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Altivez │ Misael Pulhes

Entardecer. Tudo está quieto, parado e eu estou só. Este pedaço abandonado do mundo não é mais como em seus dias de ouro. Há uma tediosa impassibilidade no degradê celeste. A noite deixará tudo ainda mais estático. E outra manhã se seguirá. E depois, outra e outra. E nada acabará. Nunca. E este pedaço ermo do cosmo terá sempre as marcas dos dias em que tudo foi diferente, e da tragédia que levou tudo de volta ao estado original de quietude, inércia e vazio.

Os primeiros homens se instalaram na praia há muito, muito tempo. Acharam aqui por acidente. Prenderam-se ao lugar pela abundância de peixes, de frutos, pela conveniência. Demos a eles tudo, absolutamente tudo. Não houve dia, ao longo de décadas, em que eu não provesse prazer e sustento. Deitavam ao anoitecer na areia, admirando as ondas curtas indo e vindo. Tantas vezes, dormiram ali mesmo sob as estrelas, satisfeitos.

Mas o homem… o que define o homem mais que o orgulho? Gabaram-se de terem conquistado tudo, envaideceram. Depois de um tempo, acharam ter descoberto os segredos da praia, de terem nos dominado. Na madrugada, enchiam os barcos do que dávamos de melhor. Voltavam das vendas só no fim do dia. Enriqueceram. Começaram a sair de tempos em tempos; depois, a aparecer ocasionalmente. Uma prévia do que haveria de vir. Os homens são o que são. Altivos. Abandono e desprezo é o que fazem. E talvez nunca percebam ou nunca confessem que tudo que se seguiu foi apenas efeito de sua presunção, do seu desprezo.

*

Cai a água do céu e aqui se mistura. O mundo é um espelho quando chove. Dias de chuva nos dão barulho – água descendo no barro, nas árvores, no ferro. Fora isso, é quase tudo mudo.

Na pequena jangada, Tiago paira alheio. Depois de anos, voltou à praia hoje pela manhã. Estava tudo deserto quando saiu, quando prometeu nunca mais voltar. Voltou e então há chuva, barulho, vida. No fim da tarde, quando não caía mais gota do céu, nem a jangada mexia, ausente que estava o dia de vento, de ondas, de tudo, Tiago levou o barco até a margem, tirou uns peixes, fez fogueira, voltou à beira da praia, e novamente se perdeu nas recordações. Ele se ajoelhou, compenetrou-se, e de um modo inédito e estranho pregou os olhos em mim.

Tiago aprendeu a nadar quando criança, como os demais. A pescar também. Mas havia nele algo distinto, um quê de reverência pela natureza. Amava as árvores, a areia, os bichos, mas era – como passaram a lhe chamar – um “homem do mar”. Sua disposição em ficar por horas mergulhando, pescando, passeando com a jangada era natural. Passou a dizer repetidamente “eu amo o mar”. Dia após dia, ano após ano. “Eu amo o mar”… “o mar”. E foi assim que fiz dele meu preferido.

Ele nasceu numa manhã de chuva, numa das poucas vezes em que os pais retornaram a este canto. E por sua causa passaram a ficar mais e mais. Na juventude, Tiago foi o único que não se mudou para a cidade. Não quis trocar este lugar pelo “barulho irritante” que dizia sair das “ruas acinzentadas”. Fossem agora os outros embora; não importava mais. Tiago ficava. O “homem do mar”.

*

De súbito tudo mudou. Claro que as coisas demoraram a tomar forma. Mas o instante decisivo foi naquela tarde em que Tiago chegou acompanhado após uma pequena viagem que fizera com o pai. Ela parecia feliz ao lado dele. Fariam desse o seu lugar, e só deles, e isso bastaria a todos – a eles, a mim, a nós. Eu não estaria mais só, nunca mais. Aqui se fez o paraíso. Assim foi durante o tempo de ouro. Em que o homem amava o mar, e nele passava o dia, pescando, navegando, sendo parte dele. E então nasceu o primeiro filho, e depois, o segundo. As coisas iam bem. Até àquela tragédia.

Os filhos nunca aprenderam a nadar. Não gostavam. Subiram poucas vezes na jangada para ajudar o pai. Deixavam que fizesse todo o trabalho sozinho. Desprezavam tudo aqui. Conheceram a cidade, os barulhos irritantes, as ruas acinzentadas e voltaram assoberbados. Dentre todos os homens, eles foram os piores. Foram crescendo, se distanciando, amando a cidade. Tiago amava os filhos. Amava os filhos. Era um homem de família agora. De família. Como todos, foi deixando este lugar aos poucos porque eles preferiam a cidade e Tiago os amava. E tudo foi voltando a ser como era no princípio. Solitário e desprezado. Vazio e sem forma. Porque é isso que faz o homem. Abandona. É isso que são, altivos. Há, dentre eles, quem escolha a vida, e de que morte a vida morra, e onde e quando quase. Até que algo aconteça e os obrigue a ver que não, que não.

Naquela tarde os filhos consentiram trabalhar. O pai corria à cidade. Eles ficaram bem à margem. Nunca aprenderam a nadar. Não amavam nada aqui. Talvez amaldiçoassem aquela tarde de outono; talvez amaldiçoassem a ventania que se deu. O homem se ensoberbece mesmo diante da morte. Finge para si mesmo não ter medo de nada, mesmo enquanto se esvai. Eu vi a glória deles esmorecer. Senti o seu vigor converter-se em fraqueza, em derrota.

*

Por que você os levou? Por quê?

Tiago gritava, perdido na imensidão noturna, envolto agora pelas ondas que dissera amar. Sem saber que o ouvia, sem saber que não estava só. Joguei-o na areia, ciente de que ele não mais voltaria, e de que logo se lembraria de que não há nada a fazer diante da impassibilidade. E ele então iria embora. Na manhã seguinte. Para sempre. E uma vez mais este lugar ficaria só. E eu estaria só.

*

Gritava eu, tremendo de um amor incontido,
extasiado, por aquela mesma terra natal que eu abandonei.

27 comentários em “Altivez │ Misael Pulhes”

  1. Adequação ao tema: Muito bem encaixado.

    Enredo: Uma história de amor e certa obsessão, entre um indivíduo humano e uma entidade cuja enormidade é tanta quanto a dos seus sentimentos. Um tamanho que Tiago não poderia conceber, um tamanho perigoso. Este é um texto interessante, pois é o aspecto seguinte, a escrita, que colabora com a força do enredo. Veja:
    Escrita: A narração do Mar é poética, apaixonada, retribui uma admiração que lhe é dada e o põe acima de todo o resto e, portanto, isso consolida uma relação entre homem e oceano que deixa quem lê desprevenido para o que vem depois, de supetão e, em simultâneo, corresponde a uma natureza do mar que é sempre espantosa: sua beleza e sua monstruosidade. O paraíso de uma praia e o assombro de sua profundidade. É uma caracterização que não foi feito de forma descritiva, mas narrativa, sentida na maneira como o Mar escreve e transmite seus sentimentos.

    Impacto: Forte pela virada. O que é singelo se torna sombrio, sensações opostas cuja complementaridade, difícil de se estabelecer, foi bem alcançada aqui. Por isso, parabenizo!

  2. Olá
    Aproveitamento do tema:
    Pra mim,O narrador pode ser tanto o mar quanto a praia. Não fica bem explicitado isso. Mas se encaixa na proposta, de qualquer forma
    Enredo:
    Interessante. O mar é um personagem um tanto ressentido, a ponto de levar os filhos que não gostam dele. Meio abusivo até eu diria. Acho que o texto pesa um pouco a mão nas críticas à humanidade e fica um pouco panfletário em alguns momentos. É difícil separar o que o narrador e o autor estão dizendo em alguns momentos, então não sei se a crítica vem de um ou de outro.
    Escrita:
    Bonita, tem estilo e ritmo. Demonstra um autor experiente.
    Impacto:
    Bom. Muito bonito e agradável de se ler. Passa bem a mensagem.
    Boa sorte!

  3. Anna Carolina Gomes Toledo

    Na reta final do desafio, enfim encontrei meu preferido.
    Aproveitamento do tema:
    Não só pela criatividade, mas por aproveitar todos os sentidos na construção do narrador inanimado. Da para imaginá-lo vendo, ouvindo, tocando… Até mesmo “consumindo” no desfecho. Os sentimentos foram construídos com maestria e a história é sobre o mar acima de tudo.

    Enredo:
    A sensação da passagem de tempo e a escolha do que se contar em cada momento criaram uma atmosfera orgânica do narrador. Dá para imaginar os sentimentos progredindo, quase como se tentasse justificar seus atos finais. A descrição quase romântica do pescador revela uma vulnerabilidade de um narrador mesquinho e ironicamente meio humanizado.

    Escrita
    O tom lírico e os comentários críticos permitiram uma narrativa fluida sem que as descrições pesassem demais, mesmo com um tema tão delicado como a morte de crianças.

    Impacto
    Me sinto devorada por um onda salgada depois de boiar por horas sob o sol da madrugada.

  4. Olá, Victor Ahab, tudo bem?

    Ler o conto me recordou uma música, ouvida primeiro pela voz de Anelis Assumpção. O seguinte trecho é o que mais me emociona: “Maria na beira da praia, viu a saudade chegar, o mar/ Molhando a saia, os olhos molhando o mar, o mar,…”. E quantas interpretações e sentimentos essas águas nos despertam? E aqui, no seu conto, temos então o próprio Mar, tão ciumento e misterioso quanto o humano.

    Aproveitamento do tema: Não há o que escrever, não é? Há aqui um narrador inanimado.
    Como seu texto é um dos últimos do desafio, comecei a refletir sobre os contos. Para todos os seres inanimados, transferimos emoções humanas. Me perguntei, então, se seria possível escrever um conto, dentro desta proposta, em que o ser em questão não se personificasse… Mas isso não é uma crítica ao seu texto, é mais um devaneio mesmo…

    Enredo: É simples, mas bem executado. Não há informações excessivas, somente o necessário para que se compreenda a narrativa.

    Escrita: Não há erros. Fiquei me perguntando, porém qual a diferença entre as frases em itálico? São frases de outros?

    Impacto: Gostei do seu conto. Parabéns!

  5. Priscila Pereira

    Olá, Victor! Tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Bem aproveitado! O mar, tão ciumento quanto a morte!

    Enredo:
    Interessante. O mar se apaixona por Tiago porque é o único que aparentemente o ama não só pelo que pode tirar dele, mas quando Tiago demonstra amar mais os filhos, o mar os leva, mesmo sabendo que vai perder Tiago para sempre. É bem poético.

    Escrita:
    Muito boa, bonita e poética. Dá pra ver o cuidado do autor para que o texto ficasse bonito, além de eficiente.

    Impacto:
    Achei bem legal, mas não amei…
    Não sei bem explicar … É um bom conto, bem escrito, bonito e poético, mas não me encantou… Acho que o ciúme, o ressentimento, a amargura do mar, tornou o conto pesado pra mim.

    Total:
    Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!

  6. Olá Victor!

    Aproveitamento do tema:

    O narrador aparenta ser o mar, mas poderia ser a praia. Há uma excessiva indefinição que limita o potencial do texto. Em qualquer uma das hipóteses, a adequação é conseguida, pelo que podemos considerar que o desafio foi cumprido..

    Enredo:

    Há um arco narrativo claro, mesmo que o narrador seja uma incógnita. A história é narrada desde que surgem os primeiros habitantes até que o último sai, abatido pela tragédia. É um texto bastante bom, que só peca pelos motivos apontados. Gostei da forma como conta o impacto do homem na natureza, que aqui tem a oportunidade de se vingar.

    Escrita:

    A escrita é simples e objetiva, notando-se algum abuso da utilização dos pronomes pessoais.

    Impacto:

    Poderia ter mais impacto. O texto tem potencial. Não é simples contar uma história com o arco narrativo deste conto sem se perder pelo meio. Só preferia que a identidade do narrador fosse esclarecida.

    1. Olá, meu caro. Td bem?

      Agradeço a leitura e comentários. Fico só sentido de teres sido o único a não perceber a identidade do narrador. Sinto muito caso a culpa tenha sido minha. Pareceu-me certo, ao revisar o texto, que estivesse claro se tratar do mar. Uma pena.

      Um abraço e até mais ver…

  7. Aproveitamento do tema
    Total. O mar conta sua história e a de Tiago e seus filhos.

    Enredo
    Simples. O mar relata sua visão dos humanos e de Tiago, seu favorito.

    Escrita
    Muito bonita e correta. Se houve erros, não achei. A narrativa corre de forma fluida e agradável.

    Impacto
    Bom. Foi um conto de que gostei bastante. Gostei da personalidade do mar, ciumento, humano, como um deus grego. Gostei dele se tratar por “nós”, reforçando a ideia do mar como um elemento quase onipresente. Estranhei a solidão do mar, estando ele em tantos lugares, rodeado de tanta gente. Somente Tiago reverenciava a natureza? É possível. Parabéns!

    1. Olá, Kelly.

      Sobre a solidão do mar, direi o que disse para o colega Fábio abaixo: para mim é como paradoxo. É possível estar em um lugar abarrotado e mesmo assim se sentir só; o que acha? “Eu sempre tive mais ou menos essa impressão ao olhar a imensidão do mar. Imenso, mas sempre ali, sempre só; gigante e, como disse outra leitora, profundo, cheio de segredos.”

      No mais, agradeço muitíssimo a leitura e comentários gentis.

      Até mais ver!!

  8. Claudia Roberta Angst

    Olá, Victor, tudo bem?

    APROVEITAMENTO DO TEMA: O conto abordou o tema do desafio de forma satisfatória. Também amo o mar, mesmo que nem sempre o visite, mas gosto de saber que está a poucas quadras de casa. Costumo dizer que o mar é a alma do mundo. É o que sinto.

    ENREDO: Narrativa sob a perspectiva do mar se fixa no personagem Tiago. Ele ama o mar e o seu amor é facilmente retribuído, mas com uma carga de posse. Pelo o que entendi, os filhos de Tiago foram levados pelo mar, em um dia de outono, com ventania. Estavam na jangada? Bom, foram bem tolos se recusando a aprender a nadar. Enredo breve, mas forte, uma bela de uma ressaca.

    ESCRITA: Conto bem escrito, narrativa que varia da primeira pessoa do singular (e até um momento de primeira pessoa do plural – demos a eles tudo) para a terceira pessoa do singular (quando fala de Tiago). O estilo tem um toque generoso de prosa poética. Só encontrei uma divergência em: Até àquela tragédia > não há necessidade dessa crase em aquela. “Até” já é uma preposição, sendo assim, não há soma de “a + a”. Mas descobri que no caso, a crase é facultativa. Eu prefiro sem (muita informação visual), mas o uso não chega a ser um erro. Ou seja, está tudo certo.

    IMPACTO: Um sopro melancólico, a calmaria depois da tempestade. O desfecho é triste, mas assim às vezes é a vida. O triste também pode ser belo.

    Parabéns e boa sorte!

    1. “o mar é a alma do mundo”. Bonito isso.

      Olá, Cláudia. Td bem, e você?

      Agradeço o comentário cuidadoso e respeitoso. Gostei que tenha percebido algo como “um toque generoso de prosa poética”; era a intenção.
      Sobre a crase em “àquela”, acredite: eu não costumo usar crase após o até. Esse foi um caso deliberado e excepcional. Pensei que a ideia toda presente nas duas últimas frases poderia soar ambígua e estranha: “As coisas iam bem. Até àquela tragédia”. Claro que o contexto sanaria a ambiguidade; mas não soaria, de imediato, algo como “As coisas iam bem. Até (mesmo) aquele tragédia” – como se a tragédia corresse bem também hahaha. Bobeira minha? Preciosismo? Achei que a crase, por não ser o caso, seria melhor do que a ausência aqui heheh.

      “O triste também pode ser belo”. Concordo demais.

      Muito obrigado, Cláudia. Espero que tenha gostado do texto, como pareceu. Até mais ver!!

  9. Olá, Victor, tudo bem?!

    Acho que finalizamos o desafio com um bom texto! Que bão!!

    APROVEITAMENTO DO TEMA: adequado e criativo. Gosto dessa atmosfera, dessa coisa do mar… sinto que houve referências a histórias dessa temática – inclusive desde o pseudônimo.

    ENREDO: Praticamente uma prosa poética, como outros textos por aqui, mas com um pouco mais de foco no enredo. O ciúme do mar soa um pouco estranho, mas verossímil dentro da história. Achei-o um tanto enigmático, o que é positivo. Talvez um trabalho um tanto mais acurado no desfecho, o que não tira a força do texto.
    Achei que o espaço cedido para a história de Tiago e sua família foi suficiente. Talvez coubessem alguns outros detalhes, mas não imagino esse conto muito maior do que o tamanho atual.

    ESCRITA: não encontrei erros ortográficos, gramaticais. Gostei da voz, do estilo, ainda que o tom enigmático possa soar dúbio e até meio confuso vez ou outra.

    IMPACTO: Muito positivo. Gosto principalmente da atmosfera criada, uma drama meio com cara de lenda… Tá no meu top 5.

    Meus parabéns e boa sorte na disputa, meu caro!

    1. Olá, Misael.

      Que bom que o conto te agradou tanto. Fico muito satisfeito com isso.
      Também agradeço os comentários sobre a linguagem enigmática do conto. Você e outros leitores perceberam coisas que nem eu, enquanto escrevia, me dava conta.
      O desfecho realmente foi minha maior dificuldade, mas até que fiquei satisfeito com o resultado. Devo dar uma olhada melhor quando tudo isso acabar.

      Obrigado pela leitura, pelas comentários. Até mais ver!

  10. Olá, Victor!

    Aproveitamento do tema:
    Total! Uma das coisas mais belas e dotadas de sentido, pelo menos para mim, é o mar. Tê-lo como voz narradora desse conto foi quase como um presente. A maneira como você utilizou dele também foi muito boa.

    Enredo:
    É bastante pesada a temática deste conto, fala da morte dos filhos, da fragilidade humana, entre outras tantas coisas. Podia ter sido perigoso tratar de temas tão complexos e pesados em um estilo breve como é o do conto, mas aqui você executou muito bem! O texto estava na medida certa.

    Escrita
    A escrita está de excelente qualidade, é muito poética e traz muitos questionamentos filosóficos. Não sei se entendi muito bem, mas me pareceu que as repetições eram uma espécie de pantomima do movimento do mar? Se sim, gostei, mas achei que poderia ter sido um pouco menos para não carregar tanto na fluidez do texto. No mais, está muito bom!

    Impacto
    Muito positivo! Gostei muito do seu texto, da maneira como foi escrito e do retrato da pequenez humana diante ao mar e à vida.

    Parabéns e boa sorte 🙂

    1. Olá, L. Guerino.

      O mar é um tema/personagem/ambiente encantador, não é?!
      Agradeço muito a leitura e comentário cuidadosos e os elogios.
      Fico muito contente que tenha gostado do conto!
      Até mais ver!!

  11. Fabio D'Oliveira

    Buenas, Ahab!

    Que marzinho revoltado, hein.

    APROVEITAMENTO DO TEMA: Forte. Gostei da escolha do narrador. Adoro o mar. Sua revolta e sua amabilidade. Sua dualidade que lembra tanto a humanidade.

    ENREDO: Não sei… Quando as críticas sobre a humanidade são unilaterais, principalmente quando o próprio narrador revela sua dualidade, acabo tendo uma resistência com elas. Humanos abandonam, sim, mas também abrigam. Somos as duas coisas. Outra coisa que me incomodou, no enredo, foi o fato do mar falar com tanto carinho sobre uma pessoa, remetendo à solidão, quando ele é tão vasto. Faria sentido se o narrador fosse a praia. Fora isso, gostei das imagens criadas, cenas belíssimas, e tudo o mais. É um bom texto, no geral, só não gostei do tom ressentido do mar e de sua suposta solidão.

    ESCRITA: Excelente. Gosto de prosa poética. Como nosso anfitrião costuma falar, é um estilo que cansa e entedia, se perde a mão. Neste caso, pra mim, foi tudo na medida certa. Com isso, a narrativa flui, sem entraves, e a leitura é tranquila. Gostaria de ler mais coisas deste naipe por aqui.

    IMPACTO: Mais ou menos. A cena do retorno de Tiago é belíssimo, deixando boas impressões, mas as supostas críticas acabaram me incomodando. Agora, se estou imaginando coisas, desculpe. Tenho esse lado protetor com a humanidade. Acho que tendemos a melhorar, diferente da maioria das pessoas com quem converso, hehe.

    Boa sorte no desafio!

    1. Olá, Fábio.

      Hesitei em responder seu comentário para que não parecesse uma defesa do texto. Não quero mudar sua opinião. É que achei interessante que o texto possa ter passado impressões que eu não gostaria que passasse:
      1) Sobre a crítica à humanidade. É uma crítica de um mar ciumento. Achei que fosse verossímil e que desse para aceitá-la, mesmo dela discordando. O ponto foi ser coerente, não panfletário. Além do mais, houve uma intenção deliberada (talvez sem êxito) de mostrar a ironia da crítica do narrador-protagonista. No fim das contas, ele acaba cometendo os mesmos erros que critica na humanidade, não acha? Uma pena se essa ironia não ficou destacada. Era um ponto claro durante a escrita.
      2) Sobre a solidão. É também um paradoxo. A vastidão, me parece, nada tem a ver com a companhia. Você pode ter uma família imensa, estar num lugar abarrotado, e mesmo assim se sentir só. Eu sempre tive mais ou menos essa impressão ao olhar a imensidão do mar. Imenso, mas sempre ali, sempre só; gigante e, como disse outra leitora, profundo, cheio de segredos.

      De novo: não quero te convencer de nada, apenas achei que fosse um tema interessante pra discutir.

      Obrigado pela leitura e comentários respeitosos.

      Até mais ver!

  12. Oi, Victor,

    O mar é bem majestoso, divino, mas ao mesmo tempo sente saudade e ciúme do preferido. É uma divindade grega. Gostei muito.

    Destaco como acerto, a opção pela não-linearidade da narrativa que, pra mim, contribui para a percepção da similaridade com ondas que vão e que vêm, avançam e retroagem.

    Aproveitamento do tema:
    Muito adequada a escolha do narrador. O narrador na primeira pessoal do plural é um acerto, lembra o Deus bíblico “Façamos o homem a nossa imagem e segundo a nossa semelhança”. O mar foi/é tantas divindades femininas, masculinas.

    Enredo:
    Gostei bastante de tudo. Eu fiquei pensando nesse mar encantado com Tiago, achei que ele iria seduzi-lo e levá-lo com ele. Mas ele o devolve. Vai cada qual viver sua solidão em meio a suas multidões de plurais.
    Tudo bem construído.

    Escrita:
    Vai tudo bem. Gostei do cuidado poético, da escolha da voz do narrador. Parabéns!
    Uma observação que faço, aí pode até ser ignorância minha, é sobre o uso da palavra “impassibilidade” que é utilizada duas vezes, eu entendo essa palavra como sinônimo próximo de indiferença, não sei se era esse o sentido que queria usar ou se há algum sentido diferente para o termo.
    Por outro lado, gostei da escolha de altivez/altivo para ser o mote do conto. Eu entendia essa palavra como sinônimo de coisa nobre. Aí descobri numa pesquisa que no contexto bíblico é ela usada com o sentido de soberba, presunção e arrogância. Achei interessante para um texto que trata de uma quase divindade.

    Impacto:
    Positivo. É um texto erudito. Acho que houve muito cuidado na escolha das frases e contexto. Por isso, que deve ter sido o último texto entregue. Ousado.
    A frase final do Dostoievski me parece bem significativa do sentimento do Tiago. Ainda assim, me faltou algum elemento para conseguir justificá-la totalmente no texto.
    Já a frase em itálico quem escolha a vida, e de que morte a vida morra, e onde e quando quase, não consegui entender. Aí me deu uma sensação de eu ser meio burrinho, sei lá.
    Se eu pudesse dar uma sugestão ao seu texto, rsrsrs, seria pegar a frase: “foi deixando este lugar aos poucos porque eles preferiam a cidade e Tiago os amava” para “foi deixando este lugar aos poucos porque eles preferiam a cidade e Tiago os preferia”.
    Parabéns, dos textos que optaram pelas narrativas mais poéticas, o seu me parece que é o que mais me tocou em relação à linguagem.

    1. Olá, Rangel.

      Acho que todo escritor fica bem feliz com um comentário respeitoso e cuidadoso como o teu. Estou extremamente aradecido.

      Gostei da sua interpretação do mar quase como uma divindade.
      Sobre o uso do termo “impassibilidade”, estava pensando justamente num “destino”, num “acaso”, em circunstâncias, ou na vida como impassíveis, isto é: fixo, rígido, e, de fato, indiferente e insensível ao sofrimento, à dor, à solidão. Era um adjetivo para enfatizar o sentimento quase de fatalismo que o narrador tem.

      Sua sugestão dada nas linhas finais do comentário é esplêndida. Incrível como o uso da palavra “PREFERIA” causa ainda mais impacto (chega a doer aqui – pobre mar!). De novo: muitíssimo obrigado!

      Até mais ver!!

  13. Ana Luísa M. Teixeira

    Olá Victor! Tudo bem?

    Aproveitamento do tema:
    Total! Puxa vida, que narrador você escolheu! Muito boa mesmo a ideia! O mar deve guardar tantos segredos que nunca vamos descobrir..
    Enredo:
    Achei poético e muito bem colocado em linhas gerais com os personagens. O próprio mar como personagem também está muito bem construído por meio de uma voz própria completamente adequada.
    Escrita:
    Bem escrito, flui bem, não encontrei erros gramaticais ou ortográficos.
    Impacto:
    Positivo! Um texto muito bonito que nos leva a refletir sobre uma temática universal e humana.

    Parabéns pelo texto e boa sorte!

    1. Olá, Ana. Estou ótimo. E você?

      “O mar deve guardar tantos segredos que nunca vamos descobrir”. Não é?
      Agradeço demais a leitura e os comentários elogiosos. Fico muito feliz que tenha gostado do conto.
      Até mais ver!!

  14. antonio stegues batista

    O narrador demora a ser identificado, não que isso seja um erro, mas gera um certo suspense, já que o tema nos leva a querer saber logo de quem ou o que se trata e descobrir a coerência e entender o texto. O mar conta uma história que acontece num lugar específico, ao redor de uma ilha, onde pescadores colhem frutos e piratas escondem ouro. A história é de Tiago e seus descendentes orgulhosos, altivos, que desprezam o paraíso. Há algumas citações que não conheço a origem, mas parece que Ahab se refere ao capitão do navio baleeiro que persegue Mobi Dick, no romance de Herman Melville.
    Aproveitamento do tema; bem aproveitado no mar que cerca a ilho por todos os lados.
    Enredo: o enredo é bom, mas achei que tem mais poesia do que história.
    Escrita: imitando alguns estilos, mas é boa.
    Impacto; Leve e poeticamente terapêutico.

    1. Olá, Antonio.

      “onde (…) piratas escondem o ouro”? hahahaha. Não entendi, mas gostei do seu comentário; obrigado.
      Sim, a referência é ao Melville.
      Sobre ter mais poesia do que história, é possível, ainda que eu tenha tentado dar algum cuidado ao background… prosa poética parece ter, por regra, mais poesia do que enredo.
      De novo, agradeço a leitura atenta e o comentário respeitoso. Até mais ver.

  15. Saudações, senhor Ahab! Blz?

    Aproveitamento do tema: Total. O Mar, (numa espécie de consciência coletiva evidenciada pela primeira pessoa do plural?), é o narrador.

    Enredo: É bom. O tema é universal. A princípio, fiquei com um pé atrás, pois imaginei que o narrador fosse passar do ponto, mas isso não acontece. O texto é escrito de forma orgânica. A seção que menos gostei é o clímax, que é um pouco óbvio, mas ainda assim eficaz.

    Escrita: Escrita boa. Fiquei apenas com uma dúvida, pois no final do texto, utiliza-se a narração em primeira pessoa do singular, como: “Sem saber que o ouvia”, o que difere da primeira pessoa do plural utilizada, anteriormente, em: “Demos a eles tudo”. Seria uma referência à praia, juntamente com o mar? À natureza de uma forma mais geral? Caso não se trate disso, acredito ser um erro de revisão.

    Impacto: Positivo.

    Boa sorte!

    1. Olá, Gabriel. EstaMOS bem, e você?

      Achei interessante que você e outro leitor tenham comentado sobre o uso da primeira plural. Tive meus motivos, mas talvez eu conte no futuro. Gostei de tua interpretação.

      Só creio que o “Sem saber que o ouvia” não seja um erro de revisão: ali, a referência é ao mar: “Sem saber que (EU, o mar) o ouvia”, com o pronome oculto sendo uma opção deliberada dada a escolha pela síntese e certo enigma na linguagem. Em “Demos a eles tudo”, me referia ao protagonista e outros elementos da praia. O mar deu peixes, outros no ambiente descoberto pelo homem deram calor, brisa, outros animais, música, etc.

      Obrigado pela leitura atenta e comentários. Até mais ver…

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      Seu comentário está aguardando aprovação.

  16. Maria Fernanda Borges

    Olá, Victor!

    Aproveitamento do tema:
    Total. O mar contando sua história e relação com as personagens.

    Enredo:
    Muito bom. A princípio achei que se passava em outro planeta por causa da sua escolha de palavras no primeiro parágrafo haha. Enfim, a personagem do mar é a mais explorada, o que faz sentido, e ela tem críticas à humanidade (com razão, convenhamos), as quais expõe ao leitor com muita delicadeza. É uma voz muito boa.

    Escrita:
    Achei bem estilosa. Gostei muito da frase “O mundo é um espelho quando chove”. Pouquíssimos erros de revisão.

    Impacto:
    Positivo. A altivez dá, mas também tira. É um excelente conto!

    Boa sorte!

    1. Oi, Maria.

      Fico feliz que tenha gostado tanto do texto. Muito feliz.
      Se puder me indicar – aqui, agora, ou depois (rs) – os erros de revisão para ajustes futuros, agradeço.
      Obrigado pela leitura atenta e elogios.

      Até mais ver…

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