
Paredes descascadas e a cadeira de balanço │ Misael Pulhes
1
O rangido da cadeira de balanço vinha constante e baixo lá da varanda. Não incomodava. Como nada naquele lugar. Nos fins de tarde dominicais, e só nestes, meu avô permitia-se aquietar na antiga cadeira com o fim de ficar olhando o pomar e a horta.
Eram seu orgulho. Era um homem de ação e falava pouco. Do pouco que falava, o assunto principal quase sempre era o pomar, a horta; vez ou outra, o trabalho na fazenda quando moço, a casa, que levantou pouco antes do casamento, com a ajuda de um ou dois amigos. A casinha era a alegria da vó. Não havia um dia em que não estava organizada, limpa e cheirando àquelas essências florais que ela descobriu já velhinha e que espalhava por todo lado. Passei muito tempo da infância ali. Sempre que saía da escola, eu ia direto para a casa deles. Minha avó quase sempre estava preparando um bolo ou pãozinho, que era para esperar o vô. Ele chegava daí a pouco, sujo das tintas do trabalho, com a cara ensolarada, mas exalando um tanto ainda de vigor. Era só comer um pouco, tomar o café preto, que estava pronto para ir chutar bola comigo no corredor. Sempre com cuidado, “com muito cuidado para não quebrar nadinha da vó, hein”.
Depois ele pegava o fusca para me levar embora. Dava sempre uma passadinha para visitar a filha, mas ficava pouco para não deixar a vó sozinha. Antes, porém, era costume parar cinco a dez minutinhos na sorveteria do Sr. Ovídio. Aquele homem corpulento, negro de cabelos brancos e sorriso imenso, era o melhor amigo do vô, eu acho. E tinha o melhor sorvete de groselha de máquina. Meu avô pagava duas casquinhas, eu ficava tomando, vendo as revistas em quadrinho, e eles ficavam de papo.
As lembranças que eu tinha do meu avô eram, todas, muito vívidas. Fazia sete anos que eu não o via, até aquela ligação.
2
— Seu avô está doente.
Meu tio ligou num sábado bem cedo. Sabia que eu estava para entrar de férias. Sem mais nem menos, contou. Passou, depois, a dizer umas coisas estranhas:
— Eu nem sei mais o que fazer… você pode estranhar, mas… não sei se não seria melhor pra gente, quer dizer, pra todo mundo, principalmente pra ele, se ele fosse, sei lá, para uma casa dessas de repouso… não sei, não sei.
— Hmmm…
— O que você acha?
— Tio, eu não sei…
— É né… eu sei, essa responsabilidade não é sua… mas, enfim, é mais fácil de longe, né…
— Tio…
— Desculpa, eu não quis dizer isso… você tem suas coisas. É que…
— É claro que eu posso ajudar. Não sei por que minha mãe não me ligou…
— Você podia vir aqui ficar uns dias com ele né… entra de férias quando?
— Segunda-feira.
Meio sem saber se queria voltar à minha cidade depois de tanto tempo, fui. Uma cuidadora bem simpática me atendeu. Meu avô ficou desconcertado.
— Meu filho!
Fez que ia se levantar, mas emendou uma expressão de dor que o impediu.
— Não, vô, fica sentado aí. Não precisa levantar, não. Isso, fica aí. Como o senhor está?
Tirando uma ou outra história decorada, e os relatos sobre a casa, o pomar, a horta, meu avô era lacônico. Em geral, falava o suficiente. Só. Mas até que conversamos bastante naquela tarde. Eu disse que estava de férias e pensando em passar uns dias com minha mãe, com ele.
— Nossa, que bom. Vai ser muito bom.
Ele não fez qualquer menção ao estado de saúde. Nem ao tempo em que fiquei longe. Parecia surpreso e radiante com minha presença ali. Eu saí com o sol se pondo. Ia aproveitar para visitar uns amigos e matar a saudade de um ou outro sabor da infância antes de aparecer lá em casa quando certa fachada despertou um punhado de fragmentos de memória. Voltei com o carro, parei, estacionei e desci. Por trás da parede descascada ainda se viam algumas letras desbotadas do escrito antigo: Sorveteria do Ovídio. Fiquei um tempo ali olhando. O lugar estava aos pedaços. Apoiada numa das paredes, havia uma máquina antiga de sorvete toda enferrujada. Olhei para os lados meio que por instinto, como que buscando algum conhecido. Não havia ninguém. No dia seguinte, voltei para ver meu avô.
— Vô, eu não fiquei sabendo, mas o Sr. Ovídio…
— Não te contaram? Sim, sim, ele… faz quase três anos.
— O senhor era muito amigo dele, né?
— Sim, meu filho, muito.
Ele ficou olhando ao longe, com uma expressão distante por algum tempo.
— E a sorveteria dele?
— Faz tempo que eu não saio de casa. Deve estar lá, abandonada.
— É, eu passei por lá ontem, quase não reconheci.
— Os filhos que ficaram com ela. Eles que tinham que cuidar disso. Mas pelo jeito…
A cuidadora trouxe os remédios. Depois, levou-o ao banheiro, de onde saiu só meia hora depois. O rosto dele misturava uma expressão de aflição com uma força desmedida para estar ali.
— E sua mãe? Como está?
— Daquele jeito, vô. Daquele jeito.
— É…
— O senhor tem visto ela?
— Não, não. Faz tempo que eles não vêm aqui.
— O tio também não?
— Ele também. Mas tudo bem, não faz mal. Não estou reclamando, viu. – Ele realmente não estava.
Fiquei vinte dias na cidade. Passava bastante tempo em casa, com minha mãe, mas sempre dava um pulo na casa do vô no meio da tarde. Eu ficava até bem de noitinha, ajudava a cuidadora a dar janta, pôr para dormir, e ia embora.
Antes de voltar para a capital, fui despedir.
— Não fica tanto tempo sem vir de novo não, meu filho.
— Oh, vô, me desculpa. É que… o senhor saber… muita coisa para fazer…
— Não, não, eu sei. Eu sei. Tem que cuidar das coisas da gente, né?! Mas quando der, aparece. Tem as cuidadoras, mas… a gente acaba ficando muito sozinho né…
— Pode deixar, vô, pode deixar.
Fui embora no dia seguinte e pedi para minha mãe e meu tio me manterem informado. Foram exatos três meses sem mensagem. Eles não informaram, eu não perguntei. O trabalho e os estudos eram minha desculpa.
3
Passado aquele tempo, eu fui ficando um pouco inquieto. Uma imagem particularmente me acompanhava durante aqueles meses: a parede descascada da antiga sorveteria. Não fosse ela, talvez minha inquietação fosse ainda menor. Estranho como imagens banais, escondidas no meio das lembranças, podem causar um profundo impacto em nós. Era como se aquela sorveteria, da qual eu nem me lembrava mais, me puxasse de volta para aquele lugar, para tudo o que eu havia deixado para trás há sete anos.
Certa noite eu mandei uma mensagem para minha mãe perguntando do vô. Ela estava viajando. Respondeu só na tarde do dia seguinte. Dizia achar que ele estava bem. Meu tio disse que ele havia piorado. Um mês atrás, a inflamação tinha agravado e ele foi parar no hospital. Fizeram um pequeno procedimento cirúrgico e o mantiveram internado. Após uns dez dias, ele melhorou. Recebeu alta na semana passada. Trocaram a cuidadora por um enfermeiro, melhor e mais caro. Agora ele estava fazendo um tratamento. Ia e vinha do hospital umas cinco vezes por semana. O tratamento também era caro e outra vez meu tio buscou apoio na ideia da casa de repouso.
“Vocês querem abandoná-lo, isso sim”. Digitei com uma raiva incomum cada uma dessas palavras. Um sentimento estranho me fez apagá-las. No sábado seguinte, eu tinha um trabalho para terminar. Já era noite quando fiquei livre. No domingo bem cedinho, peguei o carro e, finalmente, decidi voltar àquele lugar.
4
O céu de fim de agosto estava amarronzado; o tempo, seco. Uma rajada de vento esparramou as folhas da calçada. Quando meu avô construiu a casinha, meses antes de casar com a vó, aquele bairro vivia lotado de comerciantes, de festas, de gente na calçada, de um quê de vida. Na minha época ainda era assim. Eu lembro de alguns natais e um ou outro ano novo que passamos por lá. O povo com a música alta e conversando e rindo até o amanhecer. Folia de reis tinha todo ano também. Eu gostava de ficar na janela vendo o pessoal fantasiado, dançando, e ouvindo a história dos magos. As mesmas ruas estavam agora desertas, raramente um transeunte. Contavam-se várias casas desocupadas, terrenos baldios. Parecia que a cidade havia esquecido aquele pedaço afastado de chão. No caminho, algo me levou à sorveteria. Três meses depois, já não se podia ler o antigo escrito. Teriam esperado sete anos por mim para que só então a parede fosse toda corrompida?
Na verdade, eu nem sei precisar se tudo aquilo era novo ou se as coisas já estavam exatamente assim quando voltei aqui da última vez. Só agora eu percebo quão poucas pessoas eu havia visto naquele dia, de como o silêncio reinava. Agora, no entanto, aquela secura de tempo, de vida, estava escancarada.
Bem no cume da ladeira, a casa do vô. Eu estava com a cópia de chave da minha mãe. Entrei. Aquele pó avermelhado havia tomado conta de toda a ferragem. O som dum programa de auditório pairava na sala vazia. Uma torneira gotejava no banheiro cheio de lodo. Paredes infiltradas, objetos deslocados, um cheiro ruim. Não havia ninguém ali. Só então percebi que devia ser dia do meu avô ir ao hospital.
Continuei andando pela casa. Ventava tanto que a cadeira de sempre balançava sozinha lá no fundo. Estranhamente silenciosa. Lembrei do meu avô ensinando que “azeite, azeite mesmo, meu filho, esses de cozinha”, tirava o rangido da cadeira. Talvez aquele tivesse sido o único cuidado que o vô ainda conseguia imprimir à casa, àquele lugar, às juras de cuidar sempre da vó, de fazê-la feliz.
Eu conhecia aquela cadeira desde sempre, mas nunca ousei sentar. Fui chegando perto, tocando o móvel, aquela guarida do passado. Sentei. E fiquei buscando na horta desamparada, no frágil pomar, o olhar do meu avô nas tardes de domingo. Olhando e lembrando e pensando onde tudo teria se perdido, tombado.
O jatobá da casa vizinha invadia o quintal da casinha. As folhas balançavam e caíam tal como provavelmente naquele dia. Foi há mais ou menos seis anos que aconteceu aquela tragédia. De ele voltar para casa e a vó não estar bem. De ter demorado demais para chamar a ambulância. De tudo ter sido tão violentamente rápido desde então. Eu não pude ir ao velório, estava fora do país. Foi a primeira despedida na família e parecia que ninguém sabia bem o que fazer com ela.
O vô foi tocando a vida com um resto do vigor que sempre teve de sobra. E talvez a perda da vó tenha feito todos se perderem um pouco, irem se dispersando. Como se tudo estivesse agora amaldiçoado, as coisas mudaram drasticamente. Os natais em família rarearam, assim como o interesse um no outro. Eu já estava fora há muito tempo, ficava sabendo das coisas bem de longe. A vó tinha isso de reunir em torno de si os filhos, netos. Com aquele sorriso, aqueles bolos e pães, aquele cuidado. Mas trocasse alguém com ela uns minutos de conversa, e o que ouviria? Sobre o vô. Sobre como ele erguera aquela casa, como trabalhava incansavelmente, e zelava pela horta, o pomar, e por ela. Meu avô não tinha mais, então, de quem cuidar. Nem quem cuidasse dele. Sobraram a casa, a horta, o pomar. Mas era pouco. Claro que era pouco. Apanharam sua atenção por um tempo. Mas o vô foi ficando só, se deixando só, desmanchando-se.
O alarme do celular tocou. Era tarde. Levantei, enxuguei os olhos, e fui para o hospital.
5
Fiquei esperando por umas três ou quatro horas, sentado, vendo aquele monte de cabos e fios espalhados pelo corpo. Descobri que não era dia de tratamento. O vô tivera um infarto de manhã. Ele enfim acordou.
— Ô, meu filho, é você?
De novo, ele fez que ia se levantar, como que num impulso.
— Tá doido, vô? Deita, deita. Não precisa levantar, ué.
— Ah, meu filho. Faz… faz tempo que tá aí?
— Cheguei faz umas horas. Como o senhor está?
— Meu Deus, esse tempo todo aí parado? Não precisa… não precisa preocupar.
— Vô, tá tudo bem, deixa disso. Me fala como o senhor está.
— Tô bem, meu filho. Agora eu tô bem.
Uns minutos de silêncio depois, puxei assunto, falei que tinha passado na casa…
— Em casa?
— Sim, estive lá.
— Como tá?
— Tá tudo bem, vô. Precisa de uma organizadinha, mas a gente dá um jeito.
— A horta.
— Ah… a horta… até que não está mal. Tem umas folhas meio secas, eu acho, mas de resto… bom, o senhor sabe que eu não entendo muito bem disso, né…
A enfermeira chegou com a janta. O vô estava me olhando sem dizer nada. Fazia um bom tempo que ele não via um rosto familiar. Parece ter ajudado; foi a primeira vez, disse a enfermeira depois, sussurrando, a primeira vez que ele comeu tudo.
Mais uma meia horinha e eu fiz que precisava ir.
— O senhor quer alguma coisa, vô?
— Não, não. Tá tudo bem.
— Certeza?
— Sim. Eu… não, tá tudo bem.
— Pode dizer, vô. Que isso, eu faço com gosto pro senhor.
— Não, é só que… se desse…
— Vô?
— Se desse… Precisava colher limão e umas folhas. Para não estragar. Mas não precisa…
— Pode deixar, vô. Eu faço isso. Tem algum segredo?
Com dificuldade, ele me confiou os segredos da colheita dos limões e das folhas. Voltei à casa, já escuro, peguei uma bacia e fui depositando os limões. Depois peguei umas folhas de rúcula, um pouco de agrião, espinafre… Lavei tudo, guardei na geladeira… Na segunda, cedinho, liguei no trabalho e consegui uma folga. Fui correndo pro hospital. Na medida do possível, ficamos conversando. Falando dos bons tempos daquele bairro, do meu trabalho, do dele, sem profundidades, sem tocar em feridas. Apenas quando fiz menção da vó é que o vi um pouco perturbado. Mudei de assunto. Almocei com ele, fui à tarde para casa despedir da minha mãe, e voltei ao hospital com a mala pronta.
— Tá indo?
— Preciso, vô. Mas eu volto semana que vem.
— Precisa não.
— Precisa sim.
— Vai te atrapalhar…
— Não atrapalha em nada.
— Tá bom então, meu filho. Vai com Deus.
— Fica com Deus, vô. Já, já o senhor tá bem!
— Bom te ver, meu filho. Bom te ver.
Antes de sair, dei-lhe um abraço cuidadoso, demorado como nunca fora.
— Semana que vem eu volto, vô.
6
Voltei dois meses depois. A empresa onde eu trabalho soltou um novo programa de recrutamento e me colocaram para gerenciar tudo. Durou uns quinze dias. Precisei viajar umas três vezes nesse período. Foi extremamente cansativo. E depois meu tio mandou mensagem dizendo que tinham dado alta para o meu avô e aí… acabei postergando a visita. Até que ontem à noite uma nova ligação, da minha mãe desta vez, me obrigou a viajar.
Choveu aquela manhã toda. Mais ou menos ao meio-dia, deixei minha mãe em casa e fiz que ia sair.
— Aonde você vai?
— Só dar uma volta.
Ela me olhou por um tempo, se aproximou, deu um beijo no meu rosto e entrou. Saí de carro pela cidade, meio a esmo. Depois, claro, sem saber ao certo se queria enfrentar aquilo, tomei outro rumo. A sorveteria virara um depósito. Nem a cor, nem o formato, nem a máquina de sorvete, nada guardava a mínima identidade com o passado. Deixei o carro ali mesmo e fui andando até aquela rua íngreme.
A chuva tinha parado. Numa travessa ao lado, uns cinco ou seis meninos brincavam na rua, chutando poças de água. Mais adiante, uma família levava cadeiras para a calçada. Ouvi uma cantoria na casa vizinha à do meu avô. Passei por ela, peguei a chave e entrei na última casinha da rua. Ela estava completamente limpa. A TV, muda. Os objetos foram postos cada um no seu lugar. Um retrato antigo dos meus avós reaparecera no rack da sala. Ao lado dele, uma essência de lavanda perfumava o ambiente. O barulho lá fora foi rareando. Lá do fundo da casa, o rangido de uma cadeira de balanço vinha constante e baixo. Não incomodava. Como nada naquele lugar. A cadeira balançava sozinha, sem ninguém. Meu avô já não podia consertar o rangido. Nem nos ensinar como consertar, ou como colher limões e folhas. Ele estava cuidando da horta quando tudo aconteceu. Mas, antes, deixou as coisas, exceto a cadeira, arrumadinhas, como antigamente. Era sua forma de tentar cuidar de tudo, uma última vez.
Achei seu conto bem bonito. Muito singelo e emocionante a forma realista que você abordou as relações familiares. É muito bom quando se escreve algo fácil do leitor se identificar. Acho que em relação aos temas, você abordou de uma forma bem tangencial a questão dos lugares abandonados, e infelizmente é preciso de um certo esforço para ver esse conto dentro da proposta do desafio. Acho que, apesar de ser um conto muito bonito e bem escrito.
Boa sorte!
Tenho acompanhado as discussões no whatsapp sem muita assiduidade ou compromisso, mas vi menção a um texto que talvez fugisse do tema. Enquanto lia este conto, pensei se não seria esse. Acho que o tema foi sim abordado, mas que a autoria optou por situá-lo como um plano de fundo para uma história que é, na verdade, sobre relações familiares e como podem nos remeter a um passado. É um texto denso, carregado de emoção e escrito num lirismo que o embeleza e faz sua leitura agradável. É com esses elementos que o encerramento conta e se afirma com a força notável que pede os finais. Então se tematicamente não é tão forte, narrativamente – o que me importa até mais – é excelente. Bom texto!
Primeiro conto que leio e comento deste desafio. Sentiram que eu abandonei tudo e todos? Pois é…
Gostei muito do tom da narrativa, uma mescla de nostalgia com sentimentos pela família. Não tive um avô na infância ou juventude, então senti um pouco de inveja do narrador. Conto bem escrito, a leitura flui com facilidade e sem entraves. Uma delícia de ler.
O tema do desafio foi abordado com sucesso.
Só estranhei alguns detalhes:
– meu avô permitia-se aquietar na antiga cadeira com o fim de ficar > esse “com o fim de” me soou muito engessado
– com a cara ensolarada > como seria isso? O homem tomou muito sol durante o trabalho? Algo ensolarado me faz pensar em luz, alegria, etc.
– fui despedir > fui ME despedir. Despedir sozinho remete à ideia de demitir alguém.
– o senhor saber… > o senhor SABE
– fui à tarde para casa despedir da minha mãe > fui à tarde para casa ME despedir da minha mãe
O final é encantador, uma narrativa que lembra um sonho, algo só possível na fantasia… e a imagem da cadeira sem o avó foi de linda de doer. Parabéns. Boa sorte!
Um homem reluta em relembrar o passado, ao cuidar do avô.
Um conto lindíssimo, nostálgico, maravilhoso. Pelamordedeus, o tema está aí: lugares abandonados. O tema está presente sim e “lugares abandonados” não é só uma menção, para forçar o tema. A história fala sobre os lugares abandonados de nossa memória. As paredes descascadas da sorveteria do Ovídio. A casa da avó, habitada somente pelo avô, abandonada pelos demais afetos. A cidade, que tinha música e vida nas memórias, hoje não desperta o desejo de uma visita. As memórias da infância são lugar abandonado. O próprio avô é um lugar abandonado. O passado é um lugar abandonado.
Além de ser lindíssimo, está muito bem escrito e me fez chorar feito uma idiota. Só de raiva, vou dar 10. E que não se repita.
Um conto profundo da para sentir o carinho que um neto tem pelo seu parente mas antigo e o quanto o protagonista está apegado a nostalgia de sua infância .
Gostei pois de certa forma me lembrou o meu bisavô que estava nas mesmas condições do avô só protagonista . Ficou muito bem escrito
Este é um conto que me tocou profundamente. A passagem do tempo e dos lugares que ficam desertos e que nos dizem muito. Estou a passar por um processo semelhante, mas com os meus pais, o que é especialmente doloroso. O seu conto fez-me lembrar disso.
Em termos de estrutura, achei demasiado formal, no entanto, creio faltarem algumas partes, para além de algumas palavras, nomeadamente no final do texto
Conto bem escrito. A escolha de um vocabulário mais simples foi bastante positiva, uma vez que consegue transmitir uma sensação de maior proximidade com o leitor e, aliado à carga nostálgica, conferem um sentimento forte e genuíno para a história. Notei uma palavra escrita errada no final do segundo capítulo, mas acredito que tenha passado despercebida na revisão, pois o texto não apresenta demais erros ortográficos ou gramaticais que comprometam a fluidez da leitura.
Boa sorte no desafio!
EMA (Escrita, Método, Adequação)
E: Ok. Melancolia e saudosismo sempre me pegam de jeito. Ainda mais com história de avôs. Muito bem escrito e poético, suave e sutil.
M: A estrutura está muito bem dosada, com informações passadas e presentes bem definidas. Gostei de como tudo estava se desenhando para o fim já previsto, mas foi feita de uma maneira tão leve, que passou despercebido. As referências e símiles preencheram o vazio.
A: Lugares abandonados, pinturas abandonadas, casas abandonadas, cadeiras de balanço abandonadas… Atingiu um dos temas com louvor. Ando cansado de dramas, mas esse tem um toque de “saudade” e gentileza muito bons.
Nota: 9,5
Salve, Ovídio!
Conto sobre a relação de neto e avô, construído mais frequentemente durante a infância do personagem principal, e retomado brevemente pouco antes da morte do idoso.
O texto está muito bem ajustado. Não notei falhas gramaticais e, se estão lá, não foram prejudiciais para a experiência da leitura, de modo que não me recordo delas. Gostei bastante do elenco de vocabulário, que é simples, mas elegante. Nota-se um refino do autor, que sabe escrever de forma bela, mas ser se tornar hermético.
O enredo é simples, calcado na relação distanciada entre neto e avô, retomada pela necessidade. Mas, em sua simplicidade, o autor conseguiu imprimir uma carga bastante emotiva, sobretudo com alguns diálogos bastante realistas. E esses diálogos são, pra mim, o que ditaram o ritmo do conto, fluido, ágil, construído para ser absorvido de maneira fácil. Méritos do autor.
Mas tenho que criticar a tênue menção a um dos temas do desafio. Não se trata de algo noir. Lugar abandonado também não percebo no texto, pois nem a casa do avô nem a sorveteria estão abandonados. Se for viagem no tempo, no caso do personagem principal estar rememorando coisas de seu passado, é passável, mas ainda assim, é pouco.
No geral é um conto muito, muito bom. Mas inserido em um desafio com temas bem definidos, acaba perdendo um pouco de brilho frente a outros textos que encararam o tema de forma mais destacada.
Bom, é isso. Boa sorte no desafio.
Olá, André. Obrigado pela leitura e elogios ao conto. Fico bastante feliz em ler, por exemplo, que achou o elenco de vocabulário elegante, os diálogos, bons…
Quanto ao tema, acho que seu comentário foi ainda mais incisivo que o do Anderson, abaixo. A mim, e a pelo menos um leitor-beta, que averiguou o texto antes de eu o submeter ao desafio, pareciam claras as referências como que simbólicas dos abandonos. Há uma casa que fica, sim, abandonada temporariamente (as imagens de poeira, de objetos desalocados, a horta secando, e a menção ao avô desistindo daquilo tudo são amostras de um abandono daquele local que ele mesmo ergueu, onde viveu com sua amada esposa… o caso é que ele não tinha mais forças físicas e psíquicas para cuidar do ambiente. O que, para mim, deixaria o final mais impactante, já que ele imprimiu um último cuidado ao ambiente antes de partir), uma sorveteria (nesse caso, há até uma frase do avô explicitando a imagem que eu quis passar: “— Faz tempo que eu não saio de casa. Deve estar lá, abandonada.”)…
De todo modo, obrigado pelos comentários gentis.
PAREDES DESCASCADAS E A CADEIRA DE BALANÇO- é a história de Ovídio, um homem que vive a vida como muitos outros, trabalhando para o seu sustento e progresso pessoal. Com cargo importante na empresa, viaja muito e têm pouco tempo para se dedicar à família, à mãe idosa, aos avós.
Quando vai visitar os avós, relembra os tempos de crianças quando passava o dia no sítio. A avó morreu, o avô ficou sozinho, ficou doente, já não pode mais cuidar da lavoura, é internado num hospital e a casa fica abandonada por uns tempos. A cadeira de balanço do avô ainda está lá na varanda, lugar preferido dele para observar o fruto de seu trabalho.
Achei que Ovídio foi omisso, não se preocupou muito com o avô, deixou para outros membros da família a obrigação de cuidar dele.
Gostei do argumento, um texto bem escrito, com ótimos diálogos, precisão nas informações. Não encontrei erros de escrita, construção de ações, de diálogos. Não há grande impacto nas ações e ideias como imagem, a força está nas emoções, nas lembranças que cada um de nós tem de sua infância.
Olá, Antônio.
Agradeço os elogios ao texto. No entanto, acho que o sr. deve tê-lo lido sem tanta atenção. Não se trata da história de Ovídio. Ovídio é o amigo do avô do protagonista, já falecido. O neto e o avô não têm nome no texto.
De todo modo, obrigado. Um abraço.
Olá, Ovídio (és o dono da sorveteria ressurreto?)
Resumo: drama realista sobre a relação familiar entre um neto e seu avô, estreitada quando este se adoenta.
Comentários: gostei do conto. Pela insistência do Anderson, acabei lendo-o antes dos demais, apenas após o “Vigília”. Achei-o bem escrito, bem cadenciado, bem resolvido. A divisão de seções/capítulos sempre parece ajudar nesses casos de contos longos. Alguns capítulos são mais bonitos que outros, o que não necessariamente é um problema. Gostei da descrição que faz, principalmente, do bairro abandona, no capítulo 4. O desfecho talvez seja quase esperado, mas esse não parece um conto para surpreender, impactar. Tem a pegada mais linear, sutil, o que também me agrada muito.
Como a discussão surgiu aqui, e nos grupos, e de fato ela pode intuitivamente aparecer, destaco que, no meu ver, o conto aproveitou-se do tema de modo criativo. Se um LUGAR ABANDONADO específico não é seu “mote”, creio que o abandono está no núcleo do enredo – tanto que se fala do abandono da família em relação ao avô, do próprio abandono do avô em relação à vontade de viver, após a morte da esposa – e que os lugares mencionados (a horta e o pomar, a sorveteria, a casa, o bairro onde a casa se encontra), todos abandonados mesmo que temporariamente, funcionam como símbolo. Eu gosto disso. Mas concordo que o conto enfrentará perigos nesse quesito durante as leituras haha.
De todo modo, desejo boa sorte! E parabéns pelo trabalho.
Olá, Misael.
Obrigado pela leitura atenciosa, comentários e elogios. Não sou o Ovídio da sorveteria. Seria um tanto improvável, não é mesmo?
Um abraço.
Jovem rememora o avô.
É um conto bem escrito. No ponto, mereceria poucos reparos, os quais não me darei o trabalho de fazer: uns poucos deslizes de revisão e alguma brusquidão na passagem entre os capítulos finais. No entanto, exsurge um defeito grave e, dada a qualidade da escrita, verdadeiramente lamentável: fuga do tema. Há um lugar abandonado – a sorveteria -, mas ele é absolutamente insuficiente para justificar uma boa avaliação em um desafio temático. Sinto muito. Avaliar bem este conto, por mais qualidade que a escrita dele possua, seria desprestigiar todos aqueles que se esforçaram para se ater aos temas propostos.
Olá, Anderson Prado.
Obrigado pela leitura e elogios ao texto. Sinto muito que tenha sentido que fugi do tema. A título de esclarecimento, a sorveteria não é mesmo o único lugar abandonado do texto. Talvez nem seja o principal. Ela é o elo da memória do protagonista, que, figurativamente, o puxa de volta àquela cidade, à sua família. Mas há a casa, por exemplo, onde ocorre a cena do capítulo 4, ainda mais importante. É lá que o abandono do lugar representa os demais abandonos.
Não quero, com isso, mudar sua opinião. Apenas sinto muito que a forma como decidi valer-me do tema o tenha desagradado.
Conto muito comovente, bem escrito, com diálogos simples e naturais que costumam ocorrer nas conversas entre parentes queridos. O texto tem um chamamento nostálgico tocante por causa das lembranças do narrador em relação ao seu avô, o que causa empatia imediata por tratar-se de uma figura familiar sempre querida na maioria das famílias. O tema aqui, lugares abandonados, tem uma conotação sutil interessante, não sei se proposital ou não do autor, mas senti essa conexão, pois as paredes descascadas da sorveteria em seu abandono e decadência parecem refletir nas emoções do narrador em relação também ao seu avô, um homem por que tem o maior apreço e parece estar abandonado pela família, doente, precisando de assistência. Tanto assim que, quando ele demonstra a intenção de ver a velha sorveteria novamente, nas cenas finais, ele não consegue mais encontrar sequer as paredes descascadas, não havia mais nada, apenas lembranças, assim como o avô que acabara de morrer. O texto, também, nos faz refletir a passagem da vida, o envelhecimento, o abandono. Conto nostálgico e triste. Outra boa experiência de leitura aqui neste certame.
Olá, caro Afonso. Agradeço a leitura muito atenciosa e os comentários gentis. Me alegra que tenha gostado do conto. Um grande abraço.