
O tempo depois do tempo │ Nicholas Nogueira
– Bem-vindos ao Projeto de Expansão Temporal.
Eu estava em uma sala burocrática – carpete sujo, cadeiras pretas com estofado azul, paredes beges, televisores transmitindo imagens da empresa. Rodeado de outros homens e mulheres com nada a perder senão o próprio tempo, aguardava, sem muita paciência, o que viria a ser um discurso enfadonho. Antes, pensava em quem havia bolado esse acrônimo. PET, sério?
– Nós sempre pudemos nos mover pelo Tempo. Através das memórias. Momentos, sensações, odores, sons. Nostalgia pelo passado, ansiedade pelo futuro. Voltamos ao passado, mesmo que por um momento, podendo relembrar vividamente ou apenas traços desconexos. E isso é mais poderoso quando temos remorsos. O desejo de voltar ao passado… Reimaginá-lo de diversas formas diferentes. Tentar com todas as nossas forças voltar e criar um futuro diferente. Acertas as coisas.
Eu me recostei contra a parede. Levei o maço de cigarros aos lábios e peguei um deles entre os dentes. Devolvi ao bolso, deixando de fora apenas o isqueiro. Usei a sua chama para acender e tragar o cigarro. Ninguém reclamou. Quem sabe eu quisesse voltar no tempo para me impedir de começar a fumar?
– Mas nas memórias, não temos como permanecer lá por mais do que um curto período. Como pular. Podemos desafiar a gravidade por um instante, com um pulo, tal qual outros animais. Mas, diferente deles, criamos tecnologias como o balão, o avião, a espaçonave. Isso serve para o espaço, como dimensão, não o sideral, mas também serve para a Quarta Dimensão. O tempo.
Ele continuou explicando as nuances da nova tecnologia. Detalhes ininteligíveis, portanto, inúteis. Aceitei participar desse experimento porque queria ver a minha mãe mais uma vez. Pela última. Como não pude ver na tarde em que escolhi sair com os meus amigos em vez de ficar em casa, como ela pediu. Essa decisão… Ela mudou tudo. Uma pequena mudança do acaso e toda a minha vida seria diferente.
– Infelizmente, o passado detesta anacronismos – o apresentador continuou – , portanto, apesar de podermos voltar, não podemos mudá-lo. Não. Podemos. Mudá-lo.
Ele passou os próximos cinco minutos explicando as razões, mas eu não escutei. Algo sobre se perder em um limbo entre ter sido e não vir a ser. Muito filosófico. Dava vontade de dormir.
– A viagem no tempo tem várias implicações. Aqui, pela restrição de tempo, poderemos voltar para no máximo quarenta anos, e por no máximo seis horas. Diga adeus para um ente querido. Veja um evento importante que você sempre quis ver pessoalmente. Um dia, quem sabe, poderemos conhecer Platão, Aristóteles, encontrar Homero escrevendo a Ilíada. Poderemos ver Jesus em sua manjedoura. Poderemos presenciar a construção das pirâmides, o primeiro voo dos seres humanos, a viagem espacial. Só não vá deixar uma pista para o seu eu-passado sobre os números da megassena. Não vá impedir algo de acontecer, nem vá roubar a ideia milionária de outra pessoa. O bater das asas da borboleta, lembram? Vocês podem instaurar o caos absoluto.
Eu aguardei por algumas horas. As pessoas iam sendo levadas em grupos, por ordem alfabética. Éramos cento e vinte e quatro pessoas. Demorou quatro horas até eu ser chamado.
Descemos por uma série de corredores gelados. O guia explicou a origem dos corredores, mas não ligava para corredores. Aquele não seria a exceção. Um galpão industrial de 180 mil metros quadrados, quase do tamanho do Maracanã, devia ter muitos corredores, todos desinteressantes.
Chegamos a uma estrutura gigantesca, com cabos, fios, tão complexa, afirmou o guia, quanto as estruturas sinápticas de nosso cérebro. Por baixo dessa estrutura, outra, retangular, cheia de uma substância cristalina transparente.
Excitado como uma criança com um brinquedo novo, o guia perguntou:
– Quer saber como funciona?
– Não – respondi. – Anda, coloque a data de uma vez.
– Já sabe qual?
– Dez de janeiro de 1986.
Uma semana antes de minha mãe ser assassinada.
– Eu posso escolher o lugar?
– Não, você será transportado para esse mesmo lugar, trinta e seis anos atrás.
– E se tiver gente aqui?
– Você não quis saber como funciona antes. Agora é tarde.
Ele fechou a porta, como se fosse uma escotilha. Fiquei preso ali dentro. Logo a máquina começou a vibrar, como se estivesse em meio a um terremoto.
Fui ao mesmo tempo atirado de um lado para o outro, para cima e para baixo, em todas as direções cardeais. Somado a isso, era como se meu corpo estivesse sendo desconstruído, célula após célula, uma dor inexplicável, uma navalha invisível me abrindo e permitindo à minha alma sair.
Tudo não durou um segundo, mas pareceu uma eternidade.
Despertei em outra realidade. Meu corpo parecia embebido em um líquido viscoso, um tipo de gosma. Ao passar a mão pela minha pele, nada parecia diferente ou anormal. Ainda assim, a sensação persistia.
Eu estava no mesmo lugar de antes no espaço, mas não no tempo, como me alertaram. Trinta e seis anos antes, ali ainda era um galpão, mas abandonado. Gritei para escutar o meu eco, mas o lugar era tão imenso que o som não retornou.
Demorei quase trinta minutos para chegar à saída. Lá fora fazia um sol escaldante, típico de um dia que chegará ao fim com uma tempestade. Sabia disso não por profundos conhecimentos meteorológicos, mas porque a minha mãe fora assassinada em uma tarde chuvosa.
Andei por um ou dois quilômetros até alcançar a estrada. De lá, fiz sinal para uns carros e um caminhoneiro parou. Parecia drogado. Não falou, a não ser indagando sobre o meu destino. Chequei as horas no celular. O caminhoneiro lançou um olhar chocado para o objeto nada extraordinário em minhas mãos.
Ele me deixou no centro de Cajamar. Foi ali que percebi que todo o meu dinheiro estava em reais. A moeda vigente era o cruzeiro, prestes a ser convertido para cruzado. Ninguém saberia o significado de um real, ainda mais o seu valor.
Eu caminhei até a rua onde morava com os meus pais. O sol ainda ardia. Carros antigos percorriam as ruas como atuais. Roupas fora de época encontravam ali a época correta. Lojas exibiam seus nomes em fachadas arruinadas pelo tempo trinta e seis anos depois.
Meus pais moravam em um bairro mais abastado, com casas desprotegidas, com pequenos quintais atrás, em uma rua tranquila, de pouco movimento, onde crianças, antes da invenção dos celulares e novas tecnologias, podiam brincar na rua com outros amigos em vez de permanecerem imersos em um mundo irreal.
Eu me escondi atrás de uma árvore e sob a sombra de sua folhagem. Nada me faria esquecer aquele dia. Eu seria capaz de relembrá-lo minuto a minuto até a chegada de meu pai à casa de meu amigo, avisando sobre a morte de minha mãe.
Em alguns minutos, eu voltaria da rua, ofegante e suado, e entraria em casa. Minha mãe reclamaria por eu estar descalço e com os pés sujos. Faria uma de suas ameaças: “Vá de uma vez tomar banho antes que a chinela comece a cantar.” Eu iria, morrendo de medo, embora em seus momentos de calmaria ela fosse desmerecer as suas ameaças como inofensivas. Às vezes dizia que não estava gritando comigo, mas nunca dizia com quem gritava.
O meu eu de doze anos surgiu trotando rua acima, ensopado de suor, os pés descalços, vibrando de uma felicidade que não encontraria outra igual nos trinta e seis anos posteriores. Sempre imaginamos como será o nosso primeiro beijo, o nosso primeiro sexo, a nossa primeira viagem, o nosso primeiro filho, a nossa primeira promoção. Mas falhamos em perceber o que pode vir a ser o último abraço, o último sorriso… O último adeus.
Do outro lado da rua, escutei os berros dela. Sorri um sorriso amargo. Por quantos anos quis escutar essa voz outra vez. Quantas vezes me recordei dessas ameaças, de sua risada, de seu choro, de seus ensinamentos, das vezes que a encontrava conversando consigo mesma e ela se envergonhava por estar em um momento de intimidade com os próprios pensamentos; era naqueles momentos que podia ser ela mesma. Em quantas noites insones o seu rosto risonho, ou até mesmo enfezado, não surgiu de forma espontânea na escuridão de meus pensamentos?
Reclamamos de quão intrometidas mães podem ser, sempre metendo o nariz onde não são chamadas, querendo ser influência em cada aspecto de nossas vidas. Crescemos com a sua companhia inseparável e à medida que os anos vão passando vamos nos tornando cada vez mais independentes. De fonte de vida a fonte de incômodos, de inseparáveis para divergentes, de essencial para acessório para, enfim, dispensável.
O que não daria para poder correr a rua e abraçá-la. Um beijo bem molhado na sua bochecha. Erguê-la no ar e rodopiar. Estar em casa outra vez. Ser parte de uma família. De nossa família. Como senti sua falta, diria a ela. Crescer em um mundo sem mãe é crescer em mundo sem cor, sem amor nem afeto. É como ser uma planta e não ter sol. Ser peixe e não poder nadar. Ser uma flor e se sentir arrancada do solo.
O que me impedia de cruzar a rua e abraçá-la? Inspirar o seu cheiro, de mãe, de bolo e roupa lavada, de carinho no cabelo e do medo de seus rompantes irados quando algo ia contra as suas ordens. Era como se cada momento de sua ira fosse associado a um cheiro, ao mesmo odor, metálico, se é que isso existia. Ela não entenderia, ameaçaria chamar a polícia; meu pai poderia me ameaçar e me bater, me enxotar da casa e tudo não teria tido sentido algum.
Eu respirei fundo e refreei o ímpeto. E aí pensei comigo mesmo o que me traria de bom presenciar o assassinato de minha mãe? Que outra razão teria me feito vir para seis horas antes do seu assassinato? Bem, se dependesse de mim, voltaria para anos antes e viveria a mesma vida outra vez até aquele ponto. Não fazia sentido, mas era o que faria mesmo assim. Eu não havia estado com ela nas últimas horas de sua vida. Eu entrara no banho, almoçara e logo em seguida saíra outra vez para encontrar os meus amigos, sem saber se tratar de um “até logo” que se converteria em um adeus eterno.
Eu não estava vendo a minha mãe agora. Via senão as paredes erguidas de uma casa pintada de amarelo-manga, telhados de zinco e um quintal bem-cuidado atrás. O que eu deveria fazer, entrar no terreno e dar uma de tarado, olhando a pobre mulher pela janela?
A porta da frente se abriu. Minha mãe saiu, mas não fechou a porta. Meu pai veio logo atrás.
– Você não pode sair nessas condições.
– Nessas condições? – Ela bufou. – Roberto, “nessas condições” eu não posso é ficar aqui. Dá licença.
– Você tomou o remédio?
– Tomei – respondeu, saindo pelo portão para a rua.
Meu pai ficou ali, desamparado. Mas não foi atrás dela. Quase gritei para que fizesse isso. Vai, gritei dentro de minha própria cabeça, vai atrás dela, seu idiota. Não vê que será a última vez que a verá com vida? Se ele não ia, eu com certeza iria.
Minha mãe atravessou a rua e seguiu adiante. Ela parecia calma, andando com um propósito em mente. Eu só não sabia qual era.
O céu acima da minha cabeça começou a ser preenchido por nuvens plúmbeas. A hora se aproximava, senti, a hora na qual minha mãe se encontraria com o seu destino. Senti um calafrio. Queria mesmo presenciar isso? Queria mesmo aprofundar as próprias cicatrizes?
E se eu a impedisse de encontrar o próprio destino? Isso criaria um paradoxo. O meu eu do passado não teria enfrentado a morte de minha mãe e, portanto, o meu eu do futuro (ou melhor, o meu eu de agora) não teria a necessidade de voltar no tempo para impedir um assassinato que jamais ocorreu. Eu mesmo não existiria, uma vez que toda a minha história seria apagada e reescrita como a de um jovem comum, crescendo com uma mãe viva, sem precisar cuidar de um pai alcoólatra e desempregado, precisando abandonar a escola aos catorze anos para trabalhar e sustentar a si mesmo e ao inútil de seu pai. O que aconteceria comigo, ninguém poderia saber, apenas supor.
Continuei seguindo ela. Depois de atravessar outro sinal, respeitando a faixa e aguardando todos os carros pararem, ela entrou em uma farmácia, dando boa tarde à pessoa que deixou a porta aberta para ela. Era irônico pensar em todas essas regras de convívio. No fim das contas, não tinham significado algum. Respeitar a sinalização, dar bom dia, ser educado, se proteger da chuva. Todas decisões supérfluas frente à imprevisibilidade e imutabilidade da morte.
Ela saiu com uma sacola alguns instantes depois e continuou no mesmo sentido de antes. Ela olhou para trás uma vez, diretamente para mim, tão diretamente que precisei parar e mudar de direção. Eu me escondi atrás de uma banca por tempo o bastante para ter a certeza de que ela teria continuado em frente. Ao espiar para vê-la, ela já estava mais adiante, como se tivesse apressado o passo. Eu apressei o passo também para alcançá-la.
A qualquer momento seria o seu fim. Ela suspeitava estar sendo seguida? Teria ela alguma razão para suspeitar estar sendo seguida? O seu assassinato teria sido puro acaso, pura falta de sorte, estar no lugar errado, na hora errada, ou teria sido premeditado? No que teria minha mãe se envolvido?
Com o pulso acelerado, apressei-me para não perdê-la de vista. Ela lançou outro olhar para trás, afoita, e mudou de caminho na última hora, entrando em um movimentado prédio no centro. Era um prédio comercial, uns dez andares, ou mais. Ela não pode ter sido assassinada ali. Lembro-me claramente de meu pai dizendo que ela havia sido encontrada em uma viela vazia. O que está acontecendo?
Eu entrei no prédio. Ela entrou em um elevador, sozinha. Precisei me esconder de qualquer jeito para evitar que ela me visse, mas ela sequer ergueu o olhar. Fui até o elevador e observei o mostrador subir de andar em andar, parando enfim no último. Eram treze andares.
Chamei outro elevador e apertei o botão com o número treze – algo que jamais me imaginei fazendo na vida. Outras pessoas entraram. Precisei aguardar outras três pessoas saírem em andares diferentes. Só, aguardei mais dois andares até o meu.
Saí. Minha mãe estava próxima à porta que levava ao terraço, com uma bela vista da cidade. Estava em um dos telefones públicos enfileirados um ao lado do outro. De cabeça baixa, parecia nervosa, gesticulando bastante. Não conseguia discernir as suas palavras, mas era claro o tom de angústia.
Ela devolveu o telefone ao suporte com certa ira. Pareceu encolher, chorando. Percebendo algo, virou-se para trás, buscando algo que não encontrou. Eu estava bem escondido.
Ela saiu pela porta, para o terraço. Em seu caminho, esbarrou em uma mulher. Sua mãe parecia tremer dos pés à cabeça. Andou de um lado para o outro, aparentemente falando consigo mesma, gesticulando, como se ela fosse parte e contraparte de uma acalorada discussão.
Ela parou, de repente. Pegou o medicamento de dentro da sacola e deu um berro animalesco:
– INÚTIL!
Atirou o frasco no chão. Subiu no parapeito do terraço sob os olhares curiosos e amedrontados das pessoas ao redor. Deu uma última olhada para trás, buscando algo que jamais chegou a encontrar. Atirou-se no vazio.
Eu gritei e corri até o parapeito. Outras pessoas correram também, outras gritaram. Alguém berrou para chamar a ambulância.
Não adiantava olhar. Eu sabia o que tinha acontecido. Ninguém sobreviveria a uma queda de treze andares. E também sabia muito bem onde ela se encontrava: em uma viela vazia.
Com lágrimas nos olhos, fui até o frasco abandonado. Peguei e li: Risperidona. Tratamento para esquizofrenia. Indicado para os sintomas de alucinações, delírios, desconfiança, isolamento social, ansiedade ou ouvir vozes.
Chorei ali, no passado e no presente. Chorei um choro ao mesmo tempo antigo e novo. Tentando entender o que havia acontecido. A mentira de meu pai. As vezes que encontrei minha mãe falando consigo mesma. Gritando para alguém que não era eu.
Quando isso aconteceu? Como fui incapaz de perceber? Uma vida toda escondida por trás de um véu que eu, como uma criança, não soube desvendar.
Precisava entender mais. Indo contra as recomendações dos especialistas envolvidos no experimento, participei outras cinco vezes. Cada vez escolhia datas anteriores. Dois dias antes, uma semana, um mês, três meses, cinco meses. Queria encontrar pistas de que ela tinha essa doença, esse mal tão avassalador. Era muito sutil. Eu, como criança, não saberia como interpretar o que como adulto pude.
Todos os sinais estavam lá.
Depois, fui tirar satisfação com o meu pai. Ele estava sóbrio havia doze anos. Um grande passo para alguém que fora um inútil nos vinte e quatro anos anteriores.
– Você mentiu para mim. Ela não foi assassinada. Ela se matou!
Ele abriu a boca, um misto de choque e desamparo.
– Eu menti para te proteger. Você era só uma criança.
Imagine uma vida inteira enfrentando essa solidão de saber de uma verdade única. De proteger o seu filho disso, apesar de todos os males que lhe acometiam.
– E depois? Quando eu virei adulto.
– De que adiantava te contar? Aliás, como você descobriu?
– Que diferença faz?
– Acho que nenhuma. Foi uma época muito difícil.
– Quando começou?
– Difícil dizer. Ela ficou pior uns seis meses antes de morrer. Passava o dia inteiro agoniada.
– Agoniada com o quê?
– Ah, era bobagem. Coisa da cabeça dela.
Meu pai suspirou. Parecia fragilizado. Tinha medo de estar empurrando ele para o abismo. Sentia nele os trejeitos que tinha antes de sair para beber e voltar quase em coma alcoólico.
Mas não conseguia me conter.
– Para de me esconder as coisas! O que era?
– Fantasmas, dizia ela. Achava que tinha um vulto perseguindo ela para onde quer que ela fosse. Ela queria que isso parasse. Por isso ela… por isso ela…
Ele começou a chorar. E eu, também.
Olá, Johannes!
Conto bem escrito. Não notei muitos desvios gramaticais. A minha crítica é em relação a alguns trechos que não interferem diretamente no desenvolvimento e que, aliados ao excessivo tom poético e demasiadas descrições, deixam a leitura uma experiência um pouco maçante.
Boa sorte!
Uma boa história, principalmente com o desfecho final. A escrita é boa mas achei o ritmo um pouco arrastado, principalmente no início. Há detalhes demais que não interferem na história.
Boa sorte!
Olá, Johannes.
Resumo: rapaz volta ao passado para descobrir os últimos momentos de sua mãe, antes de supostamente ser assassinada. Sem querer, acaba interferindo em sua história.
Comentários: um clássico conto sobre viagem no tempo, que consegue criar suspense, interesse pelo desenlace da trama. Gostei. O fato de tratar, no meio desse tópico científico, de relações familiares, torna fácil a criação de empatia com o protagonista. Há frases muito boas, como “Sempre imaginamos como será o nosso primeiro beijo, o nosso primeiro sexo, a nossa primeira viagem, o nosso primeiro filho, a nossa primeira promoção. Mas falhamos em perceber o que pode vir a ser o último abraço, o último sorriso… O último adeus”.
Como crítica, algo da narração. Um dos problemas, no meu ver, com textos cheios de poesia é o excesso: Em “crescer em um mundo sem mãe é crescer em mundo sem cor, sem amor nem afeto. É como ser uma planta e não ter sol. Ser peixe e não poder nadar. Ser uma flor e se sentir arrancada do solo”, acho que o autor exagerou nas analogias.
Em “Era irônico pensar em todas essas regras de convívio. No fim das contas, não tinham significado algum. Respeitar a sinalização, dar bom dia, ser educado, se proteger da chuva. Todas decisões supérfluas frente à imprevisibilidade e imutabilidade da morte”, não vi propósito no comentário do narrador. Não acrescenta nada à trama, senão um aspecto de rabugice ao protagonista – o que até é coerente, mas me parece bem desnecessário.
Achei uma construção estranha essa em “Via senão as paredes erguidas de uma casa pintada de amarelo-manga”. O certo, ou convencional, não seria algo como “Não via senão…”?
Parabéns pelo texto, pelo desejo de seguir linha após linha em busca da resolução do problema que você a ele imprimiu… há muitas virtudes aqui. Boa sorte!
É um conto que trabalha algo clássico de histórias de viagem no tempo: os elos e codependências que se traçam entre os tempos quando indivíduos começam a transitar entre eles. Dito isso, o texto faz bem desse tropo, mas sem extrapolar as expectativas. O personagem acaba girando em círculos quanto às suas motivações, ironicamente voltando ao mesmo ponto durante a sua narração, o da vida passada sem a mãe. Apesar do peso e da força de seu luto se tornar palpável ao leitor, torna-se também repetitivo e acho que ocupou um espaço que poderia ter sido dedicado a outros aspectos da vida do protagonista, uma vez que, narrado por ele, é sobre ele mesmo que se trata uma boa parte do conto. O final é bem alinhado com o que se constrói antes, mas sem impacto, sem o clímax que se esperaria das verdades reveladas entre pai e filho.
Um homem participa de uma experiência para voltar no tempo e entender a morte de sua mãe.
Ótima escrita, muito clara e correta. Gostei muito do conto que, além de tratar de uma viagem no tempo, tem uma estética noir. Achei a narrativa bem conduzida, exceto pelo diálogo com o pai, que pareceu meio corrida, destoando do resto do texto, apesar de sua importância para a história.
Parabéns e boa sorte.
Olá. Ainda estou abalado com o seu conto. A esquizofrenia é uma doença que me afecta de perto e senti uma familiaridade muito grande – demasiado grande – com o seu relato. O aproveitamento das viagens no tempo foi feito de forma surpreendente. Mesmo sem querer alterar o rumo dos acontecimentos, ele altera. Mesmo sendo um mero espetador do drama da sua família. Daria um bom filme, se bem que algo cliché.
EMA (Escrita, Método, Adequação)
E: Boa escrita e boa construção de tensão. Palavras bem colocadas e sentimentos muito bem expressos.
M: Eu “meio que” já estava imaginando o final, quem é fã de sci-fi é vacinado, mas a condução, mesmo assim, foi excelente. O blábláblá técnico sendo deixado com o técnico mesmo foi uma boa saída para evitar a exposição cansativa de conceitos da física. O clima de “experimento” deu um gostinho a mais também. Conversar com o pai poderia alterar o personagem do futuro, mas deu a entender que ele não fez mais a viagem depois disso, então não ficamos sem explicação.
A: Viagem no tempo? Confere. Ganha pontos por ser uma história única, mais intimista, sem grandes rodeios.
Nota: 9,0
O Tempo depois do Tempo- é a história de um homem que volta no tempo para ver a mãe que havia sido assassinada. Ele volta alguns dias antes da morte dela. Em busca de respostas, ele passa segui-la. Por fim ele descobre que ela se suicidou. O pai revela que a mãe do rapaz sofria de mania de perseguição. Tomava remédio para esquizofrenia. Dizia que alguém a perseguia e o rapaz conclui que ele era o perseguidor.
Bom argumento, boa escrita.
Salve, G..
Conto interessante sobre viagem através do tempo em que o personagem quer investigar a morte da mãe e acaba, paradoxalmente, se transformando em um dos motivos de sua morte.
Gramaticalmente não encontrei nada a ser apontado, o texto me pareceu bem redigido e, se algo passou batido, é porque não atrapalhou tanto a ponto de interromper o ritmo da leitura. Mas tenho uma crítica com relação ao tom adotado, pois deveria haver uma flutuação entre dois deles, e eu não acho que há, gerando, talvez, uma certa frieza no texto. O narrador é bem enxuto e direto quando descreve espaços e rotinas, e a opção por frases curtas é bastante condizente. Entretanto, tudo o que é feito como ação e motivação tem a mãe como objetivo, e ele é emotivo com relação a isso, mas o texto não consegue demonstrar o quanto. Talvez tenha sido opção do autor, mas essa parte poderia ter sido melhor explorada, deixando o personagem principal um pouco menos “travado”.
O enredo é interessante, mas vai na linha do tradicional no que diz respeito às histórias de viagem no tempo e o personagem acaba se transformando em parte do problema que é sua motivação de sua viagem. Mas a revelação final é interessante. E, claro, atende plenamente o tema do desafio.
Um ponto que não compreendi, e acho que é algo a ser revisto em uma versão definitiva do conto, é a questão do tempo em si. Em um parágrafo o personagem diz que está viajando para uma semana antes do dia da morte de sua mãe. Mais à frente ele já está a algumas horas da morte, sem que tenha sido dito que houve passagem do tempo.
Bom, é isso. Boa sorte no desafio!
Gostei muito da leitura de “O Tempo depois do tempo” tanto na trama do enredo quanto o seu desenvolvimento. A trama gira em torno de um homem atormentado pelo remorso de não ter evitado a morte da mãe, assassinada, quando esta pedira-lhe que ficasse em casa na época em que ele era apenas um adolescente nos anos 80. Por isso, ele se coloca à disposição para voltar no tempo, parte de um experimento com vários voluntários, com o intuito de ver a mãe uma última vez. Achei muito bom e eficiente o modo como o autor desenvolveu o enredo a partir do ponto de vista do personagem e a sua impaciência com os trâmites e as explicações dos cientistas sobre a viagem no tempo. Não importava como chegar nos anos 80, mas chegar logo.
Destaque para as falas do cientista nos primeiros parágrafos em relação as implicações psicológicas das viagens temporais. A trama vai se desenvolvendo aos poucos de modo a criar um suspense importante para se descobrir o motivo da mãe do protagonista ter sido assassinada. Outro ponto de destaque é o domínio narrativo, bem pontual, bem escrito. Houve, aqui e ali, algumas pequenas travadas na fluidez da narrativa com excesso de frases curtas e até palavras divididas por pontos finais, mas algo irrelevante, que nada prejudica o conjunto da obra. O desfecho, apesar de não ser impactante, encerra muito bem a história.
Homem viaja no tempo em uma tentativa de entender melhor a própria história familiar.
Conto bem escrito. Enredo interessante. O tema (viagem no tempo) é explorado para tratar de complexas relações familiares e, também, das consequências, eventualmente maléficas, de hipotéticas viagens no tempo. Gostei da leitura e a crítica fica por conta de ter me parecido faltar sutileza em alguns momentos.