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Entre Mucosas │ Claudia Roberta Angst

Sou a única que restou. É bem verdade que já não éramos muitas. Desde o começo nos vimos desparelhadas, jogadas como se fossem irmãs, o que nunca fomos. O material que nos faz não nos torna iguais, apenas assemelhadas.

Enfrento mucosas quentes, sou abraçada, sugada, lambida. Línguas feito serpentes me cobrem, fluidos me lavam, buscam me desfazer com químicas múltiplas.

Já me deitei em camas forradas de cetim. Cobriram-me com camadas diversas, de veludo, seda, outros tecidos nobres. Mas por gerações fui esquecida no fundo de gavetas, contêiners de papelão, plástico barato.

Agora me procuram sem cessar, por esses dias, deram de me atribuir valor de raridade. Herança de família, solução para as mazelas cotidianas.

— Onde está esse troço? Você viu onde eu guardei?

— Procure nas caixas de mudanças lá no quartinho.

— Não acredito que ainda não desempacotou tudo.

— É tanta tralheira!

— Tralheira pra você, pra mim é relíquia de família.

Eu era. Lembrança e memória de tempos passados, sem passar. Herança da mãe da mãe da mãe da mãe até chegar a essa mãe que me busca sem muito querer.

— Pronto! Agora ele acordou… perdemos mais uma chance.

O choro entremeado de sílabas separadas, sem nexo. Que coisa! O menino chora e os adultos procuram por mim. Serei mais querida do que o herdeiro ainda nas fraldas? Se assim fosse, teriam me dado mais valor quando ainda reluzia em suas mãos.

Agora ficam nessa busca desenfreada como se eu fosse imprescindível. Isso também já é exagerado. Tenho meus predicados, sim, mas jamais fui santa.

Cuspida e escarrada. Ao longo dos anos me senti apenas um objeto. Usada e largada onde estivesse, pelo tempo que fosse. Aviltada, sem direitos, excluída do convívio social, descartada como se fosse uma qualquer.

Por gerações me mantive firme, inflexível, nunca me dobrei aos que me julgavam vulgar, dispensável. Pesada, não sou ferramenta fácil de lidar, preferem as outras, as que vão com malevolência, se inserindo nos círculos líquidos do poder. Eu não. Sou o que sou e não nego.

Procedência nobre. Tenho nome e sobrenome, até marca na minha pele. Isso não me trouxe benefício algum. Fui cobiçada, admirada, posta em exibição como bicho em circo de atrações bizarras. Penei, aguardei que me fizessem lustro, me dessem apoio, esperei por mãos que me tocassem sem tantas solicitações e apelos.

Nunca me permitiram autonomia. Sou daquelas que dizem: “sempre dependi da gentileza alheia”. Uma Blanche DuBois deturpada, recolhida cedo ao ostracismo. Uma desajustada que não encontra uma posição social confortável após ter estreado sob a luz dos benquistos. Sou um bem, não um mal. Bem durável, que percorre os anos com uma teimosia invejável.

— Tentamos lá no quartinho?

— Vá você. Vou acalmar Bento.

O choro mingua assim que a mãe se aproxima do berço. Aliás, já está na hora de pensarem em tirá-lo de lá. Esse cercadinho já não contém suas estripulias noturnas. Como sei? Os outros me dizem, aqueles que ainda estão em uso, que são levados daqui pra lá, de lá pra outro lugar. Acham que me incomodam com essas fofocas, que invejo seu papel coadjuvante na cena familiar. Eu não. Por mim, está bom assim. Já me acomodei no esquecimento. Pelo menos me poupam de tantos dessabores.

Enquanto a mãe acolhe o menino com braços de mil palavras e sorrisos, eu brinco de esconde-esconde. O pai entra no tal quartinho, será aqui? Liga a luz mesmo sendo dia ensolarado. Talvez fosse mais produtivo colocar os óculos do que ampliar o foco de luz.

Finjo que me escondo, que sou difícil de encontrar. Ah, se eu fosse uma cobra…Saia daqui picado e envenenado. Ele também parece fingir que procura, passa os olhos pelas caixas empilhadas. Suspira. A empreitada lhe parece exaustiva, mas para não ouvir reclamações e xingos, ele se empenha nem que seja minimamente.

— Por você, meu filho.

Acho graça. Até parece que faz esse esforço pelo menino. Faz porque a mulher vai atormentá-lo por décadas, culpando-o pelas consequências de seu descaso. Tudo de ruim será atribuído à sua falta de persistência. Ele sabe. Não queria saber, mas sabe.

Deve estar por aqui, só pode estar por aqui. Pensa enquanto remexe na bagunça criada. Quanta coisa inútil! Por que trouxeram tanta coisa que nem usam?

Só ao abrir a décima caixa, sente algum alívio. Já cansado da própria teimosia, pressente que dali sairá a descoberta desejada. Ainda não. Na próxima? A décima segunda me abriga. Ele não sabe. Eu sei.

Estou aqui, tenho vontade de gritar, mas ele sempre foi surdo ao meu alcance. Não gosta de mim, me acha brega. Eu, logo eu? Só porque não sou moderna como os seus apetrechos tecnológicos!

No meio de outras tantas coisas esquecidas, ele finalmente me encontra. Cismado, me olha como se eu fosse espetá-lo ou coisa assim. Ainda não sabe se sou de fato quem sou, o objeto de desejo da mulher. Nas suas mãos pareço até menor. Receio que me faça desaparecer para sempre.

— Dora! Achei!

Ele chama, quase grita. Há um misto de satisfação e derrota em sua voz. Satisfação por ter me encontrado. Derrota pela bagunça sem dimensão a sua volta. Terá muito trabalho depois de tudo. Espera que valha a pena. Tudo pelo menino. Pois sim!

Dora surge no vão da porta, com o filho no colo. Este ri, brinca, mordendo o brinquedo que tem nas mãozinhas. Parece sorrir para mim, só para mim. É lindo, e eu intuo que não será tão ruim ser quase engolida por ele. Valerá a pena.

— Eu disse que devia estar aqui, não disse?

Ela troca o menino por mim. Sim, deixa o filho nos braços do marido e me abraça entre as mãos. Sorri, ri, dá até alguns pulinhos, expressando sua imensa alegria.

Sinto-me feliz pela acolhida. Sei que durará pouco, mas o que é a felicidade a não ser momentos fragmentados de algum prazer?

Sou levada às águas, ensaboada, lavada e relavada. Não serei lustrada, isso não. Quanto menos química, melhor para o bebê. A mãe me seca, alisa meus relevos, o patinho que orna minha superfície e os veios alongados. Uma arte que já não se reproduz mais hoje em dia.

Deita meu corpo sobre a mesa. E se volta ao fogão, à geladeira, faz trucagens com o que retira de lá e põe na panela. Mexe, remexe, salga minimamente, experimenta no dorso da mão, torna a mexer, sorri contente.

Prato feito, também com estampa de bichos. Fumegante, à espera de menor temperatura para ser devorado. Sinto o cheiro, quase o gosto. Logo sentirei o peso, a imensidão de sabores.

É hora do almoço. Sem cerimônia, ela me pega e mergulha naquela mistura de alimentos. Quase me engasgo, sufoco entre as camadas de cenoura, batata, carne, não sei mais o quê.

Somos levados até o cadeirão, onde Bento já foi devidamente instalado pelo pai. Os dois se olham como, suponho apenas, a primeira vez. Se amam, tudo por aquele que abre a boca sem pestanejar. Tem fome, me engole. Esperto, não me morde, parece conhecer minha dureza. Suga, lambe com sua língua macia de poucos usos.

Delicio-me em ser usada, coberta de comida, saliva, o que for. Sou útil, celebrada em minúcias de uma superstição familiar. Que seja!

— Agora sim! Esse moleque vai falar mais do que o homem da cobra.

16 comentários em “Entre Mucosas │ Claudia Roberta Angst”

  1. Adequação ao tema: Ocorre, o narrador personagem – uma colher – está presente durante toda a leitura, equilibrado entre o ressentimento do esquecimento e ansiedade do retorno.

    Enredo: Como mencionei acima, há uma história apresentada de um objeto que já foi muito prestigiado e que, no momento, tem a existência mediada pelo status de artefato. Assim, sua recapitulação serve a adensar a importância que já teve e construir uma verdadeira expectativa para que saia de seu ostracismo, prendendo quem lê.

    Escrita: o texto é confiante e cheio de personalidade. Tanto a perspectiva da colher como seus sentimentos são passadas de forma crível.

    Impacto: Nesse ponto, o texto não é tão forte quanto os outros, apesar de ter um personagem bem desenhado, apresentado de forma orgânica, não é como se a procura do pai realmente fosse cheia de suspense ou como se o desfecho tivesse a força de algo havia muito esperado ou de uma reviravolta. Ainda assim, é um texto satisfatório.

  2. Anna Carolina Gomes Toledo

    Saudações, “Eu, eu mesma, sempre eu”!
    Estou feliz de não ter levado spoiler. O enredo realmente ficou mais divertido pelo desconhecimento da natureza da narração.

    Aproveitamento do tema:
    Sensacional. A colher aproveita do seu formado e de suas experiências, até mesmo de sua pequinês para falar das coisas.
    Enredo:
    O acontecimento em si não é memorável, mas a forma com que é contada é primorosa.
    Escrita:
    Não notei problemas de gramática, mas me incomodei um pouquinho com parágrafos curtos. O diálogos estão excelentes e a narradora tem uma personalidade cativante de se acompanhar.

    Impacto:
    Não é o mais emocionante ou engraçado, mas carrega seu nome pelo pitoresco e provavelmente será lembrado por um fator de ser “diferente”. Não sei explicar o porquê, mas realmente gostei dele.

  3. Olá

    Aproveitamento do tema:

    Pelo título e pelo desenvolvimento inicial, ficamos com uma ideia completamente errada da natureza do narrador. A minha mente até foi para campos eróticos, até que ficou, no fim, com uma ideia clara de quem é o estranho narrador.

    Enredo

    Texto supostamente simples, que não desvenda os seus múltiplos sentidos. Tudo surge como um emaranhado de fios que se vão desenrolando até ao desfecho. E mesmo no desfecho não é revelado o narrador: temos de reunir as peças.

    Escrita

    Simples, sem grandes erros.

    Impacto
    O facto do narrador não ser revelado pode desmotivar leitores que procurem textos mais abertos. A mim não me incomodou minimamente (mas preferia que o texto falasse de outras mucosas, mais atrevidas).

  4. Claudia Roberta Angst

    Olá, Eu, eu mesma, sempre eu, tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Pelo o que entendi, trata-se de um talher de prata, colher ou concha, que faz o papel de narrador. Logo, o conto cumpriu com a exigência do desafio quanto ao tema.
    Enredo:
    Um recorte do cotidiano de uma família às voltas com o desenvolvimento de um bebê, talvez a preocupação com a fala da criança ou algo voltado à alimentação. Pareceu-me mais uma tradição peculiar daquela família em específico. Não é surpreendente ou muito original, mas se revelar capaz de manter a atenção do(a) leitor(a) – pelo menos a minha.
    Escrita:
    Não encontrei muitos lapsos de revisão, talvez discorde de algumas vírgulas aqui e ali.
    Saia daqui picado > Saía daqui picado
    Isso também já é exagerado > Isso também já é exagero. (não chega a ser um erro, mas acho que soa melhor assim)
    A escrita abusa de algumas metáforas e coisas do gênero para instigar a curiosidade, revelando a identidade do narrador aos poucos.
    Impacto:
    Uma boa leitura, sem sobressaltos ou grandes reflexões.
    Boa sorte!

  5. Priscila Pereira

    Olá, Eu…! Tudo bem?
    Aproveitamento do tema:
    Bem aproveitado, deixando um suspense de quem seria o narrador até o final.

    Enredo:
    Então, o enredo é bem simples. O narrador discursa enquanto é procurado pelo pai. Lembre-se que simples não é ruim.

    Escrita:
    Parece muito boa. Sem erros de revisão, com um bom vocabulário. Segura e eficaz.

    Impacto:
    Não é que eu não tenha gostado do conto… É um bom conto, só não me impactou muito. Uma coisa que queria saber se entendi direito é se a narradora era uma colher que supostamente fazia a criança a falar mais rápido? É isso? Nunca ouvi falar dessa superstição…

    Total:
    Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!

  6. Olá
    Aproveitamento do tema:
    Muito bom. Levei spoiler e já sabia que se tratava de uma colher, e não é difícil distinguir isso depois de uma certa altura. Mas o suspense caiu bem
    Enredo:
    O ponto alto é o suspense. Parece que vai pra um lado e vai para o outro. A princípio, achei que estariam querendo vender a colher.
    Escrita:
    Muito legal, o enredo é simples mas muito bem comentado. Tem bons momentos
    Impacto:
    Bom, mas achei duas coisas: primeiro, o texto é meio longo, e fica um pouco cansativo por se tratar de uma história pequena. Segundo, acho que cairia bem uma pitada de humor a mais, algo meio Millor Fernandes.

    Muito bom. Boa sorte!

  7. Olá!
    Aproveitamento do tema: Adequado.
    Enredo: É simples, mas funciona bem. O clima familiar é acolhedor e verossímil.
    Escrita: Boa. As construções são fluidas e dinâmicas.
    Impacto: Positivo.

  8. Olá, “eu, eu mesma, sempre eu”. Tudo bem?

    Algo negativo quando deixamos para ler os contos devagar é que os colegas já entregaram o suspense do objeto no WhatsApp… Mas eu não ligo para spoiler não haha

    Aproveitamento do tema: Colher só é animada em filme da Disney, portanto, mais que aproveitado o tema!

    Enredo/Escrita: A ideia de trabalhar com parágrafos curtos faz com que a leitura seja fluída e num ritmo rápido. Gostei da ideia de trabalhar com um objeto que tem um significado específico dentro da família. Quem é que nunca tomou água na concha de feijão? Ou colocou uma colher no lugar em que bateu a cabeça, para que o galo não ficasse grande? Às vezes os mais pequenos e corriqueiros objetos também rendem uma boa história.
    E gosto dessa brincadeira de não entregar logo de cara qual objeto é. As sacadas como “entre mucosas”, “dessabores” e etc foram muito boas.
    Há alguns erros de revisão, que passam quase despercebidos.

    Impacto: Agora sem colher de chá: um bom conto, mas não sei se foi impactante para mim. Mas isso diz mais sobre mim do que sobre o texto.
    O conto é bem escrito, traz um enredo criativo, mas não o suficiente para que eu o ache genial.

  9. Olá, Você!

    Aproveitamento do tema:
    Excelente! Demorei para entender de que objeto se tratava e isso foi me causando uma ansiedade para a leitura, mas acho que o próprio charme do conto está aí.
    Enredo:
    É uma história tão simples, mas que está tão bem contada! Adoro contos assim.
    Escrita :
    Perfeito. O texto está bem escrito, as construções estão maravilhosas.
    Impacto:
    Gostei muito! O conto está muito bem escrito e gostei de como foi encerrado deixando evidente de qual objeto se tratava e o propósito para ser procurado naquele momento. A única coisa que me incomodou um pouco foi que há momentos muito longos nas divagções do objeto sobre si mesmo. Acho que nesses momentos teria sido interessante ver um pouco mais sobre essa família.

    Parabéns e boa sorte!

  10. Fabio D'Oliveira

    Buenas, Eu!

    Muitos contos com temática semelhantes, hein.

    APROVEITAMENTO DO TEMA: Mediano pra forte. Acho que o narrador escolhido é uma colher. Daquelas antigas, de prata, com gravuras no cabo. Tenho lembranças ternas com talheres desde naipe. Gostei da ousadia de não revelar diretamente quem é o narrador. Apesar de escolher um objeto como narrador, a escolha mais comum do desafio, acabou fortalecendo a trama deixando-o como protagonista.

    ENREDO: Simples. Todo o enredo gira em torno da busca do talher, enquanto ele revisita suas memórias e expressa seus sentimentos de prata, até seu eventual resgate e retomada à função que fora criada. Achei a história bem previsível, mas isso não é um problema em si. E ,sendo sincero, fiquei com a sensação de que o conto se alongou um pouco, pois, apesar da boa escrita, a partir dum ponto, comecei a perder a atenção por achar as divagações meio repetitivas.

    ESCRITA: Boa. Apesar de estar bem escrito, não consegui me atrair muito pelo estilo de escrita. Isso, junto com as divagações que achei repetitivas, acabei me distanciando um pouco da leitura. Claro, isso é um efeito que ocorreu comigo, como leitor. Não é um problema na escrita.

    IMPACTO: De fraco pra mediano. Por seguir um caminho previsível e achar o texto um pouco longo demais, acabei não sendo muito impactado. E, sendo sincero, depois de ler alguns contos com a temática semelhante, acabo não enxergando tanto valor no conto. Está bem escrito, mostrando que é um autor habilidoso, porém.

    Boa sorte no desafio!

  11. Ana Luísa M. Teixeira

    Olá, “Eu, eu mesma”! Tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Bom. Está completamente adequado ao tema.

    Enredo:
    Interessante e completamente verossímil. Achei simples e sem clichês.

    Escrita:
    Bem escrito, não há muitos erros ortográficos, mas poderia ser mais enxuto. Muitas informações desnecessárias e isso deixou o texto um pouco difícil de ler, sem muita fluidez.

    Impacto:
    Bom. Acho que tem potencial e abertura para algumas melhorias, mas de uma maneira geral é um texto de escrita bem sólida.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  12. Olá, Você, Você mesma, Sempre Você… Tudo bem?

    APROVEITAMENTO DO TEMA: apropriado. Um dos poucos contos com narrador não só observador, mas “protagonista” (ou quase isso) e imerso na história principal. Também gostei disso de não se revelar escancaradamente. Houve quem precisasse dizer o óbvio, subestimando o leitor. Você se conteve. Talvez até ao limite de ter deixado uma duvidazinha sobre a exata natureza do narrador… ok, parece uma colherzinha de bebê, de metal, uma das que eu mesmo já tive – o que gerou uma memória afetiva bem satisfatória (obrigado!!) -, mas poderia ser o garfinho também, ou perdi algo?! Indiferente, no entanto. Aqui, nota total.

    ENREDO: Simples, singelo. Um misto entre um monólogo autocentrado, mas não necessariamente egoísta, da colherzinha e sua participação na história daquela família, produto de uma longa linhagem, de um lastro histórico, que encontra seu presente na bela presença dum bebê prestes a se alimentar. Muito bonito. Uma prosa poética, basicamente, e gosto muito disso.

    ESCRITA: Não sei se aqui, ou na seção anterior, mas queria fazer uma única observação crítica. Algo que me incomodou um pouco foi a demora em certas divagações. Acho que esse é o texto que pediria, pro meu gosto, um tiquinho menos de palavras, de monólogo. Em determinado momento cansei um pouco de temas repetidos na fala da colherzinha. É aquela coisa de que um conto parece exigir e merecer uma quantidade bem enxuta de recursos e, talvez, esse limite tenha se excedido só um pouco – pro meu gosto.
    O autor escreve muito bem. O estilo combina com o gênero. É tudo bem poético sem ser empolado.
    Encontrei apenas um possível erro, em: “Saia daqui picado e envenenado” – não seria “SaÍa”?

    IMPACTO: Muito positivo. Talvez esteja no meu top 3 até agora.

    Parabéns e boa sorte no certame!

  13. Aproveitamento do tema
    Total. Um objeto, que eu demorei para entender qual era (às vezes me dá tela azul…), narra sua história.

    Enredo
    É um enredo simples: um casal procura por uma antiga colher para fazer uma simpatia para seu bebê. O narrador não diz quem é e esta foi uma escolha corajosa. Porém, ao menos para mim, isto prejudicou a experiência. Explico: fiquei tão preocupada em descobrir o que era o objeto que acabei deixando para segundo plano a beleza da escrita. E isso foi uma pena. O mistério roubou atenção da escrita. Há muita informação e o narrador tem muito a dizer. Para quais mazelas cotidianas ela era a solução? Por que a mãe a buscava sem muito querer? Por que perderam mais uma chance? Por que o narrador se vê como pesado e difícil de lidar? “Nunca me permitiram autonomia” também soa estranho. Por que uma colher iria querer autonomia?
    No final, entendo que é uma colher. Mas, todas as questões acima foram me confundindo. “É uma colher”. “Não, não é, o que uma colher tem a ver com mazelas cotidianas?”, “Não, é um talismã”. “Mas se era um talismã, por que a mãe o buscava sem querer?” E assim foi, até o final confirmar que era uma colher. E ainda alí, uma estranheza. Para uma pessoa sem superstição familiar que se preze a última frase voltou a me deixar na dúvida.

    Escrita
    Lindíssima. Uma forma poética e ilustrada de narrar e que desenvolveu um narrador cheio de personalidade.

    Impacto
    Claro que minha dificuldade de entendimento fala mais sobre minha leitura do que sobre sua escrita, que é maravilhosa. Mas, como a avaliação é pessoal, preciso levar em consideração que a narrativa me deixou confusa, embora a escrita tenha me encantado.

  14. antonio stegues batista

    Aproveitamento do tema: Totalmente aproveitado. A narrativa não identifica o objeto inanimado que é, mas dá pistas que é um talher. Presumo seja um talher infantil, mais precisamente uma colher exclusiva para a criança que faz a sua primeira refeição sólida. Uma colher de prata com imagem de um patinho lavrado na ponta do cabo e com volutas barrocas nas bordas.
    Enredo: Uma ocasião especial (primeira refeição sólida do bebê) para o uso de um talher exclusivo e tradicional.
    Escrita; Embora o enredo, ou o mote, seja simples, as frases são muito bem elaboradas, o transforma em algo muito bonito e especialmente emotivo.
    Impacto; Grandes impactos de estética e bons sentimentos.

  15. Olá,

    “Pelo menos me poupam de tantos dessabores”. – é uma frase que vai fazer sentido para quem reler o conto. Isso, e muitos detalhes vão ser desvelados pro leitor que aceitar viajar pelo conto mais de uma vez.
    Eu li 3, mas vou ler de novo depois que vencer a jornada por todos os contos.

    Não vou falar muito do seu texto, porque quando amo, só amo e pronto.

    Aproveitamento do tema:
    100%. Narrador/objeto que fez sentido com o que se contava. Vai se escondendo a medida que narra, depois se revela sem dizer quem de fato é.

    Enredo:
    É um enredo da ressignificação que a mater-paternidade proporciona. De repente, tudo tem um significado diferente. As tradições de família começam a ganhar outro sentido e as lambidas vão ganhando novos sabores. E a gente, claro, dá nosso tempero na receita milenar da família.

    Escrita:
    Perfeita!

    Impacto:
    Saí felicíssimo da sua história. Uma reclamação que eu guardava comigo era que até o momento as escritas mais experientes traziam histórias de enredo mais frágil. Mas aqui é uma coisa tão linda…
    Tomara que o texto ganhe a atenção que merece.

  16. Maria Fernanda Borges

    Olá, “Eu, eu mesma”!

    Aproveitamento do tema:
    Total. Uma colher “de família” que espera ser encontrada pelos donos para alimentar uma criança.

    Enredo:
    Simples e eficaz. O suspense de qual objeto seria o narrador me prendeu. A voz do narrador também fica bem demarcada; a colher tem personalidade.

    Escrita:
    O texto está muito picotado, muitos parágrafos poderiam ser um só. Houve também alguns erros de revisão. Fora isso, achei ok.

    Impacto:
    É um bom conto, mas sinto que poderia ser melhor no que propõe. Continue escrevendo! Sempre há espaço para melhora em qualquer habilidade. 🙂

    Boa sorte!

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