
Paraíso-perdido.
O panorama a partir da galeria era espetacular. Naquele momento, alguns estudantes desmontavam o cenário da peça apresentada na noite anterior, Orfeu e Eurídice de Gluck, revelando todos os níveis do palco até o ciclorama. O linóleo ainda não tinha sido retirado completamente. E, mesmo sob risco de levar bronca, um rapaz praticava violino no proscênio. Clair de Lune, lento e eufônico. Pessoas iam e vinham, algumas repousavam na plateia inferior, mas somente Valentina estava no balcão.
Abraçava o estojo do saxofone. Forte. Queria memorizar cada pedacinho do Peter Jay Sharp Theater de Julliard.
Iria embora.
E, assim como Orfeu durante sua jornada, tentava alimentar a esperança de um futuro melhor. As coisas poderiam ter mudado, afinal.
— Posso me sentar?
Era Lavínia. Sorria, como sempre.
— Pode… — permitiu ela.
Compartilharam um pouco daquele momento em silêncio. Valentina sempre gostou dela. Além de ser uma das melhores violinistas do mundo, Lavínia era o motivo de estar na Julliard. Era brasileira. Filha de viúva. Menina do interior. Igual ela.
— Você tem certeza disso, Val? — perguntou a professora.
Respondeu com um sorriso triste.
— Vai desistir da bolsa? Abandonar tudo isso? — insistiu ela.
Lavínia perlustrou o rosto da jovem.
— Desculpa, professora… — cedeu Valentina. — Eu preciso fazer isso.
— Por quê?
— É a minha mãe. Não posso abandoná-la.
— E o que ela fez por você? — a violonista mudou o tom.
— Você não sabe de nada — rebateu a jovem.
— Sei mais do que imagina.
Tensão.
— Estou preocupada. Só isso. Ainda lembro do que aconteceu no dia que te busquei. Aquelas palavras… Nenhuma mãe deveria tratar sua filha daquela forma.
Valentina tremeu. Segurou as lágrimas.
— Por favor… Respeite minha decisão — pediu ela.
Algumas risadas no palco: uma menina estava enrolada com o linóleo.
— Você tem razão — desculpou-se.
Lavínia suspirou.
— Você é especial, Val. Muito especial. Quando você toca sax, o mundo fica em silêncio pra te escutar — interrompeu o discurso e, num riso sincero, ajeitou o cabelo. — Vou sentir saudades.
A violonista abraçou Valentina. Sem dizer mais nada, levantou-se e foi embora.
Depois de retornar ao alojamento para arrumar as malas, ela permitiu a fuga de algumas lágrimas.
***
Era sempre quente em Valentim Gentil.
Uma cidade vagarosa e silenciosa. Simples. Um pouco de gente. Um tanto de mosquito. E perfume de eucalipto. Por toda parte. Uma vez chamada de Terra da Lua, as noites resplandeciam mesmo antes do plenilúnio.
Valentina estava em casa.
Nada mudou em dois anos. O jardim abandonado. Aquela janela trincada. As trepadeiras enfeitando a alvenaria. O interior continuaria igual? Mordeu os lábios. Uma ponta de esperança. Bateu na porta.
— Valentina! — sua tia atendeu. — Como foi a viagem?
— Tranquila…
Repousou as malas num canto da sala, assim como o estojo do saxofone, e contemplou o pequeno vaso de flores do aparador mais próximo.
— Como ela está? — perguntou Valentina.
— Um pouco melhor.
— Ela vai voltar a andar?
— Não sei… Vai depender dela. O médico disse que a reabilitação não é fácil.
— Fratura na bacia, né? — conferiu a jovem.
— Isso mesmo. Ela não fala como caiu. Sabe como sua mãe é difícil — aproximou-se de Valentina e falou baixinho. — Vai ficar tudo bem? Consegue fazer isso?
— Não sei, tia — titubeou ela. — Mas vou tentar.
Era verdadeiramente irmã do seu pai. Calma e prestativa. As olheiras denunciavam o cansaço acumulado.
— Se precisar de qualquer coisa, me liga.
Um longo abraço. Beijinho na bochecha. Porta batendo. E o som do motor do carro. Valentina ficou no sofá por quase uma hora. Receio. Por fim, levantou-se e espiou o quarto entreaberto. Respirou fundo. Entrou.
— Oi, mãe… — Valentina sorriu. — Estava com saudades.
Olhar de censura. Punhos cerrados. Respiração ofegante.
— Por que você está aqui? Pensei que tinha deixado claro: sua cara me dá nojo.
Nada tinha mudado.
Tema: Reencontro
O meio para o final do conto é excelente, principalmente porque dá para imaginar e ainda assim se sente apreensão. Talvez o início poderia ser enxugando. Não que o final precise de mais palavras, mas porque ele tem tanto espaço quando o final, mas bem menos relevância e isso passa uma expectativa errada a primeira leitura.
Não gostei. Sinto que o texto se demorou demais em uma espécie de prólogo que, na pretensão de criar uma tensão sobre o reencontro entre mãe e filha, introduziu um contexto e personagens que não contribuem diretamente para esse o qual, embora seja o ponto principal da trama, acaba ficando para o final, de forma anticlimática. Então esta é a minha primeira crítica: o conto começou partindo do ponto errado. A segunda crítica é que também senti uma indecisão quanto ao que e como descrever, algo mais aparente no começo, mas que também me apareceu nas palavras escolhidas. Os três primeiros parágrafos parecem dar uma volta.
Olá,
Engraçado, tem horas que a previsibilidade funciona. O texto entrega justamente o que promete, sem nenhuma reviravolta, e mesmo assim impacta. Ou melhor ainda, impacta justamente por isso. A virada já é tão esperada que a falta dela é o inesperado. Muito doido pensar nisso. Cuidado com “violinista” e “violonista”, são músicos que tocam instrumentos diferentes.
Boa sorte.
Caramba, Floria, abandonar um curso na Julliard School para um reencontro desses acho que foi uma péssima idéia. Mas o que seria da literatura se não fossem as más escolhas, não é mesmo? E a peça era nada menos que a linda ópera… Bem, está tudo legal, tudo bacana, mas sua história não me fez seguir Orfeu em busca da Eurídice (sua mãe?). Senti falta de algo mais, amiga. Desejo sucesso no nosso desafio.
Oi, Floria, tudo bem?
O conto aborda o tema proposto.
Achei interessante a escolha do nome da protagonista – Valentina – e da cidade Valentim Gentil. Valentim quer dizer alguém vigoroso, capaz de passar por cima de qualquer obstáculo quando se propõe a fazer algo. E Valentina agiu assim, mesmo abrindo mão do seu sonho para cuidar da mãe.
Só não sei se a senhora era de fato má ou se vítima do Mal de Alzheimer, pois algumas pessoas ficam bem agressivas. A segunda opção seria menos cruel, embora igualmente triste. Enfim, o mito da maternidade mais uma vez desfeito.
Gosto de frases curtas, mas cuidado para não exagerar na dose, pois assim elas acabam perdendo o impacto e só travam a leitura.
Parabéns pela participação e boa sorte.
Buenas, Floria!
Que soco na barriga, hein. O ponto alto do conto está no trecho final, exatamente na resposta da mãe de Valentina. A menina tinha uma sincera esperança de que as coisas haviam mudado, talvez pela ausência dela, mas não mudaram. É um tanto triste, mas real. Essas coisas realmente acontecem. Mas admito que o primeiro ato e o segundo poderiam ter uma conexão melhor. Fiquei com a sensação de que este texto é parte de algo muito maior.
Parabéns pelo texto. E vamos que vamos!
O conto narra a história de Valentina, uma extraordinária saxofonista, que larga a bolsa estudantil que ganhara numa escola de música para voltar pra casa, para cuidar da mãe acidentada. O enredo é bom, simples e bom. A escrita é muito boa, com uma narrativa lenta e melancólica. Gosto de frases curtas, elas dão tensão, expectativa. O tema foi muito bem usado. Um reencontro nada feliz. O azedume da mãe no final é bom e impacta, apesar da previsibilidade, já que durante a leitura sabemos da personalidade difícil dela, Boa sorte no desafio.
Um murro no estômago. Da mãe. A crueza do relato dá-lhe uma força ainda maior. O amor de uma filha pela mãe, mesmo um amor não correspondido, assume aqui uma dimensão gigantesca, quase insuportável. Não me cabe na cabeça que alguma mãe que eu conheça faça isto, e não consigo imaginar essa mesma reação da minha própria mãe. Em termos de narrativa está perfeita e adequada ao tamanho imposto pelo desafio, que deixa água na boca para ver uma sequência (sim, por favor??).
Enredo denso, personagem melancólica. O conto trabalha com a dor que certas “escolhas” trazem para a vida. Renúncia é sempre um ato doloroso.
Texto bem escrito, construção cuidadosa, desfecho chocante para o leitor. O autor recorre ao exercício de frases curtas, sequenciais. É uma técnica interessante, mas, se usada em demasia, trunca um pouco a leitura. Vi nas respostas do autor que é um “experimento” na sua escrita.
Gosto dessas avaliações, aprendo muito. Com este texto, “conheci” o grande teatro e a escola superior de música, dança e teatro (Juilliard), em NY. Aprendi que “proscênio” significa tablado (palco), e que “linóleo” é o revestimento do piso.
Outra coisa que me deixou mais próxima da história foi a cidade de Valentim Gentil. Conheço este lugar, fica pertinho de onde nasci.
Parabéns, Floria! (Tomohisa Sako/Natsume Yuujinchou?)
Boa sorte no desafio!
Abração…
Oi Floria.
Gostei muito do seu conto. Um reencontro amargo. Você conseguiu atender ao tema de forma original. A escrita é escelente e o diálogo, natural.
É impossível não sentir o peso da escolha de Valentina, que abriu mão de um sonho e de um lugar em que era querida, para se dedicar a alguém que a detesta. Só gostaria de compreender melhor suas motivações para voltar para a mãe. Valentina mesma diz que Lavínia não sabe de nada. Por que ela voltou?
Parabéns e boa sorte.
Kelly
Olá Floria!
Tudo bem?
Gostei muito da ambientação do texto. O fato de se passar em um ambiente de músicos e a maneira como é escrito me agradou muito. Achei o texto muito bem escrito e funciona dentro da temática proposta.
No entanto, mesmo que se trate de um conto curto, acredito que algumas questões poderiam ter sido mais exploradas e a primeira e a segunda parte do conto poderiam ter sido correlacionadas de maneira melhor estruturada.
Achei também muito interessante o fato de que, normalmente, eu pelo menos, penso que reencontros deveriam ser momentos de alegria, no entanto o modo como você construiu a narrativa, como um reencontro um tanto quanto negativo é muito peculiar, muito original.
Parabéns pelo texto e boa sorte!
Olá, Ana.
Não é o melhor dos meus textos, realmente. Estou num período de seca criativa. Sobre o reencontro, queria frustrar o leitor, mesmo, mostrar que algumas coisas acontecem exatamente como prevemos que vai acontecer.
Muito obrigada pela leitura, querida.
Conto bem escrito, frases rebuscadas, curtas, às vezes uma palavra,
direta sem precisar de explicações, mais do que arte literária, estilo da autora.
Alguns termos técnicos de teatro e se a ambientação fosse num laboratório científico,
os termos seriam mais técnicos e mais difíceis de entender.
Não é obrigação do autor (a) deixar tudo fácil pro leitor.
Floria, volte a florir e continue usando palavras difíceis porque eu gosto de aprender.
Uma vez disseram que os diálogos do meu conto não eram naturais,
mas nunca me deram um exemplo de diálogo natural (?).
O enredo é forte e atende ao tema. Valentina foi obrigada a deixar os estudos em New York
ao receber a notícia de que a mãe havia caído e quebrado a bacia e estava impossibilitada para andar.
Ela volta para o Brasil e tem um reencontro dramático com a mãe.
A mãe que teria motivos ocultos para desprezar a filha, ou talvez nem tivesse e fosse ruim mesmo.
Mas Valentina é valente e como toda filha de bons princípios, cumpre a sua missão na Terra de cuidar da mãe.
Juilliard School é a melhor escola de música de New York.
Eu me lembro dela porque assisti o filme, O Som do Coração, história de Evan,
menino que estudou lá e escreveu uma sinfonia.
As músicas do filme são incríveis.
Leitores que reclamam de palavras difíceis, nunca leram O Paraiso Perdido, de John Milton,
Ulisses de James Joyce, nem Sagarana de Guimarães Rosa. Gostei.
Olá, Antônio.
É bom ler palavras de apoio. Mas também entendo e aceito as reclamações do pessoal. O leitor é importante. Gosto muito da relação escritor-leitor, pois, além de entender um pouco mais do que escrevo e de si mesma, também conheço uma ou duas facetas dos leitores.
Muito obrigada pelas palavras e leitura.
Floria, tudo bem?
Eu queria tanto que a Valentina deixasse essa mãe. A gente carrega esse mito em torno da maternidade, que toda mãe é boa e os filhos são ingratos. Bobajada.
O final foi muito bem construído. Imagino que grande parte dos leitores vai intuir que a filha irá matar a mãe; mas não, ela aceita ter de cuidar da chata e manter o vínculo com a genitora. A resposta final da mãe, faz a gente torcer pra menina voltar lá e por fim ao obstáculo entre ela e o sonho.
Vi que teve um debate nos comentários sobre o uso de termos ‘nao usuais’. Eu estabeleci um pacto unilateral com todos os escritores, não irei pausar minha preciosa leitura para caçar significado. “Ah, mas o google e o dicionário estão aí…”, quero ler literatura e só. Se o contexto der para entender perfeito, se não der fico sem entender ou deixo de lado. No caso específico do desafio, a gente não pode deixar de lado, então quando não der para pegar o sentido, ele vai me escapar.
Contudo, embora tenham no texto vários termos que desconheço, não impactou o entendimento do conto, pelo menos eu acho. Pois a essência dele está clara: há o caminho do sonho, e há um obstáculo que é o acidente da mãe. E nesse ponto, achei que ficou tudo bom.
Por fim, de um modo geral gostei. As personagens com suas motivações me convenceram também. Dá raiva da mãe radioativa e da filha submissa. Pode ser maniqueísta, mas as principais narrativas que temos até hoje o são.
Parabéns e boa sorte!
Olá, Rangel.
Sendo sincera, além de trazer um tom mais melancólico, queria frustrar o leitor, também. É natural que as pessoas fiquem revoltadas e desejem a quebra do ciclo abusivo da mãe-filha. Na vida, nem sempre isso acontece.
Muito obrigada pela leitura atenta.
Já nos primeiros parágrafos exige do leitor com termos e expressões não usuais ou facilmente reconhecidos.
O texto é bem escrito na língua.
Ao final, fiquei com a impressão de que a filha mataria a mãe, dando assim uma virada na suposta bondade da personagem Valentina. Mas não. A filha e a mãe seguiram os papéis já delineados no início do conto.
Fique pensando o porquê das escolhas de frases curtas, quando poderia ter separado quase tudo por vírgula: “Era brasileira. Filha de viúva. Menina do interior. Igual ela”. É uma opção do autor/a, claro, mas exige pausa na leitura, quebra da fluidez do texto. Um recurso bom para causar impacto, quando a cena pede esse impacto.
Algumas frases colocadas em meio aos diálogos, revelam o uso de recursos do texto teatral.
O tema está bem cumprido no conto.
Parabéns!
Olá, Mauro.
As frases curtas é um experimento, uma busca pelo estilo. Tudo na vida é tentativa e erro, até alcançar os acertos, não é?
Muito obrigada pela leitura.
Olá, Floria!
De um modo geral, achei que o conto ficou ok. Conseguiu abordar bem o tema dado e a escrita não aparenta ter desvios gramaticais significativos. Contudo, o fato do autor pressupor que os leitores conheçam alguns termos importantes da história (A escola de música Julliard, por exemplo) e a seleção de vocábulos diferenciados dificultam a conexão do leitor com o texto e atrapalham a fluidez. Acredito que seja interessante você explicar determinadas partes (uma ideia seria falar sobre o quão importante seria a bolsa naquela escola) para que possamos entender a intensidade da tomada de decisão da personagem. Além disso, senti os diálogos curtos, rasos e inverossímeis, de forma que não consegui entender a essência dos personagens e saber como eles realmente são. Senti falta dessa profundidade. Tudo bem que isso é um grande desafio para um conto de 700 palavras, mas é algo possível de escrever.
Sucesso pra ti!
Boa sorte!
Olá, Victor.
Espero que não se ofenda, até porque não se trata de você ou de qualquer coisa que tenha dito, mas prefiro apostar nos leitores menos preguiçosos. Acho que ficar me explicando, dosando o dicionário (principalmente em cenas bem específicas, como a descrição do palco de teatro) ou tentando convencer o leitor de que determinada coisa é verossímil ou não acaba sendo perca de tempo. Acontece que, muitas vezes, essas impressões acabam sendo frutos do próprio leitor, principalmente quando se trata de verossimilhança. Sei que é arriscado, pois o leitor pode não se conectar com a história, porém, aprendi que não dá pra abraçar o mundo. Não sempre.
Muito obrigada pela leitura, querido.
A questão não é ficar se explicando, pois o texto pode ficar expositivo, mas preencher uma lacuna que o leitor pode não ter tido acesso prévio. O mesmo acontece com as palavras mais difíceis. Não tem problema o uso desses termos e não estou falando para focar em algo extremamente popular, mas quanto mais sofisticadas as palavras mais limitado o alcance e você atinge um público cada vez mais nichado. Eu, particularmente, gostei do seu conto, mesmo com os itens que pontuei, mas entendo alguém que possa não ter gostado por não ter entendido e se conectado, não por ser preguiçoso, mas por desconhecer partes importantes da história. A verossimilhança que me referi foi justamente por causa dos diálogos com frases curtas e uso de alguns clichês “sei mais do que imagina”.
Olá, Floria! 🌻
Tudo bem?
Nossa… Que conto! Foi um soco na cara esse final.
Eu sempre checo o tema antes de ler o conto e por causa dele e do título, achei que o conto teria um tom diferente.
Que tristeza, ser obrigada a abandonar os sonhos por uma mãe assim… Eu entendo ela não abandonar a mãe, tem coisas que vão contra nossa natureza, e se fizermos seria pior que a morte. Se ela não fizesse, não teria mais paz, sua consciência nunca daria sossego. Melhor sofrer com a consciência tranquila.
Sobre o conto em si, está muito bem escrito, os personagens tem profundidade, mesmo em um conto curto e o texto está perfeito, não sobra nem falta nada.
Gostei muito! Parabéns!
Boa sorte no desafio e até mais!
Olá, Priscila.
Espero nunca passar por uma situação dessa natureza, uma decisão que mexa tanto com nossos valores.
Muito obrigada pela leitura e comentário tão gentil.
Olá, Flora! Recorri ao Google para vocábulos como “ciclorama” e “linóleo” e para músicas de seu texto. Achei legai isso. Mas em “perlustrou” talvez fosse melhor indicar o que é essa ação (ficaria até mais poético, em consonância com o tom do texto). Em “plenilúnio” até dá pra inferir e há uma carga poética, mas tb pode reforçar um pouco a sensação (desconfiança?) de q o autor quer nos fazer consultar o dicionário a todo momento 🙂 Em “— Pode… — permitiu ela” achei redundante, não precisava do “permitiu”. Em “— Fratura na bacia, né? — conferiu a jovem.” achei um pouco inverossímil, pois a jovem não abandonaria seu sonho por conta de algo que não soubesse muito bem do que se tratava. (tb estranhei um pouco a Valentina chegar e já entabular um diálogo com a tia, sem sequer se cumprimentarem. Sobre verossimilhança tb, achei Valentina muito gentil (não à toa Valentim Gentil ser o nome da cidade) para o que a esperava, a ponto de dizer que estava com saudades da mãe.
Olá, Pablo.
Acompanhei de perto a história de uma tia que foi uma das pessoas mais doces que conheci na vida. A mãe dela era extremamente narcisista e egoísta. Cruel mesmo. Minha tia fazia de tudo por ela, cuidou dela até falecer, abandonou muitos sonhos. E o que recebeu em troca? Agressão e humilhação. Pra ter ideia, minha tia-avó tentou tirar ela do testamento só pra machucá-la. É difícil entender uma pessoa que se sacrifica tanto por outra que só a faz mal. Mas as pessoas são assim, mesmo. Complicadas. São tantos valores diferentes, personalidades diferentes.
Muito obrigada pelos apontamentos!
Oi, Floria! (te chamei de Flora no comentário anterior). Corrigindo, quando falei de “músicas” estava me referindo a “Peter Jay Sharp Theater de Julliard” (Julliard é o nome da cidade? se for, faltou uma vírgula). Sobre a experiência da sua tia, sinto muito por ela. Mas minha sensação de inverossimilhança talvez se dê em termos de construção na ficção msm. É comum q coisas q acontecem na realidade não façam sentido na ficção, causando essa sensação de inverossimilhança. É provável que essa seja uma história que peça um formato maior, para desenvolvimento das personagens, e, assim, causar menos essa sensação. Pq o leitor fica se perguntando como pode a Valentina ser tão boa e a mãe, tão cruel. Não parece haver qqer explicação. A não ser que a pensata do seu conto seja essa: há pessoas que são más simplesmente porque são más. E outras, irremediavelmente doces.