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Vivo │ Rangel Luiz dos Santos

O cadáver de Augusto acordou duas horas após ser enterrado. Cegado pela ausência de luz, seu único olho em nada o pôde ajudar. Recorreu ao tato. Primeiro desatou as mãos cruzadas sobre o peito, levou a destra até as narinas tamponadas com algodão e os lançou fora. O odor forte dos crisântemos murchando o deixaram tonto por alguns segundos. O espaço apertado, as flores e a escuridão fizeram com que ele não demorasse a entender o que se passava ali.

GRITO!

Silêncio…

O desespero e o pânico o fizeram se revirar, se debater, esmurrar, arranhar… Em vão. Ele havia sido plantado em meu ventre de mogno para geminar uma morte eterna. Eu jamais o devolveria. Impossível. Alheio aos meus sentimentos, Augusto intensificava os golpes com as mãos, com os pés, com os cotovelos e os antebraços. Bobagem. Eu não cederia. Essa era a sua sina, e o meu dever era o agasalhá-lo do frio mundo dos vivos.

 Em guerra contra o seu destino, ele insistia e lutava; em resposta, eu o abraçava e o envolvia maternalmente em meu mogno acolchoado. Ele seguia indócil e indomável, deixando-se tomar pela cólera e me esmurrava cada vez com mais força. Eu resistia determinado contra aquele macabro instinto de sobrevivência.

Augusto parou por alguns minutos. Por cansaço, ou talvez tenha se apegado a ilusão de estar em uma crise de paralisia do sono, um sonho ruim ou uma brincadeira de mau gosto. Deve ter refletido, também, sobre o tempo que lhe restava. Não duraria muito. Era médico antigo em sua cidade, como haviam me revelado as lamúrias em seu velório na noite anterior. Ele certamente sabia o que viria a seguir, o oxigênio consumido se transformaria em dióxido de carbono. Na sequência, ficaria inconsciente antes de finalmente ter um ataque cardíaco e alcançar o além.

Ele já estava exausto. Mesmo assim, vez ou outra, a esperança escavacava a terra úmida e chegava até ele. Nesses momentos, o silêncio claustrofóbico era violentado novamente pelos sons surdos de suas pancadas em minha tampa e laterais.

Inesperadamente, uma calmaria irracional tomou conta de Augusto. Deve ter percebido a necessidade de planejar alguma estratégia. Se optasse por continuar gastando tanto esforço contra minhas paredes, seu corpo consumiria mais oxigênio e o óbito chegaria rápido. Se ficasse em repouso, conseguiria adiar sua morte. Mas pra quê?! Do que serviria carregar a sua existência por mais alguns instantes?

Que plano o quê! Voltamos a lutar. A destra e a canhota se concentraram em um único ponto do meu corpo de mogno. Era inútil. Inevitável. Era? Não sei. Eu também não me entregaria fácil. Ele insistia. A obstinação birrenta pelejava contra a madeira morta.

Pá!!!

Augusto imaginou que finalmente eu estaria cedendo, e a possibilidade estar de me derrotando, encheu-o de entusiasmo. Golpes cada vez mais persistentes se repetiam, e o homem pedia a santos de nomes estranhos que o enchessem de força para escapar de mim. De novo pancada. As gotas de sangue de seus dedos quebrados manchavam o meu teto. Eu queria acalmá-lo. Explicar-lhe que em breve sua dor cessaria. No entanto, ele não me aceitava e clamava por força a um deus que eu acreditava que dali não poderia ouvi-lo.

Outra batida.

Pá!!!

O médico afinal compreendeu que o som abafado vinha de portas grosseiramente fechadas de um automóvel um pouco distante.

—  SOCORRO!!! SOCORRO!!!

Eu tentava conter os seus gritos. Submergir o desespero do homem em meu interior. Então me trancava e o prendia mais firme. Eu queria sufocá-lo dentro de mim antes de qualquer ajuda atravessar nosso jazigo perpétuo.

Segundos depois, mesmo um pouco distante, foi possível ouvir se aproximarem duas penitentes vozes enlutadas. E foi então, que o instinto de vida, ou pavor da morte, deve ter soprado a Augusto algum plano falível. O médico ficou em silêncio, aguardando o som se aproximar. Quando essas vozes, enfim, ficaram tão nítidas quanto seu desespero, o doutor conseguiu distinguir no ruído angustiado, as rezas tão familiares da esposa e do filho.

Augusto gritava agora com a certeza de poder ser ouvido.

—  SOCORRO!!! ME AJUDEM!!!

Debaixo da terra foi possível escutar o espanto incrédulo dos familiares: “é o delírio do luto”. “um pesadelo fúnebre trazido pela perda”. “É Deus me punindo por tanto pecado”.

—  SOU EU, SOU EU!!!

— Mamãe, talvez o Diabo esteja se fingindo de vítima pra nos atormentar.

— MEU FILHO, SOU EU! — berrava Augusto debaixo da terra.

A esposa não demorou a dar crédito a provável loucura. Implorava ao filho que ajudasse a cavar.

— Seu pai está vivo!!!

— Impossível! Isso é o luto nos atormentando.

— SOCORRO!!! SoCOOrro! Socorro! socorro..

O dióxido de carbono começava a levar a consciência de Augusto.

A esposa gritava tão alto e insistente que logo outras vozes se juntaram à dela. O vigilante, outras viúvas, órfãos e amantes pesarosos se aglomeraram no entorno do túmulo.

— Meu marido está vivo!

O vigia arrancou a mulher imundada de terra da cova. Segurou-a pelos braços e tentou acalmá-la:

— É só negação.

— Isso é recusa pela perda recente — explica outra viúva.

Inconformada, a esposa de Augusto implorou ao caçula:

— Confirme! Confirme! É a voz do seu pai que acabamos de ouvir.

Apesar da angústia da mãe, o rapaz permanecia calado, mudo, na certa, assombrado pelo fantasma vivo do pai.

A mãe esbravejava e rogava por ajuda. Os presentes tentavam confortá-la: “aceite a vontade de Deus”, “o luto é difícil”, “Deus lhe dará força”, “resista pelo seu filho”… As falas se sobressaiam umas às outras abafando o desespero da viúva ainda presa nas mãos do vigia.

TUM… TUM… TUM..

A teimosia mais uma vez avançou contra mim. Foram três murros afrontosos de Augusto na minha madeira.

Um atônito silêncio se impôs. Durou poucos segundos até ser sobressaído por barulhos de pá e gritos de apoio.

— A mulher tem razão. Está vivo, o morto.

— Cavem mais rápido!

— Chamem a polícia e liguem prum médico!

Lá embaixo, eu sentia a terra cada vez menos pesar sobre mim. Entre as alucinações do CO2, Augusto murmurava qualquer coisa indistinguível.

— … Fff…

Com a ausência cada vez maior de terra, o ar procurava vilipendiar o meu interior. Eu me fechava e lacrava os cantos para que a vida inquietante não pudesse entrar.

— … fff

Minutos depois as pás cessaram. Dois homens ou três pularam na cova e me arrancaram de lá. Desrosquearam o primeiro pino. Eu recusei a me abrir. Enquanto isso, a vida de Augusto resistia contra a ausência do oxigênio.

— … ff

Precisava garantir que a morte lhe viesse logo. Determinado, consegui triunfar sobre os meus violadores por mais algum tempo, mas eles eram muitos e desrosquearam outro pino, e outro, e outro… Numa cesariana forçada, arrancaram minha tampa e Augusto, maldito, veio à luz.

Dessufocante, o ar lhe entrou pela boca em direção à faringe, traqueia e pulmões. Inspirou e expirou uma, duas, três vezes… Augusto e eu demoramos a nos acostumar com o brilho do sol. De imediato, apenas foi possível distinguir o olhar fiel da esposa dentre os demais. O filho distante, imóvel e pálido, estava banhado de lágrimas parricidas.

O pai inspirou pela última vez, o pouco ar inalado retornou à laringe ainda com força para fazer as cordas vocais vibrarem o falecimento:

— Filho, te perdoo…

16 comentários em “Vivo │ Rangel Luiz dos Santos”

  1. Adequação ao tema: adequa-se. O caixão se encarrega de narrar a agonia dentro de si e o alvoroço do lado de fora.

    Enredo: Achei bem construído, desenvolvendo uma ideia que, a princípio é simples, mas que encerra o texto com uma ambiguidade que o deixa mais complexo. O filho teria tentado assassinar o pai, então? Por quê? Em uma autoria menos cuidadosa, não saber disso teria estragado a leitura, mas essa não era a história contada. O que se contava era a história de um homem tentando fugir de seu destino e impedido por um caixão que, mal sabe ele, opõe o seu intento. Essa disputa inaudita entre vivo e enterrado e seu caixão é angustiante e, portanto, instigante de se ler.

    Escrita: Direta, soube equilibrar bem o foco da narração, alternando entre o interior e o exterior do caixão, sem deixar de nos dar personalidade ao objeto.

    Impacto: Com a tensão acompanhado cada linha e uma surpresa nas últimas palavras, o conto sucedeu em impactar.

  2. Olá!

    Aproveitamento do tema:

    Excelente e criativo. A história do cadáver supostamente morto contada a partir do ponto de vista do caixão. Este é o tipo de história “retorcida” que eu gosto de contar. Tem mesmo um fundo histórico: antigamente os conhecimentos de medicina eram rudimentares, pelo que era habitual enterrarem mortos que ainda não o eram. Em alguns sítios usavam uma sineta com uma corrente que entrava no caixão. O suposto morto podia então puxar a corrente para avisar as pessoas. Daí a expressão inglesa “Saved by the bell”, expressão idiomática que significa “salvo no último momento”.

    Enredo:

    Bem conseguido. Ilustra bem a tensão psicológica das personagens. Não se incomoda em narrar o que aconteceu antes, mostra apenas no desfecho. O resto cabe ao leitor imaginar. Perfeito.

    Escrita:

    No campo da escrita gostei menos. Achei que o autor tem um bom potencial mas deve investir mais na revisão do texto. Encontrei erros grosseiros que são inadmissíveis neste tipo de concursos.

    Impacto:

    O impacto é grande. Somos transportados para os três lados do conflito: o morto que afinal não morreu, a viúva que afinal não enviuvou e o caixão que passou a ser uma simples caixa vazia.

  3. Claudia Roberta Angst

    Olá, Rudá, tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    O conto traz um caixão como narrador, logo o tema proposto foi abordado com sucesso.

    Enredo:
    Suspense e terror dominam a trama, muito bom o ritmo empregado na narrativa. O caixão fazendo-se de útero à avessas, mas no final dá à luz um ser moribundo. Interessante o desenvolvimento do enredo, só fiquei em dúvida se seria possível ouvir os gritos e pancadas se houvesse um volume considerável de terra sobre o caixão. O dito cujo já deve possuir uma acústica bem abafada, ainda mais já tendo sido sepultado, mas… é chatice minha me ater a esses detalhes.

    Escrita:
    Linguagem simples e fluída, sem entraves que atrapalhem a leitura. Apenas percebi alguns lapsos que escaparam à revisão:
    o meu dever era o agasalhá-lo > o meu dever era agasalhá-lo
    apegado a ilusão > apegado à ilusão
    escavacava a terra úmida > escavava a terra úmida
    dar crédito a provável loucura > dar crédito à provável loucura
    estar de me derrotando > estar me derrotando
    sobressaiam > sobressaíam
    Impacto:
    Gostei principalmente do final, pois traz um misto de alívio ( o cara sobreviveu) + de frustração (o cara acaba morrendo mesmo) +de ternura (o moribundo perdoou o filho parricida) + de surpresa (o filho matou o pai ou pelo menos o enterrou vivo. eita bichinho ruim esse aí).

    Boa sorte!

  4. Olá
    Aproveitamento do tema:
    Total. O narrador é um caixão, fundamental para o desenvolvimento da história
    Enredo:
    Muito bom! O suspense e a apreensão pelo final foram muito bem construídos! Fiquei tão ofegante quanto o protagonista.
    Escrita:
    Ótima. Ótimo uso dos diálogos. Muito bem construída e mostra um escritor experiente.
    Impacto.
    Muito bom. Menos pelo último parágrafo. Parece que ele fica dependurado no texto, como uma “coda”. Enfim, essas são legais na música, mas não em contos, porque diluem o impacto. Aprendi isso a duras penas ao ter um conto massacrado em um certame porque fiz isso. Enfim, se terminasse em “lágrimas parricidas” seria perfeito, pois terminaria no clímax com a revelação do perpetrador da situação. O que vem a partir daí só tira o efeito da revelação. O que não estraga tudo, pois o conto é eletrizante
    Boa sorte!

  5. Priscila Pereira

    Olá, Rudá! Tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Sim, bem aproveitado. E inusitado… Um caixão narrador é uma coisa horripilante…

    Enredo:
    Bem intenso… Um ótimo suspense.

    Escrita:
    Muito boa, um ritmo perfeito! A tensão vai crescendo aos poucos e nos leva a quase sentir o que o ex e possível novo defunto está sentindo. Não notei erros de revisão.

    Impacto:
    Gostei bastante da leitura. Só uma coisinha me incomodou… O filho ter matado o pai e a fala final do pai.. bem, na minha opinião ficou sobrando no conto, porque sem isso já era ótimo, com isso ficou um pouquinho forçado.

    Total:
    Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!

  6. Olá!
    Parabéns pelo conto! É uma boa história!

    Aproveitamento do tema: Adequado. O narrador escolhido é criativo e bem aproveitado.

    Enredo: Cativante. Um bom thriller. Veio-me a memória a personagem Beatrix Kiddo e o “one inch punch”, de Kill Bill. Parabéns!

    Escrita: No geral é boa, com poucos erros.

    Impacto: Forte. Trata-se de uma narrativa bem construída e que entretém.

    Boa sorte!

  7. Olá, Rudá, tudo bem?

    Começarei com o célebre comentário do Lume, só que ao contrário: que conto horrível, nota 10.

    E por que começo o comentário assim? Porque a sensação que tive, ao ler o começo do conto, foi angustiante. E por isso o adjetivo horrível: acredito que uma das piores sensações do mundo deve ser a de ser enterrado vivo. E com a sua descrição, consegui criar com clareza essa imagem na minha cabeça.
    Nos primeiros momentos talvez o leitor possa pensar que o conto entrará nuns caminhos meio a Brás Cubas, mas não é o que acontece. Gostei muito da sua escolha de objeto inanimado.

    Agora vamos ao que interessa:

    Aproveitamento do tema: mais preso ao tema impossível.

    Enredo/Escrita: Gosto das descrições do começo do texto, mas também concordo com os colegas quanto ao final do conto. Eu não sou do time que todo conto tem que ser bem lacrado. Às vezes deixar uma fresta aberta também ajuda no prolongamento da imaginação. Se tivesse terminado com lágrimas parricidas, talvez ficasse aquela dúvida “a la capitu traiu ou não.”
    Gostei da sua escrita e, se houve erros, não foi algo gritante a ponto de conseguirem me ouvir do outro lado da madeira.

    Impacto: Gostei muito do seu conto e isso está bem explícito no meu comentário inteiro. Parabéns!

  8. Olá, Rudá!

    Aproveitamento do tema:
    Total! Você executou muito bem o narrador inanimado nessa história. Além de ser o eixo central, ele narra e interage com o conto.
    Enredo:
    O enredo é simples e a história está excelentemente contada. O úncio conto do gênero supense/terror do desafio que me cativou!
    Escrita:
    Muitos pontos positivos aqui também. Escrita fluída e com bons construções que auxiliaram no suspense
    Impacto:
    Gostei muito do seu texto! A narrativa me manteve o tempo todo bastante presa a ela e com ânsia de saber o que iria acontecer, mas ao mesmo tempo angustiada pelas cenas de terror descritas. Parabéns! A única coisa que gostaria que tivesse sido diferente é em relação às linhas finais. Quando você colocou “lágrimas parricidas” você entregou o ápice do conto aí. Acho que a escolha lexical poderia ter sido algum outro adjetivo, de modo a deixar o clímax realmente na fala final do pai.

    Parabéns e boa sorte!

  9. Fabio D'Oliveira

    Buenas, Rodá!

    Que agonia, rapaz… Sou meio claustrofóbico, então, imaginar uma situação dessas já me deixou nervoso.

    APROVEITAMENTO DO TEMA: Mediano pra forte. Por um leve momento, pensei que o narrador seria o cadáver do homem, resistindo à morte. Mas logo a ficha caiu. Apesar da escolha ser o caixão, um objeto, uma decisão em comum no desafio, a forma com que o tema foi abordado foi bastante criativo.

    ENREDO: Muito boa. É um pouco clichê, e lembrou um caso verdadeiro que li há algum tempo, mas, mesmo assim, a história é bem sucedida por causa das sensações que passa ao leitor. É agoniante, cria-se a sensação de que tudo pode acontecer e, em detalhes, revela as nuances da história. A relação de amor e ódio do pai com o filho surge devagar e, no final, brilha e ganha protagonismo. Emociona, de certa forma, quem tem uma relação parecida.

    ESCRITA: Boa. Tenho só uma reclamação… O conto funcionaria bem melhor no presente. Até pela narrativa construída.

    IMPACTO: Forte. É um conto que garante suas pretensões. Emociona, angústia e prende. Ainda acho que o conto perdeu a oportunidade de ser perfeito por causa do narrador estar no passado, hehe.

    Boa sorte no desafio!

  10. Oi, Ruda!

    Na mitologia grega, o semideus da medicina de nome Asclépio foi punido por Hades por andar por aí ressuscitando os mortos. Engraçado que depois de morto por Zeus, esse deus-médico também acabou ressuscitado.

    Na bíblia, dizem que quando Jesus morreu, muitos ressuscitaram e passaram a andar por aí.

    Mas acho que ninguém quer os mortos passeando entre os vivos. Fez o bem o caixão em não deixar o crime de não morrer atrapalhar o poético luto dos vivos.
    Sou #teamcaixão

    Aproveitamento do tema:
    Bem aproveitado. Em alguns contos que apresentaram temática próxima, os objetos ficaram como mero espectadores no trajeto de horror dos crimes humanos. Aqui o caixão é o antagonista principal de uma luta que ele já tinha vencido no primeiro round. Mas era preciso vencer por nocaute, né?

    Enredo:
    Curioso. Essas mentes complicadas que pensam que um caixão pode contar uma história. É uma forma de assumir o desafio sem procurar contornar com estratagemas pouco habilidosos.

    Escrita:
    Me convenceu o caixão-narrador, a linguagem é adequada pra um narrador tão sombrio. Há um efeito de brincar com as letras, com a marcação de maiúscula-minúscula para tentar dar o efeito de falta de ar e desespero. Funciona.

    Impacto:
    Em um conto, especialmente curtos como esse, é preciso ter foco no sentimento que se quer passar. Aqui foi o de angústia e sufoco. A estratégia funcionou. A história apresentada por trás do filho parricida só vem lançar o último tempero no enredo deliciosamente maluco. Fez bem em não o explorar e deixar tudo muito explicado, porque daí teria o risco de virar uma história de mistério ou drama que seria preciso muito mais linha pra ficar interessante.
    Parabéns!

  11. Ana Luísa M. Teixeira

    Olá Rudá, tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Total! Que ideia legal você teve para o conto!
    Enredo
    Bem construído, inteligente e super bem contado! Até o suspense de quem tinha sido o autor do crime foi super bem direcionado, mesmo que estando em um lugar de coadjuvante nessa narrativa.
    Escrita
    Muito boa. Clara, correta, sem erros ortográficos e muito bem articulada. Com a quantidade ideal de diálogos e tudo muito bem construído.
    Impacto
    Excelente! Uma ideia muito criativa, tratada de maneira ideal e narrada com maestria!

    Parabéns pelo texto!

  12. Olá, Rudá. Tudo em cima?

    Que texto!

    APROVEITAMENTO DO TEMA: Apropriadíssimo. Narrador muito criativamente pensado, e muito desenvolto no desenrolar da história.

    ENREDO: Uma história simples, direta, com um bom grau de subtexto (que atinge seu clímax na fase final, mas que já tinha deixado pistas sutis aqui e acolá), e um drama muito bem trabalhado daqueles que deixa a gente angustiado na medida certa… Preciso destacar que, por mais que a solução “final triste” parecesse possível, ela doeria demais e eu, como leitor (e acredito que possa falar em nome de uma média de leitores, ou de um bom número deles hahah), fiquei ansioso pelo desfecho positivo e feliz com a resolução. Ok, finais tristes são possíveis, são bons, são até necessários. Mas parece que um texto desses, angustiante desde o início, quase clama por um final feliz. Muito boa escolha, Rudá!!

    ESCRITA: Trata-se certamente de um escritor experiente, com escrita madura e fluida. No entanto, há uns poucos errinhos de revisão. Cito os de que me lembro agora:
    “‘é o delírio do luto’. ‘um pesadelo fúnebre trazido pela perda'” – não me parece que a minúscula após o ponto é escolha deliberada, porque, se sim, por que só aqui?
    “e a possibilidade estar de me derrotando” – o correto aqui parece ser “… de estar me derrotando”.
    Em “sobressaiam” acredito que o correto fosse “sobressaíam”.
    Duas escolhas me pareceram bastante duvidosas também: “CO2”, quando o autor já tinha optado, em outros momentos, por “dióxido de carbono” e, claro, o tal do “Chamem a polícia e liguem prum médico!” – desculpe, mas não há absolutamente nada que justifique esse “prum” aí no meio, nem a coloquialidade do diálogo; baixa demais o nível da escrita estabelecido por uma estilosa voz literária.

    Após algumas críticas, no entanto, preciso ressaltar mais uma escolha de estilo que me parece acertadíssima: “lágrimas parricidas”. Diz-se por aí que é preciso ter muito cuidado com o uso de adjetivos, com o “dizer” no lugar do “mostrar”… mas há casos em que a assertividade, precisão, síntese, sutileza e até a beleza de uma palavra (o que é bem paradoxal, se se pensar no significado da palavra em questão) são, sem dúvida, a melhor escolha. Esse adjetivo sucinto e revelador me soou muitíssimo bem e impactante.

    IMPACTO: É certo, pelo que disse acima, que o impacto total do texto é positivo. Contudo (porque já usei “no entanto” demais, e não quis usar o “mas), leitores são pessoas confusas assim como escritores, não é mesmo?! Eu não gostei do desfecho. “Lágrimas parricidades” é uma solução tão boa! Me parece muito melhor terminar ali do que deixar tudo escancarado numa desnecessária expressão de perdão do pai que me soou um pouco inverossímil. A relação já estava estabelecida. Por que não deixar o leitor se perguntar o que viria dali pro final? Para que fechar tanto o texto? Mas é sua escolha, eu respeito. Em nada diminui a excelência da obra.

    Sem dúvidas, no meu top 3 até aqui. Parabéns. E boa sorte (duvido que vá precisar hehe)!!

    1. RETIFICAÇÃO:

      Eu não tinha percebido, na penúltima linha, que o pai morre depois de perdoar o filho. Peço perdão pelo descuido e agradeço à Kelly pelo esclarecimento.

      De todo modo, ainda acho que o final pode-se dizer, senão feliz, REDENTIVO. E gosto disso. TALVEZ essa percepção mude um pouco meu descontentamento com as últimas duas linhas do texto. A priori, ainda acho, no entanto, que “lágrimas parricidas” é um final melhor – e, aí, é deixar o leitor dar continuidade à história como quiser hahaha… eu sei que é difícil não deixar o conto FECHADINHO – eu mesmo não consigo. Mas aqui talvez fosse uma oportunidade.

      Falei demais. Fui…

  13. Aproveitamento do tema
    Total e muito criativo. Um caixão relata a luta para manter o morto bem mortinho dentro dele. U-A-U. Que ideia genial!
    Enredo
    Excelente a narrativa da luta de Augusto para se libertar. Foi conduzida de uma forma angustiante, os pensamentos do caixão muito interessantes, mostrando uma visão das coisas oposta ao “normal” e, ao mesmo tempo, extremamente coerente. E o final, revelando o filho parricida, uma surpresa muito bem guardada.
    Escrita
    Excelente, correta, clara.
    Impacto
    Nossa. Um conto curtinho, mas que entregou tudo. A maneira como o final de desdobrou foi perfeita. Parabéns!

  14. Anna Carolina Gomes Toledo

    Saudações, Rudá! Confesso que a princípio imaginei que o deus indígena do Amor poderia ter algo a ver com a história, mas se tinha algo de modo mais literal, fui burrinha e não captei. Ainda assim, tento imaginar que o propósito do morto de voltar seja motivado por amor e me convence o suficiente o pseudônimo.

    Aproveitamento do tema:
    Adorei a ideia do narrador ser um caixão que se apega ao cadáver empacotado. Quase serve de antagonista com motivações e ações claras se opondo ao protagonista, apesar de não agir de fato, afinal, é um objeto inanimado. A personalidade e emoção do narrador combinam… Senti falta apenas de alguma declaração final do caixão
    (um reconhecimento de derrota ou estou exagerando no embate? rs), mas a frase final ficou excelente e provavelmente o que imaginei não seria tão bom.

    Enredo:
    O recorte de tempo da história foi bastante inteligente e pega bem o que mais importa para um conto. Logo dá para entender a personalidade do caixão e do protagonista, ainda que haja uma revelação no final. O acontecimento em si é meio vago, mas considero isso um charme das respostas incompletas. Talvez houvesse espaço para desenvolver mais personagens para despertar o interesse sobre o morto quando vivo. A amantes mesmo, foram só jogadas ali… Poderia haver mais coisas para “não saber”. De modo geral, os que mais importam estão bem definidos.

    Escrita:
    Tenho que confessar que me irritei com o “prum”. Beleza, é coloquial, mas parece o único coloquial em várias falas e quando aparece sozinho, me coloca num vale da estranheza gramatical. Soa melhor para mim quando vem acompanhado de uma intenção ou pelo menos de parecer mais comum graças a mais exemplos. Tirando isso, gosto da escrita em geral, principalmente no início com parágrafos bem cheios e no final.

    Impacto:
    Sinto aquela satisfação de ler alguma tirinha o quadrinho com um final vitorioso. É breve, mas me fez querer torcer pelo protagonista. Até poderia haver mais camadas, mas o que foi prometido no início foi entregue no final e isso é o que realmente importa.

  15. Maria Fernanda Borges

    Olá, Rudá!

    Aproveitamento do tema:
    Total. Um caixão que conta sua luta para manter o falecido dentro de si após este “acordar” e tentar sair.

    Enredo:
    Criativo e bem construído. O final me surpreendeu e fez com que eu me perguntasse o que o filho teria feito para o pai voltar a vida só para absolvê-lo da culpa. Gostei da voz do narrador também.

    Escrita:
    Boa e com estilo. Só alguns parágrafos que poderiam ser aglutinados e a repetição de “mogno” muito próxima.

    Impacto:
    Positivo. Um texto bem fechadinho e instigante.

    Boa sorte!

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