Recorde de Ibope │ Ana Luisa M. Teixeira

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Há muitos meses era o único assunto noticiado por todo Brasil. Na próxima segunda-feira um grande encontro se daria na televisão aberta brasileira.

Dentro de poucos dias aportaria em terras tupiniquins uma grande figura do cenário europeu para encontrar-se com uma das mais conhecidas cariocas.

Foi uma honra ter sido escolhida para mediar tal acontecimento.No entanto, não posso dizer que fui surpreendida. O programa em que sou apresentadora é televisionado uma vez por semana dentro do horário nobre e meu público alvo sempre foram as donas de casa da alta sociedade carioca e paulistana.

O público pediu e foi ouvido ao termos convidado as senhoras Capitolina Santiago e Emma Bovary para uma discussão em primeira mão sobre o assunto do livro do momento “Traição e paixão: quando os sentimentos falam mais alto” da escritora e psicóloga Paula Lima.

Chegada a manhã do grande dia mal podia podia conter minha animação.

Cheguei ao estúdio cantarolando e fui avisada que as convidadas já estavam a minha espera no palco da gravação. Quase desmaiei ao me deparar com duas senhoras de tamanha estirpe em minha presença. Dona Capitolina Santiago não se levantou, mas cumprimentou-me com um leve aceno de cabeça delicado e um olhar profundo. Me senti atravessada por aqueles olhos que nos puxam para dentro de si e para fora da realidade. Madame Emma Bovary por sua vez não só levantou-se como deu-me um beijo em cada lado da face bem como um apertado abraço desesperado.

Depois de trocadas apresentações e cumprimentos começamos a rodar a gravação e dei o ponta pé inicial à conversa.

Perguntei à minhas convidadas se o ato de traição era em si um ato de paixão.

Capitu (já que todas éramos íntimas nessa altura) disse que não saberia responder já que nunca traiu e nunca trairia ninguém. Que a traição é um ato da mais alta vilania da alma humana e que não por surpreendentemente era considerado pecado mortal.

Emma engoliu em seco e discordou veementemente ainda tentando no entanto manter a postura de moça bela, recatada e do lar. Afirmava que a traição era um ato de paixão sim. Que somente quem sabe o que é amor e paixão de verdade consegue se entregar a outro de forma tão animalesca se colocando em uma situação em que a traição é sim necessária. Quem não sente essa força poderosa que pode ser o amor é frígida, sem graça e não à toa, muitas vezes abandonada pelo marido.

Nesse momento Capitu tomou o microfone para si e, num ímpeto de fúria gritava à outra convidada: “Todo e qualquer que não possui amor próprio consegue sim entregar-se à outrem. Mas quem é verdadeiramente fiel a si nunca poderá encontrar nos braços ou na mente de outro alguém real conforto. Traição alguma deve ser justificada ou atrelada à sentimentos tão coesos como a paixão e o amor. Ambos devem ser guardados somente para si, qiuando muito para os filhos que gerar. Morte aos adúlteros e adúlteras!”.

Bovary, que já derramava as primeiras lágrimas no momento em que Capitu tomou o microfone, estava agora jogada no chão aos soluços. Não podia estar mais arrependida de tudo o que fizera e dizia que não podia mais viver com aquela culpa toda. Num ímpeto, abriu a bolsa, pegou um frasquinho de vidro do tamanho de um dedo mindinho e, num único gole colocou tudo para dentro.

Caiu no chão sem vida.

Soltei um grito surdo e fui amparada para não cair no chão. Desfaleci. Não lembro de mais nada. Nos dias seguintes me senti aturdida. Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim e eu ia lentamente voltando a minha rotina normal, cada vez mais alegre. As críticas do público não poderiam ser melhores! 

Foi a maior audiência que a televisão brasileira já teve. Maior do que o enterro da princesa Diana, de Ayrton Senna ou até mesmo da visita do Papa! Em todas as plataformas sociais podiam-se ver meu lindo rosto estampado em memes. Minha fama internacional finalmente chegou!

Capitu voltou ao Rio de Janeiro e diz não querer dar mais nenhum comentário à imprensa. Não se arrepende de nada do que disse e não compareceu ao enterro.

Tema: Dois personagens da literatura se encontram

17 comentários em “Recorde de Ibope │ Ana Luisa M. Teixeira”

  1. Olá, Beth!

    Achei o tema bem difícil e muito criativo. É preciso ter bastante conhecimento de literatura para poder abordar toda a complexidade de uma obra de outros autores e deixar verossímil o comportamento delas. É muita leitura e muito estudo rs. Enfim, achei o seu conto um pouco forçado e não condizente com a realidade das personagens. Concordo que se tivesse diálogos seria mais fácil abordar esse tema e a escolha por descrições ficou muito arriscado, o que compromete a leitura, principalmente de quem já está familiarizado com os personagens apresentados. O texto carece revisão, pois há alguns desvios gramaticais que atrapalham a leitura e a experiência do leitor. Acredito que o texto precisa de mais tempo para ser completado, ter mais ideia para explorar as personagens.

    Sucesso pra ti!

    Boa sorte!

  2. jowilton amaral da costa

    O conto narra a história de uma repórter que entrevista Capitu e Madame Bovary sobre o tema traição. O enredo é meio que uma comédia de costumes, quase chegando ao pastelão. A narrativa é boa e a leitura flui sem entraves. As personagens ficaram caricatas, como esse tipo de comédia exige. A história em si, não me pegou muito e o impacto não foi grande. O tema foi executado com sucesso. Boa sorte no desafio,

  3. Uma premissa interessante, duas personagens de peso, mas apresentadas quase que em caricatura e, curiosamente, tão diametralmente opostas que o conflito entre as duas acaba inverossímil, superficial e o desfecho sem impacto ou surpresa, o que prejudica o texto, mesmo que atenda ao tema.

  4. Olá, Beth! A ideia de reunir Capitu e Emma Bovary num programa de auditório é bem original (e boa). Acho que se vc apostasse mais em diálogos que em descrições do narrador o conto ganharia bastante (se fosse num desses Casos de Família, da Márcia Goldschmidt, melhor ainda). Achei a Capitu muito irascível, longe do comportamento de cigana oblíqua e dissimulada. Passaram algumas coisinhas de revisão, como “à minha espera”, q tem crase.

  5. Anna Carolina Gomes Toledo

    Eu adorei o tema e até gostei do conto, mas sinto que minhas expectativas estragaram a experiência. Gosto das escolhas de personagens e todo o tom despretensioso e cômico do encontro. O humor é meio tosco e lembra o tom novelesco, como no conto de vizinhança, isso ajuda a dar personalidade à história. Talvez, se tivesse exagerado mais e feito mais referências a histórias das personagens, eu teria chutado o pau da barraca de realidade antes e aproveitado melhor a história.

  6. Olá, Beth! Tudo bem?
    Que tema difícil! Ainda bem que não peguei esse!
    Eu gostei muito do seu conto! A escrita precisa de uma boa revisão, mas tirando isso, achei sarcástico, irônico, deliciosamente enredo de sitcom! Li Madame Bovary quando era pré adolescente ( peguei na biblioteca da minha avó e acho que alguém devia ter me impedindo, na época 🤷🏻‍♀️) não lembro de absolutamente nada. E não li o livro da Capitu. Então não sei se as personalidades batem, mas esse não é o propósito. O conto é divertido. Gostei muito! Parabéns!
    Boa sorte no desafio e até mais!

  7. Fernando Dias Cyrino

    Pois é, Beth, Camargo, que legal esse seu tema. Um encontro entre duas personagens da literatura. Ri aqui porque a história descambou para o humor mais escrachado com o suicídio ao vivo e a cores. Meu Deus. Achei que você contou bem a história, mas me pareceu que as duas personagens precisavam de mais profundidade, sabe? Achei Capitu meio rasa e não consigo percebê-la assim. Claro, você está defendendo uma Capitu que é passível de ser vista no Dom Casmurro. Bem, é isto. Conto bem escrito, atingiu o objetivo, mas fiquei sentindo falta de um pouco mais….Abraços e sucesso no desafio.

  8. Olá. Antes de comentar, tenho de admitir que tive de recorrer ao google e à wikipedia para me situar. Não sabia o que significava “ibope”, e não li nenhum dos livros das personagens em causa. A situação foi tratada com mestria. A entrevista com um único ponto chave, a traição, é o suficiente para despoletar o desfecho. Neste sentido, o conto tem todas as características desse género literário (introdução, desenvolvimento, reviravolta ou gancho e conclusão). A linguagem é clara e sem erros. A mensagem final é a da desumanização da sociedade atual, onde as audiências televisivas têm mais importância do que as pessoas.

  9. Olá,
    A premissa é interessante, mas não acho que tenha sido bem executada, infelizmente. Acho que a escrita acaba não ornando a história. Falta ritmo e forma. As personagens apresentadas, por mais que sejam literárias, ficaram muito unidimensionais, e por isso inverossímeis. No final, o impacto acaba sendo fraco. Acho que, para funcionar, tem muita coisa que precisa ser modificada na própria estrutura do texto e da narrativa.
    Boa sorte.

  10. Buenas, Beth!

    É interessante, sim, mas não consegui gostar do conto. As personalidades de ambas, tanto de Capitu tanto de Bovary, não me convenceram. Não te culpo: é um tema muito difícil. Capturar a essência de um personagem alheio e reproduzi-lo fielmente é um trabalho árduo.

    Senti que a narrativa também foi corrida, pouco detalhada, focada em contar ao invés de mostrar, o que poderia deixar o conto mais interessante. Por consequência, tudo parece superficial demais. Mas gostei do tom de humor e do cinismo da narradora.

    Parabéns pelo texto e participação! Vamos que vamos.

  11. Oi, Beth,

    Gostei bastante do tema e gostei da perspectiva escolhida. Gostei também do humor na narrativa, afinal para esse tema ter sentido seria preciso não o levar muito a sério e deixar a escrita um tanto farsesca. Foi uma escolha acertada.

    A opção pelo humor também ajudou a não ser tão importante assim ler as histórias de Bovary e Capitu. basta sabermos qual estereótipo se que apresentar delas, na internet tem um monte. A escolha aqui parece ter sido por representar Bovary como a culpada adúltera e Capitu como a moralista (uma resposta aos que a acusam de ter traído o pangaré do Bentinho?).

    Só achei o ato da Emma extremado. Ok, é para combinar com o livro. Mas lá, ela não se mata por culpa. Ok, aqui é outra história, mas ela parecia muito segura em seus posicionamentos até ouvir o discurso da Capitu, que achei foi fraco. Emma era uma grande leitora, não sei se ela se convenceria com esse discurso da brasileira.
    Apesar desses pontos, gostei das saídas apresentadas.

    Dito tudo isso, reafirmo que achei todas as ideias interessantes, incluindo a crítica a espetacularização das tragédias. Mas no fim essas ideias, para mim, ficaram um pouco atropeladas. O grande evento da história da tevê é resolvido com posicionamentos simples por parte das três personagens. E, no fundo, nenhuma delas conseguiu me convencer totalmente. A Emma que se deixa levar tão facilmente (no livro ela é enganada também, né?); a Capitu tão agressiva e puritana; e a apresentadora de TV que sendo tão ávida por sensacionalismo deveria é ter aproveitado o drama para alongar a audiência, afinal esses apresentadores estão bastante acostumados a explorar tragédias. Além disso, o fato de serem três mulheres estereotipadas também dificultou minha conexão com o humor do texto.
    Provavelmente esses detalhes foram atrapalhados por ser muita informação para 700 palavras.

    Boa sorte no desafio!

  12. Claudia Roberta Angst

    Oi, Beth, tudo bem?
    O tema “dois personagens da literatura se encontram” foi abordado com sucesso.
    Achei bem criativa a ideia do encontro entre Capitu e Emma Bovary. Machado de Assis e Flaubert estariam assistindo ao debate sobre traição?
    Só não consigo enxergar Capitu como alguém tão … moralista. Sei lá, sempre tive uma impressão diferente dela, e duvido que ela se colocasse de forma tão agressiva em relação a outra mulher. Também acredito que ela manteria o ar de mistério que a ronda como personagem enigmático.
    Há algumas falhas de revisão e repetição de sons como chegada/cheguei. Temos um vocabulário enorme a explorar, não se acanhe.
    entregar-se à outrem > entregar-se a ontrem
    atrelada à sentimentos > atrelada a sentimentos
    podiam-se ver meu lindo rosto > podia-se ver meu lindo rosto
    Parabéns pela participação e boa sorte!

  13. Oi Beth Camargo,

    Apesar de não ter lido os livros que retratam as duas personagens, gostei da criatividade ao reuni-las para debater um tema tão polêmico como traição.
    O conto tem um humor sutil, especialmente no final, no entanto, achei que faltou algo mais para tornar o seu texto mais interessante.
    Sucesso com o seu conto!

  14. Regina Ruth Rincon Caires

    Tema: “dois personagens da literatura se encontram”

    A narrativa destaca o encontro de Capitu e Emma Bovary (M. Assis e Flaubert), marcando o lançamento de um livro que versava sobre traição e paixão, evento mediado pela jornalista Beth Camargo.

    Apreciei o conteúdo meio burlesco escolhido pelo autor, apreciei essa escrita de muita criatividade. Um bocado de ousadia para criar uma situação própria, desfiliada (em parte) da ideia que carregamos após a leitura das obras originais, sempre se encaixa bem na literatura. A imaginação na criação literária não é mero acessório, é essencial. Ela permite que o autor explore cenários e personagens além do real, do conhecido, pode voar pelo mundo da fantasia, do desconhecido. Talvez seja por este motivo que a literatura nos encanta.

    No texto há certo descontrole na pontuação, e isso torna a leitura um pouco complicada. A falta de virgulação exige do leitor uma atenção dobrada, ou redobrada. Exige que as frases sejam lidas e relidas. Vírgula é um “instrumento” indispensável para a leitura. Todos os sinais gráficos são imprescindíveis para a total compreensão do texto. E, peço desculpa caso eu esteja enganada, mas percebi a falta de mais de dezenas de vírgulas!

    Além de atingir o cumprimento do tema, o autor cuidou em deixar uma crítica sutil, com dosada ironia, sobre a audiência que a mídia conquista quando existe dramaticidade, principalmente “ao vivo”, na programação.

    Não menos surpreendente é a descrição da síncope (ao vivo) da apresentadora. Quem não construiu a imagem no pensamento?

    Parabéns, Jornalista Beth Camargo! Hebe deve ter ficado feliz com a homenagem!

    Boa sorte no desafio!

    Abração…

  15. antonio stegues batista

    O conto atende ao tema. Temos o encontro de duas personagens da literatura universal,
    Emma Bovary, de Gustave Flaubert e Maria Capitolina, de Machado de Assis, ambas acusadas de adultério.
    O autor optou em fazer uma sátira da moral e bons costumes,
    dando ênfase entre defesa (Bovary-A traição era um ato de paixão) e repúdio
    (Capitu- A traição era um ato da mais alta vilania) do ato de adultério.
    O conto cumpriu o tema, mas acho que a autora perdeu a oportunidade para
    criar algo muito melhor do que essa sátira incluindo Televisão e Literatura, não quero dizer que ficou ruim,
    mas a oportunidade era de ouro para algo muito mais relevante no campo da Arte Literária.

  16. Oi Beth.

    Achei interessante sua ideia: uma jornalista mediando o encontro entre Capitu e madame Bovary. Foi uma forma direta e bem pensada de atender ao tema proposto.
    O texto está bem escrito e os personagens, bem definidos.

    Meu questionamento talvez seja besta, mas é o que me pegou. Como o tema é o encontro de dois personagens, penso que é importante que eles sejam fieis à maneira como foram descritos nas obras de origem.

    Já faz tempo (muito tempo), que li Dom Casmurro, então posso estar falando besteira mesmo. Mas acontece que não me lembro de Capitu ser tão dura em suas opiniões. Aliás, o que lembro dela é justamente a dubiedade, o silêncio, o mistério. Ela parecia nunca mostrar muito de si. E aqui, em seu conto, ela tem um posicionamento muito firme e claro. Estranhei. Esta Capitu do seu conto jamais deixaria pairar sobre si a dúvida da traição. Na primeira insinuação, ela teria botado Bentinho para correr. Emma, por sua vez, soa mesmo como em Madame Bovary (que também li em outro milênio).

    De toda forma, trata-se de um texto divertido e bem escrito.

    Parabéns e boa sorte!

    Kelly

  17. O conto começa com um narrador em terceira pessoa e logo passa para primeira pessoa, uma apresentadora que vai contando como tudo aconteceu.
    A referência a um suposto livro e a ideia desse encontro entre duas personagens marcantes da literatura foi bem interessante, especialmente se o leitor conhece as obras de Machado de Assis e Flaubert.
    Um ponto na escrita: “e que não por surpreendentemente era considerado pecado mortal”. Eu eliminaria o ‘não por surpreendentemente’.
    Um equívoco de digitação: ‘qiuando’.
    A personagem Emma Bovary é tratada primeiro somente por “Emma” e depois por “Bovary”.
    Os argumentos das personagens para a defesa ou a condenação do adultério foram um tanto exageradas, mas talvez tenha sido exatamente essa a inteção do/a autor/a.

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