ser o que realmente pensamos, ou acaba sendo o que projetamos de nós mesmos nele. Viajei bastante durante a leitura, o que é bom, porque isso para mim se chama verossimilhança. Gostei bastante. Boa sorte!
Esse texto tem o recurso, mas não tem o conto. Isto é, a perspectiva de duas personagens, uma sobre a outra, fica explícita para quem lê, demarcadas principalmente pelo preconceito de cada uma, mas a questão é não existe uma história direcionada a nenhum lugar. Não há um conflito, o mais próximo disso sendo talvez o convite para o café, e, assim, não se sente a existência de um início, um meio e um fim. Alguns problemas de revisão distraem a leitura, mas avalio que o verdadeiro problema é a falta de uma trama.
Bom conto. O tema foi executado. A narrativa é bem feita, não percebi erros. Conseguimos observar todos nuances cotidianos entre vizinhos, a aparente amizade, só que não, as invejas, os preconceitos, a maldade, entre outras coisas. O texto é quase uma crônica da comédia privada. Não há uma trama ou um clímax, são apenas observações, no entanto, a leitura fluiu bem. Boa sorte no desafio.
Olá, Benedita.
Um vizinho, uma vizinha, são sempre possibilidades fortes de olhares intrusivos na abordagem ao outro, mas também cruzados, na hora do diz-que-diz. O conto adequa-se ao tema e era um tema que esperava encontrar. Encontrei e de forma engraçada e agradável.
Precisa de uma revisão, pois tem alguns lapsos que corrigirá seguramente no final do desafio.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Tenho um pensamento que diz: “Temos a sua razão, a minha versão e a realidade é somente um ponto de vista”. Vi isso em seu texto, Benedita – duas vizinhas com pontos de vista, razões e interesses contrastantes e ainda assim, em essência, muito parecidas. Adorei vosso trabalho parabéns e boa sorte aos seus concorrentes! Risos
A história contada na narrativa revela duas personagens com personalidades distintas: Janaína, que não sai de casa e se dedica a observar a vida e os movimentos da vizinhança e, do outro lado, Veronica, que se mostra esnobe e bisbilhoteira. Ambas acabam se envolvendo em uma situação em que a fofoca toma conta e ganha ainda mais força.
É importante destacar que a fofoca é um problema que afeta não apenas o universo das vizinhas Janaína e Veronica, mas também a sociedade como um todo. A falta de ética e de responsabilidade ao propagar informações sem checar a fonte e sem atentar para o fato de que tais informações podem ser falsas é um problema que pode criar grandes transtornos e até mesmo destruir vidas.
Em suma, é um conto que traz à tona uma realidade que requer atenção e discernimento. É importante lembrar que a fofoca é um comportamento negativo, que pode afetar diretamente o bem-estar e a convivência entre as pessoas. Por isso, é necessário que fomentemos a cultura da ética e da responsabilidade em nossas relações, afim de que possamos construir um mundo melhor e mais justo.
Olá. Este seu conto fez-me lembrar de um filme de Hitchcock que se chama, aqui em Portugal, de Janela Indiscreta. Encontrei alguma criatividade na narrativa, que fala desse bicho estranho que é o vizinho e a forma como encara a vida dos outros. A realidade fica aqui comprovada: não temos qualquer prova de que a vizinha que olha para a vida dos outros, e que julga sem tentar compreender os motivos, tenha vida própria. Depois vem o reverso da medalha, o ponto de vista do vizinho, que julga da mesma forma o outro, sem tentar compreender o ponto de vista (ponto de vista é a expressão certa, neste texto). Podemos extrapolar o sentido deste texto para outros tipos de vizinhança.
ei, Benedita, que legal esse seu conto. As duas vizinhas com seus pontos de vista distintos a respeito de cada uma e sua família. Bem bacana e criativa a sua abordagem. Gostei. Olha, você cumpre o exigido dos olhares cruzados. Estão bem evidentes no seu texto. Também noto que há uns detalhes pequeninos que pedem uma revisão, mas nada, nada mesmo, que atrapalhe o desenvolver da narrativa. Um conto gostoso de se ler. Parabéns e sucesso.
Olá, Benedita Almeida, tudo bem?
A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: enredo que transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens. E o seu texto cumpriu a regra – olhares (julgadores) de duas vizinhas, perspectivas diferentes sobre o mesmo assunto. Interessante a sua abordagem que dialoga perfeitamente com a realidade que muitos de nós conhecemos.
Existem alguns lapsos de revisão:
[…]foi me abdicar de mim > foi abdicar de mim (sem o ME)
[…]ela tinha que se abdicar da sua carreira > ela tinha (cacofonia) que (sem o SE) abdicar da sua carreira
[…]entregue semanalmente > posto assim parece que só recebem a comida uma vez na semana
[…]uma casa que, mesmo tão nova, já parece caindo aos pedaços por causa da madeira envelhecida pelo tempo > como a madeira pode estar envelhecida pelo tempo se acabou de dizer que a casa é “tão nova”?
[…] a mulher não larga um livro mão > a mulher não larga o livro da mão OU a mulher não larga mão de um livro
[…] mas sabe-se lá bem que professor não ganha lá essas coisas > repetição do LÁ – excluir um deles Mas sabe-se que um professor não ganha lá essas coisas…
[…]nós temos o que a eles faltam > nós temos o que a eles FALTA
A divisão do conto em duas partes facilitou o entendimento de quem era quem ao olhar para a casa vizinha. Não há confusão quanto a isso. A leitura flui fácil e sem entraves.
Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!
Olá, Benedita Almeida, tudo bem?
A princípio, analiso a adequação (ou não) ao tema proposto pelo desafio: enredo que transite entre as perspectivas de dois ou mais personagens. E o seu texto cumpriu a regra – olhares (julgadores) de duas vizinhas, perspectivas diferentes sobre o mesmo assunto. Interessante a sua abordagem que dialoga perfeitamente com a realidade que muitos de nós conhecemos.
Existem alguns lapsos de revisão:
[…]foi me abdicar de mim > foi abdicar de mim (sem o ME)
[…]ela tinha que se abdicar da sua carreira > ela tinha (cacofonia) que (sem o SE) abdicar da sua carreira
[…]entregue semanalmente > posto assim parece que só recebem a comida uma vez na semana
[…]uma casa que, mesmo tão nova, já parece caindo aos pedaços por causa da madeira envelhecida pelo tempo > como a madeira pode estar envelhecida pelo tempo se acabou de dizer que a casa é “tão nova”?
[…] a mulher não larga um livro mão > a mulher não larga o livro da mão OU a mulher não larga mão de um livro
[…] mas sabe-se lá bem que professor não ganha lá essas coisas > repetição do LÁ – excluir um deles Mas sabe-se que um professor não ganha lá essas coisas…
[…]nós temos o que a eles faltam > nós temos o que a eles FALTA
A divisão do conto em duas partes facilitou o entendimento de quem era quem ao olhar para a casa vizinha. Não há confusão quanto a isso. A leitura flui fácil e sem entraves.
Parabéns pela participação no desafio e boa sorte!
Um conto charmoso e com qual todo mundo se pode identificar, já que todos nós falamos dos vizinhos. O conto mostra também a posição difícil das mulheres quando Janaína diz que “a solução encontrada foi me abdicar de mim” e que a mãe de Verônica “achava que ela tinha que se abdicar da sua carreira”.
A temática não é especialmente original, mas a abordagem é tão naturalista que a fluidez do texto jamais decepciona, polvilhando a sutileza de algumas metáforas junto da descrição intimista, independente do personagem do qual elas partam. Crítica social e fluxo de consciência em um quase perfeito equilíbrio. Poderoso.
Nota: 9,0
Uma fofoqueira falando da outra. Gostei, e está dentro do tema. Temos o ponto de vista de Verônica e de Janaína, uma sobre a outra. É interessante que, sendo tão diferentes, em valores e prioridades, as duas falem e ajam de forma muito parecida. Parecem a mesma pessoa, narrando coisas diferentes.
Um texto interessante sobre os rótulos que gostamos tanto de aplicar sobre o outro.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Adorei a forma com a primeira narradora conta a perspectiva dela, assumindo com certo orgulho seu papel de fofoqueira, me fez pensar como todo escritor é um tipo de espiador de janelas e quando assume essa posição consegue imaginar além do que apenas vê. Gosto como a narrativa muda na perspectiva da segunda narradora e ela, também soando como um tipo de escritor mais rabugento e crítico. A história em si não apresenta um plot inovador, mas a forma com que se conta é fenomenal. O humor do texto e as escolhas dos detalhes a se ressaltar foram bastante perspicazes, poderia ler facilmente olhares de todos os 10 vizinhos! Não que isso indique a história está incompleta, mas como um elogio a criatividade de esmiuçar uma cenário tão simples .
A ideia é sensacional. As duas personagens diante das mesmas situações uma com relação à outra é realmente uma ideia sublime.
Alguns diálogos internos poderiam ser menos afetados, poderiam ter sido descritos de maneira mais natural.
Vizinhos? Quem não tem, quem nunca se incomoda com eles. Eu adorei a temática, adorei a forma como foi de uma para a outra e como as duas com percepções diferentes de olhar a vizinhança, ou de viver a vida. Aquele famoso meter o bedelho na educação dos filhos que todo vizinho da.
Eu gostei bastante, e uma escrita leve, sem muita enrolação para se dizer o que quer. Como disse o colega ali em cima objetiva e simples. Eu adorei parabéns. Seria bem interessante um livro de contos de cada vizinho hahaha
Ou um desafio com o tema “vizinhos”
Me pareceu mais uma crônica do cotidiano do que conto. Está bem escrito, com frases claras e conclusão lógica. A autora tem facilidade de concatenar as ideias rapidamente, a escrita sai rápida e fluida. Aqui, no caso de tema, tem o ponto-de-vista da narradora, o outro lado é apenas sugerido, mas isso não prejudica a qualidade do texto.
Ao observar alguns detalhes da rotina dos vizinhos, Janaina imagina o restante dos acontecimentos, ela mesma o diz. A vizinha fuxiqueira, como todo bom vizinho, segue as regras da boa vizinhança, convida para um chá apenas por educação, mostra sua gentileza, mas que cada um se mantenha em seu espaço, e as cortinas arriadas para evitar olhares curiosos.
Um dos maiores desafios na literatura moderna é saber ser sucinto. Na minha percepção, é muito fácil lotar um texto com tantos adjetivos, orações subordinadas e twists atrás de twists narrativos que tudo fica uma bagunça enfadonha. Saber ser simples, claro e interessante demanda um trabalho muito árduo, mas é exatamente isso que temos aqui. Uma narrativa simples e pontual e feita com extremo cuidado. As duas personagens tem uma voz clara e distinta e o toque de separar os pontos de vista com o dialogo simpático do dia-a-dia, onde não se subjaz o julgamento de superioridade que todos temos com todos a nossa volta constantemente, é magistral. Os embates entre a criação de crianças e afazeres domésticos conseguem expor bem nitidamente os dois pontos de vista conflitantes do nosso país (ou até do nosso mundo) que mais se confrontam (ou polarizam?) hoje em dia e tudo sem floreios ou exageros. Por mais contos como esse, simples e profundamente atual.
Nota: 10
Achei a temática da vizinhança bem legal e, possivelmente, carrega um quê biográfico, afinal, todo escritor é um pouco voyer também, as outras pessoas são um material de inspiração imediata e inesgotável ao alcance da nossa curiosidade, me lembra o filme aquele o Rear window do Hitchcock, Janela Secreta, só que sem crime ou suspense e isso e legal porque é o que convivemos no cotidiano (ainda bem, inclusive, rs). E as opiniões que sabemos pela visão privilegiada do narrador/criador é o mundo de aparências sociais que vivemos, interpretando os sinais alheios, as vezes erroneamente, será que somos todos assim mesquinhos, pensando o pior dos outros? Julgando seus estilos de vida, a criação de seus filhos, fazendo relações da quantia de vezes que transa com a que limpa a casa? Tomara que não, escolhe nos dar o benefício da dúvida.
Nota: 8.
Haha, esse foi engraçado. E muito verdadeiro. O relato, estilo crônica, da vida de duas fofoqueirss cuidando da vida uma da outra. O que tem mais é gente assim, dá até pena.
Criar filho do jeito que essas duas criam é até maldade. Uma cria que nem gato, a outra não deixa o menino fazer nada. Arre!
Fica o alerta… criar filhos não é brincadeira. Em tudo tem que haver uma medida, um equilíbrio. Não se pode exagerar nem nas proibições nem nas permissões. Nem.nas fofocas também. O melhor mesmo é cada qual cuidar de sua vida.
Gostei do tema, ele é ótimo. Há texto, pretexto e contexto bem montados.
Achei que os personagens citados eram desnecessários até que se percebe que a citação complementa o tema dos olhares cruzados, ao menos, em se tratando da perspectiva do personagem. Coisa também bem feita. A narrativa do personagem é toda bem construída.
Os diálogos parecem estar sobrando, poderiam ser deixados de fora, o texto continua naturalmente entre os parágrafos.
Deixo como destaque a comparação de perspectivas entre uma família e outra.
Um texto dramático do cotidiano que começa como crônica, mas logo se desenvolve como conto. Imagino que também ficaria bom se continuasse como uma crônica, mas temos um bom texto.
Premissa interessante. Gosto dessas histórias cotidianas e esse “concurso” de olhares cruzados fica interessante sob o tema de vizinhas. Apesar do “queísmo” no primeiro parágrafo (sete vezes), está bem escrito e percebe-se apenas um errinho ou outro. Tolices que podem ser desconsideradas. O conflito ficou em suspenso, pois não há o embate, apenas a “quase” aversão de parte a parte. Talvez se o café ocorresse, as vizinhas conversassem amenidades enquanto uma guerra de pensamentos e olhares falsos se desenvolvesse, desse um punch. Continue escrevendo.
Amei! A rotina de uma fofoqueira…. A vida alheia muitas vezes parece mais interessante do que a nossa. Eu não acho que a vizinha gosta de aparecer …. Ela deve gostar de ver. Deve ser uma fofoqueira querendo saber a vida de outra que ocupa o mesmo cargo. Ou talvez ela nem seja fofoqueira, seja só observadora…. Gosta de juntar dados.
Nota: 10
Amei! A rotina de uma fofoqueira…. Me senti representada. O meu interesse pela vida alheia sempre foi enorme.