CCL 2023 │ Contos Curtos – Resultado

Spread the love

Olá, pessoas!

Eis que chegamos ao fim de um desafio recheado de novidades!

Tivemos um formato diferente, tema pra tudo quanto é lado, dois contos por autor e, a maior das novidades, nosso amigo Fabio D’Oliveira ajudando vosso humilde canídeo aqui na administração do certame. 🙂

“Ajudando” é eufemismo. Ele fez 90% do trabalho. Eu que ajudei um pouquinho. E sozinho eu não teria conseguido levar esse desafio. Então, todos os méritos e agradecimentos vão para ele.

E também para os dezessete autores que completaram o certame. Outros quatro entraram em curto-circuito e não mais apareceram. Assim, seus contos já desapareceram do site.

Para manter o clima diferentão desse desafio, ao invés de revelar as autorias, vamos à tabela de classificação de contos. Que não é a tabela de classificação geral, já que dessa vez o campeão é o autor, não o conto. Mas fica aqui para saciar os curiosos:

.

E é chegada a hora de revelarmos nosso pódio!

.

A medalha de bronze fica com ninguém menos do que a primeira-dama dos desafios, Claudia Roberta Angst, desfilando com os seus Por quem bato e quase morro e Abraço (Di)minuto.

.

Por que ele? Questão de compatibilidade. Muitos me queriam, mas eu não os pude aceitar. Tantos abraços negados, dias prolongados em esperanças vãs. Por que ele então? Porque tinha de ser, assim, de peito aberto. Não, não foi questão de dinheiro. Ele não poderia me comprar, mesmo que quisesse. Ele não quis. Eu que brigo por isso. Bato de forma compulsiva, impaciente diante do momento da estreia.

.

A escuridão nunca me assustou. Ao contrário, lido bem com a queda de luminosidade, perambulo na penumbra com prazer. As sombras trazem uma aura romântica a todos os cenários. Há pessoas, conheço muitas, que se agitam quando o dia vai perdendo o brilho, e o entardecer se espalha no céu. Estejam fazendo o que for, se levantam e ligam todas as luzes da casa. Sim, todas! Como se fossem velas em velórios. Eu não. Pensei ter luz própria. Vejo, agora, que isso é uma mentira.

.

Ocupando o degrau do meio do nosso pódio, temos o inventivo e camaleônico Pedro Paulo, que nos brindou com Cheiro de queimado, minhas mãos em seu pescoço e Relato de um linha fora.

.

Despertei num salto. E depois outro. Espasmos. Eu me desdobrava no chão aos sacolejos, a eletricidade tocava a música, meu corpo dançava e eu não tinha vez. Nessa coreografia teve hora de meu rosto virar pro chão, o pescoço esticar, o torso tensionar e empurrar minha cara contra o solo. A bocarra aberta para um grito que tinha intenção, mas não tinha voz. Comi areia, achei que sufocaria. Cada vez mais intenso, mas ainda mais fraco do que o cheiro de terra molhada, havia um odor de queimado, o ardor se fazia sentir por ondas em meus músculos, corria a minha pele. Com a primeira mão sobre a qual recuperei controle, apoiei-me para fora da minha asfixia de barro. Respirar não se tornou mais fácil pela eliminação dessa obstrução. Na minha involuntária dança espasmódica, ajoelhei. O odor acre da combustão estava mais forte. Carne queimada, minha carne. O incêndio me fazia de combustível. Nos meus ouvidos ainda restava a explosão daquele arauto de tempestade, mas, suave, distingui o rio correndo atrás de mim.

.

Passava um jogo na televisão. Ele não gostava que assistisse com ele, entre seus gritos com a tela e as goladas na cerveja, perguntava-me opiniões, cutucava-me, ficava logo aborrecido com o meu silêncio e depois silenciava ele mesmo, de cara fechada. Quando parecia melhorar, era o mesmo que eu não estivesse ali. Uma vez desci do sofá, saí. Ele não percebeu, eu jamais retornei. Naquele fim de tarde, passava mais um jogo. Mainha veio logo me acudir, perguntar das feridas, o que acontecera, eu dispensei seus cuidados, disse que estava bem, queria falar com o meu pai. Na minha afobação, posicionei-me em frente a ele. Não consegui dizer a primeira palavra, uma braçada mais ou menos contida me pôs de lado, ele disse “Peraê”. Gaguejei, olhei de lado para a minha mãe, que também tinha a boca aberta, um protesto a ser dito, lágrimas à beira dos olhos.

.

E a grande – e recorrente! – campeã, é a nossa incansável máquina de escrever Kelly Hatanaka, que abrilhantou o desafio com os seus A rua e Um nó intricado.

.

— Você que falou comigo? — Devia estar enlouquecendo, conversando com aves, esquecendo coisas.

— Não. — Disse o corvo, voando certeiro em direção a seus olhos.

Alberto abaixou-se, cobriu a cabeça com os braços, enquanto ouvia o som de uma freada e sentia cheiro de borracha queimada. Levantou-se enquanto decidia se havia ou não sentido algum impacto sobre seus ossos. Tinha quase certeza de que não. Olhou ao redor. O corvo havia sumido.

.

Nem sempre foi assim. Anos atrás, eles costumavam voltar de madrugada de alguma festa, cheios de fome e larica incontrolável e era ele, Bento, quem se encarregava de preparar o prato perfeito para driblar a ressaca: seu famoso rozovorofa. Arroz, ovo e farofa, com qualquer coisa que tivesse na geladeira. Devoravam tudo, de pé na cozinha, direto da panela e terminavam a noite na cama, nus, entrelaçados, um nó intricado.

.

Abaixo, a tabela geral de classificação.

.

Aqui vocês podem ver as autorias, quais contos foram escritos com os temas indicados ou recebidos pelos autores e a média geral de cada texto e cada autor.

Também podem ver que, se fosse um desafio tradicional de contos, a Kelly teria vencido de qualquer jeito. A Kelly não tá pra brincadeira.

Como era de se esperar, na média, os contos com temas indicados pelos próprios autores, que eram uma espécie de tema livre, tiveram notas mais altas do que os contos com temas recebidos. Por outro lado, as duas médias mais altas foram de contos com temas recebidos. Ou seja…

Nada. Não quer dizer nada. Não tem mesmo regras na arte. Mas é divertido de observar.

Assim como é divertido brincar com tudo isso aqui.

Os próximos desafios e brincadeiras não tardarão.

Nos vemos em breve.

🙂

1 comentário em “CCL 2023 │ Contos Curtos – Resultado”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.