
Diante dele, a praça abandonada, tomada pelo mato, com a estranha estátua de uma criança feia, coberta de musgo. A rua estava vazia. O céu, esverdeado, num tom que tornava impossível adivinhar as horas.
Não se lembrava de como havia chegado ali.
Aliás, lembrava-se de muito pouco. Seu nome era Alberto, casado com Dalva, sem filhos. Era filho de Araci e Diomar. Era repositor no supermercado. O que mais?
Olhou para a direita. A rua estendia-se por alguns metros e terminava em uma densa escuridão. Do outro lado, estendia-se a perder de vista até terminar em algo que parecia brilhar. Resolveu ir para este lado. Quem sabe encontraria alguém.
Deu alguns passos, relutante, tinha que testar suas pernas. Após algum tempo, teve a impressão de que o mundo se movia sob seus pés e estranhou. Seus passos pareciam leves, queria correr.
— Não.
Quem disse isso? Parado em um galho, um corvo o observava.
— Você que falou comigo? — Devia estar enlouquecendo, conversando com aves, esquecendo coisas.
— Não. — Disse o corvo, voando certeiro em direção a seus olhos.
Alberto abaixou-se, cobriu a cabeça com os braços, enquanto ouvia o som de uma freada e sentia cheiro de borracha queimada. Levantou-se enquanto decidia se havia ou não sentido algum impacto sobre seus ossos. Tinha quase certeza de que não. Olhou ao redor. O corvo havia sumido.
Diante dele, a praça abandonada, tomada pelo mato, com a estranha estátua de uma criança feia, brilhando de tão limpa. A rua estava vazia. O céu, esverdeado, num tom que tornava impossível adivinhar as horas.
Não se lembrava de como havia chegado ali.
Aliás, lembrava-se de muito pouco. Seu nome era Alberto, casado com Dalva, sem filhos. O que mais?
Olhou para a direita. A rua estendia-se por alguns metros e terminava em uma densa escuridão. Do outro lado, estendia-se a perder de vista até terminar em algo que parecia brilhar. Resolveu ir para este lado. Quem sabe encontraria alguém.
Deu alguns passos, rápido. Por algum motivo, tinha pressa. Pena que fosse tão difícil caminhar, abrir uma trilha pelo ar pesado. Se ao menos tivesse um facão, como seu pai.
— Pare.
— Quem disse isso?
Sentiu pousar em seu ombro o corvo, que agora bicava seu rosto, arrancava pedaços de carne enquanto parecia rir. Alberto dobrou-se, tentava afastar o pássaro, cobrir a cabeça. Ouvia o som da ambulância e sabia que precisava aguentar mais um pouco, só mais um pouco.
Silêncio. O corvo havia sumido.
Diante dele, a praça florida, com a bela estátua de uma criança risonha, feita de ouro. A rua estava vazia. O céu, esverdeado, num tom que tornava impossível adivinhar as horas.
Não se lembrava de como havia chegado ali.
Aliás, lembrava-se de muito pouco. Seu nome era Alberto. Era mesmo?
Teve medo. Estava se perdendo completamente.
Começou a correr de volta para o outro lado da rua, sem se importar com a escuridão pesada que o engolia, adentrando mais e mais. Pareceu ouvir o corvo, rindo.
— Corra! Corra!
Parou, sem fôlego.
Diante dele, um campo vazio, estéril, com os restos de uma estranha estátua sem cabeça. A rua estava vazia. O céu, esverdeado, num tom que tornava impossível adivinhar as horas.
Ele lembrava-se de tudo. Era Alberto, a grande decepção de Araci e Diomar. Alberto, o algoz de Dalva. O repositor que fora pego roubando e, ao sair do trabalho pela última vez, foi…
— Pare.
O corvo olhava para ele. Parecia mais feroz do que antes.
— Não. — O corvo falava com a voz de Dalva e voava ao seu redor, zombando, cantarolando suas súplicas repetitivas. — Não. Pare. Pare. Não.
Ele queria que o corvo o atacasse novamente, seria melhor. Seus ouvidos queimavam, a praça diante dele queimava, tudo ardia. A voz de Dalva rasgava sua pele.
Começou a andar de volta para o outro lado, inicialmente cambaleante, depois correndo o mais rápido possível. O corvo começou a bicá-lo, arrancando grandes tiras de pele sangrenta enquanto Alberto corria em direção ao lado luminoso da rua.
Só parou quando teve a impressão de que o corvo já o havia devorado inteiro.
Diante dele não havia nada.
Não se lembrava de quem era e nem de como havia chegado ali.
Tema: Terror
Olá,
Que texto! Maravilhoso!
Você brinca com as figuras de linguagem como se cada uma delas compusessem uma caixa de lápis de cor em suas mãos.
Difícil saber lidar com tamanha facilidade, construindo uma mensagem assim, como você fez nesse texto.
A estátua da criança, por exemplo, vai se transformando e melhorando a cada repetição.
Sem palavras. Amei seu texto e nem gosto de terror.
Parabéns!
Márcia Ribeiro Pitta
Olá,
Nossa, muito bom. Um terror muito bem construído, as repetições e o suspense vão criando um aperto crescente. O final aberto também ajuda nesse impacto. O terror não acaba após a leitura. Parabéns
Boa sorte!
Essa repetição, tão comum em poemas, aqui caiu como uma luva para contribuir com a sensação de looping e prisão do personagem. Gostei do conto, de verdade. O evento é interessante, como é contado também. A inspiração no horror de Edgar Alan Poe é bem vinda e funciona na ambientação sombria e psicológica. Já quero indicar para amigos lerem!
Uma abordagem justa para um tema amplo, escrevendo uma roda que cada revolução é mais dolorosa do que a anterior, nos mostra mais e nos faz temer o que vem depois, ao passo que também narra uma história sem necessariamente narrá-la. Isto é, no início não sabemos quem é Alberto e nem ele mesmo sabe, mas depois não só se compreende a situação em que ele está como também se apreende mais da sua vida por meio de palavras escolhidas com precisão: “decepção”, “algoz”. Ou seja, é uma autoria com bastante controle da narrativa. O que mais critico aqui é como o tema é abordado, o sentimento é que depois de conhecermos o tema é que dizemos “ah, entendi o que ele quis fazer”, mais do que sentir o tema ao longo da leitura.
Caro Pedro Paulo.
Pena que não sentiste o terror durrante a narrativa. E agradeço pelo seu comentário!
Poe.
olá, Poe, puxa, que rua essa. De um lado a escuridão bem próxima. Do outro a luz longínqua… e a vida que se repete e da qual o nosso personagem Alberto, que vai esquecendo de tudo, se perdendo nele mesmo, tenta sair infrutiferamente. Uma história de terror com essa homenagem ao Poe e seu corvo tão famoso (aqui no caso, mais que famoso, violentíssimo). Pois é. você contou bem sua história. Sucesso no desafio.
Caro Fernando.
Obrigado por seu comentário.
Esta rua sozinha já seria um pesadelo, não é?
Poe.
Oi, Poe, tudo bem?
O conto, sem dúvida, aborda o tema proposto.
A princípio, pensei que Alberto fosse um morador de rua, ou um senhor sofrendo de demência, esquecido de quem era, etc. e tal. Como diz que foi algoz de Dalva, presumo que tenha espancado ou até mesmo matado a mulher. Ele era repositor em um supermercado, foi pego roubando e ao sair do trabalho acabou sendo atropelado. Mas pelo menos ele foi para a Luz?
Narrativa bem construída, repetição de frases com o objetivo de impactar e dar a ideia do fluxo de pensamentos desorientados. Apenas evitaria a repetição de “estendia-se” no mesmo parágrafo, poderia usar um sinônimo como “prolongava-se” ou algo assim.
Parabéns pela participação e boa sorte!
Cara Claudia.
Obrigado pelo seu comentário.
Alberto terminou indo para a luz, mas esqueceu-se de tudo, perdeu-se de si. Talvez fosse este o preço a pagar.
Poe.
Um texto que descreve a aflição trazida pelo fim próximo. É a ansiedade galopante que acomete aquele que está sentindo o estertor. É a sensação de que não há tempo para mais nada. E o indivíduo se vê frente a frente com suas falhas, necessita da remissão, busca a paz. Deve causar um rebuliço nas ideias. Acredito que o corvo seja essa “consciência” que fica “bicando” sem parar.
É um texto extremamente denso, a técnica de repetição de alguns parágrafos para incluir novos “passos” da narrativa encaixou perfeitamente. O enredo escorre em círculo, sem saída.
E, no desfecho, o nada. Literalmente o nada. Cada leitor que “crie” o final que desejar…
Parabéns pelo trabalho, Poe!
Boa sorte no desafio!
Abração…
Cara Regina.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Para mim, nada é mais aterrorizante do que se ver sem saída e sem explicações. Pobre Alberto…
Poe.
Buenas, Poe.
Um bom conto de terror. Queria que ele tivesse permanecido no terror psicológico, nos loops intermináveis, eu estava amando até a parte em que decidiu revelar a história de Alberto de forma literal. O que poderia ser primoroso se tornou banal. Explico: poderia ter explorado os aspectos da vida de Alberto nas entrelinhas, nas passagens repetidas da praça, como a mudança da estátua representando o que ele havia feito em vida ou em qualquer outro detalhe do ambiente. Sim, alguns leitores poderiam não capturar as mensagens. E até baixar a nota por causa disso. Mas vale a pena sacrificar um pouco a qualidade final da obra em prol de agradar a maioria? Eu AMO terror psicológico por causa dos traços sutis. Já o terror tradicional, que tem seus pontos altos, acaba indo por caminhos óbvios, muitas vezes.
É apenas uma implicância minha, até porque criei expectativas durante a leitura e acabou tomando um rumo mais seguro. Sua decisão não está errado e nem quero mudá-la, mas acho justo expressar o que senti durante a leitura. Sua escrita é muito boa, gostosa de ler.
Parabéns pelo texto. E vamos que vamos!
Caro Fabio.
Eu de fato usei a praça e a estátua como metáforas da vida de Alberto. De forma meio sutil demais. A vida de Alberto, procurei pincelar levemente apenas. Acredite-me, o que está no texo não chega perto do que ele fez.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Poe.
O conto narra a história de Alberto que está perdido e em looping num mundo sombrio. A trama é muito boa, as repetições dão o tom aflitivo do texto. Imaginei que ele estivesse morto, possivelmente por suicídio, e está numa espécie de limbo. A escrita é boa, prende a atenção e flui sem entraves. O tema foi muito bem explorado através das repetições que ocorrem, gerando angustia ao leitor. Eu também sugeri terror. Gostei. Boa sorte no desafio,
Caro Jowilton.
Ora, ora. Mais um fã de terror. Pelo visto, somos muitos. Não sei se esta é uma ideia reconfortante ou não. Tenho dúvidas.
Que bom que gostaste. Agradeço pelo seu comentário.
Poe.
Texto interessante, Poe. Bem a condizer com o seu famoso homónimo. Este é um dos meus temas preferidas, uma das minhas sugestões neste desafio. Fico feliz por ver que o mesmo foi brilhantemente representado. O texto não apresenta pistas, não demonstra nada. Coloca questões mas nunca as responde, mantendo sempre o mesmo nível de tensão. A desorientação é uma constante, podemos estar num pesadelo ou numa situação de post-mortum, ou numa alucinação causada por drogas. Nada no texto nos fornece uma explicação, que seria, de qualquer forma, irrelevante. Parabéns.
Caro Jorge.
Terei eu sido sorteado com seus temas?
Fico feliz que tenhas gostado.
Poe.
Oi Poe.
Gostei. Este é o tipo de terror que eu gosto de ler. Um terror psicológico.
A ambientação foi bem feita e o clima de tensão, bem desenvolvido.
A sensação de claustrofobia permeia o conto. E não deixar claro o que aconteceu foi uma escolha muito boa. A imaginação vai para caminhos estranhíssimos. A impressão é a de estar dentro de um pesadelo.
Parabéns e boa sorte.
Kelly
Cara Kelly.
Agradeço por sua leitura e pelo seu comentário.
Fico feliz que tenhas apreciado.
Poe.
É difícil separar Edgar Alan Poe do Corvo, ou, de corvos. Poe e corvo são associados à literatura de Terror.
O pseudônimo evidencia essa ideia. O conto é a história de Alberto, vivendo repetidamente um momento aterrorizante de sua vida,
com pequenas mudanças no cenário, dia escuro, uma rua deserta, uma praça com uma estátua em bronze de um menino num chafariz seco.
A narrativa dá pistas do que aconteceu; Alberto roubou no supermercado onde trabalhava e sob o peso da culpa,
atravessou a rua sem olhar para os lados, foi atropelado.
Perde a consciência e se vê num looping sombrio, onde o cenário é o mesmo, com pequenas diferenças.
O corvo representa a culpa que o atormenta por toda a eternidade.
Bom conto, gostei da criação das descrições, do ambiente claustrofóbico e a homenagem a Edgar Alan Poe,
inspiração para quem escreve contos de Terror. Como falar de uma praça abandonada sem dizer abandonada? Difícil, né?
Caro Antonio.
Que alegria quando o leitor aprecia a história e compreende todas as referências. Fico imensamente feliz que tenhas gostado.
Obrigado pelo comentário.
Poe.
Olá Poe!
Tudo bem?
O texto foi muito bem escrito e gostei muito do título e do pseudônimo.
Atende muito bem ao tema. Pessoalmente acho um estilo muito difícil de escrita. Terror e suspense são, para mim, grandes desafios literários, e você conseguiu com maestria construir uma atmosfera de mistério e terror ao longo de cada uma das linhas.
A princípio pensei tratar-se de um erro de formatação já que o texto se repetia, mas esse recurso utilizado enriqueceu sobremaneira o texto e a sua proposta!
Achei muito bom mesmo!
A tensão e a confusão da atmosfera e do personagem principal são palpáveis.
Parabéns pelo texto e boa sorte!
Cara Ana.
Fico feliz que tenha apreciado. De minha parte, gostei deveras de criar este ambiente estranho e claustrofóbico.
Muito obrigado pelo seu comentário generoso.
Poe.
O conto usa a técnica da repetição para consolidar sua trama, o que já é bastante consolidado.
Está bem escrito, tem ação, mas ritmo um pouco lento.
Cuidado com o excesso de adjetivos em todo o conto. Já na primeira frase, aparecem muitos: ‘praça abandonada’, ‘estranha estátua’, ‘criança feia’… Torna o texto mais floreado, mas também pouco dinânimo, porque diminui a potencialidade do espaço de criação/imaginação do leitor.
Li o tema somente ao final. Não senti ‘terror’, desculpa. O terror estaria nos ataques do corvo?
Valeu a leitura!
Caro Mauro.
Os adjetivos neste caso, tinham uma funçao a cumprir, a saber, levantar questionamentos a respeito da praça. Seria a mesma praça em momentos diferentes? Seriam praças diferentes simbolizando coisas diferentes? Neste caso, eu não tinha como fugir deles, e nem quis.
Quanto ao terror, eu aprecio o terror psicológico, que se basei na atmosfera de medo e perigo, como ocorre no maravilhoso filme Cisne Negro, ao invés do terror gore de um Sexta-feira 13, por exemplo, ou de um clássico terror slasher como Pânico. E, definitivamente, não consigo lidar com o body horror de um Centopeia Humana. Então, respondendo a sua pergunta, o terror está na ambientação e no desespero de Alberto. Aqui, flerto também com o terror sobrenatural, mas isso é muito sutil e depende da leitura de cada um.
Obrigado pelo seu comentário.
Poe
Olá, Poe!
O seu conto está muito bem escrito, não encontrei qualquer desvio gramatical que pudesse atrapalhar a minha leitura. Foi bastante criativo e assertivo o looping que você colocou na história, cria um ambiente de confusão que o próprio personagem está inserido depois dos eventos que o deixou naquela praça. No geral, foi um conto muito interessante de ler e que aos poucos vai revelando a situação de Alberto, como ele foi parar ali e as psicoses dele ao ver o corvo.
Sucesso pra ti!
Boa sorte!
Caro Victor.
Agradeço pelo seu bondoso comentário e fico feliz que tenhas apreciado meu conto.
Poe.
Olá, Poe!
Além da clara referência ao universo do Poe, eu vejo uma influência do mito de Prometeu. É um texto que apresenta camadas e foge do óbvio.
Aproveitamento do tema:
Foi adequado, abordagem criativa.
Enredo:
Há duas histórias. Uma primeira na superfície. E há a segunda, mais profunda, que relata o passado de crimes do Alberto. Assassino (?), ladrão, culpado? É uma escolha bem interessante trazer essa segunda história, velada e misteriosa, da qual vamos ficar desconhecendo, como se participássemos desse looping de amnésia do protagonista.
Escrita:
Em geral achei tudo bom. Poucas coisas me incomodaram.
O adjetivo”esverdeado” entre vírgulas, talvez seja de algum efeito que não entendi. “O céu, esverdeado, […]”.
Como é um conto que parece mais flertar com o fantástico do que com o maravilhoso, algumas coisas poderiam ter tido outra construção para não dar estranhamento. Exemplo: no primeiro diálogo do protagonista, ele ouve o corvo falar e diz: “— Você que falou comigo?”. Não me parece uma reação normal. Faltou um espanto.
“Se ao menos tivesse um facão, como seu pai” – há um subtexto aqui, algum mistério oculto do pai? Se sim, acho que faltou desenvolver (mesmo que não revelasse tudo); se não, a imagem de um facão para cortar o “ar pesado” me parece frágil.
Impacto:
Positivo. Houve uma preocupação em fugir do caminho mais fácil, já que é um tema razoavelmente mais tranquilo que alguns que apareceram aqui. Parabéns pela criatividade
Impacto:
Caro Rangel.
Muito obrigado pelos seus comentários. Foram precisos e deveras úteis, e revelam uma leitura atenta, cuidadosa.
Notaste as camadas, notaste a insinuação do facão (que, você tem razão, deveria ter sido melhor explorada).
Poe
Olá, Poe! (Amei o pseudônimo)
Que tema fácil! Um dos melhores de receber! E você mandou muito bem.
O mais legal do seu conto é que no final continuamos sem saber o que raios aconteceu com o personagem! 🤪
Para alguns pode ser frustrante, mas para mim não. Eu gosto de coisas loucas e sem sentido. Gostei também das repetições. Mesmo em um texto tão curto, fez sentido no todo. Flashs dão dicas do que aconteceu. Um acidente de carro, possivelmente. E o corvo? Está ali só para justificar seu pseudônimo? Será?
Enfim, gostei bastante! Parabéns!
Boa sorte no desafio e até mais!
Cara Priscila,
obrigado por seu comentário. Fiquei feliz em saber que atingi meu objetivo, a saber: deixar o leitor inquieto, sem certezas sobre o que exatamente aconteceu, apenas com sugestões. Penso que poucas coisas são mais aterrorizantes do que a incerteza e a sensação de se perder de si mesmo.
Seguindo a rua em uma direção, Alberto vai se esquecendo de si. Apavorado, tenta a outra direção, na qual tem suas memórias, mas elas tampouco oferecem conforto.
Quanto ao corvo, só posso dizer que ele surgiu antes de meu pseudônimo.
Novamente, muito obrigado!
Poe
Olá, Poe! De início diz-se de um céu esverdeado. Logo em seguida, de uma densa escuridão. Fiquei me perguntando se pode haver uma escuridão esverdeada ou se toda escuridão é, necessariamente, um breu. Tendo a achar que sim. Faltou interrogação em “Quem sabe encontraria alguém”. Em “O corvo começou a bicá-lo, arrancando grandes tiras de pele sangrenta enquanto Alberto corria em direção ao lado luminoso da rua” o nome Alberto sobrou, já que já se referia a ele em “bicá-lo”.
O efeito da repetição (sempre com alguma diferença, como no eterno retorno nietzscheniano) é um ponto bom do conto, mas senti falta de um pouco mais de concretude, para que o conto não ficasse tão etéreo. De todo modo, achei um “terror surrealista” (se é que a categoria existe) interessante.
Caro Pablo.
A ideia do céu esverdeado foi de causar estranhamento. Já me deparei com um céu de cor estranha, escuro demais para ser dia, claro demais para ser noite, resultado da junção de um entardecer com o acúmulo de nuvens pesadas que traziam uma tempestade de gelo, e esta visão me encheu de medo. Quis invocar este sentimento. Quanto à escuridão, ela pertence à rua, que de um lado se estende longa e solitariamente a perder de vista, e de outro, termina em um súbito breu. Qual imagem é mais assustadora? Para que lado você iria, prezado Pablo?
Quanto à concretude, você tem razão. Porém, sua ausência e a sensação de eteriedade (esta palavra existe?) foi proposital.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Poe.